Capítulo XIII 

Diana 

Tudo estava passando na velocidade da luz pra mim, enquanto meu corpo insistia em se manter em modo de câmera lenta. Eu não conseguia acreditar que estava realmente presa à Leonard; a cada segundo que se passava, eu me duvidava em relação ao motivo que me fez permanecer com ele durante todo esse tempo, sendo que eu nunca estive totalmente feliz ao seu lado. As desculpas que eu arranjava para mim mesma e para Jade nunca fizeram sentido, e eu me senti boba ao ver que percebi isso tarde demais.  

Além disso, para aumentar o meu nível de estresse, havia a situação entre Jade e Luke. Eu não me arrependia daquilo que havia falado a ele — até porque ele estava errado —, mas me doía ter que esconder tudo isso de Jade. Ela tinha o direito de saber a verdade sobre o garoto de quem gostava e sobre minha conversa com ele, mas, caso eu contasse à ela, as coisas só iriam de mal a pior. Para mim, era mais viável poupar minha melhor amiga desse sofrimento, do que ver ela chorando por ter se investido naquele começo de relacionamento após tantos outros que deram errado. 

Então, como que numa avalanche, Leonard conseguiu me desestabilizar completamente. No dia seguinte à sua ameaça, durante o almoço, ele insistiu que eu me sentasse longe de Jade, simplesmente pelo fato de Philip estar com ela. Eu não pude deixar de imaginar o que Philip estava pensando, visto que nossa última conversa parecia ter sido a séculos atrás e seu olhar era indecifrável. Jade, por outro lado, não falhou em mostrar sua insatisfação. 

Eu sabia que as coisas seriam assim daquele momento em diante. Por mais que os dois não soubessem da minha situação interna com Leonard, o clima que pairou entre nós três foi bizarro, como se eles pudessem suspeitar que algo estava errado. Tentei agir naturalmente e seguir como se aquilo não tivesse ocorrido, porém meu cérebro insistiu em lembrar a imagem da tensão nos olhos de Philip quando nossos olhos se encontraram. Até mesmo durante as aulas, era algo encravado em minha memória. 

Curiosamente, por duas noites, não consegui dormir. 

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Com cafeína de uns quinze copos de café em meu organismo, eu consegui lidar com as aulas da manhã de quinta-feira. Eu sentia as olheiras marcarem o meu rosto à medida que o dia passava, porém dormir não era uma opção. A solução que eu encontrei para tirar a minha mente de tudo que estava acontecendo era me manter distraída constantemente — ou seja, a todo o instante eu procurava alguma coisa para fazer. Nem que fosse desenhar ou começar um trabalho; contanto que eu estivesse ocupada e não pensando, estava valendo. 

Acabei encontrando Jade no almoço, sabendo que Leonard teria aula naquele horário. Quando ela me viu, seus olhos se arregalaram levemente. Ignorei a reação da minha amiga e perguntei se ela estava bem, porém seu rosto imediatamente fechou-se e ela começou a contar sobre o que Luke havia feito na aula.

— Então, na maior cara de pau, ele vem e me oferece um encontro... com o amigo dele! Craig... Que tipo de nome é esse? — Jade contou. — Eu nunca senti tanto ódio, sério. Por que homens são assim? 

Eu senti uma leve pontada em meu estômago, sabendo que a situação toda era minha culpa. 

— Er, amiga.... Talvez tenha sido pro melhor, né? Quer dizer, vendo as atitudes dele.... Sei lá, só acho que você merece algo melhor. E, além disso, vai que esse tal de Craig é um cara super legal? O destino tem dessas. 

— Sei não, hein... Eu não sei porque aceitei — Jade fez uma pausa. — Na verdade, eu sei bem. Mas estou com um mal pressentimento.  

— Tenta ficar com a mente aberta. Não adianta ficar focada em algo que não vale a pena... 

Ela me olhou com um olhar estranho, e eu sabia o que ela estava pensando naquele momento. Olha quem fala. 

— É... Veremos — Jade disse, por fim. — Mas, e aí, como vai a senhorita? Dormiu bem hoje, pelo visto. 

— Estou bem — eu disse, forçando uma risada. — Só estou cansada. As provas acabaram com a minha energia. 

— Só as provas?  

Jade me encarou hesitante. 

— Amiga... — ela começou. — Eu realmente não entendo... 

— Jade — eu disse, com a intenção de inventar uma desculpa em relação à minha volta com Leonard. Porém, não consegui pensar em nada. — Ahn, preciso ir.

Me levantei rapidamente da mesa, dando um beijo na cabeça de Jade antes de sair correndo para a saída do refeitório. Não importava a desculpa que eu fosse arranjar, eu sabia que ela conseguiria ler através de mim, por isso a única alternativa que me pareceu melhor no momento foi fugir. Como sempre. 

Enquanto eu fazia meu caminho para o prédio 1, que era onde minha aula de Antropologia ocorreria, recebi uma mensagem de Leonard para que o encontrasse no chafariz perto de onde ele estava — o mesmo chafariz em que fiquei com Philip naquela noite —, e, como eu não tinha escolha, tive que atender ao seu pedido. 

Quando cheguei, ele me abraçou e se aproximou de meu rosto para me dar um beijo; mas, por instinto, acabei me virando de tal forma que o beijo acabou sendo na bochecha. 

— Er... Marquei um encontro pra gente. — Leonard anunciou, feliz. 

— Onde? — perguntei, tentando fingir entusiasmo. 

— Num restaurante perto do campus mesmo. Meu amigo me indicou. Jonathan, você sentou ao lado dele no almoço. 

Ah, sim, o Jonathan que traiu a namorada, pensei. 

— Enfim, escolha uma roupa bonita. Vai ser um encontro especial... Nossa volta triunfal. O que acha? — eu simplesmente assenti com a cabeça. — Vou te pegar às 20:00, no seu quarto. 

— NÃO! Opa, quer dizer, não precisa. Eu te espero na porta do meu dormitório, pode ser? — eu disse. Leonard notou minha ansiedade mas não comentou sobre, o que me deixou aliviada. 

Assim, com o horário combinado, passei o resto do dia sabendo que, ao invés de uma bela noite de sono, meu programa seria um encontro forçado com meu namorado que estava me ameaçando. Incrível. 

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O restaurante era, na verdade, dentro do campus, e era de comida tailandesa. Por isso, o vestido que acabei escolhendo parecia elegante demais para o ambiente que Leonard havia sugerido anteriormente. Felizmente, meu casaco conseguiu disfarçar a extravagância da minha roupa. 

Sentamos numa mesa perto da entrada e eu já estava contando os segundos que faltavam para irmos embora. Leonard, entretanto, estava se divertindo, e demorou estrategicamente para pedir o menu e decidir o prato que queria, como se fosse um crítico renomado de gastronomia. Tive que segurar uns bufos perante sua atitude infantil e evidentemente feita para me irritar. 

— Esse pato está com uma cara ótima, mas esse pad thai... — Os dois pratos custam dez libras, Leonard. Qualquer um serve. — Já escolheu o seu, amor? 

O jeito pelo qual ele me chamou me deu vontade de vomitar. 

— É... já. Vou querer essa sopa de frango mesmo. 

Ele fingiu estar intrigado e deu mais uma olhada no menu. 

Enquanto eu observava o local, absorvendo a decoração simples e feita para um público jovial, senti que ele pôs a mão em cima da minha, que estava na mesa. Dei minha atenção para ele e percebi que ele estava olhando para a porta atrás da minha cadeira.  

Quando me virei para seguir seu olhar, me surpreendi ao ver Philip entrando no local de mãos dadas com uma morena desconhecida, ambos sorrindo: uma visão que me arrepiou até a espinha e me trouxe uma leve sensação de enjoo. Fiquei encarando-o por alguns segundos até que ele respondeu ao meu olhar, seus olhos azuis transmitindo um sentimento inigualável ao meu corpo que eu simplesmente não tinha condições de enfrentar.  

Leonard notou a surpresa que haviam sido aqueles míseros segundos para mim e me trouxe de volta à realidade ao chamar o garçom. Porém, se meu foco para aquele encontro já estava pequeno antes, agora estava com um centésimo do tamanho original.  

Desde quando Philip tinha uma namorada? Simplesmente não fazia sentido. Na verdade, fazia todo o sentido: Philip era um homem bonito e ele arranjar uma namorada era apenas uma questão de tempo. O que impediu meu cérebro de processar isso foi a esperança de que, talvez... 

Imediatamente joguei fora tal pensamento e tentei seguir em frente com o encontro. Leonard estava me encarando atenciosamente e, por mais que me deixasse extremamente desconfortável, era o que eu teria para aquela noite. Philip provavelmente estaria puxando assuntos divertidos com aquela garota — que, francamente, parecia uma modelo —, e os dois provavelmente estariam flertando e aproveitando a noite livremente, enquanto eu estava ali, sendo encarada em pleno silêncio. Quando os pratos chegaram, eu agradeci internamente, porque significava que a hora de ir embora estava chegando. 

O tempo se passou lentamente, com algumas tentativas de conversas pela parte de Leonard aqui e ali. Eu sentia o peso da presença de Philip a cada segundo e estava começando a me sufocar; por isso, quando pedimos a conta, um peso enorme saiu de minhas costas. No momento em que nos levantamos, tentei evitar que meus olhos se voltassem para a mesa dele, porém ele me encontrou antes e trocamos de novo um olhar intenso. 

Saí do restaurante como se tivesse acabado de escalar o monte Everest: com falta de ar e o coração batendo forte. Leonard se ofereceu para me levar até o dormitório, e nossa caminhada até lá foi silenciosa e desconfortável. Ele andou com o braço ao redor do meu ombro e fez com que o tempo de ida demorasse o dobro. Quando chegamos, ele me deu um beijo na testa. 

— Hoje foi um dia bom. Nos vemos amanhã, ok? —  eu me virei para ir embora mas ele segurou pelo pulso. —  Te amo. 

Meu estômago revirou e eu tive que responder o mesmo, minhas palavras carregando uma raiva que eu esperava que ele não fosse detectar. Assim que ele partiu, fui correndo em direção ao quarto, ansiosa para contar tudo à Jade.  

No momento em que abri a porta, vi que ela estava deitada em minha cama, encarando o teto. 

— E aí? Sobreviveu? — ela disse. Tirei o casaco e deitei-me ao seu lado. — Nossa, você está com cheiro de pimenta. 

— O restaurante era tailandês — eu respondi, e, após alguns segundos, acrescentei: — Philip estava lá. 

Jade se levantou e me olhou em choque. 

— Mentira. 

— Sim. Ele estava lá com uma garota que eu nunca vi na vida, e os dois estavam tendo uma noite ótima pelo que eu percebi.  

— Eita... — ela suspirou. — E o que você acha disso? 

Fiquei surpresa com sua pergunta. 

— Eu... Sei lá. Ele tem todo o direito de ter uma namorada, então... Não é como se eu e ele fôssemos... algo. Se ele está feliz com ela, então... É. É isso. Eu- Eu não sei, estou morrendo de sono e não quero pensar em nada no momento. 

Eu sabia que conseguia me forçar a acreditar em algo, mas Jade tinha a habilidade surreal de saber o que eu estava sentindo mesmo eu lutando para não demonstrar. Porém, sem comentar nada, ela deitou-se novamente ao meu lado e ficamos nós duas olhando para o teto em silêncio. 

— Podemos colocar umas estrelas aqui, o que acha? Sabe, aquelas estrelas que os quartos de criança geralmente têm e que brilham no escuro. — Jade sugeriu. 

— E pra que isso? 

— Não sei... Iria ficar bonito. É o que importa. 

Sorri com sua resposta e me deixei navegar em meus pensamentos. Sem nem tirar o vestido e botar o pijama, meu corpo permaneceu deitado até a manhã seguinte, aproveitando cada segundo das longas horas de sono que eu teria fora da realidade após tanto tempo acordada.