Gaara Chibi escrita por LaviniaCrist


Capítulo 2
Ukiyo




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PAÍS DO VENTO, SUNAGAKURE, ÁREA SABAKU – DIA 1 – 03:38.

 

A madrugada fria não impedia uma pequena gota de suor escorrer pela testa de Kankuro. As mãos estavam suadas e tensas: uma segurava um pequeno foco de luz e a outra uma pinça com uma minúscula peça de articulação que não poderia ser, de modo algum, colocada no lugar errado, já que cairia dentro do corpo da marionete e causaria problemas depois.

Sua concentração foi arruinada quando ele ouviu um som abafado, vindo de um dos quartos próximos. Ele praguejou e xingou em seus pensamentos enquanto tentava retomar sua calma e colocar a peça no devido lugar.

— Devagar... Devagar... — A pequena gota de suor chega até a ponta de seu nariz. — Mais um pouco... — Ela pinga, próxima de onde ele estava tentando encaixar a peça. — Aqui... E... — respira fundo, encostando a peça no lugar, e... — CACETE! — Ele deixa a peça cair, se levanta irritado de sua cadeira, largando seu material de lado e passando as mãos no rosto.

Novamente sua concentração foi por água abaixo, tudo por culpa daquele som que era mistura de grito, gemido e alguma coisa que não dava para entender por estar sendo abafado, agora durando por alguns segundos.

Quando a raiva foi esfriada pelo vento frio que vinha da janela, ele notou o quão tarde era. Mais uma noite que ele havia perdido suas horas de sono enquanto instalava novas armas em suas marionetes, apesar de não ser sadio, passar as madrugadas fazendo isso estava se tornando um hábito.

Aquele som, quem estaria fazendo ele? Vinha de perto, apesar dos quartos próximos, apenas três estavam sendo usados. "Esse barulho não veio daqui, do quarto do Gaara não veio também, ele não sabe para que serve uma cama... Então sobra somente Temari! Deve estar dando um chilique por se lembrar de fazer algo do casamento". Ele respira fundo, deixando seu projeto de lado em seu quarto e indo ver se estava tudo bem com a irmã (Parece que ela faz uma ideia errada do irmão, não é mesmo?).

Passando pelo corredor, ele ouve mais uma vez aquele som e fica surpreso, notando que não vinha do quarto de Temari. Ele se aproxima do quarto de Gaara lentamente, aqueles sons estranhos vinham de lá, mas quando ele finalmente se encosta na porta não haviam mais barulhos. Ele escuta um gritinho abafado e fica embasbacado, encarando a porta e pensando nas inúmeras coisas que o irmão poderia estar fazendo agora.

Kankuro não poderia apenas ignorar e voltar para sua marionete! Ele tinha o dever, como um bom irmão mais velho, de espalhar aos sete ventos que o caçula finalmente era um homem!

"Alguém precisa saber disso agora, para não acharem que estou inventando coisas!". Pensa enquanto se dirige para o quarto da irmã, apressado, quase colocando a porta abaixo ao entrar. Ele andava nas pontas dos pés, tentando não começar a gargalhar e gritar a notícia. "Ela não vai acreditar quando eu disser!". Ele parou em frente a ela, que estranhamente já estava acordada, tentando pensar em como contar e deixando uma ou outra risadinha escapar.

— O que você está fazendo no meu quarto sem eu ter deixado você entrar!? — Temari falou um tanto agressiva, o encarando — Se veio pegar alguma coisa minha... Kankuro... — agora ele sente um certo gelo em sua espinha, esse tom de fala... Ela deve estar irritada.

"Eu não vou conseguir falar, ela precisa ver para acreditar, jaan!". Pensou ele, agarrando o pulso de Temari e tentando a tirar da cama.

Ele quase não conseguia aguentar as risadas, por algumas vezes deixava escapar uma ou outra. Não que o grande feito do irmão fosse motivo para isso! Mas agora ele só conseguia pensar em uma coisa: uma tarde comum e Gaara em seu escritório, centrado, olhando para um livro de cabeça para baixo, porque na verdade está usando-o para esconder a última edição de Icha Icha, totalmente ilustrada e qualquer coisa extra que sirva para ele aprender o que fazer.

— O que quer!? — sim, Temari estava realmente irritada, mas não precisava atrapalhar sua imaginação assim!

— Acho que o Gaara perdeu a virgindade! — ele fala quase sem voz, tentando não deixar as risadas fugirem junto com as palavras, mas estava animado com a notícia.

"Seria demais fazermos uma comemoração? Ele acharia estranho se eu levasse alguma bebida agora, certo? O que um irmão mais velho faz nessas horas!?".

— Deve ser daqueles sonhos dentro de outro sonho... — a loira disse, marchando em direção a sua cama.

— É sério! Eu ouvi uns barulhos estranhos, uns sons constrangedores e até um gritinho! Eu não sei se foi ele quem deu, mas eu ouvi... — Ele chega a dar um sorriso completamente malicioso e colocando uma das mãos na cintura e outra no queixo, em uma pose de pensador — Quem diria que ele finalmente aprendeu a usar uma cama do jeito certo, jaan — dava para ver os olhos brilhando de Kankuro enquanto ele pensava no quão importante isso seria para o amadurecimento do irmão, e o mais importante: para finalmente Gaara entender suas piadas de duplo sentido (Cada um com suas prioridades...).

— Quem deu o grito foi eu, e estou quase dando mais um para ver se acordo! — Ela se jogou na cama, praticamente fazendo uma birra.

— Temari! Não é um sonho! O nosso irmãozinho finalmente se tornou um homem!

"Que tipo de irmã não entende o quão grandioso isso é, ainda mais para ele!? Que terrível... Ainda bem que o Gaara tem a mim! ". Dessa vez ele agarrou um dos pés dela. Por algum milagre, isso a fez mudar de opinião, já que ela se levantou e começa a caminhar para a fora junto com o irmão. "Vencida pelo cansaço!", ele sorriu enquanto se sentia vitorioso.

Ao se aproximarem da porta do quarto principal, barulhos secos e compassados eram ouvidos. Não era como os barulhos de antes, mas eram barulhos, de qualquer forma.

— Ele é bom...

"Tenho que admitir, para uma primeira vez, ele deve entender o que está fazendo... Será que ele realmente leu a série Icha Icha!? Eu aposto que ele deve ter esse tipo de livro escondido no escritório! Quantas vezes ele não deve ter lido esse tipo de coisa na frente de um conselheiro, jaan... " Kankuro pensava, com uma cara maliciosa e um sorriso de canto, imaginando aquela cena novamente.

— K-Kankuro! — Ele olha para a irmã, que mesmo o repreendendo estava se aproximando da porta (contradição) — eu acho que ele está sozinho... Só ouço esse barulho estranho de batidas...

— Ah... fala serio! Ele não faria isso tudo sozinho! — incrédulo, se aproximando da porta também.

"Que tipo de pessoa faz toda essa produção sozinha!? Impossível! Se ele estiver sozinho, eu trago alguém para cá e tranco com ele nesse quarto até de manhã! De um jeito ou outro, ele sai daí um homem!".

— Também não traria alguém aqui de madrugada... — Será que Temari estava adivinhando seus pensamentos?

— Não se pode perder uma boa oportunidade, vai ver é um relacionamento escondido, oras... — Ele resmunga, tentando ouvir algo.

"Relacionamento escondido... Tão escondido que nem ele deve saber que tem! Eu sempre achei que ele era meio estranho sobre isso... Ele é gay? Com todas as provas que acabei de juntar na minha cabeça, ele é sim! Sem dúvidas! E daí se ele gostar de caras? O problema é dele! Ainda por cima, sobra mais para mim, jaan! Pelo menos é melhor do que ele só se interessar por aquelas plantas idiotas e ficar chamando elas de gostosas... Suculentas... Sei lá!".

— E por que seria? — ela pergunta baixo e faz o mesmo, os sons se mantinham, com um espaçamento um pouco maior.

— Porque ele é gay, ué... — Fala tranquilamente e com uma naturalidade incomum, chegando a levantar os ombros. — Eu sempre suspeitei disso, mas eu aceito ele do jeito que ele é, afinal de contas, o importante é o sentimento e que ele finalmente se tornou um homem... Bem, isso já depende da posição, eu acho.

"Será que ele é o passivo ou o ativo? Acho que isso deve ser revezado de vez em quando...".

— Você é sujo... — Ela o repreende, balançando a cabeça negativamente, como se ouvisse seus pensamentos — Os barulhos... Pararam... — Ela sussurra enquanto se afasta da porta.

"Finalmente! Vou poder voltar para a minha marionete em cirurgia, mas antes...".

— Vamos ver quem é... — Sussurra, levando a mão na maçaneta.

Eles começam a ouvir algumas risadas, baixinhas e delicadas como a de uma criança, mas estranhamente lembravam em algum ponto o irmão mais novo. Aquilo não eram risadas de uma mulher, mas também não chegava a ser de um homem, era diferente destes dois. E se fosse Gaara quem estivesse rindo, depois de fazer os dois irmãos de idiotas? Não, ele não era desse tipo, alguém estava lá com ele!

Kankuro tenta conter a tenção, mordendo o lábio inferior para isso, começando a girar lentamente a maçaneta. Seus pensamentos estavam passando rápidos demais, como se estivessem ensaiando a "única possibilidade" que havia: "Meu irmão é gay, meu irmão é gay, Gaara é gay, meu irmão é gay, que o Baki não esteja aí com ele, meu irmão é gay, Kazekages podem ser gays?...".

— Ficou louco!? — ele foi tirado do transe por um ardor repentino na mão e uma loira gritando com ele.

— Quem está ai? — era uma voz de criança, quase não sendo possível ouvir de fora do quarto — tio Yashamaru?

Temari e Kankuro se entreolham, ambos já estavam em pânico devido as circunstancias e agora aquele nome. Yashamaru foi um bom tio, daqueles que fazem tudo o que os sobrinhos pedem, mas esse nome não era falado nos dias de hoje. A pessoa que estava ali dentro teria alguma ligação com ele? Não se teve muito tempo de pensar em mais possibilidades, aquele som seco de batida pode ser ouvido mais uma vez junto com um andar desastrado que ia em direção a porta.

— Vamos morrer... Eu não estou pronto para morrer! Temari, eu preciso de uma pintura especifica para isso, jaan. — Kankuro estava aflito, encarando a irmã.

"Essas pinturas são recheadas de significados, seria realmente falta de respeito fazerem a errada no meu rosto. Pior ainda se não for roxa! A vermelha admito ter usado um tempo, mas nada me cai tão bem como o Roxo, que mostra toda minha nobreza..."

— Cala a boca! — ele fica surpreso ao ser puxado pelo capuz para longe da porta, enquanto Temari se mantinha séria e no mesmo lugar, como se estivesse pronta para entrar em uma batalha.

— Quem são vocês? — de novo aquela voz. — O que querem? Onde está o Yashamaru? — era uma criança! Estava séria e ao mesmo tempo assustada, devia ter feito algo de errado... Espera, por que teria uma criança aqui?

Novamente, o fluxo de pensamentos de Kankuro estava acelerado: "Não pode ser, não pode ser... Tem uma criança aqui! De quem é essa criança!? Não... Não é qualquer criança... é uma miniatura de..."

— GAARA!? — os irmãos mais velhos gritaram em uníssono, encarando a criança. Não foi só ele quem ficou surpreso.

 

 

PAÍS DO VENTO, SUNAGAKURE, ÁREA SABAKU – DIA 1 – 03:47.

 

A cena é esta: dois irmãos mais velhos, ambos olhando embasbacados para o irmão mais novo. O motivo para estarem assim? É que o tal irmão mais novo não era assim tão novo como estava agora! A diferença de idade entre eles não chegava nem a dois anos, mas agora parecia mais do que uma década.

"Isso não pode ser real, eu estou sonhando ainda... Mas agora esse sonho está realmente fofo!". Temari pensava isso enquanto começava a trocar a cara de surpresa por um sorriso largo, como só ela conseguia dar.

— Eu fiz alguma coisa errada de novo? — O pequeno Gaara indagou, olhando para os dois já com uma expressão de culpa junto ao medo.

— Não, não fez nada... Nós só viemos ver como você estava, só isso. — Ela se abaixa lentamente e fica da altura dele. — Sabe, na verdade você nunca fez nada de errado por querer. — agora a loira estava pensativa.

— Como assim? E como sabe? — ele fica surpreso, alguém estava falando algo reconfortante para ele.

"Não é como se desse para cobrir seu passado obscuro com a areia e deixar lá, mas você não teve culpa de tudo sozinho. Os fins são resultados dos meios, certo? Eu diria que a culpa de tudo o que aconteceu foi do nosso pai, a culpa de como aconteceu foi de todos que viraram as costas para você, Gaara... Você tem culpa das suas ações, mas é o que mais se empenha em reparar tudo!". Gaara não iria escutar os pensamentos dela, muito menos adivinhar eles, mas nem mesmo em um "sonho" Temari teria coragem de falar essas coisas.

— Não foi só sua culpa... — Kankuro fala instintivamente.

— Você só faz essas coisas porque o Shukaku fazia você se descontrolar, e eu sei porque sou sua irmã mais velha e sempre tenho razão. — ela sorri e o beija na testa. Temari jamais pensaria em fazer isso quando eram crianças, mas como em sonhos tudo era possível, nada melhor do que aproveitar.

— Minha irmã mais velha? — O ruivo filha olhando-a, até que parece entender. — Temari e Kankuro? Como ficaram grandes? — os olhos brilhavam de curiosidade, mas também de alegria por receber um gesto de afeto da irmã.

A loira apenas solta uma risada baixa e bagunça o cabelo dele, se levanta e começa a caminhar em direção para o quarto. Essa situação deveria ser apenas seu subconsciente a mandando se desculpar com Gaara e se livrar de vez de qualquer vestígio da culpa por não ter sido uma irmã mais velha exemplar.

Bem, agora finalmente poderia ter um sono tranquilo.


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Notas finais do capítulo

Ukiyo foi um período que exerceu influência na criação do Kabuki, tendo como uma de suas características a busca pelo prazer. Para quem chegou até aqui, vai entender o título do capítulo.

Espero que tenham gostado!

Sugestões, dicas, críticas e observações são muito bem vindas.



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