Contos Sombrios escrita por Karlos


Capítulo 1
Eclipse Maldito




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Eclipse Maldito

 

   Uma noite destas, em uma das viagens que eu fazia pelo interior do Estado, uma das coisas mais incríveis e terríveis que eu já presenciei aconteceu. Um daqueles fatos que quando ouvimos da boca de outras pessoas pensamos logo se tratar de uma mentira mal contada para assustar uma população pequena de uma cidadezinha qualquer. Durante muito tempo ponderei se deveria ou não escrever sobre isto, e optei por escrever.

   Aconteceu que, enquanto eu dirigia pela rodovia (uma daquelas SP em “excelente” estado) meu pneu estourou e fez meu carro girar e parar em alguns arbustos. Após algum tempo, durante o qual fiquei meio desorientado, alguns curiosos ajudaram-me a sair do veículo e, como me encontrava com a integridade física preservada, fui levado a um hotel às margens da cidade. Um fato curioso é que por mais que eu tente não consigo me recordar seu nome.

No quarto do hotel, enquanto estava na cama ouvi algumas pessoas falando do lado de fora sobre um eclipse que haveria naquela noite. Suas vozes estavam exaltadas e elas pareciam realmente preocupadas.

Foi quando um senhor entrou no quarto, veio até mim e disse categoricamente: “Permaneça no quarto durante a noite”. Apenas concordei, afinal não tinha a intenção de sair nem argumento para debater com aquele senhor.

   Talvez, se ninguém houvesse me dito nada, eu teria dormido antes mesmo do eclipse começar. Até hoje me pergunto se não queriam realmente que visse aquilo. A verdade é que minha curiosidade venceu e fiquei na janela, observando a lua.

   Finalmente o eclipse começou. Meu coração batia aceleradamente e o suor precipitava-se pelas minhas axilas sem eu nem mesmo saber o por quê. A cidade estava calma até aquele momento. Foi quando as portas das casas começaram a se abrir e os moradores começaram a sair, praticamente ao mesmo tempo. A princípio pensei que iria acontecer alguma festa na cidade, mas mesmo do primeiro andar do prédio percebi que havia algo errado com eles.

   Os habitantes estavam andando com dificuldades, alguns deles chegando a cair em alguns momentos. Pude observar também, quando um deles passou junto ao prédio que seus olhos estavam totalmente brancos e sem vida. Era como se aquelas pessoas não possuíssem vontade própria. Todos caminhavam em uma mesma direção, na qual pude notar a existência de uma grande fogueira em um ponto mais afastado da cidade.

   Eu não podia acreditar no que via. A sensação era de que eles precisavam desesperadamente de alguma coisa. Nesse momento, um deles olhou em minha direção, me fazendo cair tamanho o susto e ficar desacordado com a pancada.

   Acordei na manhã seguinte, com alguém batendo na porta. Em minha mente passou um turbilhão de coisas até que eu pudesse me lembrar do que havia ocorrido. Ainda assustado, aproximei-me da porta e olhei pelo olho mágico existente ali. Do outro lado encontrava-se o mesmo senhor do dia anterior, parado e esperando que a porta se abrisse. Após mais um momento de indecisão, optei por abri-la.

   O senhor sorriu para mim e entrou em meu quarto antes mesmo que pudesse convidá-lo, agindo como se nada houvesse acontecido e perguntando se eu havia passado bem a noite.

   Decidi contar a ele tudo o que eu havia visto, com a esperança de que ele pudesse me explicar do que se tratava. Isso foi o que ele me falou: “Muitos anos atrás nossa cidade foi amaldiçoada. Não sabemos exatamente o porquê, mas no passado aconteciam coisas horríveis aqui. Desde então, em todo eclipse lunar nos levantamos e fazemos três sacrifícios humanos contra nossa vontade. Como não temos escolha, preparamos o ritual enquanto ainda estamos bem e escolhemos sempre os presidiários ou forasteiros para serem sacrificados. Sua sorte é que desta vez havia três presidiários”.

   Fiquei totalmente sem ação. Minha cabeça rodava, enquanto ele completou: “Deixaremos você partir. Fique sabendo que você será o primeiro, então não nos decepcione. Não fale sobre o que viu aqui com ninguém”.

    Dessa forma pude voltar para casa. Guardei isso comigo ao longo destes seis anos, que foram os piores de toda a minha vida. Creio que saí de lá amaldiçoado de alguma forma. Não me importo mais que alguém leia sobre isso. Hoje a noite haverá um novo eclipse e com certeza estarei lá. Fico feliz que todo esse sofrimento finalmente chegará ao fim.


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Notas finais do capítulo

Críticas construtivas serão muito bem vindas.



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