São exatamente 04hrs da manhã, posso ouvir minha consciência se questionando, quando foi que perdi o controle das coisas. Fiz planos, e eu gosto de planos, eles me dão conforto, mesmo que possam dar errado. Cada um dos móveis dentro desse apartamento, foi selecionado por preço, qualidade e cor. A mesa na sala, foi retirada de algum desses catálogos caríssimos, meu sofá é retro, muito sofisticado e é peça única, provavelmente dos anos 50, já que é herança e está há duas gerações na família, minha cama é revestida com um tecido aveludado, as cortinas foram feitas a mão, sob encomenda... Enfim, cada centímetro desse lugar e da minha vida, foi esboçado e aos poucos aprimorado. E agora, está tudo quebrado, e continua quebrando.

Acordo com a voz de Jessica.

— Seu celular, May... - Diz ela, se espreguiçando na cama, pedindo por mais 15 minutos.

Checo minhas mensagens, e lá está.

A gente precisa conversar, Maya, por favor!

Me levanto, relutante.

Nos vemos no Meet's, hoje à noite! Chega de mensagens, a Jess pode desconfiar, droga!

— Quem é? - Pergunta ela, entrelaçando as pernas nas minhas.

— Ninguém. Você fica linda nessa cama, com esse cabelo bagunçado, sabia? - Mudo de assunto.

— Ah, é? - Indaga, me puxando novamente para cama.

— Não posso...

— Por que? É domingo, vamos ficar aqui, só hoje... - Ela implora.

— Você tem razão. Vem cá! - Puxo-a para perto e beijo sua boca.

Eu não sei quantas histórias de amor, você, meu amigo, conhece, mas garanto, que não devem ser como essa.

— Vou preparar algo para gente, vem comigo?

Eu caminho para a cozinha, ajeito o jarro da cafeteira e enquanto lavo uma xícara, ouço Jess correr pelo apartamento atrás do sapato.

— Não corre, tá atrás do sofá! - Digo, observando ela correr para sala, ignorando meu pedido. - Já volto, vou até o mercado, ok?

— Vou estar aqui.

Jess deveria ser meu destino, meu refúgio, minha salvação, e olhe o que estou fazendo com ela? Dando-lhe migalhas da verdade, prometendo pertence-la, quando já não pertenço nem a mim. Eu sou louca por acreditar que fomos feitas uma para outra? Minha mãe costumava me contar, que todos nós, no preludio da vida, tivemos um cordão vermelho amarrado em nossos tornozelos, esses cordões nos ligam a nossa alma gêmea, com quem estamos fadados a viver o resto de nossas vidas. Odeio essa lenda, mas desde que conheci Jessica, eu só quero que ela seja essa pessoa. Eu preciso que ela seja meu destino.