— Tem alguma coisa incomodando você — comentou Sherlock, era uma afirmação óbvia, e ele detestava constatar o óbvio, mas não sabia como conversar com John. Ele geralmente era capaz de dizer o que estava sentindo.

— Tem, é? — respondeu o soldado, terminando apressado uma xícara de chá. — Certamente você já sabe o que é, então.

O detetive não respondeu. John o encarou por um instante, Sherlock mantinha os olhos baixos. Ultimamente passava a menor quantidade de tempo possível ali. E um tempo ainda menor na presença do amigo. Amigo, essa palavra começava a lhe causar dores de cabeça.

— Esquece — disse John, despejando o chá na pia e pegando o casaco. — Estou saindo.

— John — chamou Sherlock, enquanto o outro estava na porta.

— O que?

Os dois se encararam por um tempo mais longo do que o comum. Era impossível Sherlock não saber dos sentimentos do médico. Só uma palavra, o médico pensou, de um fim a isso. Mas o detetive não fez nada, se manteve no mesmo lugar, embora com um semblante que lembrava súplica. Ele queria dizer "fique", mas não entendia ainda o porquê.

— Esquece — repetiu o médico, batendo a porta enquanto saía.