Gaara Chibi escrita por LaviniaCrist


Capítulo 3
Déjà vécu




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PAÍS DO VENTO, SUNAGAKURE, ÁREA SABAKU – DIA 1 – 03:49.

 

A madrugada seguia fria e seca, as nuvens de areia deixavam a vista da janela embaçada a ponto de não entrar luz alguma da lua e as rajadas de vento bloqueavam qualquer som que vinha do lado de fora. Este cenário pode parecer ruim, porém, graças a estes fatores não havia ninguém fora de suas camas, excerto dois irmãos.

Kankuro ainda estava observando a criança em sua frente: pequena, aparentemente frágil e com os olhos brilhando enquanto encarava-o, ainda esperando as suas perguntas serem respondidas. Não era exatamente assim que Kankuro se lembrava de Gaara quando criança, ainda mais por estar sem o kanji gravado na testa... Mas era ele! Só não parecia perigoso e nem tinha aquela vontade assassina que chegava a ser sentida de longe. Aliás, graças ao ninja idiota número um de Konoha, Gaara não era assim há anos.

O ruivo se mantinha escondido em parte atrás da porta. Ele estava curioso, não se lembrava ao certo do que havia acontecido, mas sabia que aquele era seu quarto, aquelas roupas que ele vestia eram suas, que aquele era seu irmão e a moça loira que foi tão amável com ele era sua irmã, se sentia até mesmo confortável com isso, mesmo não entendendo como.

"Que criancinha fofa, mas o que eu faço com ele? Será que se eu deixar quieto e fingir que não vi nada, ele volta ao normal? ". Inconscientemente, ele se abaixa e continua com seus pensamentos: "Eu não me lembro dele desse jeito... O que mesmo aconteceu para ele deixar de ser assim? Só me lembro de não querer ficar perto, acho que meu pai nem deixava que brincássemos juntos...".

— Diz... — Gaara prolonga um pouco mais o som do "i" enquanto fala — Como ficaram grandes?

— O que? — o mais velho solta uma risada — Foi você quem ficou pequeno, irmãozinho...

Kankuro estava tentando ser o mais simples e direto na explicação, mesmo sabendo que sempre deixaria uma brecha ou outra para o irmão fazer mais perguntas. Apesar de querer que tudo volte logo ao normal, ele não queria pressiona-lo a lembrar de algo, deixaria tudo seguir no tempo que Gaara se sentisse confortável.

O olhar do pequeno parecia triste agora. Mesmo sendo uma criança, ele entendia que no mundo dos adultos, crescer significa somente uma coisa:

— Não vão mais brincar comigo?

— Brincar de esculturas de areia? — ele acaba sorrindo, começando a se lembrar um pouco do passado — Eu e a Temari somos muito ocupados e não brincamos mais. Você também é ocupado, acho que mais do que nós dois.

É difícil entender como eles estavam mantendo tanta tranquilidade e naturalidade com essa situação. Por um lado, Kankuro sentia que o mínimo a fazer por ter deixado algo assim acontecer com seu irmão era cuidar dele mais do que nunca, porque agora ele era uma criança "indefesa". Por outro lado, Gaara não se lembrava de nada recente, ou melhor, da última década, mas de algum modo ele sabia que podia confiar nos irmãos ainda que estivessem diferentes.

O problema é que a qualquer momento aquela criança poderia ficar com medo já que as pessoas e os lugares estavam diferentes, ou até lembrar de algo doloroso de sua infância conturbada e se descontrolar. Acima de tudo, o mais problemático é que o culpado e o motivo por isso ainda eram desconhecidos.

— Yashamaru ainda vai demorar para voltar? — ele ainda não tinha realmente entendido que o tempo passou para todos e não para si mesmo.

— Ele vai demorar, mas eu e a Temari vamos tomar conta de você, jaan. — Kankuro já estava decidido a manter, mesmo usando de pequenas mentiras, essa tranquilidade que havia entre eles. Falar sobre o tio só faria Gaara sofrer em vão.

"Que você volte ao normal antes de se lembrar do que houve...". Agora Kankuro se lembrava de parte do que aconteceu: o pai foi separando lentamente Gaara dos irmãos no dia a dia, até que em uma noite as pessoas começaram a ser evacuadas da vila porque uma besta enorme estava à solta e matando o que via pela frente, aquele monstro terrível era seu irmão mais novo. Por muitos anos Kankuro sentiu raiva de tudo o que o caçula fazia, mas agora ele não sentia essa raiva olhando para Gaara. Ele sentia certo ressentimento do pai, porque foi principalmente por causa dele que o irmão viveu isolado por anos, mas passado não se muda! Devemos apenas melhorar o futuro.

O mais velho começa a notar algo realmente interessante: "Vai ser sua segunda chance de ser uma criança feliz! Dessa vez eu vou cuidar de você, baixinho! E quem fez isso vai pagar caro, jaan! ". Ele não tinha uma experiência vasta com crianças dessa idade, cuidar do irmão naquelas circunstancias seria difícil, principalmente por Temari ter deixado ele lá sem nem dar uma dica do que fazer. "É só não falar nenhuma besteira e não fazer nada perigoso, deve ser só isso! " (falar é fácil!).

— Eu posso ir brincar lá fora? — sem o tio, Gaara pensava em seus irmãos como responsáveis por ele, até porque eles eram "grandes" agora.

Kankuro chega a acenar uma vez ou duas positivamente com a cabeça, até que pensa melhor: "É de madrugada, você virou uma criança de novo e seja lá quem fez isso poderia estar em qualquer lugar! Não, não, não, a resposta é não!".

— Nem pensar. Era pra você estar dormindo, sabia? — ele se levanta, olhando o mais novo abaixar a cabeça. — Não sente sono? — o pequeno acena negativamente — Mesmo?

— Mesmo... e essa roupa incomoda... — ele fala desanimado, seguindo em passos desastrados para a cama.

Gaara ainda estava vestindo o sobretudo vermelho escuro. Não é como se ele fosse alto hoje em dia, mas para uma criança pequena como ele era agora, aquele sobretudo estava enorme e o atrapalhando a andar, assim como a calça.

Apesar de todo o esforço, a criança vai até a cama e sobe nela, novamente aquele barulho seco. "Então o barulho vinha mesmo da cama...". O mais velho fica pensativo, caminhando até a cama também e se senta na beirada, ouvindo novamente o barulho estranho.

— Você estava brincando na cama antes de chegarmos? — O quarto estava em ordem, mas não dava para saber quanto tempo o pequeno ficou lá sozinho e o que estava fazendo.

— De ficar pulando... — o mais novo responde com a fala um tanto arrastada enquanto se deita, estava realmente desanimado.

— Não precisa ficar assim. Está começando a ficar com sono, certo? Dorme, de manhã prometo de levar para brincar, jaan! — Ele sorri bagunçando os cabelos vermelhos. Acreditava que tudo voltaria ao normal até o sol nascer, então não via problemas em prometer algo assim.

— Não é por isso... — aqueles olhos verdes começam a encara-lo, ele parecia confuso — tem algo faltando. — ele afirma, olhando em volta como se estivesse procurando.

— Er... Seu ursinho? — ele fala baixo, torcendo para que não fosse isso.

A relação de Gaara com as pelúcias era algo realmente forte. Quando criança, era muito raro ele não estar abraçado com um ursinho ou se enfiando no meio de várias criaturinhas felpudas, chegava a usar a areia para controla-las. Essa foi uma das poucas coisas que Kankuro conseguiu se lembrar dele antes do grande incidente. Atualmente, Gaara não fazia esse tipo de coisa, mas mantinha o que sobrou de sua coleção bem guardada (lê-se: escondida) e protegida em seu quarto, como uma lembrança dos momentos de alegria que havia tido com ela.

— Não, mas eu gosto de dormir com ele... — diz e cora levemente — Mas é algo faltando aqui dentro — dessa vez leva a mão e segura o peito — está vazio. É por isso que estou com sono?

— Esse vazio... — Kankuro sabia exatamente o que estava faltando, e sim, realmente era relacionado a insônia que Gaara tinha quando pequeno: o Shukaku — O vazio é porque... Bem...

"Como se diz a uma criança que um monstro foi selado nela, daí o monstro foi retirado, e então ela morreu por isso, depois reviveu por um jutsu proibido e agora está bem? Tem que ter um jeito mais simples..." para ganhar tempo enquanto pensava, ele começa a procurar alguma pelúcia para Gaara, ele só sabia que estava ali, mas não o local exato que o irmão guardou.

— Porque o Yashamaru teve que sair, mas ele logo volta, até lá você vai sentir saudades... — O irmão mais velho completa a fala, com certo receio do mais novo perguntar mais coisas sobre o tio.

"Não é bem mentira, certo? Gaara vai ficar furioso quando ver que mexi nas coisas dele, jaan...". Ele volta até a cama com o ursinho que havia achado em sua mão, tentaria por tudo no lugar depois. Kankuro estende a pelúcia para Gaara, que a abraça no mesmo instante e fica rolando na cama, rindo e brincando, acabando por fazer o irmão mais velho rir também.

— Agora vai conseguir dormir? — ele pergunta calmo, voltando a bagunçar o cabelo do pequeno.

— Sim! — o caçula se aquieta na cama e fica olhando-o, abraçado ao ursinho ainda. — Existe remédio para saudade?

— Eu não sei se existe, mas se a pessoa de quem você sente saudade voltar, ela passa.

"Como uma criança pode perguntar esse tipo de coisa? Isso é um pensamento filosófico demais, jaan..."

— Então é como o coração partido, que só outra pessoa pode curar? — Gaara fala colocando novamente a mão sobre o peito e apertando.

"Sobre o que Yashamaru falava com você? Droga... Se continuar com essas perguntas com certeza eu vou falar algo errado que o deixe confuso ou então vou acabar falando demais...". Enquanto Kankuro demorava para decidir sua resposta, Gaara ficava olhando-o, começando a perder o sono por ficar ansioso com a resposta.

— Sim, mas as vezes você entende que a pessoa logo vai voltar e fica bem de novo, jaan! — ele volta a mexer nos cabelos ruivos, torcendo para Gaara finalmente fechar os olhos e tentar dormir um pouco.

— Dá para sentir saudades de alguém que não conheceu? — ele acaba soltando um suspiro longo ao final da frase, era quase um bocejo.

— Como assim? — Ele chega a sessar o carinho por alguns segundos, Gaara não estava falando sobre o Shukaku, certo?

— Eu sinto saudades da mamãe, mesmo sem ter conhecido ela de verdade... — ele fala de olhos fechados, se esforçando para tentar lembrar dela, mas a única coisa que vem a sua mente é uma foto dela sorrindo.

— Todos nós sentimos saudades dela, Gaara. — Kankuro sussurra e depois sorri, notando que finalmente o irmão havia pego no sono.

 

 

PAÍS DO VENTO, SUNAGAKURE, ÁREA SABAKU – DIA 1 – 05:17.

 

Finalmente alguma claridade conseguia passar pela janela, o sol nascera a alguns minutos. Logo, todos começariam a seguir suas vidas normalmente... Todos menos Gaara. Ele continuava como uma criança, dormindo tranquilamente em sua cama, abraçado ao ursinho.

"Mais uma noite em claro produtiva, jaan! ".

O mais velho já havia pensado em uma estratégia em que poderia levar o irmão para brincar e, também, aproveitaria para encontrar uma pessoa essencial para o que viria a seguir. O plano era bem simples: Kankuro normalmente testava suas marionetes em um local bem afastado e ninguém ousava ir atrás dele para espionar as "novidades", era só transportar Gaara como uma de suas marionetes. Naquele horário, apenas uma pessoa não estava em seu posto ou dormindo ainda, por coincidência, esta pessoa é a peça importante em seu plano e estaria próximo de onde Kankuro treinava.

Não foi só para pensar nisso que ele continuou acordado, havia terminado de instalar as novas armas em sua marionete, claro, a todo momento indo de seu quarto para o de Gaara ver como o irmão estava. Com o tempo que sobrou, conseguiu fazer algo descente para o irmão vestir, para isso teve que pegar uma peça qualquer das roupas da irmã e modificar, ela nem notaria...

"Agora só acordar ele e levar antes que alguém note... ". Pensa, se sentando na cama e balançando um pouco o irmão.

— Ei... Hora de acordar, nanico... — em resposta, ele ganha um resmungo. — Não quer brincar lá fora? — finalmente parece ter despertado o irmão, já que recebia um olhar animado dessa vez.

— Sim! — ele sorri adoravelmente, se espreguiçando e em seguida abraçando o ursinho.

— Veste isso aqui. — fala e estende a roupa.

O pequeno se levanta, mas antes deixando a pelúcia sentada na cama e pegando a roupa. Ele fica um pouco curioso pela cor da roupa ser bem diferente das que vestia normalmente: era branca com alguns detalhes verdes (deve ter sido um belo vestido).

— Não pode olhar! — ele fala corado de leve, olhando para Kankuro. Desde pequeno já era tímido.

— E quem disse que eu quero olhar, heim? — ele dá uma risada, se virando de costas para Gaara.

Depois de alguns minutos, o pequeno vai até o irmão. "A roupa caiu bem... Acho que eu descobri mais um talento, jaan!" Kankuro pensa enquanto olha para o irmão.

— Muito bem, agora precisa prestar bastante atenção — diz sério, se abaixando e ficando na altura dele — Quando estivermos lá fora, você não pode falar absolutamente nada e nem se mexer, se não vão descobrir que saiu do quarto.

— Por que eu não posso sair do quarto?

— Porque não, mas mesmo assim vamos sair. — Kankuro torcia para o irmão não ficar desconfiado com a resposta, mas não tinha como dar outra.

— ... É como se eu estivesse de castigo?

— Sim! Isso mesmo! Mas não quer ficar aqui de castigo, quer? — Ele sorri, era a desculpa perfeita.

— Não. — ele solta uma risadinha fofa, sabia que era errado, mas se o irmão estava falando para fazer... — Vamos? — estava com os olhos brilhando, ansioso para ir brincar.

 

 

PAÍS DO VENTO, SUNAGAKURE, ÁREA ESPECIAL DE TREINAMENTO – DIA 1 – 05:36.

 

— Acha que consegue fazer tudo sozinho? Eu e Temari vamos estar ocupados, pode ser perigoso não só para você e... — Kankuro falava o mais baixo possível, o irmão brincava próximo e não queria que ele ouvisse.

— Se for pelo bem de Suna, de Gaara e consequentemente o do Kazekage, eu farei o que for preciso — ele interrompe Kankuro para dar esta resposta, também em timbre baixo.

— Então melhor se apressar, logo vão sentir a falta dele e pensarão que conseguiram.

— Não se preocupe quanto a isso. Sempre cumpro minha parte, certo? — a pessoa começa a se preparar para se levantar de seu banho de areia.

— Certo... — Kankuro sorri, não só por seu plano estar dando certo, mas também porque seu irmão se aproximava.

— Olha o que eu achei! — O pequeno diz sorrindo, segurando um escorpião pela cauda, deveria ser um filhote ainda.

Em menos de um segundo, o animal estava despedaçado. Escorpiões eram perigosos, por sorte, quando pegos pela cauda não podem fazer muita coisa. Agora, Gaara olhava assustado tanto para os restos do animal quanto para o homem que se levantava debaixo da areia e que com alguns movimentos da mão fez aquilo. Muitas vezes, ele via pessoas sendo enterradas pela areia mas que nunca se levantavam.

— Ei... Calma, ele é um amigo, está tudo bem... — Kankuro fala pegando o irmão no colo com cuidado — ele só fez isso para o escorpião não machucar você, ta?

— M-Mas... — os olhos verdes estavam cheios de lagrimas — eu só queria m-mostrar... Só... — ele se sentia culpado pelo escorpião ter morrido, mas também por pensar que fez algo errado.

— Ele só fez para te proteger... — fala olhando para o homem, como um pedido para ele ir.

— Se me permitem, vou fazer as preparações necessárias. — o tal homem fala e praticamente some na frente dos irmãos.

"Vai ser difícil cuidar de você, irmãozinho... Mas não era para a sua defesa absoluta funcionar?" Kankuro encarava o nada, pensativo, estava ninando o irmão como um bebê de colo, na esperança dele não começar a chorar pelo susto. "Algo de muito errado aconteceu com você, para nem isso estar funcionando... Seu controle sobre a areia também não, você não usou a areia para brincar como fazia... Isso vai ser realmente difícil, jaan...".


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Notas finais do capítulo

Déjà vécu é uma expressão usada para algo “já vivido”. É próximo ao Déjà vu, que significa “já visto”. Para quem chegou até aqui, vai entender o título do capítulo.

Espero que tenham gostado!

Sugestões, dicas, críticas e observações são muito bem vindas.



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