Prefácio de Uma Vampira escrita por Gabriela Cavalcante


Capítulo 5
Paixão


Notas iniciais do capítulo

Rosalie não sabe o que fazer. Ela se depara em uma situação que queria que acontecesse, mas mesmo assim fica surpresa por ver acontecer. Seu coração está inseguro.



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Fiquei paralisada. Nunca imaginei sequer que James me visse como mais que uma simples amiga. Meus olhos molhados de lágrimas indecisas aos poucos começavam a arder e meus pés descalços eram as únicas partes do meu corpo que ainda conseguiam se mover, provavelmente por não estar na altura dos olhos dele.

Pouco a pouco, meus braços começaram a tremer, minha respiração falhava e eu continuava sem vontade de ficar calada, mas sem coragem de falar. Era muita coisa entrando na minha cabecinha loura. Ele continuava enrolando com a mão uma mecha do meu cabelo, sua expressão era quase incompreensível, seus olhos me fitavam sem relaxar nem desviar, nenhum momento sequer. Até que ele falou novamente:

- Rose, fale alguma coisa, por favor.

- Eu... Eu não... Eu não sei mais... o que falar. – gaguejei.

- Rosalie, eu te amo. E quero um compromisso sério com você, mas eu quero saber se você sente a mesma coisa por mim.

- James... Eu não imaginava que...

- Que eu te vejo como mais que uma amiga? – ele me interrompeu – Mas é assim, Rose. Desde a primeira vez que eu te vi naquela bendita sala de aula, eu acho que... me apaixonei e...

Dessa vez fui eu quem o interrompi. Não agüentei mais aquelas lágrimas ardendo nos meus olhos, as soltei e me debrucei em seu pescoço, abraçando-o. Gentilmente, James me afastou, colocando as mãos em meus ombros.

- Rosalie, você e eu precisamos ficar juntos. – declarou.

Para a minha surpresa, assenti com a cabeça, concordando plenamente com tudo o que ele dizia. Todas as peças se encaixavam, as confusões que tanto me atormentaram enfim haviam me deixado. Minha mente estava livre.

- Sei disso.  Também te amo, James. – confessei.

- E então, Rose. – ele sorriu. – Não há mais motivos para que fiquemos separados. E-eu só preciso te pedir uma coisa.

- O que?

- Que você sempre use... bastante perfume. Um bem forte, está bem?

Parei um pouco para raciocinar antes de responder. Mas desisti, afinal, qual o problema em James desejar uma namorada perfumada?

- Tudo bem.

- Obrigado. Amanhã Eve vai passar na sua casa e a levar até a cidade para que comprem um bom perfume pra você. Custe o que custar, pode deixar que eu pago.

Concordei com a cabeça e olhei no fundo de seus olhos. Mas não fiquei muito tempo fitando seu olhar penetrante, porque não sei beijar de olhos abertos.

 

*

 

A buzina do Porshe amarelo – divina coincidência, hoje Alice possui um igual – me chamava irritantemente. Desci as escadas de dois em dois degraus, abrindo a porta o mais rápido possível, jogando a mochila nas costas e gritando um até logo para mamãe. Entrei no carro e bati a porta. Eve tratou de reclamar:

- Da próxima vez, feche a porta com menos força, por favor, Rosalie.

“Isso se houver próxima vez”, pensei.

- Boa tarde, Eve. – eu resmunguei entre dentes, tendo a mais absoluta certeza de que aquela garota não simpatizara comigo.

- Boa tarde. – murmurou, sem olhar para mim, fixando o pé no acelerador.

O resto do caminho foi quase em silêncio. Quase, por causa de um único momento:

- Soube que você está namorando o meu primo, Rosalie.

- É verdade. – respondi.

- Cuidado com ele, garota. Não ouse fazer qualquer coisa que possa feri-lo, de maneira nenhuma. Se o James sair disso prejudicado, eu juro que eu acabo... Eu acabo com você!

Tratei de fazer silêncio. Eu faria de tudo para que James não sofresse, mas não sabia que Eve me julgara tão mal. Minha cabeça voltou a fitar a estrada. Um caminho tão monótono e com tantas paisagens repetidas que não me agüentei, tombei a cabeça pro lado e adormeci.

- Ei, garota! – a voz me chamava. – Ei! – repetiu.

- Hã? – resmunguei, abrindo os olhos devagar.

- Levanta, nós já chegamos!

Só aí que eu pude perceber que Eve já se encontrava do lado de fora do carro, estacionado de frente para uma placa proibindo o estacionamento. Parece que ela não se preocupava com isso.

Saí do carro sem contestar, James pedira para eu comparecer àquela frescura toda e eu só queria agradá-lo acima de tudo. Eve entrou numa loja qualquer e sem se importar em me deixar para trás, deixou a porta vaivém bater na minha cara, uma atitude nada legal, levando em conta que eu podia muito bem ter quebrado o nariz e ter parado numa enfermaria. Mas eu decidi esquecer isso ao menos durante o tempo em que eu estivesse acariciando meu olfato com um batalhão de perfumes a experimentar.

A vendedora da loja parecia bem mais simpática que a Eve, tirando que a simpatia era obrigatória em seu trabalho. Ela foi muito legal comigo, esbanjando paciência e bom humor e me mostrando diversos tipos de perfumes diferentes. Até que eu parei os olhos em um vidro que parecia perfeito. Fui me aproximando e toquei na embalagem: era encantadora. Tinha um relevo baseado em pétalas de rosas, e seu nome era alguma coisa em alguma língua que eu não era capaz de compreender.

A moça, cujo nome não entrou em minha mente por mais que eu tentasse, me disse que aquele perfume era importado da França e que era uma ótima escolha. Ela me deu um papel e borrifou a amostra do perfume nele. Era algo divino de se sentir. Seguindo o conselho de James, não olhei para o preço e pedi para a vendedora embrulhar.

Saindo da loja, vi que já havia escurecido. Tínhamos de andar um pouco até chegar onde o carro estava estacionado – se é que o reboque já não havia o levado – e passar na frente de um bar que ficava bem na esquina. O problema é que na frente do bar, havia uns três homens encostados cada um em uma moto tunada.

Olhei para o lado, tremendo de medo. Mas Eve havia sumido.

Paralisei e comecei a tremer.

- A mocinha está com medo?

Vire-me de costas, procurando o dono da voz assustadora. Não encontrei.

- Tenha cuidado, garota. Somos perigosos.

Fiz o mesmo gesto. Dessa vez, os encontrei. Estavam os três um do lado do outro e me olhavam sorrindo maliciosamente. Tinham a aparência assustadora, pareciam monstros. Fitavam-me sem parar. Eu estava apavorada.

- Ei, Rosalie! – gritou uma voz conhecida.

- Eve! – gritei, sem imaginar que ficaria feliz com a presença dela.

- Rose! O que você está fazendo aqui? – chamou outra voz conhecida.

- Emmett? – perguntei, surpresa.

Ele estava com a porta do carro aberta e corria em minha direção. Pegou em minha mão e me mandou entrar no carro. Obedeci, ainda apavorada. Olhei para trás e vi Eve esconder o rosto com um pacote, provavelmente o pacote do meu perfume.

Emmett entrou no carro também e girou a chave, fechando a porta ao mesmo tempo. Sua expressão era preocupada.

- O que aconteceu, Rose?

Eu não respondi, apenas olhava para frente, fitando o rosto pálido de Eve. Ela também me encarava, muito brava comigo, eu sabia. Mas não sabia o por que.

Emmett pegou em meus ombros e afirmou:

- Você é louca.

- Sei disso. – respondi.

Ele me soltou e pressionou o pé no acelerador.

Antes de sumir da minha vista, Eve saiu do carro e foi falar com aqueles homens. Queria saber o que ela foi fazer lá perto daqueles monstros. Encolhi-me no banco daquele carro velho, porém confortável, e fiquei me perguntando por que Emm me salvara, se eu o tratava com tanto desprezo. Eu não consegui responder a essa pergunta, pois ele me olhou sorrindo e afagou meus cabelos com as mãos, me fazendo sentir um sono incontrolável e adormecer ali mesmo, provavelmente babando o cinto de segurança.

 


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, James tem mais uma coisa a revelar para Rosalie. O que será?



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