— Eu sei, eu sei! Pode parecer drama da minha parte, mas já imaginou? Você abre a fralda e de repente... – Nico di Angelo fez uma pausa dramática, olhando para o melhor amigo – PAH! – gesticulou, imitando uma explosão – Tem xixi voando em você!

— Isso se for um garoto, certo? – Leo Valdez questionou, abrindo a porta de sua casa. – Espero que saiba que isso só acontece com garotos, senão estamos mais perdidos do que imaginei que estaríamos.

— OU! – Nico levou a mão para o peito, franzindo a sobrancelha em negação. – Isso foi ofensivo!

O Valdez apenas sorriu em chacota, evidenciando as suaves covinhas em seu rosto. Seus cabelos castanhos parcialmente encaracolados dando feições élficas para ele, assemelhando-se com o brilho divertido de seus olhos também castanhos.

— Thalia? – Leo a chamou, tirando o casaco e colocando na arara que tinha ao lado da porta.

— Estou aqui na cozinha, Leo! – a voz feminina melodiosa rompeu o silêncio da casa.

O Valdez acenou com a cabeça em direção a Nico em um pedido silencioso que ele a seguisse, indo em direção a sua cozinha. Ao passar pelo arco da porta, se abaixou em um movimento suave, desviando de um prato que estava flutuando em direção ao armário.

— Cuidado com a cabeça! – a garota alertou, virando-se para Leo e sorrindo calorosa. – Nyssa está dormindo no seu quarto. Ela insistiu pra brincar com suas ferramentas e acabou capotando!

Parado no arco da porta, o di Angelo soltou um arquejo alto. Leo e Thalia se viraram para ele em alerta.

— O que foi? – Leo questionou, olhando de um lado para o outro procurando algo perigoso.

Nico tinha os olhos fixos no teto, onde a louça se limpava sozinha e estava flutuando em direção ao armário ao meio de uma dança de conga. As colheres na frente, logo atrás os garfos e as facas, seguidos dos pratos e copos.

 – Ah...Leo? – Thalia chamou sua atenção, apontando para cima com um olhar sugestivo. – Por que algo me diz que você esqueceu de contar a coisa mais importante pra ele?

— Uh... – fez o Valdez, comprimindo os lábios. – Eu esqueci completamente!

— Se ele ter um treco bem aqui no meio, eu não vou esconder o corpo! – Thalia levantou os braços em sinal de rendição, fazendo a louça formar um arco e desmanchar a fila de conga.

— Nico, esta é Thalia Grace – Leo apresentou a garota. – A babá de Nyssa, e, como diz meu pai, às vezes minha também.

O di Angelo continuava com o olhar fixo na louça se guardando no armário.

— Ah! Esqueci de mencionar: ela é uma bruxa! – o Valdez disse com a naturalidade de quem diz “que horas são.”

Ao timming que Thalia chocou a mão contra a testa, Nico soltou um grito assustado e deu meia volta, falhando miseravelmente ao tentar correr quando suas pernas estavam trêmulas e não se aguentavam.

— Você também, hein? – a Grace reclamou, fazendo um gesto com a mão que fez a porta da sala trancar.

O di Angelo arregalou os olhos, derrapando ao parar a tempo antes de bater contra a porta, tentando girar a maçaneta desesperadamente. E, quando percebeu que não conseguiria se livrar, virou-se de frente para onde Thalia estava – o fitando preocupada – pegando o abajur da mesa do canto e colocando à frente do corpo, usando como arma.

— N-Não se aproxime! – gaguejou. O forte sotaque italiano o fazendo escorregar pelas palavras.

— O abajur da mamãe não, cara! – Leo fez uma careta reprovadora, negando. – Pelo menos ele não foi igual eu, que fugi pela janela do segundo andar e quase me espatifei no chão.

— Eu não vou te fazer mal! – Thalia ignorou completamente o Valdez dando uma bela ideia para Nico, preferindo focar em acalmar o garoto. Abriu um sorriso calmo, o fitando nos olhos negros. – Sou totalmente do bem! Acha que Esperanza iria deixar eu tomar conta de seus filhos se não fosse?

 O di Angelo não se moveu. Seus olhos indo desde os longos cabelos negros, os olhos azuis de um azul tão intenso que lembrava uma chuva de raios, a pele extremamente pálida contrastando com a gargantilha preta, até o resto de suas roupas do mesmo modo pretas.

 – Vamos! Coloque esse abajur de volta no lugar e vamos conversar civilizadamente! – a Grace continuou persuadindo ele, suas palavras leves como uma pena, o fazendo repensar se deveria mesmo jogar o abajur nela ou seguir o que ela dizia.

Como um estopim, o italiano a assustou.

— Para! – seu tom estava alto, o que a fez se sobressaltar, mas não tirar o sorriso doce dos lábios escarlate. – Você tá jogando bruxaria em mim! Pra me acalmar! Pensa que eu não to percebendo?

Leo rolou os olhos, caminhando até o amigo com as mãos em frente ao corpo, vai saber se Nico não decidia o acusar também, não é mesmo? Quando próximo o suficiente, deu um tapa em sua cabeça:

— Qual o seu problema? Você é um cara de vinte-e-um anos ou um frango?

— Um frango prestes a ir para o caldeirão! – o di Angelo retrucou, afagando o local atingido e se esquecendo do abajur nas suas mãos, este que foi tomado pelo dono da casa, colocando-o no lugar.

— Você queria ajuda da minha babá pra aprender a cuidar de crianças porque a sua irmã está grávida e quando eu te apresento ela, você sai correndo igual uma gazela? Cadê a lógica? – Leo levantou as mãos ao lado do corpo, sem entender.

— A lógica desapareceu quando seus pratos estavam rebolando dançando conga! – retrucou, cruzando os braços e olhando de soslaio para a bruxa, que tinha as mãos juntas em suas costas e observava os dois com curiosidade. – Ela tentou me enfeitiçar! Ela é uma bruxa! Bruxas existem! Você tem noção que a gente voltou para época medieval?

— Você tentou jogar um abajur nela! – o tom incrédulo do Valdez quase fez Thalia rir. – Eu sei que é chocante, mas tenta dar uma chance pra coitada! Sério, quando eu descobri que ela era uma bruxa, eu me joguei da janela do segundo andar. Thalia não deixou eu meter a fuça no chão, então me convenci que ela era legal.

— Hum — fez Nico, olhando para ela de canto de olho.

E, em um momento de descuido da parte dela, o di Angelo abriu a porta e correu para fora. As mãos balançando acima da cabeça como se ele estivesse fugindo de algum monstro e precisasse de ajuda.

— E é assim que você foge de uma casa com estilo – Leo apontou para fora, mesmo que tivesse os lábios comprimindo em reprovação. – Ele vai voltar, você vai ver.

— Isso não me preocupa, só o fato dele não ter parado de correr ainda e está se aproximando da avenida cheia de carros... – Thalia tombou a cabeça para o lado, chegando a conclusão que Nico não deveria gostar de conga.

Fazer o que, não é mesmo? Dançar conga é para poucos!