Truques do destino escrita por Beatriz Domingues


Capítulo 3
Capítulo 3 - Como detetives


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem voltoou! hahahahaha
Demorei mas cheguei, né non?
Gente, foi mal a demora, fiquei envolvida em alguns problemas e não queria postar um capítulo de qualquer jeito aqui só para "cumprir" horário, então demorou um pouco mais para sair. (Antes tarde do que nunca né?)
Enfim, espero que gostem do rumo que a história está tomando, qualquer opinião podem deixar nos coments que eu vou amar responder!
Sem mais delongas, boa leitura, vejo vocês nas notas finais! bja1



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A notícia chega até mim como em um sonho: lenta, delirante e em partes, me obrigando a parar para digeri-la com atenção. Algo que o crescente zumbido em minha cabeça e os sons em todo o recinto não contribuem em nada.
Olho para o rapaz de semblante preocupado ao meu lado, que parece ter acabado de dizer algo, pensando em todas as conversas e situações pelas quais eu e Vivian passamos juntas esta semana, como uma fita se desenrolando em modo de aceleração manual. Sinto uma tontura ameaçando me dominar e as batidas opacas do meu coração estão aceleradas.
— Preciso de um pouco de espaço. - Digo, e sem esperar por uma resposta, sigo em direção a escada e desço para o bar, que se encontra ainda mais lotado que o andar de cima, com pessoas vagando e falando alto por todos os lados.
Assim que passo pelas portas de saída, o vento cortante da noite atinge meu rosto, e meus pulmões saudam o ar fresco.
Meu primeiro pensamento é ligar para o celular de Vivian, algo estúpido e uma perda de tempo, já que todos os seus familiares e amigos o fizeram, mas não me proíbo de tentar mesmo assim.
O toque soa uma, duas, e várias outras vezes até cair na caixa postal. Tento pelo menos mais três vezes e nada. Um pressentimento ruim me diz que ela pode estar correndo perigo e diversas cenas e idéias passam pela minha cabeça, fazendo meu peito se apertar em desespero.
Respire Megan, Vivian deve estar bem e seu celular está em modo silencioso, só isso— penso comigo mesma, expirando e inspirando lentamente até o barulho em minha cabeça e as pulsações em minhas veias ficarem quase imperceptíveis.
Deve haver algum lugar onde ela poderia ir, a casa de alguém, uma festa, um local público… Mas eu não conheço a sua rotina o suficiente para reunir as informações necessárias para iniciar uma busca, só o local onde passamos juntas boa parte do nosso dia.
O pensamento me atinge de imediato: Preciso ir até o supermercado.
— Megan! - Uma voz chama em minhas costas, e sinto o barulho dos saltos de Alana ecoando na calçada enquanto ela se aproxima. Uma de suas mãos agarra meu ombro, me fazendo virar para encará-la. - O que aconteceu? Por que você saiu correndo como se estivesse passando mal?
Seus cabelos loiros tingidos caem em cascata pelos ombros, e seus olhos pretos me examinam, buscando vestígios de pistas pelo meu rosto.
— Alana, a Vivian desapareceu. - Anuncio sem pensar, observando seu cenho franzir em descrença. - Eu preciso procurar por ela em um lugar. Você pode me emprestar seu carro?
— Woah! Vai com calma menina. Como assim desapareceu?
Deixo escapar um grunhido frustrado, olhando para o relógio em meu pulso. Cada segundo parada aqui sem fazer nada conta, e um mal pressentimento me diz que devo andar rápido.
— Presta atenção, Vivian me disse essa semana que estava com o pressentimento de que alguém a estava seguindo. - Informo. - E se ela voltou para o Della's? Lá tem câmeras de segurança, e para quem não tem as chaves é quase impossível de entrar. - Minha mente trabalha a mil, analisando e buscando fatos e dicas em nossas conversas cotidianas para obter alguma pista do seu paradeiro.

— Você precisa tomar cuidado! Proteja seus amigos, todos vocês correm perigo.

A lembraça da cena com a cartomante mais cedo me atinge como uma pancada. Não era atuação.


— Megan? Megan, você está bem? Seu rosto esta branco como leite!
Sinto os dedos gelados de Alana acariciando minha bochecha, e pela luz dos postes presentes em toda a rua, consigo perceber uma figura alta se aproximando de nós vinda das portas do bar.
Aron.
 – O que aconteceu lá dentro? - Ele pergunta, desviando os olhos de mim para minha prima.
— Quem é você?- Alana questiona, se virando para mim, como se fosse eu a pessoa agraciada pelo universo a ter todas as respostas.
Sinto os segundos se passando rapidamente, as batidas do meu coração ecoando em meus ouvidos. Dispensando apresentações formais, sigo diretamente ao ponto revelando tudo de uma só vez:
— Alana, Vivian sumiu hoje a tarde e ninguém sabe onde ela está. Eu tenho uma hipótese, mas para poder testá-la, preciso que você me leve em um lugar, então temos que dar o fora. Agora.
Devo ter soado convencida o suficiente, pois a mulher ao meu lado ajeita a bolsa de couro pesada em seu ombro e assente com a cabeça. Já Aron não apresenta mais seu sorriso torto e a sobrancelha levantada de antes, agora substituídos por um semblante sério no rosto. Quando passo por ele, um aperto forte em meu pulso me faz virar.
— Me dá seu celular. - Comanda.
Antes de sequer pensar na hipótese de dar meu telefone a um desconhecido-nem-tão-desconhecido-assim, me vejo estendendo a mão e lhe entregando o aparelho.
—Vou anotar meu número aqui, então se você precisar de qualquer coisa, pode me ligar. - Informa, digitando números no pequeno teclado rapidamente.
Vejo pela visão periférica a minha direita Alana nos observando, e tenho a certeza que vou enfrentar um longo questionamento em algum momento sobre isso.
— Certo, - digo pegando o celular. - agora nós precisamos ir, é sério.
Agarro minha prima pela manga de sua jaqueta e marchamos para longe do bar iluminado, ao mesmo tempo torcendo para que minha idéia não muito provável possa estar certa.


— Como assim você não vai dirigir? - Grito, enquanto Alana busca por diversos cantos bagunçados pelo quarto em busca da chave do automóvel.
— Eu ainda estou com bebida alcoólica circulando por todo o meu corpo. Se a polícia parar a gente, já era a carteira que eu sofri para conseguir!
— Mas eu não posso dirigir por aí se eu também não tenho uma! - A aflição em minha voz é quase palpável, e a cada momento que passa tenho ainda menos fé no plano de ação em minha cabeça.
Ela para em meio ao ambiente caótico e olha ao redor, seus olhos vasculhando cada milímetro do quarto coberto por peças de roupa não usadas. De repente seu rosto se ilumina, e ela me olha como se tivesse descoberto a solução para todos os nossos problemas.
— Você pode pedir para aquele gato do bar te levar!
Mas nem pensar.
— Você só pode estar ficando louca!
— Qual é! Eu não consigo achar as chaves, e nenhuma de nós pode dirigir. Ao menos que você queira ir até a padaria a pé. - Um rápido sorriso ultrapassa seus lábios, antes de se lembrar da gravidade do problema em meu rosto. - Olha, - suspira, se sentando na cama e cruzando as mãos como em uma prece - Fica calma, ta? Sua amiga deve estar bem, não é só porque ela estava com uma sensação ruim que algo ruim aconteceu. Respira, pega seu celular, liga para aquele garoto e pede uma carona. Eu tenho certeza que ele vai te ajudar a achá-la. E se vocês não conseguirem, aí você deixa a polícia fazer o trabalho dela, e espera.
— Hum, essa última parte não ajudou em nada, sabia? - Suspiro.
Olho para o alto em uma reação frustrada, encarando o lustre com falsos cristais preso ao teto e analisando cada uma das minhas possibilidades.
Ela esta certa, eu preciso de uma carona, e não conheço mais ninguém que estaria disposto a me levar pela cidade depois da uma da manhã para procurar uma amiga desaparecida senão um rapaz que conheci em um beco a menos de vinte e quatro horas atrás.
O que eu tô fazendo com a minha vida?
— Certo. - Admito, pegando o celular no bolso da calça e procurando pelo recente número na lista de contatos. - Mas se eu acabar sendo a próxima a sumir por causa disso, a culpa é sua.
Ela abre um sorriso desanimado que não acompanha seus olhos, e observa enquanto levo o aparelho a orelha e espero os toques cessarem.
— Alô? - Uma voz familiar soa do outro lado da linha.
— Hm, oi. Aqui é a Megan. Você disse que se eu precisasse de ajuda poderia te chamar. - Relembro, a frase soando quase como uma pergunta incerta.
A ligação fica muda por alguns segundos antes dele responder:
— Do que você precisa?
Agradeço as forças divinas em silêncio e tomo coragem para fazer a pergunta seguinte sem parecer desesperada ou interesseira, - o que é praticamente impossível:
— Você por acaso tem carro?


 Após cinco minutos intermináveis esperando em frente ao prédio na madrugada fria de um domingo, um dos poucos faróis que passam iluminando a rua se aproxima rapidamente, e seu dono estaciona na calçada perto de mim.
O vidro da porta do motorista desce, revelando um rosto familiar - e muito agradável aos olhos, devo admitir - ao volante.
— Pronta? - Ele pergunta, com um pequeno sorriso torto nos lábios.
Contorno a frente do automóvel em uma corridinha e entro pela porta do passageiro.
Olho para o homem ao meu lado, seu cheiro de pós-barba e perfume fraco presentes em todos os cantos. Quando tento me familiarizar com a cena, algo em meu estômago se agita, e coloco as mãos dentro dos bolsos do casaco, escondendo a perceptível tremedeira causada pelo nervosismo.
— Você poderia me levar no mercado onde eu trabalho? - Questiono, antes de mais nada.
Sua testa se enruga com a menção ao local, mas felizmente ele apenas assente dando de ombros e liga o motor, o som forte e alto ecoando ao nosso redor.
Após poucos segundos em silêncio, me sinto começando a relaxar, talvez por conta da música indie tocando no CD, ou dos olhares de esgueio que sinto Aron lançando a mim todo momento. Meus pulmões não estão se expandindo tanto, e posso pensar com mais clareza nas possibilidades de terminarmos o "dia" bem.
— Confesso que não foi assim que imaginei o nosso segundo encontro terminando. - Ele diz, quase em um sussurro, alto o suficiente para se sobrepor a música.
Olho para seu rosto, examinando sua expressão, e meu coração se aperta, desejando lá no fundo poder estar aqui sem segundos planos frustrados a minha espera. Dou um sorriso simples como resposta, não confiando em minha voz para falar.
Mais alguns minutos de tensão depois e o carro está parando no estacionamento do mercado, as luzes lá fora são fortes o suficiente para iluminar todo o terreno, mas não consigo ver nada que se destaca no local, nenhuma porta aberta ou janelas acesas. Ligo para o número de Vivian mais algumas vezes, totalizando mais de quinze ligações.
— É melhor eu ir dar uma olhada. - Digo, saltando para o concreto rapidamente. Quando viro para fechar a porta, vejo que Aron também já está de pé do lado de fora, o que diminui minha apreensão.
Sigo para a porta lateral do edifício, sacando o molho de chaves no bolso, com o som de seus passos logo atrás de mim.
Assim que entramos, acendo algumas luzes e começo a chamar o nome de Vivian, mas tudo está no mais completo silêncio. Vejo minhas expectativas se esvaindo rapidamente.
— Vivian!
Atravessamos o espaço para alimentação ao lado da pequena padaria, tudo em ordem absoluta do jeito como foi deixado hoje. Olho atrás do balcão de frios enquanto Aron vaga pelos setores de prateleiras, chamando baixinho o nome da minha amiga, e sinto uma grande compaixão pela sua decisão de deixar tudo para me ajudar nesse louco plano de resgate.
 O tempo passa depressa, e quando terminamos de checar todos os locais, sem nenhuma pista ou evidência, já está amanhecendo lá fora.
Levo uma das mãos a nuca, segurando algumas lágrimas que ameaçam escorrer pelos meus olhos.
— Eu sinto muito. - Lamenta Aron, e posso ver em seus olhos que a resposta é sincera.
— Só vamos embora.
Fechamos todo o recinto novamente, o único barulho audível dentro do local é o molho de chaves trabalhando. Caminho para o estacionamento em silêncio, me xingando mentalmente pela ideia estúpida de vir até aqui. É óbvio que eu agi sem refletir direito, e algo dentro de mim já sabia que isso iria acontecer.
— Megan, espera! - A urgência na voz do rapaz atrás de mim me faz virar imediatamente. Ele corre até a entrada dos banheiros públicos, ao lado do mercado, e eu o sigo, meu coração de repente pulando no peito.
Ao lado dos carrinhos de supermercados organizados em fila, há um pequeno montinho de coisas ao chão. Sinto a bile subindo pela minha garganta ao reconhecer a maior peça.
— É a bolsa dela! - Sussurro, quase tropeçando quando me junto a Aron de joelhos no chão.
Caídos ao seu lado, estão um vidro de gloss labial, um pequeno suporte para batom, a carteira e o celular.
— Que merda. - Digo, plaguejando baixinho.
— Não foi roubo! - Escuto ele sussurrar o óbvio ao meu lado.
As idéias começam a me inundar como uma correnteza, minhas mãos suando frio com as cenas em minha cabeça.
Fico de pé e vasculho ao redor, porém não há mais nada para ser achado, só os carrinhos em fila num canto, as portas trancadas dos banheiros e armazém e uma câmera ligada no teto.
— Olhe, tem uma câmera aqui! - Falo, um pouco alto demais.
Nós dois nos encaramos, e como em uma comunicação telepática, sabemos o que deve ser feito.
Aron reúne as coisas no chão e corremos de volta para dentro do supermercado, tendo como destino o mesmo local.
A sala de monitoramento.


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Notas finais do capítulo

Fim! E aí? Como tá o coraçãozinho depois desse cap? hahahahhaha
Espero muito que estejam gostando, qualquer opinião ou outra coisa legal/construtiva, fiquem a vontade para comentar.
Ah, e não esqueçam de acompanhar e favoritar a história, isso ajuda muito no quesito motivacional. hihihihi
Então, até o próximo capítulo!
Beatriz.



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