O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 4
Chuva




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— Ao chegarem ao pé de um morro, os quatro encontraram o primeiro obstáculo, uma espécie de monstro verminoso inchado e cego...

Impaciente, Severus lia mecanicamente, espionando a cada 03 minutos se os atentos olhos cochilavam.

Nada.

Absorto nas imaginárias cenas, Harry nem piscavam, acompanhando as letras negras ainda desconhecidas com máxima atenção.

Extremamente concentrado, ele mudava para o início da seguinte página ao ouvir uma pausa mais prolongada e, obedecendo à sonoridade da voz, arregalava os olhos com medo, feliz, ansioso... Localizava-se em cada parágrafo lido como se cada ato criasse vida.

Meneando a cabeça para espantar o cansaço, os olhos do sonserino pesavam.

Desde a reunião, não conseguia ter uma boa noite de sono e nenhuma poção parecia fazer efeito.

No entanto, ali, tentando fazer o pequeno em seu colo dormir, o feitiço virava contra o feiticeiro.

Quase cochilava, mas, notando o silêncio, as minúsculas mãos apertaram o pulso da camisa, pedindo sem tirar os olhos do uniforme texto:

— Eu quero a do Caldeirão.

— Outra vez, Harry?

Pensativo, Harry olhou para as bordas da capa dura seguras entre as duas rígidas mãos.

Tinha percebido que sempre quando as páginas terminavam, o livro era guardado.

Fitando o rosto fatigado, só meneou a cabeça em positivo.

— Assim nunca vamos terminar o livro.

— Assim... Você não vai embora... – Interpôs baixinho, tendo a voz abafada pelo barulho da forte chuva afora. Timidamente, segurava com força a manga da veste negra aguardando uma resposta. Diante o silêncio, prosseguiu tristonho. – A mamãe foi embora e você nunca está aqui quando eu acordo.

Severus soltou o ar pesaroso.

O que fazia ali, afinal?

Por quantas noites aguardaria James retornar naquele faz de conta?

Até quando continuaria ali?

Aliás, ele sabia o motivo para estar ali. E não era preocupação com o pequeno e doce Harry.

Passando os olhos pela leitura inacabada, piscou indeciso sobre o que fazer.

De certo modo, aquela criança não tinha culpa. Logo, não seria errado usá-lo? Ele poderia terminar machucado e Lily jamais iria o perdoar. Se falar que...

— “James”...

— O papai?

— Sim. Não acha que ele ficaria feliz se você estivesse dormindo quando ele chegasse?

— Não.

Aquela determinação tão familiar.

Buscando driblá-la, esboçou um esperto sorriso para convencê-lo:

— Lembra da história do Sandman e como ele jogava areia nos olhos para que as pessoas dormissem?

— Ele usava preto como você.

— Talvez, eu seja o Sandman e só estou aqui para jogar areia em seus olhos se você não for dormir.

— Se eu não dormir, você não vai embora. - Atento ao livro, segurava a barra da camisa com mais força, como se realmente tivesse algum poder para fazê-lo permanecer ali.

— Mas, eu nunca falho no meu trabalho, pequeno Potter. – Brincou numa dissimulada intimidação. Todavia, o sorriso da pequena criança não veio.

Diferente das outras crianças, Harry quase nunca sorria, contava piadas ou histórias. James estava preocupado com a constância dos pesadelos e, desviava o assunto quando o encontrava conversando sozinho, quase sempre atordoado e com o rosto marejado em medo.

Aquilo poderia ser consequência do ataque que lhe marcará a testa? Pensando nisto, quanto daquela jovem alma estaria comprometida?

Talvez, por ser o filho de Lily... Só era estranha a enorme vontade de protegê-lo como se pressentisse o perigo o aguardando. Repousando o queixo de leve sobre os cabelos acastanhados, estava decidido a jamais entregá-lo aos outros comensais.

Intrigado pelas grandes letras iniciando o próximo capítulo, Harry soltou a mão direita um tanto receosa que Severus fugisse. Utilizando o indicador, apontava para a letra “S”, relembrando:

— Como a serpente do medalhão.

Perplexo, as mãos do sonserino vacilaram.

Por um mínimo instante, o livro não foi ao chão.

Sim.

Havia lhe mostrado a imagem do medalhão uma vez, todavia, não esperava que ele relembrasse. Quer dizer, dois segundos foram o bastante para a chegada do arrependimento.

Deste modo, só buscou mudar de assunto bruscamente.

Apontando para o céu, questionava com qual cor o amável menino iria colorir cada estrela.

Um vago sorriso animava seus pálidos lábios enquanto escutava o garoto explicar sobre o laranja e a vivacidade existente nos cabelos de sua mãe.  Sim. Concordava que Lily era uma explosão de cores. Mas...

Atrapalhando-se com as palavras, indagou:

— Você... Como se lembra do medalhão, Harry?

— Ele foi... – Fitando o branco por trás das letras do livro, Harry não conseguia completar o raciocínio. – Eu acho que...

Não era natural uma criança hesitar. Ainda mais o pequeno Harry cujas frases sempre eram tão curtas e objetivas. Estreitando os olhos para avaliá-lo, a voz sucumbindo parecia suprimir um camuflado temor.

Intrigado, será que James havia falado algo? No entanto, não conseguia imaginar o grifinório o ameaçando para que tivesse aquele comportamento. Se bem que... Era sobre James que falavam. Depois de tudo, não conseguia, ou melhor, não podia confiar.

Percebendo o repentino mau humor, a criança baixou o rosto, suplicando como sabia:

— Por favor, não vá embora, professor Snape.

O relampejar.

Endireitando o garoto em seu colo, Severus não recomeçou a história, prosseguindo com a leitura mecânica.

Não tinha jeito algum com crianças e, talvez, Harry só estivesse falando aquilo por estar carente por atenção. Como também, poderia estar assustado devido os relâmpagos ou apenas sentia saudades dos pais.

Era bem difícil deduzir.   

No entanto, Severus relembrava como um de seus raros sorrisos aparecia, enfeitando aquele redondo rosto durante a manhã quando o professor chegava à sala. Ainda quando repreendido, ele já não se afastava. E, diferente do começo, quando ele, cabisbaixo, aceitava as broncas no absoluto silêncio, hoje, o pequeno já fazia as mesmas birras que quando com o pai.

No dia da família, quando os alunos aprendiam a contornar o próprio nome e o dos pais, Harry havia pego a folha e pedido para a ajudante de classe desenhar as letras que compunha o nome de “Severus”.

 “Não... É apenas porque estou próximo”.

Outro relampejar.

Embora o avançar do entardecer, a chuva não passava e insistia aumentando.

Ficava cada vez mais tarde e aquelas trêmulas mãos tão determinadas...

Não!

De modo algum.

Crianças nem sabiam amarrar o sapato ou diferenciar o esquerdo do direito, como poderiam saber o que é uma pessoa especial? Naquele momento, Harry só o via como um alívio contra o momentâneo receio da chuva que não o permitia dormir.

Contudo...

Não... Definitivamente, não. 


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