Sekai no Sozokujin: Laços mais que eternos. escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 6
Hérois


Notas iniciais do capítulo

Faaaaala aí, herdeiro! Sim, sim, peço desculpas e quero dizer que sinto muito pela demora gigantesca pra esse capítulo - mas olha só, pra combinar com a demora saiu um capítulo gigantesco fresquinho pra vocês!

Quero agradecer à todos que estão aqui - sem vocês, Sekai não seria o que é hoje.

Estamos passando por tempos complicados, então espero que compreendam. Mais uma vez, me desculpe pela demora.

Um beijão, gente! Boa leitura!



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"Embora nada vá nos manter juntos

Nós poderíamos enganar o tempo, apenas por um dia

Nós poderíamos ser heróis, para todo o sempre

O que você diz?"

—Heroes, David Bowie.

—Não quero saber de nenhuma missão. - Rebateu a rosada, voltando-se para seu prato de ramen recém-feito como se o assunto já estivesse terminado. Boruto não respondeu, embora estivesse interessado, fazendo o mesmo que a irmã. Inojin, entretanto, lançou um olhar de dúvida ao Hokage.

—É um pedido. -Continuou o Hokage. -Um pedido de extrema importância, mas é um pedido. Não estou obrigando-os.

—Só mandando em nós. -Hokuto alegou, parecendo decidida a não se virar mais para o pai. - Não somos mais crianças, e acabamos de chegar à vila. Mal voltamos e quer nos manter distantes novamente. Acha que está salvando o dia mantendo os seus filhos longe?

Dito aquilo, o Hokage suspirou; apesar de não vê-lo, Boruto pôde notar o quanto aquele pequeno ato soava cansado. Talvez o pai estivesse mais exausto do que imaginava.

—Vocês têm quase dezesseis anos, pra mim ainda são crianças. Além disso, são meus filhos. Apesar disso, falo como um líder que se preocupa com o bem-estar da vila. Quero convocá-los a uma reunião amanhã, para que a missão seja acertada, juntamente ao time 10.

—Não estarei lá, 'ttebane. -Boruto lançou os olhos até a irmã, que apresentava um semblante duvidoso. Sabe-se lá o que pensava, certamente não era uma boa coisa.

—Você tem de estar.

—Eu não tenho, uma vez que me deu a opção. Passar bem.

—Hoku... -Inojin cutucou-a no ombro, um assustado olhar de aviso dominando seu semblante. Antes que pudesse falar algo, entretanto, o Hokage voltou a se manifestar:

—Não me obrigue a agir como seu superior. -Alegou, em voz firme. Boruto olhou-o numa mistura de espanto, raiva e respeito, embora não soubesse como tudo aquilo poderia se misturar; nunca esperaria tal tom proveniente do pai, principalmente tratando-se da irmã.

Como é? -Ouviu-se o baque surdo dos hashis de Hokuto caindo na tigela. A tensão, que mantivera-se tênue até ali, pareceu tornar-se sentimento fixo do momento.

Boruto respirou fundo enquanto o momento parecia aumentar cada vez mais, seus olhos alternavam entrem a rosada e o hokage ali presente. Os pensamentos martelavam em sua cabeça, dividindo-se entre interromper aquela briga para voltar a comer ou simplesmente deixar a bomba explodir ali mesmo e ver o circo pegar fogo.

Claro, sabia que em ambas as opções não estava sendo sensato. 

Apesar de querer saber onde realmente aquilo iria parar, não se deixou levar, fazendo a coisa supostamente mais racional naquele momento. Pegou o braço de Hokuto e se levantou rapidamente, puxando a irmã, desviando-se do pai que estava logo atrás para saírem da pequena barraca de ramen. "Inojin vai ter que pagar" sua consciência alertou-o, e uma parte dele divertiu-se um pouco com aquilo; entretanto, repreendeu-se mentalmente em seguida. Pagaria a dívida assim que pudesse. 


Hokuto, entretanto, não parecia ter gostado muito daquela ideia. 

Desvencilhou-se do braço do irmão com a mesma rapidez com que ele a havia surpreendido, marchando de volta ao pai, levando um semblante irado e duro consigo. Naruto parecia observar a filha com um misto de interesse e espanto. 

—Você não muda né? Teimoso e cabeça-oca, igualzinho ao que ela falou. Desde os doze anos falando que nunca iria desistir do que queria, e agora o que quer é ter seus filhos de volta. É nos ter de volta. -Hokuto alegou, e Boruto tinha plena ciência de que ela tinha grandes probabilidades de estar certa. -Está fazendo isso errado. Busque outros meios. Não vai me fazer voltar com regras, ou acha que vai? Afinal, você não voltou, não é mesmo? Foi atrás dele, mesmo depois de tanto tempo.Mesmo depois de três anos. - Ela falava de forma tão dura quanto sua expressão e Bolt sabia que, em outros casos, ela teria sido punida por tamanho desrespeito comportamental. O Hokage, mergulhado em seus oceanos negros de lembranças e arrependimentos, nada disse. Hokuto voltou a se mexer, se dirigindo novamente à barraca para buscar um Inojin certamente arrependido de já ter pago os ramens. 

—Vamos? - Questionou ao irmão, voltando a posicionar-se ao seu lado, com o jovem Yamanaka ao seu encalço. Em um instante de lúcida pena, voltou seus olhos ao pai, que agora entrava na barraca de ramen. Não sorriu. Não precisava ser como Hokuto para sentir a dor que emanava daquele ser. 

•´¨*•.¸¸.•*´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•*

Sua manhã teria começado verdadeiramente ótima caso não fosse acordado pelas mãos desnecessariamente fortes de sua irmão gêmea. 

—Anda, acorda! -Alertava a menina, parecendo prestes a arrancá-lo da cama, e possivelmente cogitando essa possibilidade. - Acorda, Bolt, vamos nos atrasar. 

—Hã? Hein? -Questionou o garoto, embrigado pelo sono que lhe murmurava palavras de incentivo para que voltasse a dormir. Suas pálpebras abriram-se de forma gradual, as íris azuis desfocadas acostumando-se à claridade do novo dia. 

—Vai se arrumar. -Ouviu a voz da rosada alertá-lo novamente. Parecia séria, ligeiramente impaciente. - Agora, dattebane. 

—Tá... - Assim que ela tornou-se clara, seu coração quase pulou diante das milhares de memórias dispersas. Tinha os longos cabelos rosados soltos e os penteava de forma apressada. Só ali se tocou da situação, e perguntou-se quanto tempo fazia de que não era arrancado da cama por Hokuto. Anos. Curiosamente, aquela cena lhe lembrava intensamente de sua formatura na academia. 

Um gosto amargo dominou sua boca. A infância parecia distante demais agora. 

Levantou-se com certo esforço, era verdade pura que não tinha a mínima vontade de sair de seu precioso quarto naquele momento. 

—Pra onde vamos? - Questionou, enquanto buscava o uniforme jogado em algum lugar na sua bagunça de roupas. 

—Vamos à reunião. 

—Mas você disse que não iria, 'ttebane. - Alegou. Em resposta, ela direcionou-lhe um olhar afiado. 

—Eu sei disso. 

—Então porque...? 

—Não sou idiota de não pegar essa missão. Se ele nos convocou, foi por ter achado que precisa de nós. E se *precisa* de nós, com Hitomi, tio Sasuke está envolvido. E isso prova que envolve algo sério. Só se arruma. 

Ele levantou uma das sobrancelhas loiras. 

—Ele não te disse a hora. 

—Ele sempre faz as reuniões de manhã, enquanto a vila está calma e silenciosa. Ajuda. -Foi a vez dele lançar à ela um olhar curioso. 

—Como sabe? 

—Sabendo, 'ttebane. Agora vai se arrumar logo, garoto! -Proclamou, dando um fim repentino ao assunto, enquanto jogava a camiseta na direção dele. -Esse quarto tá uma zona! 

—Falou, mãe. - Respondeu o irmão, mal-humorado. Ela riu sem que ele visse, assim que o menino saiu com as roupas em mãos na direção do banheiro. 

•´¨*•.¸¸.•´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•

Embora previamente informado, o cansaço natural da manhã fez com que Boruto se sentisse surpreso ao encontrar o time 10 ali, completo, parecendo esperá-los pacientemente.  Shikadai tinha uma expressão amena, parecendo tão feliz quanto o próprio Boruto com a obrigação de acordar àquele horário; Inojin, imerso novamente em seu mundo de tinta colorida, apreciava pergaminhos aparentemente novos, cuja cor amarelada era limpa e, caso fosse mais clara, talvez fosse capaz até mesmo de refletir a luz do ambiente. ChouChou, enquanto isso, parecia apreciar as próprias unhas pintadas de um dourado marcante. 

—Tenho que admitir que estou surpreso por ter vindo no horário, Bolt. -Comentou Shikadai, provocativo, enquanto observava os gêmeos se aproximarem. Boruto lançou um olhar em direção à irmã, como se colocasse a culpa inteiramente na conta dela. O Nara sorriu de canto, compreendendo o gesto.

— Você mudou. -Constatou ChouChou ao avistar Hokuto. Boruto não soubera por exato onde a menina estivera nos últimos três dias, mas era claro que alguma missão a havia tirado de área para que ainda não tivesse apreciado a volta de Hokuto.

—Mudamos. -A rosada sorriu de forma gentil, parecendo avaliar, de uma forma boa, a antiga amiga. ChouChou estava alta - de fato mais alta que a própria Hokuto - e o tempo havia lhe dado curvas em lugares estratégicos (ou talvez a própria Akimichi pudesse escolher onde ficaria localizada a gordura corporal que estocava?). O rosto arredondado e cheio permanecia, e aquilo marcava de forma boa os traços dela, assim como destacava aqueles olhos grandes e dourados que herdara da mãe. A menina preservara a longa franja, mas o restante do cabelo castanho-claro, que quase pendia para o ruivo ou loiro, estava preso para trás, visível, cheio e longo por trás de seus ombros e braços. Agora ela usava brincos, assim como os companheiros de time. Como todos ali até agora, utilizava uniforme de batalha.

—Bem-vinda de volta. -Desejou a Akimichi, devolvendo o gesto da Uzumaki.

—Obrigada. É bom ver você também. -Confirmou, e seu olhar voou de encontro aos meninos. Boruto pôde ver o momento em que Inojin pareceu fingir não notar aquele olhar, e se perguntou o que diabos o colega planejava ilustrar naquele pergaminho, ou se algo já estava ilustrado. Pela forma com que o outro aparentava fugir de Hokuto, não gostou das opções que sua mente sugeriu.  

—Chegaram a muito tempo? -Perguntou, dando passos até ficar entre Inojin e Shikadai, formando algum tipo de roda. Olhou de canto para o papel que Inojin parecia analisar, mas não havia, definitivamente, nada ali, a não ser que tinta invisível existisse. Teve vontade de bufar de decepção

—Na verdade, não. Alguns minutos. - Respondeu, surpreendentemente, Inojin, fechando o pergaminho de súbito e virando-se para encarar Boruto, que fez questão de manter a pose inocentemente despreocupada. -Encontraram Mitsuki pelo caminho?

“Mitsuki?”

—Não. -Respondeu seca e calmamente, como se a informação da presença de Mitsuki não fosse nada nova. A verdade era que estava surpreso: Se Mitsuki viria, talvez significasse que Hitomi também apareceria por lá, correto? Questionou-se se, por algum motivo, aquela missão teria sido o motivo da volta da garota à vila após todo aquele tempo na Vila do Som. Era possível, não era? Ou estaria se iludindo em demasia?

Balançou a cabeça, tentando afastar aquelas perguntas sem respostas da cabeça. Já estava farto de tamanha desinformação por sua parte.  

Ouviu passos - claros e definitivamente sem qualquer cuidado de seus donos para não serem notados - e aquilo lhe tirou do transe momentâneo em que sua consciência o havia colocado. Não era o único a ter a atenção chamada, no entanto. Todos haviam se virado para ver os recém-chegados - e Boruto teve a certeza, logo depois, de que ninguém se arrependera de tal ato.

Os rostos expressaram surpresa, apesar de tudo. Uma surpresa crua e sincera. Ali estava ela, finalmente: Hitomi Uchiha, em carne e osso.

—Cara, ela… Ela tá gata pra cara... —Fosse qual fosse a palavra, o sussurro vindo do Nara calou-se assim que Boruto olhou-o de canto, esperando que o amigo não estragasse o momento, e muito menos ofendesse a Uchiha de alguma forma. Entretanto, permitiu-se completar a frase em sua própria cabeça.

Hitomi parecia confortável e plenamente ciente das próprias roupas - Usava shorts preto, de um tecido indefinidamente escuro, que vinha até a metade das coxas claramente torneadas da Uchiha; um top azul com renda sobre os ombros, que marcava com sucesso o tronco e seios, possivelmente de forma proposital. Botas ninjas, também pretas, que subiam até pouco abaixo do joelho. O visual era completado com a bandana preta amarrada aos quadris, e os cabelos rebeldes e bagunçados, cujos fios Boruto duvidava terem sido arrumados naquela manhã, caso os velhos hábitos ainda persistissem.  

E Mitsuki tinha de vir ao seu encalço, é claro.

Os cinco encararam os recém-chegados, e, porventura, Hitomi os encarava com os afiados olhos ônix. Bolt tinha plena consciência de que estava sendo cuidadosamente analisado, assim como todos ali. Apesar disso, não fazia ideia dos pensamentos que poderia habitar a mente da ex-companheira de time naquele momento.  

Uma revelação pareceu ocorrer-lhe naquele instante, e sua mente subitamente se clareou. Não pôde evitar sorrir de canto, virando levemente o rosto para que aquela conclusão boba, ao que parecia, não fosse notada pelos outros. Era um detalhe, como os que Boruto não costumava atentar-se, mas que havia pego naquele mísero momento.

Agora, eram sete.

•´¨*•.¸¸.•´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•

Foram chamados à reunião poucos minutos depois, não por Naruto, uma vez que sua posição de Hokage o fazia ter de seguir regras de etiquetas hierárquicas enjoativas e desnecessárias enquanto dentro daquele prédio; ao invés disso, aquele que os conduziu ao escritório do Hokage foi um jounin jovem, com cerca de vinte e poucos anos, que Boruto lembrava-se de já ter visto por ali, embora já não visitasse tantas vezes o escritório do pai.

Se pudesse, diria que não, mas ficara aliviado de terem sido finalmente chamados; aquilo que se estabelecera após a chegada de Hitomi e Mitsuki só poderia ser descrito como um silêncio completamente desconfortável e constrangedor, talvez não naquela ordem, mas decerto incômodo.

Entraram na sala um por um, com posturas firmes e rostos sérios. Shikadai foi o primeiro, seguido por Inojin, Boruto, ChouChou, Hokuto, Mitsuki e, enfim, Hitomi. O ninja que os havia guiado, embora não precisassem de guia algum, permaneceu do lado de forma, parecendo ansioso por novas ordens. Não era novato, aquilo era claro como água, mas parecia preservar os ares agitados de sua juventude.

A porta foi fechada, e Boruto pôde, enfim, erguer a cabeça para encarar as feições marcadas do pai e, surpreendentemente, do mestre. Sasuke parecia destoar do ambiente, uma sombra negra em meio àquela manhã azul-acinzentada. O Uchiha encarou-os de forma individual e, caso não o conhecesse de certa forma, o jovem Uzumaki poderia pensar que ele estava avaliando as vestimentas de cada um, mas sabia que não era aquilo. Olhava para trás, para as posturas, para as manias falhamente ocultas. Aquele olhar cuidadoso e inescrupuloso não parou em ninguém -  sequer na outra Uchiha presente.

Eles não haviam se falado ainda. Certo. Boruto podia entender aquele gesto.

Uma mesa grande, temporária, havia sido colocada em meio àquele enorme cômodo, e oito cadeiras esperavam seus ocupantes. Oito, e não nove, Boruto notou. Sasuke possivelmente permaneceria na posição que agora ocupava, rente à parede, perto da mesa. Continuaria cumprindo seu papel de sombra - assumiria novamente aquele manto cujo apelido ele nunca havia gostado.

Mas existia uma sala de reuniões. Estava totalmente ciente daquilo. Então porquê ali?

—Creio que todos estejam devidamente informados de que a sala de reuniões está temporariamente… indisponível. -Não estavam, nenhum deles, tinha certeza daquilo. Se era função daquele jounin de antes, então ele não a cumprira. O hokage pareceu não notar a confusão nos rostos dos chunnins e, se notara, decidira ignorá-la. -Assim sendo, teremos de realizar esta sessão aqui. Espero que não os incomode.

Incomodava. Algo estava errado.

—Podem se sentar. -Continuou, assumindo seu lugar, naturalmente na ponta esquerda da mesa oval. Hitomi sentou-se na outra ponta, exibindo uma expressão desinteressada. Boruto, juntamente a Shikadai e Mitsuki, ocupou um dos lados, em meio aos outros dois meninos, enquanto Hokuto, ChouChou e Inojin ocupavam o restante. Os lugares não haviam sido realmente escolhidos, mas tinha de admitir certo alívio por ter a gêmea em sua imediata frente. A olhou de esguelha, no exato mesmo momento em que ela o olhava de volta, e aquele ato decididamente significava que ambos haviam percebido a estranheza daquela situação.

Naruto limpou a garganta, fazendo ecoar um ruído seco, nervosismo por debaixo daquela máscara de frieza política. Algo o incomodava profundamente. Ajeitou os papéis em suas mãos, tornando-os uma pilha semi-simétrica de folhas e mais folhas. Daquela distância, Boruto não conseguia discernir as várias letras. Se tentasse, talvez visse kanjis errados, fora do contexto, e entendesse algo completamente diferente.

—Certo. -Olhou para os jovens à frente com sobriedade, e Boruto já podia ver os dedos ágeis da irmã baterem levemente contra o tampo da mesa. -Trouxe todos vocês até aqui, como anteriormente já dito, para dar-lhes uma missão que necessita, especificamente, das experiências de vocês. Ambos os times, dez e sete, estarão estritamente envolvidos.

Fez uma pausa justa, deixando com que todos absorvessem de forma clara suas palavras. Boruto havia sentido seu coração dar um salto ao ouvi-lo dizer aquilo - designar-lhes novamente o título de Time 7 - após tanto tempo. Não sabia que havia sentido tamanha falta do poder que aquele nome continha.

—Há algum tempo, casos vêm sendo relatados. - Uma ameaça parecia rodear pequenas vilas, era o que Boruto ouvira. Mas não passavam de boatos, ou ao menos fora convencido daquilo.

—Casos? -Questionou Shikadai, as sobrancelhas escuras franzidas, certamente já seguindo a mesma linha de pensamento que o amigo. O Hokage assentiu.

—Desaparecimentos aleatórios. Mais de um lugar em horários parecidos. Não parece haver um padrão; Jovens, adultos e crianças somem sem rastros. Entretanto, todos ocorridos dentro de pequenas vilas nos territórios que cercam a Vila da Folha. - Os papéis foram novamente conferidos, apenas para serem cuidadosamente entregues aos primeiros do grupo à frente de Naruto, Shikadai e ChouChou, e fossem passadas aos outros conforme lidas, ou ao menos observadas. Eram cerca de dez fichas, Boruto conseguiu contar antes mesmo que chegassem às suas mãos. Um arrepio percorreu da base de sua coluna ao resto do corpo, parecendo deixá-lo alerta. Aquela história lhe parecia familiar demais, embora desaparecimentos não fossem tão incomuns em vilas estrangeiras. Mas eram pessoas demais.

Não” pensou, negando à própria mente o direito de lembrar daquelas imagens de anos antes, das pessoas presas e daqueles que não haviam conseguido salvar. Katsuro, o sumiço de Hitomi, a aparição mais forte que nunca do Mestre, que nunca mais chegara a incomodá-los. Todos os eventos ruins que haviam antecedido a separação de sua segunda família e rendido aqueles dias escuros e sem solução.

Por um instante, havia se esquecido da própria reunião, voltando a si mesmo ao perceber que algumas das fichas já estavam em suas mãos. Deu uma lida rápida nos nomes, nas fotos cedidas. As idades eram desconectadas, e nada parecia indicar algo. Clãs diferentes, aparências diferentes, até mesmo locais. Apenas três tinham chegado ali, por aquele momento. Duas meninas, 04 e 19, um homem de 34. Pessoas desaparecidas a dias. Famílias que decerto estavam mergulhadas em sua própria aflição.

Levantou a cabeça após a rápida análise, passando os papéis a Mitsuki. Olhou para Hitomi, que seria a última a dar uma olhada, e percebeu incômodo naquele semblante de traços duros. Perguntou-se se as lembranças dela eram parecidas com as suas.

Mais fichas chegaram. Dez, concluiu, ao fim, exatamente como havia suposto. Quatro vilas diferentes, números irregulares de desaparecidos, do 1 ao 4. Após terem sido vistas por todos, voltaram às mãos calejadas do Hokage, que suspirou, voltando a falar:

—Quero que os investiguem.

—Quer que investiguemos desaparecimentos aleatórios? -Ponderou Inojin.

—Ele não acredita que sejam aleatórios. -Alegou Hokuto, que não emitira sequer um ruído audível até ali. O irmão tinha plena consciência de que ela estava certa.

O pai concordou com um aceno de cabeça simples.

—Não, não acredito. Creio que possa ser algum tipo de organização.

—Faz sentido. -Considerou Shikadai, novamente. -Mas os horários não fazem. Alguns datam do mesmo dia, com minutos de diferença entre si. Para algo executado tão detalhadamente quanto dito pelo senhor, mais do que uma ou duas pessoas seriam responsáveis.

—Há a chance de terem membros de sobra. -Sugeriu ChouChou. Boruto não precisava olhar para trás, àquela altura. Sentia o olhar de Sasuke à sua volta, queimando-o. Ele avaliava aquela discussão. - Ou poderosos demais.

—Não estamos falando de uma Akatsuki. - Proclamou Hitomi, e o ar pareceu pesar, como se a massa do próprio oxigênio tivesse se alterado. Boruto sentiu o próprio pulso. A quanto tempo não ouvia aquela voz?

Os olhos azuis-céu de Naruto viajaram até a Uchiha. Sombras dançavam por eles.

—Não estamos, Hitomi. Estou certo de que não é nada grande desta forma.

—Mas poderia ser, teoricamente. Algum tipo de organização em busca de poder. Não acha?

—Pouco provável. Essas pessoas… -Ele indicou as fichas com as mãos. - São clãs menores. Muitos com menos de vinte membros, sem habilidades específicas até onde nos foi informado. Não parecem ser o tipo mais adequado para se buscar poder.

—E se forem cobaias? -Propôs Inojin, lançando um olhar à Hokuto, que passara a exibir uma feição preocupada.

—É possível. -Concordou o Hokage.

—Mas cobaias para quê? -Questionou Mitsuki, fazendo com que o olhar do Hokage se dirigisse apenas à ele.

—Mitsuki… -Hitomi avisou, fazendo menção de esboçar um pequeno sorriso.

Boruto achou extremamente sem graça. 

—Experimentos genéticos, talvez? -ChouChou continuou.

—Muitas possibilidades são abertas aqui. -Afirmou Naruto, sentado de forma tão rente ao encosto da cadeira que era questionável seu conforto. -Quero que cheguem à raiz disso, ou ao menos perto o suficiente para que deixem a situação e os anbu assumam, caso seja necessário.

Anbu?”

—São pelo menos quatro pequenas vilas, o que quer que façamos? Nos separemos, dattebane? - A pergunta era válida e pertinente, de fato. Boruto não se arrependia de tê-la feito.

—Não, muito pelo contrário. Espero que fiquem juntos durante toda a missão. Imprevistos acontecem, sabem bem disso. - Ele suspirou. Era óbvio o cansaço. - Como puderam ver e ouvir, todas as vilas ficam no entorno da Folha, algumas mais próximas, outras mais afastadas. Quero que investiguem todas.

“O quê?!”

—Isso nos manteria fora por dias! -Protestou Inojin. Hokuto soltou uma exclamação em concordância, mas nada mais que aquilo. - Talvez até mesmo um mês. 

Naruto assentiu.

—Por este motivo, quero que viajem preparados. Konohamaru será o Jounin responsável.

—Não precisamos mais de Jounins. -Argumentou Hitomi. -Somos todos Chunnins aqui.

—Nesta missão, precisam. -Confirmou. -Ele já está sabendo de todos estes detalhes.

—Quando partimos?

—Amanhã.

—Amanhã?! -A surpresa foi geral, fazendo com que todos duvidassem da veracidade daquela informação. Era um prazo curto e dificilmente suficiente para a preparação de uma missão tão longa.

—Há uma certa urgência neste caso. - Explicou-se. Boruto franziu as sobrancelhas.

—Pelo quê? -Foi, enfim, Hokuto quem duvidou. O homem manteve os olhos nos papéis.

—É um pedido sério demais para ignorar.

E era mentira. Os anos de política não haviam conseguido corromper aquela moral impassível do homem de cabelos loiros e olhos de céu. Um péssimo mentiroso, era aquilo que era.

Suspirou.

—Por favor, tentem não… Correr riscos demais. -A preocupação era aceitável.

—Somos ninjas. Viver é um risco. -Murmurou Shikadai.

—Ninjas correm riscos. Mas correr riscos não torna ninguém um herói. -Afirmou Mitsuki, fazendo com que todo o grupo lançasse olhares à ele.

—Ninguém aqui é herói. -Rebateu Hitomi. O olhar ônix cortou o ar para encontrar-se com o rosto do Hokage. - Ninguém, independentemente dos títulos.

Naruto a encarou de volta. E, de algum modo, Boruto sabia que Sasuke fazia o mesmo.

O mundo pareceu parar.

—Bem… Depende. -Hokuto se pronunciou, finalmente, levantando-se de súbito da cadeira, fazendo com que o irmão prendesse a própria respiração involuntariamente. -Se os conceitos de mundo estiverem corretos, dentro desta sala não existem heróis. Se os meus conceitos estiverem corretos, todos aqui presentes podem ser chamados assim. Alguns de nós já mataram pessoas. Alguns, já mentiram. Alguns viram coisas acontecerem, e não fizeram absolutamente nada. Mas o fato é que todos nós já erramos, e isso não nos torna menos merecedores de toda e qualquer conquista. - Respirou, recuperando o ar que lhe faltava, enquanto o silêncio fazia-se imponente a todos os presentes. Olhavam-na em uma mistura de admiração e ressentimento. Piscou forte, apertando os olhos, e engoliu em seco. -Apenas nos torna mais humanos.

Sentou-se, quieta novamente. Os olhares agora se voltavam para baixo, como se a mesa fosse a resposta para os problemas de cada um. Ninguém se atrevia a dizer algo depois daquelas verdades despejadas pela mesa; A perplexidade os dominava. Nenhuma compostura restava sequer.

—Já lhes dei a missão. -Comentou Naruto, em tom formal, porém alguns décimos mais baixo que o seu habitual. -Estão todos dispensados.

Boruto foi o primeiro a ir, seguido por Mitsuki e Inojin; Logo em seguida, Shikadai, Shikamaru e Sasuke. Hokuto levantou-se com cautela e, ao fechar a porta, tanto Naruto quanto Hitomi permaneceram lá. Nenhum olhar, azul ou ônix, a acompanhava.

•´¨*•.¸¸.•´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•

—EU NÃO QUERO SABER! - A voz da Uchiha ecoou pelo prédio do Hokage. Do lado de fora, Hokuto ouvia em um silêncio superficial. Os olhos, transformados em um odiado preto-piche, eram ornados por uma expressão nebulosa. Mesmo dali, conseguia sentir: Havia raiva pairando no ar. Raiva, uma imensa mágoa e muito desconforto.

—É um pedido descabido, Hitomi. -O Hokage respondeu, de forma cansada. Parecia estar sendo abalado com aquela discussão; E Hokuto, mais do que ninguém, sabia que ele realmente estava. -Eu sinto muito.

—Eu quero ir embora. -De forma involuntária, Hokuto se retraiu ao sentir a força que emanava daquela declaração. -Quero voltar pra Vila do Som.

—E ficar longe de sua casa? -Tentou remediar o Uzumaki.

—E quem é você pra falar em ficar longe de casa? -A voz da Uchiha tremia. -Não foi você quem me mandou pra lá, Nanadaime?

Por um instante, o Hokage pareceu ficar mudo. Não era mentira, é claro. Mas talvez ele já tivesse tido impactos demais para apenas um dia. Durante aquele momento, até a raiva de Hokuto foi substituída por aquela culpa sufocante; Se dele, dela ou de si mesma, não sabia.

—Não há como. -Respondeu, por fim. -Se sair sem permissão, será considerada Nukenin.

—Então me dê outra missão. Uma que me mande para longe. Me faça companheira do meu pai. -Negociou a menina. Havia um quê de desespero naquele pedido, podia sentir com clareza, até mesmo ver seu rastro caso se esforçasse mais um pouco.

—Já está designada para uma missão. Eu não poderia mudar, mesmo que quisesse. Está decidido, ‘ttebayo.

—Vocês sempre agem como se precisassem decidir por nós!

Embora não pudesse ver a cena, a filha do Hokage podia imaginá-la perfeitamente. Caso sua imagem mental condizesse com a realidade, naquele momento o pai teria levantado o olhar e encarado a Uchiha da forma mais séria que conseguisse.

—Precisamos. -Ele não gritava, mas sua voz impunha a autoridade que realmente era. -Agora, se me permite, tenho trabalho a fazer. A vila não para, e não posso parar, também. Creio que tenha uma missão para qual se preparar. Eu sinto muito, Hitomi.

—Você não sente. -Rebateu a morena, e uma onda de tristeza atingiu Hokuto com tamanha força que seu coração apertou-se.

Surpreendeu-se; não era tristeza que esperava.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam do capítulo? Ansiosos?



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