Waves escrita por Charles Gabriel


Capítulo 9
Capítulo Nove


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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Cato acendeu o cigarro enquanto encostava-se no muro. O colégio era grande, portanto, havia muitos lugares da qual pudesse fumar sem ser visto por algum aluno ou pelas câmeras. Checava o celular de forma impaciente, havia marcado de se encontrar com Clove, entretanto, não obteve respostas. Imbecil, praguejou mentalmente. Peeta tinha razão, estragava tudo

― O que você quer? – A voz feminina, que tanto conhecia, despertou sua atenção. A cortina de cabelos escuros caía pelos ombros, a franja aproximava-se dos cílios espessos que emolduravam olhos esverdeados. As sardas, que mais lembravam estrelas, poderiam pertencer a constelações.

O rapaz estremeceu. Já haviam se passado semanas desde o término, por mais que tentasse fugir da saudade, bastava vê-la, que tudo desmoronava.

― Eu sinto sua falta... – Cato respondeu, num fiapo de voz.

― Acabou! – a garota respondeu de modo firme.

― Eu sei, mas eu te amo... – lágrimas saíam dos olhos azuis.

A seriedade no rosto de Clove se esvaiu. Os olhos esverdeados mostravam melancolia.

― Eu também te amo, Cato – Smith respondeu, a voz falhando. Aquelas palavras acenderam uma fagulha de esperança no coração do loiro – mas, só o amor, não basta.

― E se eu mudar? – A súplica era eminente na voz de Mellark.

― Você disse isso durante três anos seguidos – sorriu de forma amarga.

― Tenta acreditar em mim, só dessa vez...

― De uma forma ou de outra, você sempre dá um jeito de voltar para as drogas – balançou a cabeça em negação – e acaba se tornando possessivo, grosseiro, descontrolado. Não sei se tenho mais força para continuar com você.

Cato sentiu o coração afundar dentro do peito. Ela estava certa. Todos sempre estavam certos de alguma forma.

― Eu sinto muito... – foi tudo o que conseguiu responder.

― Eu sei... – sussurrou abatida, o vento balançando os longos cabelos e elevando o perfume floral pelo ambiente. Cato sentiu as pernas fraquejarem, se não fosse pelo muro, já estaria no chão. Lágrimas caíam dos olhos da garota, essa foi a deixa para sair.

O loiro encostou-se na parede, sentando no chão, tragando o cigarro com tanta força, que sentiu um aperto no peito, não ligou. Poderia morrer nesse exato momento que ninguém sentiria minha falta, pensou, enquanto chorava baixinho.

Há um metro e meio de distância, encontrava-se Peeta procurando pelo irmão. Sentia o coração pesado pelo que havia lhe dito mais cedo, caminhou por entre os corredores menos frequentados e Cato não se encontrava por lá. Caminhou lentamente pelo saguão vazio, avistando ao longe uma figura loira envolta por uma fumaça.

― Dá pra sentir o cheiro de longe – Peeta aproximou-se lentamente, enquanto torcia o nariz pela essência forte.

― Como se eu me importasse – o rapaz deu de ombros, passando a mão no rosto vermelho com força – o que você quer?

― Eu queria te pedir desculpas... – exprimiu, sentando-se no chão.

― Não tem motivo pra pedir desculpa. Você tem razão... – respondeu de forma vaga.

― Cato, não, foi algo dito no calor do momento.

― Ainda assim, não deixa de ser verdade – o garoto apagou a ponta do cigarro no chão – Eu sou um péssimo irmão, me desculpe.

― Você não é um péssimo irmão – Peeta suspirou, passando a mão nos cabelos.

― É claro que sou...

― Não fale assim, Cato... – O jovem sentiu a garganta apertar e as lágrimas surgirem, deixando a visão embaçada.

― Você sempre esteve do meu lado – Cato baixou o olhar, observando o concreto cinzento do chão. Definitivamente, aquele não era um bom dia – queria poder voltar no tempo.

Peeta suspirou pesadamente. A vida do gêmeo passou a fugir do controle assim que conheceu Castor e Pollux. Eram amigos inseparáveis, entretanto, não era uma amizade saudável. Os três costumavam debochar, menosprezar e humilhar tudo o que fosse diferente.

― Teu irmão lê poemas? – Pollux riu.

― Sim, cara. Ele adora Shakespeare, dá pra acreditar? – Cato gritava caçoando do gêmeo.

Caralho, que coisa de mulherzinha— Castor proferiu, enquanto observava Peeta ao longe.

Inúmeras foram as vezes que Peeta chorava escondido no quarto pelas brincadeiras de mau gosto que Cato fazia juntamente com os amigos. Em sua maior parte, eram piadas envolvidas com os livros que lia, porém, com o passar dos anos, a zombaria foi tornando-se cada vez pior.

― E aí! Teu irmão disse que você fica chorando no quarto, é verdade? – Pollux perguntou sorrindo debochadamente, antes das aulas começarem.

Buá, buá, vai chamar a mamãe? – Castor interrogou – Ah, é, sua mãe já está mortinha, né?

― Ela deve ter morrido de tanto desgosto de você – Pollux prosseguiu – um menino que lê Shakespeare? Fala sério.

Na maior parte do tempo, o rapaz não ligava para as provocações, aos poucos, foi afastando-se do irmão gêmeo. Já não se sentia confortável em partilhar segredos, sentia falta, porém, percebia que era melhor assim. As provocações tornaram-se tantas, que acabou por se tornar resistente, tanto, que nem mesmo a grosseria ou agressividade de Plutarch o atingia, quebrando assim, a promessa que havia feito a mãe. De certa forma, quando se vive num ambiente pesado, acaba-se criando um escudo, numa forma de se proteger e foi isso que Peeta fez, preferia guardar para si o que sentia e chorar as escondidas no quarto, havia criado uma máscara de cólera, que quase ninguém notava se estava triste ou feliz, raramente transparecia algum sentimento em seu rosto – exceto quando se tratava de sua mãe.

Numa manhã calorosa, Peeta decidiu ir mais cedo para o colégio, mostrar as novas músicas do álbum Wonderful Wonderful de The Killers para Thresh, Cato provavelmente, estava com as narinas entupidas de pó em algum lugar da casa, era o que mais fazia quando Plutarch não estava por perto. Acompanhou a irmã até o fundamental e, logo se encaminhou para seu destino.

― Caiu da cama, Mellark? – Pollux aproximou-se do rapaz, que caminhava lentamente pelo campus.

― Vai pro inferno, não ’tô com paciência pra aturar suas gracinhas hoje.

Uou, uou, o que é isso, hein? – Lucker continuava a proferir as costumeiras provocações e Peeta somente revirava os olhos. Caminhou até a sala de aula em completo silêncio, enquanto fingia não ouvir o que o garoto falava, rumou para o fundo da sala, agradecendo aos céus por finalmente ter um minuto de paz, entretanto, estava errado – aí, Cato contou que sua mãe se matou.

― Todo mundo sabe disso – Peeta respondeu com grosseria.

― Eu não sabia – riu com deboche – por que ela fez isso?

Mellark respirou fundo, se sentindo desconfortável.

― Não te interessa, agora, some da minha frente – tentou soar o mais grosseiro que pôde, antes que as lágrimas invadissem seus olhos.

― Vai ficar bravinha por que falei da mamãezinha? Cato também me disse que ela tinha asma e fumava, que bom que ela aproveitou disso e se enforcou, agora compreendo o motivo de Plutarch querer se separar dela antes do suicídio, era maníaco-depressiva, já é difícil aturar mulher, imagine com transtorno psicológico? Por isso você é assim e...

Pollux não terminou suas palavras, até porque, Peeta já havia lhe dado um belíssimo soco no rosto. Era capaz de aturar as mais diversas provocações, no fim do dia poderia chorar, logo ficava tudo bem, a pose de durão, era facilmente convincente, todavia, não conseguia se controlar quando falavam de sua mãe, era uma dor que permaneceria pelo resto da vida.

E acho que vai demorar muito, muito tempo, até que o pouso me traga de volta para descobrir que não sou o homem que acham que sou.

★★★

Madge não acreditava em mudanças, pelo menos, não as repentinas. Estava achando a alteração de Peeta brusca demais. Porém, decidiu guardar o achismo para si mesma. Katniss acreditava no melhor que as pessoas pudessem oferecer, e Undersee temia pela melhor amiga, não por ela acreditar nas pessoas, afinal, essa era a essência mais marcante que tinha, mas sim, porque quando acreditamos em alguém, ficamos mais vulneráveis. A traição e a mentira são capazes de deixar marcas irreversíveis.

― Deixei meu número pra ele, caso precisasse de alguma ajuda – Katniss murmurou enquanto comia o restante da salada de frutas.

― Esperamos para que ele esteja disposto a aprender, né? Mas, que tal irmos ao parque de diversões essa noite com o general? – Decidiu mudar de assunto, para que a melhor amiga não percebesse seu ceticismo.

― Acho ótimo! – A morena sorriu, de forma que algumas covinhas abaixo dos lábios aparecessem.

― Meninas, preciso conversar com vocês – Judith murmurou afobada – meus avós me apresentaram nesse fim de semana um garoto lindíssimo e, que além de tudo, é judeu. Eu acho que estou apaixonada.

― Apaixonada? – Madge riu – conheceu ele há pouco tempo.

― Vocês entendem o que é estar atraída por alguém? – FoxFace questionou, Madge anuiu com a cabeça, enquanto Everdeen sussurrava um sim— Desde quando se interessa por alguém, Katniss?

― Lembra-se de Seneca? Pois bem... – Madge jogou os cabelos loiros para trás – ele foi o último por quem ela sentiu algo.

― Verdade! – A ruiva gargalhou.

A morena revirou os olhos, nem se lembrava mais disso, aconteceu há tanto tempo. Seneca era do grupo de xadrez, e Katniss havia se atraído pela generosidade do rapaz, entretanto, não foi algo duradouro. Aos poucos, a atração foi dando lugar a uma amizade, os beijos que, antes haviam um toque do fogo da paixão, foi se apagando. Entraram num consenso de se tornarem apenas amigos e nada mais, porém, com o tempo, foram se afastando, o garoto logo conheceu Glimmer, a neta do diretor Snow, e engataram num namoro. Às vezes, via os dois pelos corredores, no máximo, cumprimentava o casal e sentia-se feliz por estarem juntos.

― No dia que Katniss se interessar por alguém, ganharei na loteria – Madge franziu a testa.

― Não diga isso, ela pode estar sentindo atração por alguém nesse exato momento e nem ela sabe – FoxFace limpou a garganta, olhando para o pátio – agora me questiono por quem.

― Não seja ridícula – Katniss murmurou, elevando seu olhar para o outro lado, encontrando Thresh e Peeta conversando.

― Está analisando suas opções, é? – a ruiva questionou.

― Dá pra parar, Judith? – falou irritada.

― Tá bom, tá bom – levantou os braços em forma de rendição – mas, sei lá, se sentir alguma coisa por alguém, nos avise.

― Pode apostar nisso – A morena murmurou, não conseguindo tirar os olhos de Mellark. Algo nele a intrigava e ela não sabia o que era. Madge e Judith entraram numa conversa banal da qual nem se deu ao trabalho de prestar atenção. Everdeen se questionava o que havia por trás daqueles olhos azuis. Peeta sorriu de alguma piada que o melhor amigo havia contado, um sorriso tão doce, que de alguma forma, a fez lembrar do Mellark tão gentil da infância. Era uma risada tão bonita, que poderia identificar até mesmo em seus mais perversos pesadelos.


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Notas finais do capítulo

E acho que vai demorar muito, muito tempo, até que o pouso me traga de volta para descobrir que não sou o homem que acham que sou = é uma parte da música Rocket Man de Elton John.

Até breve! o/



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