O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 5
Sono




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Apenas a amarela luz do abajur iluminava a sala quando James chegou.

Como se o dia não houvesse sido merda o bastante, agora enfrentava aquela maldita chuva.

Irritado por estar completamente molhado, pensou em ligar a luz, desistindo quando reparou os dois adormecidos no canto esquerdo do grande sofá.

O livro de contos, quase caindo, compartilhava o colo com a criança absorta no mundo dos sonhos.

Retirando o casaco molhado, contemplava o bruxo seriamente adormecido.

A testa enrugada.

O rosto de mau humor.

Meneando a cabeça em negativo, era divertido como o amante não baixava a guarda nem quando inconsciente.

Com pesar, recordava a grande tapa recebido quando tentou acordá-lo com um beijo no último dia dos namorados. Todavia, presenciar o rosto rubro e extremamente sem jeito... Certamente, arriscaria novamente no próximo ano.

Por um momento, um bobo riso lhe enfeitava os lábios, pelo modo como seu coração ainda pulsava por aquele maníaco de leitura. Quer dizer, por quanto tempo não amava Severus? Era inexplicável como aquele sentimento crescia, deixando-o sem palavras. Cada vez mais, tornava-se seu rumo.

Assustando-se quando percebeu os olhos sobre si, quase levantava se o peso da criança não o impedisse.

Um pouco nervoso por notar a escuridão na janela afora, ajeitou o braço em torno da torta coluna, buscando conceder um melhor apoio ao pequeno.

O garoto, desfrutando do cuidado, aconchegou-se melhor.  

Lutando contra o bocejo, Severus coçou a boca de leve, buscando a rotineira seriedade diante a expressão abafada de riso do recém-chegado. “Por Merlin...”.

Percebendo-o incomodado, James engoliu a felicidade, esforçando-se para comentar casualmente:

— Está tarde...

— Sim... - Hesitou, tentando não abdicar a postura macabra que havia escolhido para ocultar os sentimentos. - Um desprazer ter que aguardá-lo, Potter... – O riso nasal escapou por um segundo quando a pequena mãozinha, segurando-lhe a blusa, repousou a letárgica cabeça contra seu peito.

Aquela confiança assustava o sonserino. Ele não era alguém para...

— Ele gosta de você. - Levantando a sobrancelha, James pontuou com carinho.

— Ele é uma criança, Potter. - Mentia para si. - Elas gostam de qualquer pessoa, afinal nada entendem.

— O Harry não dorme com quase ninguém. Nem com a babá. - Compartilhando o sofá, percebeu o outro acuar. - Ele tem energia e sempre espera que eu ou a Lily volte...

— Ele é esperto.

— Minha genética. - Percebendo o riso desacreditado, interpôs. - Também por ser minha genética, eu sei que ele gosta muito de você. Menos, é claro, do que eu gosto.

— James! - Revirou os olhos, apesar do coração aquecido pela repentina declaração.

Contemplando o pai da criança de esguelha naquela baixa luz, questionava se não existia outro caminho.

Por um instante, agarrando-se ao peso entre seus braços, só desejou que a queimadura da noite anterior, superasse a fidelidade à marca negra.

Assim, será que ele poderia ser...

Feliz?

Este era o nome daquela almejada sensação?

Suspirando entristecido, por mais carinho que tivesse pelo filho da melhor amiga, jamais poderia ser “feliz” ao lado de James.

Objetivando afastar aqueles pensamentos idiotas, terminou por levantar num impasse.

Diante o murmúrio do quase despertar, James implorou:

— Não o acorde, por favor...

— Então, onde fica o quarto?

— O meu?

— Não, James. – Desacreditado, por Merlin, aquele idiota não poderia ser uma pessoa normal? - Onde é o quarto do Harry?

— Oh, sim. – Levantando-se também, erguia os braços para receber a criança. – Fica no final do corredor. Eu o levarei. 

— De modo algum. – Repreendeu ranzinza, ninando a criança para que não despertasse. Baixinho, prosseguiu resmungando. – Você está encharcado. Vá tomar um banho antes que fique resfriado.

— Você cuidará de mim, se eu ficar doente?

— Não deveria baixar a guarda perto de mim, Potter. – Um meio sorriso. – Cuidarei para que morra mais rápido e dolorosamente. - Caminhando na direção indicada, completou sem olhar para o bobo sorridente no meio da sala. – Já tenho até a poção em mente.

 

—---

 

— Não, Harry! Isto é como misturar unha de dragão com pelo de unicórnio. Nunca daria certo. Esta poção requer leveza e você está bem cansado para decorar os detalhes.

— Eu não estou com sono ainda, professor Snape. – Insistiu, embora o bocejo indesejado fosse congruente aos olhos pesados. Ainda assim, ele permanecia segurando a barra da camisa, numa determinação bastante familiar.

— Harry, está bem tarde. Você deve descansar.

Interrompido por outro bocejo, ele sorriu, meneando a cabeça em negativo.

Os olhos esverdeados começavam a apresentar certa vermelhidão por tentar permanecer abertos, embora a alegria reluzisse.  

Aquela insistência sem fim...

Olhando em volta, o que poderia fazer aquela criança desistir?

— Sabe, Harry. – Prosseguindo com cautela, buscava enganá-lo. - Existe uma poção que o ingrediente só é encontrado no mundo dos sonhos. Eu não vou te obrigar a dormir agora, mas se você encontrar este ingrediente, eu irei te mostrar algo incrível na segunda. Pode ser?

— Tipo os pássaros mortos-vivos daquela vez?

— Vejo que está transformando o nosso filho num louco das poções, Sev. – Brincou James, entrando no quarto sorrateiramente. Os cabelos ainda molhados pelo banho recente, o cheiro refrescante de sabonete contaminava o quarto como aquele fácil sorriso.

— “Nosso”? – Harry repetiu. Não passando despercebido o insignificante pronome, interpôs. – Eu sou filho de você dois?

— Sim. – Adiantando-se, James passou o braço gelado em torno do pescoço mal-humorado, o qual apenas cruzou os braços, não aprovando nada daquela situação.

Não era possível uma criança ter dois pais, mas o afeto sentido por... Certamente, não relutaria em substituir James se o menino precisasse.

Finalmente, soltando a manga, o pequeno não negava a surpresa diante a revelação.

Olhando atentamente para o sonserino, parecia tão errado chamar o professor daquela forma.

Piscando algumas vezes na interminável luta contra o sono, arriscou com certo receio:  

— Papai...?

Relaxando os ombros, vencido, Snape só concordou. Por mais idiota que achasse a colocação, explicou docemente:  

— Por que acha que passo mais tempo contigo do que com seus coleguinhas? Só uma responsabilidade deste tipo para me obrigar. – Completou. Uma peculiar felicidade lhe tomava o estômago diante os olhos contentes em admiração. Desvencilhando do abraço gelado, agachou-se um pouco, fazendo carinho nos cabelos bagunçados. – Eu te amo, Harry. Por isto, sempre vou estar aqui.

— Até amanhã de manhã?

— Sim.

— Você promete pelos crisântemos brancos do jardim botânico?

— Isto é algum doce? – Estranhou James.

— Uma flor que simboliza a verdade, pai.

— Oh, não! – Deferindo uma tapa contra a própria testa em sinal de arrependimento, reconhecia como já havia perdido o próprio filho. Diante os rostos sorridentes pela exagerada reação, ele brincou, simulando uma espantosa decepção. - Ele já está usando referência de plantas.

— Se você dormir agora, eu prometo.


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