Noite Vermelha escrita por MicheleBran


Capítulo 9
Capítulo 9




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9

Uma Esperança de Salvação

 

Sara mal prestava atenção no novo falatório de Gottfried sobre seus planos para noite enquanto preparava o jantar para ela com as sobras que encontrara na geladeira.

Ela até se surpreendeu com o fato de ele saber usar aqueles eletrodomésticos, o que deixava claro que os arquivos da S.E.S. deviam estar errados e seu torpor devia ter começado, talvez, há menos de duas décadas.

Então abandonou aqueles pensamentos fúteis para se concentrar em seu problema e encontrar uma solução.

Sabia que não podia simplesmente fugir. A ligação que tinham faria com que ele a encontrasse em segundos, já que bebera tanto dela. Podia tentar lutar, mas não estava preparada e duvidava de que conseguiria vencer mal alimentada e após ser drenada tantas vezes.

Ainda que conseguisse encontrar um meio de destruí-lo sem se pôr em risco, teria que permanecer ali, já que sair sozinha no meio da noite em um lugar tão ermo seria um erro. E se acabasse encontrando alguma criatura ainda pior?

Por mais errado, assustador e criminoso que fosse o que Gottfried tinha lhe feito, ao menos era um consolo saber que ele não a queria morta. Já se houvesse alguém à espreita naquelas matas, seu objetivo talvez fosse exatamente o oposto. Por pior que fosse, era melhor estar ali.

Foi quando uma nova ideia espantou as anteriores. Ora, era uma caçadora! Nunca ficara quieta esperando a sorte mudar por si ou encolhida a um canto torcendo para ficar segura. Precisava fazer seu próprio caminho.

Se ao menos soubesse quanto faltava para nascer o sol... De dia, poderia encontrar uma rota de fuga segura que não a levasse a nenhuma nova armadilha. Qualquer eventual barulho de vida humana por perto atrairia seus ouvidos e a levaria a pessoas que poderiam ajudá-la. De noite, no silêncio e perdida na escuridão não haveria nada para ela.

Ao menos, não de bom.

Ficou oscilando entre a inércia e a vontade de ação imediata até ouvi-lo dizer:

— O jantar está serrvido, meu bem. Venha.

Sara engoliu em seco e se levantou, as expressões neutras.

A refeição preparada pela dona de casa era simples, mas Gottfried organizou a mesa de forma que parecia ser uma ocasião importante. Até chegou a puxar a cadeira para que ela se acomodasse. No entanto, a única coisa em que ela realmente focou sua atenção foi na grande faca de cozinha depositada casualmente ao lado da pia.

Se ao menos pudesse alcançá-la sem denunciar suas intenções...

— Não sei quase nada de você... — disparou. — Pensei que, já que vamos ficar juntos, talvez a gente pudesse se conhecer melhor.

Já havia reparado que quanto mais o deixasse falando, mais conseguiria um pouco de paz para ordenar os pensamentos. Pretendia ganhar tempo até pesar todas as chances que tinha e decidir qual era a melhor forma de agir.

Enquanto isso, ouviu por minutos a fio Gottfried narrar suas aventuras desde a transformação até o momento em que fora pego por oponentes fortes o bastante para feri-lo a ponto de forçá-lo a fugir e entrar em torpor para se restabelecer. Em seguida, ouviu do ponto de vista dele toda a história — já tão batida — do que acontecera com ele na caverna.

— Acorrdei sozinho no escuro, sem saber onde estava e o que tinha acontecido. — Tocou a mão dela pousada em cima da mesa ao lado do prato, por fim. — A única coisa que eu sabia é que precisava encontrrá-la.

Ela se forçou a sorrir. O melhor era que ele não tivesse motivos para desconfiar de suas intenções. Isso se a ligação que tinham não já estivesse dizendo a ele tudo o que acontecia dentro de sua mente, caso em que teria que dormir com os dois olhos abertos.

Antes que pudesse pensar no que responder, ele se ergueu, como se uma lembrança tivesse cruzado sua mente.

— Antes de mais nada... — ele retomou. — Preciso me livrrar de pequenos inconvenientes. — O sorriso em seu rosto quase a fez se arrepiar. — Logo estarei de volta.

Quando ele deixou a casa, ela correu para a janela, apenas para confirmar suas suspeitas e fazer surgir uma leve esperança. Talvez o tempo que Gottfried fosse levar para se livrar do corpo da antiga dona da casa que ocupavam pudesse deixá-la livre para preparar o ataque.

Armou-se logo com a faca de cozinha, escondendo-a embaixo do travesseiro do quarto onde pretendia esperá-lo com a expressão mais inocente possível no rosto.

Em seguida, revirou os armários. Alho era uma defesa clássica contra vampiros. Era uma pena que não funcionasse como nos filmes, mas o cheiro forte poderia mantê-lo distante em caso de emergência.

Pela localização, duvidava de que ali haveria algum objeto de prata pura, o que seria sua melhor chance de defesa, porém decidiu procurar nos armários e gavetas por alguma joia ou objeto de família. Lembrou-se que sua avó, mesmo sendo originária de uma família de poucas posses, conseguira guardar uma ou outra joia verdadeira em suas gavetas e, após alguns minutos, Sara encontrou peças que se pareciam bastante com aquilo que desejava.

Só precisava ter certeza de que eram de prata verdadeira e poderiam ser utilizadas com eficácia. Em seus tempos de estudo na S.E.S., os instrutores haviam ensinado um teste simples com aquela finalidade. Lembrava-se perfeitamente ainda das palavras da professora responsável por sua turma:

Algumas gotas de água sanitária devem bastar. — Então o risinho dela ao completar: — Apenas se certifiquem de fazerem isso em uma área menos visível, caso ainda queiram usar a joia.

Sara não pretendia usar para mais nada que não autodefesa.

Voltou correndo para a cozinha, antes que seu tempo se esgotasse, e rapidamente encontrou o que procurava em um armário embaixo da pia. Dispôs as peças em fila sobre a bancada e deixou um rastro longo do produto de limpeza cair sobre elas.

— Pronto, querida. Agora podemos ter um tempo parra nós.

Sara abafou um grito ao ouvi-lo tão perto e seu coração disparou ao sentir as mãos em sua cintura.

— Já voltou? — perguntou debilmente. Sua única chance era que ele não reparasse em seu nervosismo e que conseguisse encontrar uma boa desculpa para o que estava fazendo.

Ele ignorou sua pergunta e, mesmo de costas, ela quase podia sentir os olhos dele cravados nos objetos sobre a bancada.

Então veio a pergunta repentina:

— O que está fazendo?


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Notas finais do capítulo

Miga, sua loka :o Mas o teste é real e dá pra você fazer de casa, se quiser HAHAHA
Fonte: http://www.quebreiaregra.com.br/2015/04/como-saber-se-sua-joia-e-de-prata-verdadeira.html



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