Zootopia: Inside Stories escrita por Julio Cezario


Capítulo 8
Benjamin Clawhauser




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/750451/chapter/8

 

 

Uma semana já havia se passado. Os ataques continuavam, mais os Predadores se tornavam selvagens e mais as Presas protestavam para dividir Zootopia. Medo, insegurança, desconfiança, preconceito e raiva era os únicos sentimentos que estavam reinando na cidade. E para piorar a situação a Judy Hopps falou em uma coletiva de impressa que estava no nosso DNA, que éramos prepotentes a nos tornar selvagens. Aquilo foi a fagulha que iniciou a fogueira do caos.

Quando cheguei na delegacia, o clima estava mais pesado do que lá fora. Até aqui fomos atingidos, pensei. Ninguém falava com ninguém, era como todos fossem estranhos. Foram poucos casos e civis querendo abrir uma queixa. Pouco antes da hora do almoço, Bogo apareceu com uma cara que não era das melhores.

— Olá, Chefe Bogo! Em que posso ajudá-lo? – Tentei fingir que nada estava acontecendo, alguém tinha que manter o alto astral naquele lugar.

— Eu vim te entregar uma notícia – Ele parecia desconfortável, acho que pelo fato de eu ter pego ele usando o aplicativo da Gazelle semana passada.

— Pode falar, Chefe. Se for sobre “aquilo”, pode ficar tranquilo eu não contei a ninguém – Eu dei uma piscadela para ele. Outro dia peguei ele usando o aplicativo que a Gazelle tinha lançado no Z Store. Eu também tinha baixado, mas saber que até ele. Não tinha preço.

— O que? A-aquilo? Não, não... – Ele fica tão fofo sem graça. Mas então ele limpou a garganta e tomou uma postura séria – Não era sobre isso... Eu não sei como falar... – Ele passou a mão pela cabeça, nervoso.

— Chefe? O que foi? – Eu não estava com uma boa sensação.

— É que a Diretoria me pediu para vim redirecionar vocês, eles acham que não é bom ter um Predador na recepção, talvez não passe segurança para os civis. Eu tentei dialogar, mas não eles não me ouviram... eu... eu só, não queria ter que fazer isso.

— Então faça, eles pagam você para isso – Eu sabia o que iria acontecer. Mesmo sabendo que ele parecia magoado por isso. Aquilo tinha me magoado mais do que qualquer um. Todos sabiam como amava o meu emprego e que eu gosto do que eu faço.

— Eles te redirecionaram para o Almoxarifado, no subsolo.

Aí estava, o xeque-mate.

— Então eu devo arrumar as minhas coisas e ir imediatamente?

— Sim.

— Hum, muito obrigado, Chefe. Mais alguma coisa?

— Clawhauser...

— Chefe. Mais alguma coisa? – O cortei, não ia fraquejar naquele momento.

Ele bufou, como sempre fazia. Mas dessa vez a tristeza estava explicita.

— Não – Ele virou e seguiu em direção as escadas.

Quando ele se foi, eu me permitir relaxar.

— É, Clawhauser. Vida nova, no trabalho novo – Eu bufei para mim mesmo.

Nem sabia por onde começava. Fui até o Almoxarifado pegar uma caixa de papelão, lavei a minha caneca na copa e a guardei com todo cuidado, peguei o meu porta-retrato com a foto minha e do Felix e algumas coisas pequenas tipo clipes de papel coloridos. Assim que desliguei o meu notebook e coloquei na caixa o Chefe Bogo passou, nem sequer olhou como se não fosse importante.

— Clawhauser? O que você está fazendo? – Foi aí que eu notei que a Judy estava logo atrás dele.

— O pessoal acha melhor não ter um Predador na recepção quando os cidadãos de Zootopia entrarem aqui na delegacia – Eu fechei a caixa, acho que ela não sabia das proporções que aquela crise estava chegando.

— O que?

— Bom. Eu vou para o Almoxarifado, lá embaixo... no subsolo – Peguei a caixa e me direcionei para os elevadores.

Eu não estava mais com animo, nem para fingir que estava tudo bem. Apertei o botão para chamar o elevador, vi o Bogo saindo. Me peguei pensando no dia em que ele foi lá em casa almoçar, quando saímos na hora do almoço para comer hot-dogs na lanchonete na esquina da Delegacia, ou quando ficamos conversando sobre a Gazelle. Eu achei que ele era o tipo de animal que defenderia o que era certo, não importa o que teria que ser feito. Mas estava errado.

O Almoxarifado estava igual ao meu humor. Frio, escuro e vazio. O setor ocupava o subsolo inteiro, como um galpão, tinha várias prateleiras e corredores. A minha nova mesa, tinha um computador, telefone e dois armários de documentos. O básico do básico, acho que com o tempo poderia deixar aquele lugar frigido mais habitável com um pouco de meu toque. Liguei o computador para verificar o que tinha que ser feito, sei que sempre tem alguma coisa para guardar e etiquetar, depois de abrir os programas necessários, vi que realmente tinha alguns coletes a prova de bala que precisavam ser organizados e devidamente etiquetados.

O lado bom que tive bastante trabalho, o que ocupou a minha mente até a hora de ir embora. Depois de trocado fui para a saída, tinha que buscar o Felix no MZHC, se deixasse ele ficaria a vida toda olhando para aquele lobo que quase matou ele.

— Clawhauser? – A voz do Bogo veio antes que eu pudesse abrir a porta.

— Em que posso ajudá-lo? – Eu me virei para fitar, mesmo com muita raiva dele, eu ainda gostava de ver ele com camisa polo justa, definia o seu peitoral. Foco! Clawhauser, você o odeia!

— É que eu queria dizer que sobre hoje mais cedo. Não quero que fiquei com raiva ou triste, é que as vezes eu não consigo fazer tudo... – Ele passou a pata pelo braço.

— Okay, tudo bem? – Quando abrir a porta para sair, ele me segurou pelo no meu ombro.

— Calma... eu queria saber se você, não queria... sabe? Sair hoje – Ele estava me segurando firme demais para o meu gosto.

— Olha, Chefe. Sem ofensas, mas eu tenho que buscar o meu primo no hospital... então quem sabe outra hora – Eu me soltei da pata dele e segui para a saída. Tinha que me afastar dele o máximo possível.

— Ben, espera! – Eu petrifiquei no lugar, ele nunca me chamou de Ben. O meu coração batia tão forte que era possível ouvir ele em alto e bom som. – Eu... posso levar você no hospital. Só uma carona.

— E-eu acho que uma carona não faz mal a ninguém – Aqueles olhos, como dizer não depois daquilo.

O caminho todo estávamos em silencio. Eu não estava com a mínima vontade de falar alguma coisa ou puxar assunto e o Bogo sempre foi péssimo nisso. Para a minha alegria finalmente chegamos ao MZHC.

— Obrigado, pela carona. Chefe – Eu não podia perder a educação.

— Benjamin... – De novo, ele me segurou. Aquilo estava começando a me irritar.

Pensei que ele ia tentar se desculpar, empurrar a culpa da minha transferência ou até fazer drama. Mas ele fez uma coisa mais surpreendente do que ter me chamado de Ben. Ele me deu um beijo. Não na boca, infelizmente. Mas um beijo na bochecha, por alguns milésimos de segundos pude sentir os lábios dele em mim. Era quente como uma brisa de verão e me fez perder os sentidos e a noção de espaço-tempo.

— Até amanhã, Clawhauser – Ele disse, o seu rosto estava mais confuso que o meu. Pela primeira vez senti algo, um clima entre a gente. Era uma coisa nova.

— Até, Chefe – Consegui dizer antes de me virar e ir até o hospital. Ouvi o som do carro ligando e partindo.

Quando fui na ala onde os desaparecidos estavam, o Felix como sempre sentado no banco que ele mesmo arrastou até a sala do Wade para poder olhar para ele.

— Primo? – Chamei ele.

— Ah! Oi, Ben. O que você está fazendo aqui? – Ele me fitou com uma cara de sono.

— Vim buscar você. Já está tarde e acho que você já observou esse lobo demais.

— Verdade, eu sempre acho que ele vai melhorar, mas o estado dele não muda – Ele deu uma leve risada de desdenho.

— Eu sei, eu sei. Mas vamos para casa, você precisa dormir.

...

Depois de dois dias no setor novo já tinha me acostumado ao serviço. Tipo, o lado bom é que raramente aparecia alguém, o que deixava uma paz enorme e eu podia organizar coisas. Não era lá como na Recepção, aonde tinha toda aquelas pessoas, movimentação e eu podia ver o Chefe Bogo indo e vindo.

— Quem estou enganando? – Eu bufei. Odiava o Almoxarifado, aqui não era o meu lugar.

Recebi um carregamento de munições das armas, tinha que receber, despachar, organizar, etiquetar e guardar nos seus devidos lugares. Aquilo levou tempo, as balas ficam todas separadas, cada um tem o seu setor, então tinha que andar bastante.

O relógio bateu uma hora da tarde e eu estava quase acabando.

— Clawhauser! – Quase tive uma parada cardíaca, mas era só o Bogo.

— O-oi C-chefe. O senhor quase me matou – Eu bati com a pata no peito.

— Desculpa. Mas é que eu vim trazer uma notícia – Lá vem.

— O que foi dessa vez chefe – Guardei a última caixa e me virei para ele, o Bogo ainda estava na entrada do galpão, mas dava para ouvir ele bem.

— A Hopps achou os criminosos por trás do ataque e também a cura. Era a Prefeita Bellweather, ela usava uma espécie de flor que deixava os Predadores selvagens, pelo jeito vai ficar tudo bem.

— Que bom, ainda bem né. Mais alguma coisa?

— Na verdade sim, eu conversei com o pessoal da Diretoria e.… eles permitiram restituírem seu antigo emprego – Ele esboçou um sorriso.

— Serio? Eu vou poder voltar para a Recepção? – Ele sacudiu a cabeça. Eu não aguentei, tive que corre na direção dele.

Assim que estava próximo, me joguei para abraça-lo com todas as forças. Ele me agarrou e começou a me rodar.

— Vai ser bom voltar a ver você todo dia. Aqui não é o seu lugar, está muito longe de mim – Ele fitou os meus olhos e lá estava. O clima, a tensão quase palpável entre a gente.

— É, também senti saudades de ver você bufando toda hora – Eu dei de ombros, ele não tinha me largado ainda.

— Sentiu?

— Senti.

Foi aí que ele me beijou, dessa vez não foi na bochecha. Foi um beijo mesmo, finalmente pude sentir aqueles lábios nos meus. Eu já tinha beijado antes, mas aquilo. Aquilo era diferente, era como se eu tivesse sede do Bogo e aquela era a forma de me saciar, mas aí ele afastou aquele paraíso dos meus lábios.

— Peraí? Então quer dizer que eu bufo toda hora? – Ele semicerrou os olhos para mim.

— Sim. No início era bem irritante, mas agora eu acho fofo.

Nós rimos e nos beijamos novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zootopia: Inside Stories" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.