Nature vs Nurture escrita por baechuyeba


Capítulo 2
Capítulo 3




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E lá se foram todas as habilidades sobre-humanas de Byul: ela ficou estática, parada no meio do bar, completamente à vista das caçadoras. Os olhos dela se dirigiram, assustados, para o pulso esquerdo da garota que acompanhava a já conhecida e, sentindo seu sangue gelar, ela viu uma tatuagem em formato de lua.

Erguendo seu olhar novamente e agora, focando-o no rosto da caçadora que havia conhecido no dia anterior, percebeu que ela também a havia avistado. As duas estavam com olhares assustados e Byul mais uma vez pensou o que teria que fazer para sair dali viva.

Aquilo não era nada como o dia anterior: hoje, havia uma caçadora formada aqui. Byul nunca havia encontrado nenhuma, mas havia ouvido histórias. Elas eram treinadas para não hesitarem; ao primeiro sinal de uma empusa, elas atacavam e matavam em poucos segundos. Byul não havia se alimentado ainda naquele dia, então não estaria em ótimas condições para lutar. Seu olhar assustado desprendeu dos olhos da outra garota e procuraram, frenéticos, o banheiro. Tinha que achar um jeito de mandar Hyejin fugir.

Recuperando controle dos seus músculos, quase correu até a mesa em que antes estava sentada tão despreocupada. Pela velocidade, derrubou quase toda a bebida no chão, mas não se preocupou. Tentou dar uma desculpa rápida para sua presa e ir embora, mas a garota ficava insistindo que Byul deveria ficar. Ela tentou ser gentil, mas novamente congelou quando viu Hyejin saindo do banheiro, descuidada como sempre: sua companhia, a mulher mais velha, estava pálida pela perda de sangue, além de estar tocando seu pescoço, que provavelmente estava doendo.

Byul estava prestes a correr de novo pelo bar para pegar Hyejin e fugirem dali, mas não teve a chance. Quando foi se virar para ir até a amiga, viu as duas caçadoras diretamente à sua frente: a desconhecida estava com um sorriso no rosto, como se estivesse querendo passar uma boa primeira impressão, enquanto a outra ainda estava com aquele olhar assustado, apesar de mais discreto agora. Byul não conseguiu deixar de notar a beleza da garota, agora que estavam num ambiente bem mais iluminado: suas bochechas eram mais cheias do que o padrão de beleza da sociedade ditava como ideal, mas lhe davam um aspecto fofo que acelerou o coração da empusa. Além disso, Byul conseguia ver claramente que, apesar de extremamente fofa à primeira vista, aquela garota poderia ser sensual num nível que Byul não se permitiu pensar no momento. E ainda havia seu cabelo, que já havia se tornado a parte favorita da observadora. Aquele cabelo, solto pelos ombros, parecia tão macio que as mãos de Byul quase automaticamente foram em sua direção, antes de ela conseguir se controlar.

Agora não era o momento para isso. Byul precisava fugir dali, e rápido.

Os pensamentos de Yongsun estavam seguindo praticamente o mesmo sentido: ela tinha que deixar a empusa fugir antes que Wheein notasse que aquela não era uma garota comum.

Por ter ficado encarando a empusa por tanto tempo, Wheein havia percebido e lhe perguntado se conhecia a garota. Yongsun, sem saber o que fazer, havia dito que elas tinham conversado no dia anterior, na festa de comemoração da formatura de Wheein. Então, a amiga decidiu que deveriam conversar com a outra e agora estavam lá, paradas estranhamente na frente da mesa que a garota com cabelos cinzas dividia com uma outra garota, cujo pescoço Yongsun fez questão de analisar até garantir que não tinha nenhuma mordida visível. Não sabia, porém, se estava fazendo isso para garantir o bem-estar de pessoas inocentes ou se era para impedir Wheein de matar a empusa.

Yongsun, sentindo-se suar cada vez mais, observou Wheein esticar sua mão na direção da empusa e se apresentar. A garota, parecendo ainda mais assustada depois de observar a tatuagem de lua por um segundo (que Yongsun torceu para ter passado despercebido por Wheein), aceitou o cumprimento e disse, numa voz estrangulada: “Eu sou Byul. É um prazer”, tentando forçar um sorriso no final da frase, que mais pareceu uma careta. Yongsun sentiu seu peito esquentar um pouco, tentando assimilar a visão da garota com o seu nome recém descoberto.

Wheein, ainda querendo ser uma amiga legal, deu uma cutucada com o braço nas costelas de Yongsun. Ainda atordoada, ela conseguiu focar-se nos olhos escuros de Byul quando disse: “Eu sou Yongsun. Nós conversamos ontem”, erguendo suas sobrancelhas ao final.

“Sim, eu lembro”, respondeu Byul, com um sorriso um pouco mais autêntico.

Em seguida, ouviu-se um pigarro. Os olhos das três garotas - na verdade, quatro, mas a vítima da noite estava sendo ignorada pelas outras - elevaram-se para o canto da mesa, onde estava parada uma garota com cabelos curtos e negros. Yongsun imediatamente voltou seu olhar para Byul, que correspondeu, confirmando-a com os olhos que, sim, era outra empusa.

“E eu sou Hyejin! Agora que todo mundo se apresentou, que tal bebermos um pouco?”, veio a voz da mais nova entre as quatro, que fez com que a garota de cabelos cinzas a olhasse com uma expressão de aviso e medo combinados. Hyejin apenas ignorou-a, focando seu olhar em Wheein, que agora estava com um sorriso ainda mais aberto, e não parecia ser apenas um sorriso educado.

“Ótima ideia”, foi a resposta da menor, que logo saiu com Hyejin em direção ao balcão. Nesse meio tempo, a presa de Byul já percebera que estava sobrando e saiu de fininho da mesa.

Yongsun encarou a empusa, sem saber exatamente o que fazer. Sua mão queria agarrar o cabo de sua adaga, por instinto, mas ela tinha que se controlar. Não podia deixar Wheein perceber o motivo para seu nervosismo.

Tentando ser discreta, observou a beleza sobre-humana de Byul. Sabia, pelo seu treinamento, que aqueles traços eram feitos para a sedução e que, como caçadora, deveria resistir a qualquer tentação imposta por eles, mas era bem mais fácil na teoria. Agora, de frente para uma criatura daquelas, só conseguia encarar seus lábios e desejar tocá-los com os seus próprios. Imaginava quão doces eles deveriam ser.

Yongsun fez menção de sentar na mesa, mas Byul levantou antes que ela pudesse. A mais alta aproximou-se, talvez um pouco até demais, e falou num sussurro carregado de medo: “Você contou a ela? A alguém?”

O olhar que foi dirigido à empusa tinha um toque de irritação. “É claro que não”, respondeu, enfatizando cada palavra. Yongsun pensava que, na verdade, não deveria estar ofendida por Byul ter assumido que ela contara sobre o encontro delas - afinal, era o seu dever. Mas ainda assim, não conseguia impedir a raiva expressa na resposta.

Os olhos escuros focados nos seus estavam confusos, mas ainda o sentimento primário era medo. Fazendo um esforço, Byul conseguiu assentir. Depois, sem nenhum aviso, afastou-se de Yongsun e andou, quase correu, até o bar. Hyejin já bebia de um copo, enquanto Wheein esperava sua própria bebida.

“Com licença”, disse a mais alta antes de agarrar o braço de Hyejin e puxá-la até o banheiro, com a menor se debatendo para soltar o aperto forte, que lhe machucava.

Logo depois de atravessarem a porta, Byul soltou o braço da outra e a encarou com um misto de raiva e o medo, que já era uma constante. “‘Que tal bebermos um pouco’? Você sabe que ela é uma caçadora!”, falou irritada e talvez alto demais. Hyejin já esperava por isso e lhe lançou um revirar de olhos antes de responder.

“Mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda, sabe? Ela nem sabe que somos empusai, Byul. É impossível saber a menos que nos peguem no ato”, o descaso na voz dela era o bastante para causar uma ira ainda maior na mais velha.

“Yongsun sabe!”, sentiu um arrepio ao usar o nome da garota, mas ignorou-o. O foco aqui era outro. “Ela pode estar contando para Wheein agora mesmo e nós podemos estar mortas daqui dois minutos. E você estava tentando seduzir uma caçadora, Hyejin, não tente negar. Eu vi as jogadas de cabelo, o jeito que você se inclinou no bar. Você está se esforçando mais com ela do que todas as noites da última semana combinadas!”, Byul falava alto agora, só tentando abaixar sua voz em palavras cruciais. A mais nova nem se deu o trabalho de responder, apenas bufou.

Elas ficaram nisso, uma encarando a outra, ambas irritadas, até que ouviram a porta do banheiro se abrir lentamente. A cabeça de Yongsun apareceu na fresta, com um sorriso desconfortável nos lábios. “Wheein está perguntando de você”, disse, olhando para Hyejin e se esforçando para ignorar a outra garota no banheiro - que, no caso, não fazia o mínimo esforço para não encarar Yongsun.

Hyejin foi em direção à porta, passando por Byul, que a segurou pelo braço de novo, mas sem força dessa vez. “Tome cuidado”, disse, em uma voz baixa, mas ainda irritada. Recebendo apenas um olhar como resposta, observou a mais nova sair pela porta logo depois de Yongsun entrar, para lhe dar passagem.

O suspiro profundo que Byul soltou foi uma das indicações do cansaço. Aquilo era muita intensidade para pouco tempo, ainda mais para uma empusa que não se alimentava há quase 24 horas. Apoiando ambas as mãos numa das pias do banheiro e encarando-se no espelho, Byul tentou retomar um pouco do controle sobre si.

Depois de alguns segundos, ouviu passos chegando mais perto, até que Yongsun parasse a seu lado, encostando o quadril na pia adjacente à que a mais alta se apoiava.

“Hyejin também… só se alimenta?”, perguntou a mais velha, falhando em tentar ocultar o nojo ao dizer a última palavra. Ela podia apreciar o fato de aquelas empusai não matarem, mas elas ainda tinham de beber sangue para sobreviver e aquilo não era nada natural para Yongsun.

“Sim”, Byul respondeu simplesmente, antes de decidir dar um pouco mais de informação. “Ela era da minha família. Nós fomos criadas para não matar”, ela completou, olhando de lado para a garota mais baixa. Aquele cabelo realmente era lindo.

Yongsun ficou realmente interessada no fato de Byul ter dito a palavra “família”. Por mais que todo o treinamento das caçadoras sejam ao redor das empusai, elas não sabem muito sobre as criaturas. Apenas sabiam que elas matavam, que tinham força e rapidez além da capacidade de qualquer humano e, é claro, sabiam como matá-las.

A mais alta soltou as mãos da pia, virando de lado e imitando a posição da outra: encostou o quadril contra a pia, ficando totalmente de frente para Yongsun. O medo ainda estava em seu peito, mas não era de sua companhia, era da caçadora formada. Byul estava mais com medo por Hyejin do que por si só, afinal, Hyejin era a imprudente entre as duas.

Mesmo não querendo admitir, Byul também sabia que não sentia o mínimo de medo de Yongsun. Aquele frio na barriga que sentia ao olhá-la era qualquer coisa, menos medo.

Com um sorriso de lado, que não expressava felicidade, mas curiosidade, a mais alta inclinou sua cabeça um pouco para o lado e perguntou: “E você? Já matou alguma prima minha?”. Erguendo um pouco a mão, lentamente para não ser mal interpretada, apontou para um elevado na saia que cobria as coxas da mais baixa. Para qualquer um que sabia da adaga, era óbvio onde ela estava escondida naquela roupa.

Apesar de ter entendido o sentido geral da pergunta, Yongsun tinha um olhar confuso. “Prima?”

Byul assentiu, sem desviar o olhar da mais baixa. “É um modo geral de tratar outras empusai. Do mesmo jeito que eu disse que Hyejin é da minha família; nós não somos parentes de sangue, mas ela cresceu comigo e ambas somos empusai, então nos consideramos família.”

Yongsun observou a boca da outra enquanto ela falava, depois assentiu e olhou-a novamente nos olhos. É estranho como sabemos tão pouco daquelas que juramos matar, pensou, antes de voltar a focar no que Byul havia lhe perguntado. Abaixando os olhos para o chão, ela balançou a cabeça. “Não, nunca matei. Eu não quero matar, como você. Mas eu preciso, é meu dever”, ela concluiu, parecendo desconfortável. Só havia conversado sobre aquilo com Wheein, já que nenhuma das outras caçadoras entenderiam. Falar sobre aquilo para qualquer um já era estranho, mas falar diretamente com uma empusa sobre matar empusai era algo fora de qualquer escala de estranho.

Byul deu um pequeno passo à frente, incerta se deveria fazer o que queria. Ela sabia dos riscos que estava correndo: a qualquer momento, Yongsun poderia cair em si, pegar a adaga e atacá-la. Do jeito que Byul estava distraída e fraca pela falta de alimentação, duvidava que apresentaria muita resistência. Apesar de saber que estava brincando com o perigo, não se aguentou: esticou a mão até o queixo de Yongsun e o levantou, gentilmente. Quando encontrou os olhos da mais baixa, sorriu. “Eu entendo as caçadoras, sinceramente. Eu conheço um grupo de empusai que mata e eu sempre tento fazê-los parar. Eu tento na base da conversa, mas entendo que vocês achem que não tem escapatória”, disse, abaixando sua mão novamente. Yongsun não deixou de perceber que havia sido dito “fazê-los” ao invés de “fazê-las”. Byul suspirou, parecendo mais triste a cada momento - estava falando sobre o assassinato de pessoas que ela considerava família, afinal de contas. Nem a companhia de Yongsun conseguiria mantê-la feliz quando discutiam um assunto daqueles. “Eu não gosto do modo que vocês agem, mas eu consigo entender a motivação de vocês. Também acho que é óbvio que vocês deviam parar de perseguir todas, cegamente, como se todas nós matássemos”, ela disse, seca. Yongsun não podia negar que ela estava certa - as caçadoras ainda tinham muito a melhorar, apesar de milhares de anos de trabalho.

Mas o que mais se destacou do discurso de Byul foi o fato de ela conhecer um grupo que mata. Yongsun sentiu um frio descer pela sua espinha pensando nas atrocidades que um grupo podia fazer. Ainda olhando nos olhos da mais alta, ela perguntou numa voz baixa: “Um grupo que mata?”, teve de se controlar para não perguntar onde eles moravam. Isso seria muito óbvio. “Você os conhece bem?”, disse ao invés, pensando que uma pergunta que tivesse mais a ver com a garota teria maior probabilidade de ser respondida.

A mais alta deu de ombros, mas o sorriso cada vez mais brilhante indicava que gostou do interesse da menor. “Eles já me abrigaram algumas vezes; eles têm uma residência não muito longe da cidade”, disse, aproximando-se um pouco mais, ficando a menos de um metro de distância de Yongsun.

A garota de cabelos castanhos logo perdeu o foco da sua curiosidade quando abaixou os olhos para a boca da mais alta. Os lábios estavam ligeiramente separados, tornando a visão ainda mais convidativa para Yongsun, que instintivamente se inclinou para frente. Tentava não pensar no que aquilo significava, e nem questionar se seu interesse era natural ou devido ao poder de sedução da empusa.

Byul deu um pequeno sorriso quando viu o movimento. Ela sabia reconhecer interesse, toda sua espécie era baseada nisso. E ela, sim, sabia que o interesse de Yongsun era genuíno, pois não havia usado nenhuma técnica de sedução que havia lhe sido ensinada pelas parentes empusai. Essa vontade estampada no olhar da mais baixa permitiu que Byul esquecesse todo o estresse da noite, inclusive o fato de sua melhor amiga estar tentando seduzir uma caçadora formada, e todo o perigo que vem com isso. Naquele momento, ela se permitiu focar apenas em Yongsun e em como queria beijá-la. Fazendo o que queria desde o início da noite, ergueu seus dedos pálidos até o cabelo da mais baixa, tocando uma mecha e constatando que, sim, ele era tão macio quanto havia imaginado. Byul se inclinou para baixo, em direção ao rosto de Yongsun, e fez questão de olhá-la nos olhos para confirmar o consentimento.

Foi aí que tudo deu errado: Yongsun estava louca para beijar Byul e teria feito isso sem pensar nas consequências, sem pensar que ela era uma caçadora e deveria matar empusai - e não beijá-las -, sem pensar que nunca havia beijado outra mulher antes, sem nem pensar que a outra podia ter tomado sangue mais cedo naquele dia. Sim, ela estava preparada para ignorar tudo isso só para sentir aqueles lábios sobre os seus, mas quando olhou nos olhos de Byul ela viu um traço de tudo que temia: os olhos, antes escuros, agora apresentavam um anel vermelho vivo ao redor da pupila. Aquilo era uma prova tangível de que Byul não era mulher - era um demônio. Uma criatura de olhos vermelhos como sangue, que era capaz de matar. No momento, não importava para Yongsun que Byul dizia que não matava: aqueles olhos, aquele vermelho mostrou que nada que Byul fizesse poderia afastá-la da sua real natureza.

Mais rapidamente do que achava possível, Yongsun já havia saído do banheiro.

Byul só foi entender o que aconteceu quando olhou para o espelho e viu o anel vermelho desaparecendo no preto. Fechou os olhos, frustrada. Havia se descontrolado.


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