Sekai no Sozokujin: Laços mais que eternos. escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 7
O desejo de todos, as vontades de cada um.


Notas iniciais do capítulo

Heeeey!

Sim, eu sei, exageramos dessa vez. Foram cinco meses sem notícias, sem capítulo, sem nada que indicasse que a fic ainda estava viva.

Mas eu estou aqui novamente pra dizer que SIM, ESTAMOS BEM E A FIC CONTINUA!

Nossas sinceras desculpas, gente. Várias coisas aconteceram, vários imprevistos vieram e o bloqueio bateu forte, especialmente em mim.

Enfim, aproveiteeem! Um beijão ❤️ amamos muito vocês e faremos o possível para que essa espera não se repita ❤️



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“Mas eu sei que tem que haver alguém lá fora
Tem que haver alguém em algum lugar
Que precisa de companhia
E é reconfortante saber
Eu não posso ser a única
Que está sozinha esta noite.”

—The Only, Sasha Sloan. 

Sentir a brisa quente do fim da tarde nunca lhe parecera mais poético quanto naquele momento, ficando para trás na caminhada que marcava início em sua jornada. 

Hokuto havia esquecido como era duro partir, mas havia ficado ainda mais distante do sentimento de ver aquele antigo grupo em sua frente, com as mochilas nas costas e os uniformes de batalha. 

“Tão… altos” Sua mente observou, o que quase fez com que sorrisse. Eram muitos os detalhes que sua percepção poderia ter captado naquele primeiro momento, mas, ao invés da luz suave que banhava os amigos em ouro, percebera o quanto haviam crescido em comparação àquela última imagem que guardava na memória. 

Um lado seu lamentava por ter perdido todas as fases que gostaria de ter vivido ao lado deles; outra, no entanto, tinha plena certeza que a cena que via não teria tido tamanho impacto e beleza, caso aquilo tivesse acontecido. 

—Está tudo bem? -Questionou Konohamaru, surgindo ao seu lado, quase fazendo com que pulasse no lugar. A voz do sensei era mais firme agora, e tinha toques paternais tão intensos que a menina sentia-se tentada a admitir aquela bobagem nostálgica que imaginava palavra por palavra. Ele estava casado agora - com Hanabi, é claro - e, se o que tinha ouvido era verdade, tinha filhos pequenos. Meninos. Gêmeos, como ela e Boruto. 

Pensou se aquilo podia ter dado um outro significado em relação aos pupilos à ele.

—Eu só… Estava lembrando. -Ofertou à ele um sorriso doce, sem abrir os lábios. O Sarutobi também sorriu em resposta.

—Creio que todos nós estamos. -Declarou ele. 

—Sentiu nossa falta? -Arriscou, e o homem olhou-a de canto. 

—Tiveram medo de que eu não sentisse? -Provocou, brincalhão, como sempre fora. A Uzumaki riu baixo. 

—Bem, não sei quanto aos outros. -Achou que aquilo fosse resposta suficiente. E aparentemente era para ele também. 

Konohamaru suspirou, o olhar voltando-se aos outros, alguns passos distantes. Hokuto não precisava de seus dons para ter uma ideia do que viria a seguir. Havia visto o mesmo olhar no próprio pai algum tempo antes. 

—Vocês eram só crianças alguns minutos atrás. 

—Foram minutos demais, ‘ttebane. -Brincou. Havia um fundo de verdade naquilo. 

—Talvez. Passaram rápido demais. 

Ela concordou com um aceno, embora quisesse dizer que aquele tempo fora tudo, menos rápido. 

—Tente não roubar Konohamaru-sensei para você, Hoku. -Ouviu Boruto comentar, e se perguntou a quanto tempo ele estaria realmente prestando atenção naquela conversa. 

—Tenho que tentar não te agredir, às vezes. -Rebateu, o tom provocativo parecendo estranho à própria voz. Poderia se acostumar com aquilo novamente. - É necessária muita força de vontade, dattebane. 

Poderia facilmente voltar a se acostumar com aquilo, sem dúvidas. 

Boruto olhou por cima do próprio ombro, exibindo à ela uma careta antes de voltar a olhar para frente novamente. Entretanto, sua mão direita foi levantada, mostrando à irmã um gesto um tanto quanto vulgar. 

—Ei! -Konohamaru indignou-se, correndo até o meio dos outros jovens para dar algum tipo de bronca no menino. 

Atrás, Hokuto riu, tão audível quanto pudesse ser. Como a anos não fazia. 

•´¨*•.¸¸.•´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•

O mundo pareceu parar. Ficar fora de foco. 

Aquilo… Aquela risada… O sorriso quente que a enchia com uma confusão de sentimentos e lembranças. Tinha de se esforçar para não virar. Para não encará-la com admiração, como Inojin fazia. Para manter aquela postura reta e aquele rosto duro e frio como pedra. Como a pedra de gelo em que seu coração se transformara naqueles insustentáveis meses. 

Era culpa dela. Era claro que era. O sentimento dominante era revolta e raiva. O restante… Migalhas do que um dia haviam sido. 

Não poderia querer aquilo de volta. Nunca mais. Bobeiras insignificantes. 

Seu olhar voou de encontro ao conflito que se desenrolava ao seu lado. Boruto agora sorria, sem graça, mas nada arrependido, enquanto pedia desculpas esfarrapadas à Konohamaru. E Hitomi conhecia cada detalhe daquele tom, cada mínimo fragmento de diversão presente na voz irreverente do loiro. 

Conhecia… Costumava conhecer. 

Ele era um idiota. Ela era uma traidora. E Hitomi era mármore bruto e puro, ou talvez fosse um campo de espinhos envenenados, selvagem e impenetrável. 

Desviou-se daquela visão. Seus olhos ardiam. Focou-se no chão de terra. 

Doía. 

Sentiu Mitsuki tocar-lhe o braço, num gesto simbólico, transmitindo-lhe uma pergunta.

—Estou bem. -Afirmou, num murmúrio, o tom áspero com o qual acostumara-se a falar.   

—É isso que me preocupa. -Murmurou o menino de volta, fazendo com que lançasse à ele um olhar irritadiço. 

—Quanto tempo ainda falta? -A voz de Chou-Chou questionou. Konohamaru, que já havia voltado a ocupar seu lugar juntamente à Hokuto, suspirou antes de responder:

—Cerca de uma hora. 

Era relativamente perto, sem dúvidas. Estavam andando a mais ou menos uma hora, também. O percurso era quase nada comparado ao que a maioria ali estava acostumado. 

—Poderíamos ir mais rápido se nos deixasse correr. - Protestou a Uchiha, em silêncio até ali. 

—Estávamos correndo a minutos atrás. Não faz mal diminuirmos o ritmo, não quero que se cansem antecipadamente. - Respondeu, mais uma vez, o sensei. 

A Uchiha bufou. Não era burra, sabia daqueles motivos. Apenas queria acabar logo com aquele inferno - deixara de ter costume daquelas pessoas. Queria chegar à vila e conseguir, mesmo que temporariamente, um lugar para si mesma, sozinha. 

Ou aquilo, ou correr de volta à vila. A segunda opção acabava com toda a reputação que ainda tinha. A primeira só lhe faria perder um pouco da paciência, de qualquer forma. 

•´¨*•.¸¸.•´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•

O tempo pareceu mudar radicalmente quando o grupo chegava perto da pequena vila, o céu cinzento e o vento constante indicando uma chuva próxima. Havia sido consideravelmente rápido chegar, conforme a concepção do garoto, embora extremamente entediante; o grupo parecia desajustado em seu próprio funcionamento interno, sobretudo quando se tratavam dos membros de seu antigo time. A ficha de que realmente estavam ali - cumprindo novamente uma missão juntos - não havia realmente caído. Não pra ele. 

Melancólico, é como Boruto descreveria aquela Vila e a atmosfera que rondava todo grupo. Sim! Melancolia era uma ótima palavra pra'quelas casinhas pacatas e a peculiar falta de prédios oficiais, assim como as pouquíssimas pessoas na rua, que apenas às vezes faziam questão de reparar a presença do grupo. O lugar era tão comum, tão pequeno e cinza, que o menino chegou a questionar-se que tipo sequestradores iriam querer aqueles cidadãos. 

A Vila do Rio parecia uma cidade fantasma, onde os moradores silenciosos mal pareciam mover-se, as casas não emitiam um único ruído e o grupo poderia muito bem ser considerado a maior fonte de som do local. 

—Que… pra baixo. - Comentou ChouChou, como se ninguém mais fosse capaz de perceber o nível ordinário da vila. 

Pra baixo? Isso aqui é uma espelunca! -Destacou Inojin, e Boruto voltou a lembrar-se sobre a semi-total falta de senso do amigo. 

—Inojin! -Konohamaru bronqueou, colocando-se à frente do grupo. Caminharam mais um pouco, até que mais nenhum civil parecesse à vista, fazendo uma pequena parada. -Muito bem, já que chegamos, acho que devo explicações à vocês.

—Nos falta alguma? -Questionou Mitsuki. Boruto olhou-o de canto, repreendendo internamente o fato de o garoto azulado estar constantemente ao lado de Hitomi, durante toda a viagem, ainda que pouco mais de duas horas. Odiava-se por nutrir aquele sentimento, cujo não sabia definir por ciúme ou inveja (ou quem sabe até mesmo ambos), após tanto tempo, mas não era algo que poderia controlar, de qualquer forma. 

Odiava-se por não saber demonstrar nada corretamente, na verdade. 

—Bem… Nada além do padrão. -Suspiros espalharam-se pelo grupo naquele momento. -Sei que vocês devem achar chato, mas sabem que tenho que fazer isso sempre, kore. 

—Ne, Sensei, vamos logo com isso. -Apressou ChouChou que, novamente, parecia sintetizar muito bem os pensamentos do grupo. 

—Ok, muito bem. Sei que todos vocês foram informados da situação e tiveram acesso às fichas, assim como eu, porém é importante que lembremos sobre os desaparecidos de cada vila em específico, certo? 

O grupo concordou, num gesto breve e coletivo de afirmação. 

—Foram três pessoas nessa região, duas delas do clã Kuwabara, o qual a maioria dos moradores pertence, incluindo o líder. 

—As duas garotas. -Shikadai recordou. - Uma jovem um pouco mais nova que nós e uma criança. 

Boruto teve a impressão de ouvir um suspiro pesado, e teve a certeza que provinha de uma de suas companheiras de time. 

—Correto, Shikadai. 

—Izuri e Maiya, se me lembro bem. -Foi a vez de Hokuto falar, o que quase fez com que o irmão se sobressaltasse; ela havia ficado quieta durante tanto tempo, e de forma tão impressionante, que era possível quase esquecer-se de sua presença. Quase.

Shikadai pareceu encarar a menina Uzumaki de longe; se com admiração ou desprezo, Boruto não saberia definir. 

—Mais uma vez, correto. -Confirmou o Sensei, parecendo sentir-se orgulhoso pelo conhecimento de seus “alunos”. -Então temos o último…

—Kazoku Koda, de 34 anos. -Hitomi disse, cortando-o. 

—Kazoku? Não é lá um nome comum. -Observou Boruto, pensando mais alto do que deveria. “Não é um pensamento adequado para um shinobi do seu nível”, era o que Sasuke diria, caso soltasse uma daquelas aleatoriedades durante as missões. 

—Cara, - Inojin aproximou-se, colocando a mão sobre um de seus ombros. - você se chama Boruto

Tudo bem, talvez aquilo fosse argumento suficiente. Embora adorasse o nome e os motivos dele, o Uzumaki sem dúvidas ganhava na disputa entre Kazoku e Boruto. Deu um suspiro vencido, contendo-se para não dar um sorriso de canto ou dizer ao amigo que o nome dele nada mais era que o nome da mãe com a terminação “jin”,  mas manteve a expressão amena de sempre (outro dos truques de Sasuke). 

—Certo, depois dessa discussão sobre nomes, será que poderíamos voltar à missão? -Konohamaru parecia levemente incomodado, e sequer era capaz de esconder bem. 

—É claro. -Novamente, foi Mitsuki quem falou. -Qual será o próximo passo, senhor? 

“Senhor? Fala sério!” 

—Falar com a líder. -Ele apontou com o dedo indicador uma casa distante, localizada no que parecia ser o início de um morro. -Chiharu Kuwabara nos espera. 

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De perto, a casa parecia muito mais um templo que qualquer outra coisa. 

Tinha uma entrada ampla, com colunas de amplos os lados e um telhado demasiadamente tradicional; leões enfeitavam os muros vermelhos de fora, gravados na pedra antiga, transmitindo uma imagem de poder e astúcia que não era incomum no País do Fogo. 

Estranhamente, não haviam guardas à vista, muito menos shinobis, o que passou a Hokuto uma sensação estranha de deslocamento. Sabia que Konoha havia passado por inúmeras invasões e, sendo assim, havia shinobis de guarda em cada entrada e prédio principal da vila (ainda que soubesse que, em caso de alguma situação realmente séria, seria seu pai a segurar todo e qualquer inimigo). 

—Isso está estranho, não? -Questionou, indicando as entradas vazias. 

—Talvez. -Foi a resposta de Konohamaru, e a menina olhou-o com dúvida. Passou, então, o olhar ao irmão, que tinha o braço direito recolhido para dentro da própria capa, ao alcance daquilo que a visão analítica de Hokuto sabia ser uma katana, como aquela que Sasuke tinha. 

Como aquela que ela, igualmente, usava. Podia se lembrar de forma clara o dia em que a oportunidade lhe fora oferecida; o dia em que o padrinho havia dito, demonstrando certa relutância (apesar de já tê-la aceitado como pupila), que ela tinha o talento Uchiha com lâminas. 

—Hokuto? -Chamou Inojin, e só então a menina percebeu o quão distraída realmente havia ficado para que não notasse a movimentação do grupo, que já havia passado pelo arco principal e se deslocava em direção à entrada. Apenas Inojin havia ficado, no objetivo de esperá-la. Entretanto, era possível visualizar Hitomi também parada, cerca de dez passos à frente, parecendo olhar indiferentemente em direção aos dois. Aquilo fez com que a dúvida surgisse; talvez a Uchiha apenas não quisesse entrar, mas a possibilidade de que realmente estivesse esperando, ou vigiando, a antiga amiga por preocupação ainda existia. 

—Vamos. -Respondeu a Uzumaki, notando que a Uchiha virara-se para seguir o caminho no exato instante em que ela voltara ao seu estado normal. 

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Além de arrastada e entediante, a conversa tida pelo grupo havia sido extremamente inútil. Nada fora obtido além das informações usuais - a identidade dos desaparecidos - e os últimos locais onde cada um havia sido visto. Era como se tivessem grãos de areia nas mãos: quanto mais mexiam, mais parecia escapar.

 O grupo caminhou para o que parecia o centro da cidade, e Konohamaru parecia pensar no que fazer. Era óbvio, nesse ponto, que o próximo passo era contatar as famílias e investigar todos os locais. Entretanto, até ele parecia pressentir que estavam em uma "rua sem saída" - muito embora Hitomi soubesse que sempre havia saídas para os shinobi. 

A Uchiha bufou, claramente irritada, e seu olhar voltou-se para o céu, fazendo-a questionar se alguma pista não poderia cair dali, simplesmente. Mas é claro que as coisas não funcionariam assim. 

—Poderíamos deixar pra amanhã. -Sugeriu Mitsuki, no que parecia uma tentativa de interação com o grupo frustrado. 

—E vamos. -Atestou Konohamaru. -O anoitecer já começou e não creio que teremos frutos no escuro. Vamos nos ajeitar na casa que Chiharu cedeu durante nossa estadia. 

—Que provavelmente não vai durar muito. -Murmurou Inojin, o que lhe rendeu um olhar de advertência proveniente do Sarutobi. Hitomi ouviu Shikadai suspirar. Era mais do que óbvio de que ele, mais do que todos os outros, estava ciente de que aquilo era verdade. 

—Vamos logo, 'ttebane. -Boruto disse, por fim. -Nos dê ao menos descanso antes de morrermos de tédio. 

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Já não era mais capaz de saber que horas eram quando a insônia resolveu dar as caras, decidindo que pouco mais de meia hora de sono havia bastado. Levantou-se sem pressa e colocou as sandálias, conhecendo aquela rotina como a palma da mão, sem preocupação alguma com relação ao que vestia - ainda que fosse apenas uma camiseta larga - já que tinha noção de que todos estariam dormindo. Havia se acostumado com aquilo; as noites em claro, o descanso atrapalhado por pensamentos intrusivos e cenas de morte e abandono. Sabia que era o passado assombrando-a, assim como sabia que o que trazia seus traumas de volta era aquela missão indesejada, aquelas pessoas para quem tinha jurado não querer voltar. 

Saiu do quarto que temporariamente ocupava (havia perturbado Konohamaru de tal forma que ele permitira que ficasse sozinha), recordando-se do hábito de andar pela casa quando aquele tipo de crise vinha. Aquela casa era menor - consideravelmente menor - que o alojamento que servira de abrigo nos últimos dois anos na Vila do Som, mas aquilo pouco lhe importava. Aliás, era até mesmo provável que o local novo ajudasse na distração de que precisava. Se esgueirou pelo corredor a passos cuidadosamente leves, apesar de sentir-se cansada e sonolenta, observando com certo apreço as três portas que levavam aos demais minúsculos quartos, onde o resto do grupo dormia. Deveria odiá-los agora. 

Deveria. 

Passou pela pequena sala, observando a silhueta do velho sofá no escuro, sendo uma janelinha o único ponto de luz. Preferia assim. Estava familiarizada com a lua, às vezes tomando-a de companhia. Um pé em frente ao outro, milimétrica e lentamente, como sempre. Seguiu o caminho, direcionando-se à cozinha, e foi ali que sua surpresa veio. 

"Ela está… dormindo? Aqui?" Questionou-se internamente, vendo a figura de costas debruçada sobre a mesa, virada em direção à parede, uma das mãos apoiando a cabeça, os cabelos cor-de-rosa amarrados num rabo-de-cavalo que, nessa altura, estava bagunçado o suficiente para que fosse possível reconhecer que provavelmente havia saltado da cama, assim como a própria Hitomi. 

Aproximou-se mais, caminhando até estar quase do lado da mesa, e viu as pálpebras fechadas. A expressão naquele rosto, no entanto, não era de relaxamento, e sim de algo como cansaço. A Uchiha deu passos para trás, decidida a ir embora e fingir nunca ter estado ali. 

—Sei que está aí. -A voz doce declarou, baixa. Naquele instante, notou que era possível ouvir ambas as respirações em meio ao enorme silêncio da madrugada. -E não, não é minha melhor opção de local de descanso. -A última parte havia sido dita para soar cômica, mas tudo o que Hokuto transparecia era algum tipo de agonia. 

—Não te dei permissão para usar essa coisa em mim. -A Uchiha respondeu, fria. Hokuto se virou, abrindo os olhos, o luar denunciando o ônix que cobria o fantástico azul. Percebeu que aquelas eram as primeiras palavras que trocavam desde que tudo acontecera. 

—Meu inferno particular e completamente involuntário, se quiser saber. -A menina respondeu. Hitomi esperava um sorriso, ainda que proposital, nos lábios dela, mas não o encontrou. Era estranho vê-la daquela forma - era quase como se sentisse dor. -A única coisa que enxerguei foi dúvida, só tive a sorte de acertar qual era. 

—Involuntário? -Sussurrou, tornando aquilo quase retórico. 

—Sim. -A Uzumaki voltou-se novamente para a parede, como se a encarasse com afinco. -Esses olhos devem gostar do escuro. Ficam incontroláveis, às vezes. Me obrigam a olhar pro nada. 

Hitomi tentou imaginar como era aquilo - a tortura do sentir, ser invadido daquela forma por tantas mágoas, tantos sentimentos.Era difícil lidar consigo mesma na maioria das vezes, e aquilo apenas tornava quase impossível pensar em drenar e suportar as dores de outros, como sabia que o dom de Hokuto podia fazer.

Isso é, se é que era apenas aquilo que fazia. Conseguia ter uma ideia agora do porquê a outra menina também não estava dormindo. 

—O que você vê? -Arriscou. Ouviu ela suspirar, quase como se achasse aquela situação um tanto engraçada. -O que viu quando olhou pra cá? 

"Pra mim."

—Você. -Respondeu, simples, como se aquilo explicasse tudo. Hitomi respirou fundo, um pouco desapontada: aquela não era a resposta desejada, apenas a mais óbvia. Óbvia até demais.

—Sei que sou eu. -Rebateu, mas a grosseria pareceu recusar-se a acompanhar o comentário. -Mas queria saber como.

—Como? -Hokuto repetiu, como se perguntasse aquilo à si mesma. -Acho que como sempre.

—Não acha que as coisas mudaram o suficiente, Hokuto?

E Hitomi notou que não fazia aquela pergunta somente à princesa dos Uzumaki, cujo nome pareceu queimar quando pronunciado. Jamais o havia esquecido; mas a voz, entretanto, muitas vezes falhara diante daquilo.

—Eu sempre vi você, dattebane. -Agora ela reunia os braços em cima da mesa, deitando a cabeça sobre eles. -E sei que fui a única.

—Boruto...

—Os olhos de Boruto não são os meus, de fato. -Apesar de tudo, não havia arrogância naquela frase. -Ele te enxerga de uma forma que eu não devo enxergar. Mas se o que quer saber é como você é refletida através do meu doujutsu, Hitomi, talvez deva se perguntar o motivo de nenhuma de nós duas estarmos dormindo nesse exato momento.

E aquilo tinha tantos significados - tantas variáveis - que Hitomi sentiu-se perdida, e um milhão de respostas surgiu em sua mente. Entretanto, não disse nada. Estava cansada demais, exausta demais por ter de lidar com seus próprios fantasmas, ainda que um deles fosse real e estivesse bem ali, à sua frente. 

—Boa noite, Hitomi. -E aquilo pareceu encerrar a conversa, deixando Hitomi ainda mais incomodada. Culpou a si mesma por aquela situação; não deveria se importar daquela forma, e muito menos machucar-se assim. 

Não respondeu o cumprimento da Uzumaki, apenas virou-se e saiu, andando até a sala e sentando-se em silêncio no sofá. Precisava daquela escuridão, daquela ausência. Era necessário que lutasse consigo mesma às vezes. 

"Porquê nós duas estamos acordadas, Hokuto?" Indagou mentalmente, e só então decidiu que talvez fosse melhor que não obtivesse aquela resposta agora. 

Em um dos quartos, alguém igualmente acordado se perguntava algo semelhante. 


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Notas finais do capítulo

E aí, genteeee? O capítulo ficou grande, eu sei, e espero que dê pra compensar ao menos um pouquinho de toda a espera que vocês tiveram.



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