A moça e o dragão escrita por calivillas


Capítulo 12
Cadê você?




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O resto da semana foi bastante complicado, entre farsas e subterfúgios, agiam com extremo cuidado, evitando pequenos gestos corriqueiros de carinho ou banais intimidades, para não serem descobertos. Em algumas madrugadas, Jonas escapulia para o quarto de Virginia para ficarem poucas horas, sozinhos, deitados no sofá cama, sem fazer barulho, pois, segundo a própria Judite, ela tinha sono leve.

— Por quanto tempo mais teremos que bancar os amantes secretos, Virginia? Isso é muito legal nos romances, mas, na vida real, é muito chato, eu quero dormir com a minha mulher.

— Só mais alguns dias, Judite está fazendo alguns exames, parece que terá que fazer um cateterismo cardíaco para desentupir as coronárias.

— Mas, que merda! – Jonas bufou, impaciente.- Podemos, pelo menos, aproveitar o fim de semana e sair com os amigos.

— Não dá, não ficaria bem para mim.

— O que não ficaria bem? Sair comigo?

— Como eu explicaria isso a elas, que vou sair assim com você à noite?

— E você precisa explicar tudo? Diga que vai sair com uns amigos e pronto!

— Não fique aborrecido, Jonas, mas eu preferia ficar em casa, enquanto elas estiverem aqui.

— Para bancar a viúva inconformada? – Jonas disse com tom ácido.

— Você não entende, não é? Judite foi uma mãe para mim, quando a minha morreu e eu fiquei sozinha, ela me apoiou, cuidou de mim, devo muito a ela. – Virginia rebateu aborrecida.

— Não, não consigo entender! Não estamos fazendo nada de errado! Somos um casal normal, como qualquer outro.

— Não aos olhos dela.

 Ele se levantou, abruptamente.

— Para onde você vai?

— Vou voltar para o meu sofá e tentar dormir um pouco – Ele disse, vestindo o short e saindo.

— Droga! – Virgínia falou para si mesmo, assim que a porta do quarto se fechou.

Sexta à noite, o jantar pronto, a mesa posta, os ponteiros do relógio se movendo e três mulheres esperando e nada de Jonas aparecer, Virgínia tentava disfarçar sua agitação.

— Acho que ele não vem para o jantar. Podemos comer, então – disse, com um sorriso nervoso.

— Ele é jovem e hoje é sexta-feira, sabe como são nessa idade, a maioria só quer se divertir – Teresa opinou.

— Mas, ele não avisou nada! – Virgínia respondeu, inconformada.

— Você está se comportando como a mãe dele – Teresa interveio. – Ele deve ter saído com os amigos ou foi namorar.

Ao ouvir isso, Virgínia sentiu um nó na barriga.

— Então, acho melhor jantarmos.

Durante o jantar, Virginia tentou disfarçar, mas não conseguia comer. E se tivesse acontecido algo de ruim com Jonas? Ou se ele tivesse simplesmente cansado dela, percebendo que era muito jovem para ficar atrelado a uma mulher mais velha e problemática como ela? E se tivesse encontrado alguma Tati, Amanda ou Caroline por aí? Será que voltaria para casa? Não podia aguentar mais isso. Pediu licença e correu para o banheiro, com o telefone na mão, passou uma, duas, três mensagens de texto, sem respostas, ficou mais aflita ainda.

 Voltou para a sala com um dissimulado sorriso, fingindo que estava tudo bem.

— Vou cuidar da louça – disse, recolhendo os pratos, mas Teresa a impediu.

— Nada disso, você parece muito cansada, estamos abusando da sua boa hospitalidade. Deixe que cuidamos da louça, vá descansar um pouco.

Falar era fácil, seu corpo podia estar sentado naquele sofá, diante da TV ligada, vendo o vai e vem das outras mulheres cuidando da louça e dos restos do jantar, porém sua cabeça passeava por aí, em mil conjecturas, tentando adivinhar o que estava acontecendo com Jonas, naquele exato momento. Fingiu assistir a um programa, antes da mãe e filha dizerem boa-noite e se recolherem e ela continuou ali, sentada, no sofá, vendo um filme depois de outro passar sem que notasse, olhando a cada minuto para o telefone, inutilmente, a espera de uma resposta.

Não sabe que hora era, se estava dormindo ou acordada, quando escutou o som da chave girando na fechadura e o vulto entrando, na sala iluminada pela luz da TV ligada.

— Virginia, você ainda está acordada? – Jonas parou, surpresa, ao vê-la.

— Estava esperando por você – respondeu em voz baixa, os braços cruzados sobre o peito e ar desafiador.

— Sai com uns amigos, fomos aquele barzinho, comemos uma pizza e conversamos.

— Você poderia ter me avisado.

— Desculpe! Foi mal, a bateria do telefone acabou, mas eu a chamei ontem, mas você não quis ir.

— Eu não podia ir com você.

— Você fez a sua escolha, eu fiz a minha. Estava cansado de mentir e de ficar ouvindo como Theófilo era maravilhoso.

— Quem estava lá, com você?

— O pessoal de sempre. Edu, Pedro, Luci e Tati.

— Tati estava lá?

— Sim, por quê?

— Por quê? Você ainda me pergunta por quê! – A voz dela já não estava tão baixa assim.

— Ah! Por favor, Virginia! Não me diga que está com ciúmes da Tati? Nós somos apenas amigos.

— Amigos que transaram.

— Isso já faz algum tempo. Eu estou com você agora, só transo com você, apesar de não querer que ninguém saiba disso.

— Não é nada disso, só sou reservada quanto a minha vida.

— Ou você tem vergonha de mim?

— Eu não tenho vergonha de você!

— Não? O que é então? – Ele a encarou de um modo inquisidor.

— Eu...eu tenho vergonha de mim mesma - ela confessou quase em um sussurro, Jonas arregalou os olhos. – Olhe para mim! Eu sou uma velha ao seu lado, e quando penso nas Tatis, Amandas e Carolines com os peitos duros, as coxas firmes, as barrigas retas, eu não consigo entender o que você vê em mim.

Ele se sentou ao lado dela e a encarou sob a luz fria da tela da TV.

— Eu não estou com você só por causa dos seus peitos ou da sua bunda, que aliás, é bem gostosa. – Ele lhe deu um sorriso travesso. - Eu estou com você por você, e queria que entendesse isso. – Passou o braço sobre os ombros dela, que se aconchegou no peito dele, o dragão a enroscou delicadamente. – Por que, simplesmente, não dissemos a elas que eu e você estamos juntos?

— Você não entende? Judite pode morrer se descobrir. O caso dela é muito grave e até o procedimento, ela não pode se aborrecer.

— Sim, eu entendo, também nasci em uma cidade pequena, cheia de Judites.


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