O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 7
Além...




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Motores cortavam a rua em velocidade, chamuscando a água e submergindo ao nada. Naquele momento, já era possível ouvir alguns insetos noturnos diante o ambicioso silêncio da quase madrugada.

Ignorando o meloso filme trouxa, Snape levantou um pouco a cabeça, confirmando o cessar da chuva. Coçando a nuca, um tanto indeciso mediante o horário, por um vago momento, considerou apenas ignorar e conferir se Holly conseguiria um novo emprego? Acomodando-se naquele carinho que lhe aquecia o coração, seria bom ter um novo emprego, novos colegas, uma nova vida...

Num discreto sorriso nasal, o problema não era um "emprego"...

E, olhando de esguelha para o concentrado Potter, tinha certeza que ele não o recomendaria encontrar um novo amor quando partisse. Sorrindo sozinho ao devanear, depois de tanto tempo, até presenciava o inoportuno espírito assombrando os corajosos amantes que arriscassem a suicida missão.

Só que... Até quando ficaria se enganando que eles eram um casal?

Por Merlin... Sem concentração, fitar o televisor e pensar no quanto a moça sofria por perder quem amava o fazia querer chorar, mesmo que, ele não amasse James... Mesmo que... Acariciando de leve o braço que lhe envolvia... Aquele cheiro... As lembranças de quando o perdeu...

Não!

Desvencilhando do abraço, levantou.

Ajustando o sobretudo, revirou os olhos ao notar o negro cachecol preso ao braço do grifinório. Será que ele também não entendia que NUNCA poderiam...? Recolhendo-o abruptamente, o manhoso companheiro fazia a peça de roupa refém:

— Fica...

— Não. - Firme. Tendo o cachecol infantilmente sequestrado, lamentou entediado. - Devolva-me, Potter.

— Pense no Harry.

— Está tarde...

— Você prometeu que estaria aqui e seriamos uma família.

— Droga, eu tenho que trabalhar amanhã.

— Tão responsável. - Levantando-se em mansos passos, o gato travesso colocava a escura peça em torno do frágil pescoço, relembrando casualmente. - Só que, por coincidência do destino, eu vou levar o Harry, exatamente, para o mesmo local que você trabalha. Não quer uma carona?

— Eu não vou ficar de novo.

— Que pai ausente...

Diante o erguer de sobrancelha e a interrogação naquele olhar, James continuou:

— Somos uma família.

— Não me faça ri. - Ajustando a peça, permitia um vago riso brincar em seus lábios enquanto caminhava para a porta. - Você não é um homem para casar, Potter. Sua cabeça só pensa em sexo.

— E sobre o que você acha que é a vida de casado, meu amor?

— Eu não sei. - Rodopiando a chave, o vento glacial sussurrava pelas frestas da janela bagunçando as árvores, competindo com o caos que unia os dois inimigos ali. E, ponderando acerca daquela pergunta, Snape arriscava. - Eles são amigos, dividem finanças, compartilham as coisas, tipo inseguranças...

O aconchego novamente lhe envolvia a cintura. O peso do queixo repousando na parte esquerda do seu ombro deixava claro que não o deixaria sair. Pelo menos, não naquela noite.

Estranho...

O atraso.

A roupa encharcada...

Teria ocorrido algo com a Ordem? Algum ataque surpresa e James desejava poupá-lo como se fosse uma atitude honrável apartá-lo do time?  

Tolo.

Aquela piedade não poderia protegê-lo.

Em algum momento, bruxos de ambos os lados seriam torturados na corrida pelas horcruxes e logo o Lorde das Trevas retornaria ou...

— Compartilhar? - Igualmente temeroso, James ponderava. Quase decifrando a perturbação atormentando o amante, - Você quer saber o motivo para meu atraso?

— Não.

— Você quer saber do que eu tenho medo? – Insistia. Outra vez, ao contrário do clamor do coração, a cabeça meneava em negativo. – Só podemos falar sobre o Harry, o jantar ou a merda do mercado. Então, como está me pedindo para compartilhar algo? – Diante o silêncio, o grifinório interrompia os aflitos pensamentos, abaixando um pouco o cachecol e demarcando a nua nuca. A grave voz prosseguia quase num pedido de perdão, - Por enquanto... Só esta noite... – Diante o protesto, ele rodopiou o quase amante, e, segurando-lhe as mãos, explicava. – Eu me preocupo com você, Severus. Cada vez que você ultrapassa esta porta, eu imagino que não voltará.

— Não falamos sobre isto, Potter.

— Até quando? Não faz sentido nenhum! Hoje, a Ordem... – Ele não conseguiu terminar, pois teve os lábios calados pela boca cobiçada.

A volúpia.

Lá fora, a chuva recomeçava intercalada por frequentes trovões. Pelo barulho e o esverdeado pairando a cidade, não era somente um fenômeno natural.

James queria perguntar por aquilo, pois quem sabe não poderiam montar um plano juntos ou o caralho que fosse, mas Severus negava. Como também, sobre a desculpa de ter os pensamentos roubados, sempre o calava quando ele mencionava sobre o trabalho, os amigos, o ministério e, especialmente, a Ordem.

Distanciando-se milímetros, o audacioso rapaz aproveitava:

— Eu só quero dormir perto de você... Acho que posso compartilhar minha cama contigo também.

— Só a cama? – Severus lamentou, um tanto decepcionado, mas tranquilizado. Relembrando o filme, perguntava se o perdesse, acharia algum outro impulsivo com tamanha compreensão? E, sendo sincero, já estava tão tarde e a marca não ardia, mesmo se estivesse ocorrendo um ataque, não deveria ser grave, caso contrário, seria convocado e, prontamente, iria. Percebendo o sorriso cínico meneando a cabeça em positivo, interpôs. - Você não conseguiria, Potter.

— Você não queria fazer exercícios?

— Agora, estou cansado.

— Neste caso, acredite no meu autocontrole, meu amor.

— Oh, claro!   

— Bom. Só a um modo de averiguar. – Diante a sobrancelha erguida em desafio, James deu de ombros. - Vamos apostar?

—----/

A cobra transpassava o quarto, adentrando o berço.

Assustado pelos olhos amarelos lhe penetrando o azul, Harry não chorava, pois a voz havia morrido.

Pela idade, não conseguia diferenciar se era um pesadelo ou real. Todavia, o gosto salgado das próprias lágrimas umedecendo suas bochechas deixava tudo nitidamente vívido. 

— Eu não vou lhe machucar, criança. Não ainda. Só que... – Referia o animal, projetando a língua bifurcada para fora e capturando o carinhoso odor impregnando o berço e a macia pele. – Então, ele realmente está mentindo. A questão é: Pra quem


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