Waves escrita por Charles Gabriel


Capítulo 11
Capítulo Onze


Notas iniciais do capítulo

Oi! Peço perdão pela demora em postar. As crises de Transtorno de Ansiedade Generalizada e depressão estão difíceis e, infelizmente, há dias em que eu não consigo nem mesmo levantar da cama. Sei que não é uma justificativa. Não vou deixar de atualizar, entretanto, talvez eu demore um pouco. Espero que possam compreender.

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Sexta-feira

 

Era um feriado atípico. Toda a família Mellark estava na fazenda do meio-irmão de Plutarch, Romulus Thread. Peeta não se sentia à vontade naquele lugar. Não gostava muito de ter que socializar com os familiares paternos, por esse motivo, caminhava pelo enorme patrimônio, sem se importar com o pai. Prim estava feliz e isso já era motivo para deixá-lo aliviado. 

 

Perto do pasto, debaixo de uma árvore e encostado numa cerca de madeira lascada, estava Cato, com um cigarro black entre os dedos.

 

 — Plutarch vai te matar se descobrir que está fumando por aqui — Peeta se aproximou do gêmeo, que parecia perdido em pensamentos.

 

 — Esse lugar fede a gado o tempo inteiro, ele nem vai desconfiar – Cato sorriu de lado enquanto jogava a ponta do cigarro na terra e tentava enterrar com o bico do coturno – Prim adorou os filhotes de cabra, você deveria ter visto.

 

 — Ah, não estava no clima pra ficar no mesmo ambiente que Plutarch, você sabe… Ele me irrita. – O rapaz sussurrou, enquanto passava a mão pelos cabelos que esvoaçavam com o vento.

 

— Ele irritaria até os anjos, bro — Mellark suspirou, acendendo outro cigarro black

 

— Quantos cigarros já fumou? – O garoto perguntou, sentindo o cheiro adocicado da fumaça arder as narinas. 

 

— Não sei, três talvez? – Cato riu – por quê?

 

— Você só fuma black quando ’tá angustiado. Aconteceu alguma coisa?

 

— Por que você quer saber? – O loiro perguntou com a voz baixa, enquanto olhava os gados correr pelo pasto. 

 

— Somos irmãos e eu me preocupo com você – Peeta molhou o lábio com a ponta da língua, enquanto colocava a mão no ombro do gêmeo.

 

— Não se preocupe, está tudo bem, bro — Cato declarou sorrindo, olhando nos olhos do irmão.

 

Peeta sorriu também, sentindo o coração pesar.

 

Era óbvio que Cato estava mentindo. Mas, por quê?





★★★  

 

 Sábado

 

Uma música da banda T. Rex ecoou do celular, despertando Peeta de uma soneca. O rapaz estendeu o braço observando as horas. Exatas 14:30. Hora de levantar e buscar Prim nas aulas de balé.

 

Apesar de Mellark gostar de sair aos fins de semana, estar em casa e poder tirar um belíssimo cochilo após o almoço, numa tarde de sábado, poderia ser considerada uma das sete maravilhas do mundo — ainda mais pelo fato de Plutarch trabalhar até tarde. Tomou banho, escovou os dentes, colocou uma roupa qualquer e saiu de casa. Sentia falta da Harley Davidson, mas desde a última briga que teve com o pai, estava proibido de usá-la.

 

Em menos de quinze minutos, lá estava o garoto chegando ao estúdio de balé, sendo recebido por uma garotinha energética e risonha.

 

— Ei, meu amor! – Peeta agachou abraçando a irmã mais nova – Como foi a aula de balé hoje?

 

— Foi muito legal, fizemos ligação dos pés. Você deveria tentar, sabia? – Prim tagarelava enquanto o irmão ouvia atentamente. 

 

— Prim é uma ótima aluna. Muito dedicada. Terá um futuro brilhante – Paylor murmurou para o rapaz – tenho certeza que seus pais estão orgulhosos.

 

Peeta sorriu enquanto se levantava. Era óbvio que Plutarch se sentia orgulhoso de Prim. O pai tratava a garotinha como nunca havia tratado os gêmeos e isso o deixava tranquilo. Prim não merecia passar por metade das coisas que eles haviam passado.

 

— Fico muito feliz de ouvir isso. Obrigado! – Mellark sorriu para a professora.

 

— Imagina! Tenham um ótimo fim de semana.

 

— Igualmente – respondeu, enquanto pegava na mãozinha da irmã.

 

A ida para casa ao lado de Prim sempre era divertida. Peeta gostava de ver o mundo aos olhos dela. Tudo era de forma mais tranquila. Quem dera o mundo pudesse ser tão lindo quanto a mente das crianças com uma infância saudável e feliz. Enquanto ele ouvia as histórias da irmã mais nova, sentia o celular vibrar no bolso da calça jeans. O nome do gêmeo piscava na tela.

 

— Meu bem, você pode esperar um pouquinho para eu atender essa ligação? Depois você me conta mais sobre sua coleguinha da aula de balé.

 

’Tá bom – Prim sorriu, agarrando-se na perna do irmão.

 

— Cato? –  Peeta sentiu um calafrio correr pela espinha.

 

Onde você está? Preciso conversar com você… – A voz era vaga e distante.

 

Peeta sentiu o coração gelar.

 

— Estou na terceira avenida – Mellark murmurou olhando ao redor – O que há?

 

Só… Volte logo, por favor! — Cato sussurrou encerrando a chamada.

 

Peeta ficou ali, por uns segundos, segurando o celular com força.

 

— Quem era? – Prim perguntou.

 

— Era Cato, disse que está com saudades de você – Mentiu, guardando o celular no bolso.

 

— Oba! Preciso contar pra ele sobre minhas amiguinhas – Primrose confabulou enquanto se agarrava a calça jeans de Peeta.

 

Mellark sorria, ouvindo atentamente o que a irmã dizia, entretanto, algo dentro de si, dizia que a noite não seria tão boa assim.



★★★




— Como assim você roubou dinheiro de Plutarch? Ele vai nos matar! — Peeta sussurrava, enquanto se certificava que Primrose estava prestando atenção nos desenhos animados que passavam na televisão – Por que você fez isso? Por quê? 

 

— Eu ’tava devendo! – Cato murmurou exasperado.

 

— Cara, era só me pedir ajuda! – Mellark proferiu com cansaço.

 

— E com que dinheiro você me ajudaria, Peeta? Se liga! Você parece que é burro.

 

Eu? Já se olhou no espelho? – franziu a testa em total descrença – você é inacreditável…

 

— Peeta, quebra essa pra mim, por favor – Cato suplicou com os olhos marejados – Plutarch vai me mandar pro inferno se descobrir que fui eu.

 

— E o que você quer que eu faça? Que eu simplesmente assuma a culpa por você? – Peeta insinuou, passando a mão pelos cabelos de forma nervosa.

 

— Qualquer coisa, por favor, eu te imploro… – gemeu, juntando as mãos em frente ao rosto.

 

O rapaz desviou o olhar para a irmã mais nova que ainda estava presa nas animações. Deu um longo suspiro. Não havia muitas alternativas a seguir.

 

Não cuide de mim

Tenha medo de mim

Minha miséria me possui






★★★




Domingo

 

A cabeça de Peeta latejava. Era a terceira vez que Katniss tentava explicar sobre epistemologia, sem sucesso algum. 

 

— Chega, sério, eu não consigo! – Peeta murmurou pela milésima vez no mesmo dia. Já se passavam das duas da tarde e a biblioteca da escola estava cada vez mais vazia. Sentia vontade de fugir.

 

— Quer que eu leia pra você novamente? – A garota sugeriu.

 

— Não precisa. Eu sou muito burro, Katniss – Mellark sussurrou enquanto bagunçava os fios loiros.

 

— É nosso primeiro dia estudando uma matéria da qual você tem dificuldade, é óbvio que será difícil – Everdeen suspirou enquanto fechava o livro Ecce Homo — se quiser, podemos suspender os estudos por hoje.

 

— E redobrar na próxima semana? Sem chance! – Inquiriu abrindo novamente o livro e retomando a leitura. A real, é que o garoto não queria provocar a ira do pai. A noite de sábado havia sido o inferno depois que ele assumiu a culpa pelo irmão.

 

Por baixo da jaqueta preta estavam as marcas da fivela do cinto de Plutarch. Sentia ódio dele e sentia ainda mais ódio pela mãe que havia cometido suicídio. Ela poderia ter me abortado, Peeta pensou, me livraria de muita coisa. No instante seguinte, o arrependimento cortou como uma navalha. Ela teve seus motivos, continuou, a vida pode ser o inferno.

 

Katniss observava o garoto com pesar. Peeta havia mudado nas últimas semanas, parecia mais quieto e mais cansado. Estava acontecendo algo? Provavelmente, sim. Queria ter intimidade o suficiente para questioná-lo. Respirou fundo, dando continuidade na explicação.

 

Quando finalmente Mellark conseguiu compreender a matéria, já passava das seis da tarde, dava pra ver o lusco-fusco que pairava de forma límpida pelo céu.

 

— Queridos, sinto muito se ainda não terminaram, mas já está na hora de fechar – a bibliotecária falou com a voz suave.

 

Peeta ergueu o olhar, apenas Katniss e ele ficaram na biblioteca. Isso era inédito, ele nunca havia ficado por tanto tempo ali. Guardou os livros de qualquer forma, jogou a mochila para cima dos ombros e caminhou até a porta.

 

— Você tem meu número, certo? – Katniss mencionou assim que saiu da biblioteca – Caso tenha alguma dúvida, só me mandar mensagem.

 

Valeu — disse expressando um mínimo sorriso.

 

— Até amanhã! – A garota sorriu de forma gentil, caminhando lentamente para longe dele.

 

Peeta ficou ali, parado, enquanto sentia algo esquisito se passar pelo coração. 

 

— Você… quer que eu te acompanhe até em casa? – O rapaz soltou de forma súbita.

 

Idiota, xingou-se mentalmente.

 

A garota parou de andar, olhando para trás de forma questionadora. 

 

— Não precisa fingir ser algo que não é, Peeta. Está tudo bem, sei me virar.

 

— É que… – coçou a nuca em nervosismo – é o mínimo que posso te fazer, como forma de retribuir… Você sabe, por me ajudar e tudo mais.

 

Burro, burro, burro, xingou-se ainda mais, era só uma forma de educação, então, por que diabos se sentia tão nervoso?

 

’Tá bom! – Riu.

 

Peeta sentiu o estômago se revirar.

 

Deveria ser fome, tinha que ser. Não havia motivo nenhum para estar daquele jeito. Já havia acompanhado outras garotas até em casa nos vários momentos em que saía com Thresh no fliperama. Nenhuma o deixava nervoso. Por quê? Aliás, o garoto passou a tarde toda assim. Não poderia ser por ela. Poderia?

 

Caminharam em silêncio pelas ruas movimentadas, algumas pessoas observavam o casal, afinal, poderia ser incomum um rapaz todo de preto, com camisetas de bandas com símbolos – que poderia ser considerado, para muitos, satânico — ao lado de uma garota radiante, que usava um vestido vintage floral que ia até a canela.

 

O rapaz não ligava muito para os olhares, já estava acostumado, entretanto, percebeu que Katniss não se sentia tão confortável, ficava vermelha sempre que via alguém observando.

 

— Bem, aquela é minha casa… – Katniss apontou para uma casa branca com enormes portões dourados do outro lado da rua – obrigada por me acompanhar.

 

— Vou com você até lá – Peeta propôs.

 

— Não precisa, de verdade. Eu ’tô bem – insistiu – obrigada, de coração.

 

— Bem… Então, até amanhã – abaixou a cabeça, não queria encarar a tempestade no olhar de Katniss. 

 

Ao longe, o garoto ouviu um barulho de música.

 

— Se tiver alguma dúvida, me chame. É sério. 

 

O barulho da música estava se aproximando cada vez mais.

 

— Pode deixar. – O rapaz balançou a cabeça levemente, enquanto observava a garota movimentar-se pela calçada até a rua. Olhou para o lado, lá estava um carro vindo em alta velocidade. Olhou para a garota, que parecia alheia a tudo ao redor, nem mesmo verificou os lados antes de atravessar – Katniss!

 

Chamou, mas ela parecia não escutar.

 

Faça alguma coisa! ordenou a si mesmo.

 

Deu alguns passos até a garota e, de forma abrupta, a puxou pelo pulso — com tanta força, que os corpos se colidiram. O carro passou, deixando uma lufada de ar, bagunçando o cabelo do casal.

 

Katniss estava tão perto de Peeta, que ele poderia sentir o perfume dela. Engoliu em seco, sentindo o coração disparar no peito. Que diabos?, pensou, puxando a garota mais para perto, observando os olhos cinzentos.

 

Ela era linda, isso não podia negar, ainda mais quando as cores do céu, pareciam se misturar no olhar de Katniss, inclinou o rosto para mais perto e ela fez o mesmo.

 

O que está fazendo?, pensou em tom acusatório, pare imediatamente, você vai estragar tudo!

 

Mas nesse momento, ele não queria dar a mínima para as consequências — afinal, poderia lidar com elas depois. Naquele momento, queria beijar Katniss. E isso era o suficiente. Era um beijo. Que mal teria?

 

As bocas estavam quase se tocando. Peeta inspirou demoradamente aquele perfume inebriante… Canela? Flores? Não sabia dizer, apenas gostava daquele cheiro. A moça roçou os lábios nos do rapaz, aquele foi o suprassumo para que a mente nublada do garoto voltasse a ficar mais clara.

 

Não, eu não posso, pensou.

 

— Desculpa, eu não… – tentou procurar palavras cá de dentro, mas não conseguia achar.

 

Tomado pela vergonha, caminhou para longe, da forma mais rápida que pôde, deixando Katniss para trás, com as pernas bambas e o coração explodindo em êxtase e dúvida.



Eu serei o único, serei a Lua, serei o Sol. Serei a chuva em sua canção, vá colocar esse disco, se você quiser

(...)

Vergonha, vergonha, vergonha, vergonha.


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Notas finais do capítulo

As duas músicas no capítulo são: Under The Graveyard do Ozzy Osbourne e Shame Shame do Foo Fighters.

Até breve :)



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