Unguarded, In Silence — Reimagined New Moon escrita por Azrael Araújo


Capítulo 4
Three


Notas iniciais do capítulo

E aí? escrevi esse capítulo no calor da emoção, Cristo amado, depois reviso porque acabei de sair de uma treta ahsuahsu
Preparem os corações e não se afudeguem.



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"Nem sempre o amor vence. Às vezes você terá que abrir mão dele para continuar. Às vezes é o outro quem irá embora. Não por egoísmo ou intuição, mas por força. E desta vez, eu quem fui." 

  

O Antes 

— Eu ainda acho isso tudo um exagero. — reclamei baixo, sabendo que ela ouviria, enquanto observava o garçom se aproximar caminhando calmamente. 

A vampira ruiva sentada a minha frente sorriu e meu coração disparou como um louco. 

Puta merda, como ela estava linda. 

O tecido do vestido salmão realçava a sua pele perfeita. A renda banhava seu corpo, tornando-a delicada, uma boneca de porcelana. As pequenas flores artificiais cobriam seu busto e fechavam o vale entre seus seios — algo da qual eu tentava desviar o olhar, e sempre falhava. Eu sabia que ela não usava maquiagem — não havia necessidade alguma — mas, de alguma forma, seus lábios pareciam mais vermelhos, vivos, e seus olhos estavam realçados em torno de suas orbes de mel. 

Parei para respirar fundo por um segundo, analisando-a novamente. Mal havia notado a presença do garçom cumprimentando-nos. 

— Buonasera, senhoritas. Sejam muito bem-vidas ao Puzzolente CuloMeu nome é Javier e eu as servirei esta noite. — ele disse de forma calma e elegante, olhando primeiro para Edythe. Quando seus olhos caíram sobre mim, ele torceu a boca em um sorriso que ia além da educação. — Gostariam de uma entrada? 

Javier tirou os menus de algum lugar de seu smoking extremamente apertado e depositou-os na mesa, inclinando-se quase imperceptivelmente na minha direção. 

Eu estava pronta para abrir a boca quando Edythe foi mais rápida. 

— Água. Gelada. Sem gás. 

O garçom piscou, talvez surpreso pela aspereza na voz de Edythe e acenou com a cabeça enquanto se afastava da mesa. 

Olhei para a vampira, questionando-a com o olhar. 

— Qual o problema? 

— Nenhum. — ela disse sem tirar os olhos de seu menu

Senti uma leve irritação tomar conta de mim. Eu odiava ser tratada com indiferença. 

— Edythe — assoviei, mantendo meu rosto impassível. 

A vampira direcionou seu olhar para mim, repousando o menu sob a mesa e suas mãos dobradas em cima da mesma. 

O silenciou durou mais alguns segundos e eu respirei fundo, deixando aquilo pra lá. 

— Eu não quero brigar. — suspirei, baixando os ombros. 

Algo em minhas palavras afetou a vampira, que assumiu uma expressão quase triste. 

— Desculpe-me, querida. É só que... Eu vi a forma como ele olhou pra você. Você entenderia se pudesse saber o que ele pensou. 

Ela abaixou a cabeça, parecendo arrependida. 

— Espera, você está... Com ciúmes? — uma onda de diversão me atingiu e eu cobri a boca com a mão para não gargalhar. 

A vampira notou meu divertimento e sua expressão se fechou novamente. 

— Isso não é engraçado! — ela bufou e cruzou os braços como uma criança mimada, o que me fez sorrir ainda mais. 

Estava tão absurdamente adorável! 

— Tudo bem, amor, me desculpe. — eu prendi os lábios entre os dentes, falhando em conter outra risada. 

A vampira apenas continuava e me olhar, mas eu podia notar que meu divertimento a divertida também. Tínhamos essa estranha conexão. 

Me fazia feliz vê-la feliz, e vice-versa. 

— Okay, okay — eu respirei fundo, recompondo-me — Agora é sério, eu parei. Me desculpe por isso. É que a simples ideia de você achando que eu poderia sequer olhar para outra pessoa... — balancei a cabeça, sinalizando que aquilo era impossível. 

Eu não via mais ninguém. Apenas ela. 

Edythe suspirou e eu me perguntei se minhas palavras a incomodaram, mas este foi o momento em que Javier voltou com a água e nos serviu, ainda com seus olhos em mim. 

Eu gostaria de saber a razão disso — a beleza de Edythe sempre ofuscaria a presença de qualquer pessoa a qualquer momento. Em todos os lugarem em que fomos durante os últimos meses — restaurantes, cinema, shows, lojas — ela sempre era vista, admirada. Eu sempre estive okay com isso, porque, de qualquer forma, eu entendia. Não havia como tentar focar em outra coisa quando ela estava por perto — ela era de tirar o folego. 

Mas então, nós estávamos aqui e Javier parecia não conseguir parar de me olhar, quando, em contrapartida, parecia nem mesmo ver Edythe. 

Ele era bonito, isso eu tinha que admitir. O cabelo castanho escuro que parecia chegar até abaixo das orelhas estava cuidadosamente penteado com gel, o que servia também para destacar os olhos escuros. A pele morena do rosto era coberta por uma barba por fazer que o deixava com uma aparência desleixada e o corpo esguio parecia não se encaixar muito bem no smoking que era o uniforme de todos os garçons do lugar. 

Ele saiu em silencio desta vez, talvez assustado pela atitude de Edythe momentos atrás. 

A vampira segurou minha mão por cima da mesa e seus dedos acariciaram os meus levemente antes de entrelaçá-los. 

— Eu não posso culpá-lo, contudo. — ela começou e eu senti que havia perdido parte de sua fala — Você está estupenda esta noite. 

Eu sorri tímida e corei como sempre acontece quando ela me elogia. 

— Eu adoro quando você cora. — ela sussurrou, erguendo a mão para acariciar meu rosto. Seu toque era tão suave que meu corpo se acendeu inteiro. 

Ai caramba, eu queria beijá-la. 

— Fascinante... Estupenda... Encantadora... Magnífica... — ela continuou sussurrando gracejos enquanto meus dedos percorriam meu rosto, descendo pelas bochechas, encontrando o nariz e finalmente meus lábios. Ela deslizou a ponto do polegar pelo meu lábio inferior e eu o toquei com a ponta da língua, sentindo sua fria pele de mármore que tinha gosto de céu. — Apaixonante. 

Ela concluiu, afastando-se e me libertando do poder de seu toque. Seus olhos estavam queimando, analisando meu corpo banhado pelo vestido azul que beneficiava minhas curvas, aberto nas costas, realçando minhas coxas e meus seios. Fora um presente dela, afinal, e eu tive o prazer de vê-la devorar-me com os olhos no momento em que o vesti. 

Você parece como um pequeno pedaço do paraíso, disse ela. 

O colar que Riley me dera também estava comigo — eu não tivera coragem de largá-lo depois que o coloquei. 

— Edythe — eu revirei os olhos, ainda tímida — Está flertando comigo? 

Ela sorriu e piscou, galanteadora.

— Talvez. Está funcionando? 

Eu afirmei com a cabeça, mas, de um momento para outro, ela parecia não prestar mais atenção em mim. 

Ela franziu a testa e olhou ao redor, parecendo incomodada. 

Eu segui seu olhar, sem entender, até que avistei uma mesa mais afastada onde estavam três pessoas. Pareciam ser um casal, de certa idade, e seu filho, e os três nos encaravam de volta — o homem, calvo e sua esposa, de cabelo tingido, tinham expressões que beiravam entre nojo e exasperação. A criança apenas esbanjava curiosidade em seus olhos. O homem sussurrou algo e a mulher acenou em concordância, os dois voltando-se para a sua própria mesa em seguida. 

A criança sorriu para nós por um segundo, mas foi repreendido pela mãe e nos deu as costas, cabisbaixo. 

Olhei em direção à Edythe novamente, e ela continuava incomodada. 

Oh, Deus. 

— Ignore. 

A vampira me encarou com as sobrancelhas erguidas, denunciando uma leve surpresa. 

— Apenas ignore. — repeti, servindo-me de um gole da minha, até então intocada, água. Gelada. Sem gás. 

Ela continuou a me fitar em silêncio, os olhos indecifráveis. Me perguntei se ela estava, como em vários momentos anteriores, tentando saber o que se passava em minha mente. 

Suspirei e encarei-a de volta, antes de iniciar o pequeno discurso ao qual, infelizmente, já estava habituada. 

— Isso é normal, okay? Tudo bem, não é normal, não deveria ser, mas... —  balancei a cabeça, tentando organizar as palavras — O que eu quero dizer é que coisas desse tipo acontecem, vez ou outra. Acredite, não é a primeira vez que recebo um olhar torto, um cochicho de repreensão, talvez até uma... Bronca... Por estar demonstrando carinho. Carinho esse que é tão genuíno e válido quanto o de qualquer outra pessoa. Infelizmente também não vai ser a última vez, mas o importante é que você não pode deixar isso te afetar, okay? 

Segurei sua mão novamente, que estava travada como uma pedra de mármore. 

— Por isso eu digo: apenas ignore-os. Nós somos condenados por amar, isso é irracional, eu sei. Mas... "Somente o amor irá salvar o mundo. Por que eu teria vergonha de amar?”. 

Edythe permaneceu em silêncio por incontáveis minutos. 

Seu rosto assumiu uma expressão indecifrável enquanto Javier servia-nos algum prato que eu desconhecia totalmente. Comi, mas cada garfada parecia como cola em meu paladar. Uma estranha angústia crescia em meu peito, um aperto estranho. 

Um pressentimento. 

O garçom nos observava de longe, eu podia sentir seus olhos em mim, questionadores. Provavelmente se perguntando o que havia acontecido para que a ruiva passasse a ignorar completamente a minha existência. 

Edythe não respondeu quando eu tentei conversar, distraí-la do acontecimento passado. Finalmente desisti e me conformei de que, aparentemente, eu jantaria sozinha. 

Três taças de água depois que eu terminei de comer — e o prato de Edythe permaneceu intacto, diante de uma estátua perfeita — a vampira pareceu voltar a realidade. Ela puxou minha mão por cima da mesa, de forma tão abrupta que reprimi um grito de surpresa. 

Seus olhos estavam queimando, mas não da forma calorosa que acendia meu corpo inteiro que fazia-me derreter em seus braços. O mel, que geralmente era líquido, parecia rígido, duro. A sua expressão impassível tornou-se urgente, quase exasperada. 

— Bella — ela falou de forma urgente — Você está me dizendo que está habituada a situações assim? Que nós temos que nos acostumar a passar por coisas assim? — ela fitou a mesa onde o casal de encontrava e torceu a boca em desgosto — As coisas que pensaram... Não posso simplesmente ignorar enquanto alguém ofende você dessa forma. Já é ruim o bastante que você tenha que abrir mão de tanto para ficar comigo... 

Revirei os olhos e a interrompi. 

— Edythe, não vamos começar com isso. 

Eu já estava cansada desse assunto. Nesses meses perfeitos em que estivemos juntas, Edythe estava constantemente se martirizando pela sua própria natureza. 

— Eu não quero discutir a droga desse assunto. — soltei minha mão da sua — Não quero ouvir novamente o quanto você lamenta por estar congelada no tempo, por não poder ir comigo para a faculdade, por não podermos fazer uma coisa simples como jogar futebol. Eu já disse que abrirei mão de tudo por você: de filhos, das coisas que gosto de fazer, até da minha família! Será que você não percebe que eu a amo mais do que a minha própria vida? 

Joguei as mãos para o alto em exasperação. 

Nossa pequena discussão havia chamado um pouco de atenção das pessoas ao redor, e eu rapidamente comecei a corar sob os olhares curiosos. 

Edythe permaneceu estática, encarando-me de uma forma que fez meu estômago tentar devolver a massa. Eu vi Javier parado não muito distante, calculando se deveria interferir ou não em nosso pequeno show. 

Olhei novamente para Edythe, mas agora sua expressão estava diferente. Não. Estava indiferente. 

Por mais que seus olhos estivessem profundamente afetados, seu rosto não denunciava nada. 

— Isabella... Acho que eu devo ir embora. 

Respirei fundo, pensando se teria estrutura para caminhar de volta até o carro. 

Olhei a vampira enquanto procura meu casaco e minha bolsa, mas sua expressão mortificada fez algo estalar em minha mente. Não sei de onde veio, ou porquê, apenas deixei as palavras saírem. 

— Ir embora?

— Você não pertence ao meu mundo.  

Exasperei diante da confirmação dos meus temores. 

— Eu pertenço a onde você estiver... 

— Não, não pertence. — ela moveu os olhos pelo salão do restaurante, em hesitação, depois continuou — Eu não quero você. 

Oh, okay. Eu senti como se tivesse levado um tapa. 

— Não pode terminar comigo. — eu sussurrei, sentindo os soluços presos em minha garganta. A vampira continuava indiferente, como se suas palavras não tivessem importância, como se eu não fosse importante. — Olhe pra mim. Olhe pra mim, sua ruiva estúpida! 

Eu vociferei, ignorando as pessoas ao nosso redor. As pessoas pareceram se assustar com o meu tom de voz e os burburinhos de vozes fariam eu me encolher em qualquer outro contexto, mas, no momento, eu não dava a mínima. 

Toda a minha atenção estava focada nela

A vampira que era o amor da minha vida — e que estava dizendo que não me queria mais. 

— Me desculpe por isso. Não deveria ser assim. — ela deixou que a dor assolasse seu rosto por apenas um instante, para retornar a pedra de gelo que era. 

Nesse momento, senti algo se partir dentro de mim. 

Nossa conexão. Meu coração. Eu não saberia dizer. 

— Edythe... Eu... Acabei de dizer que te daria a minha alma e você está me deixando? 

— Tente entender o meu lado. Cada segundo que passo com você, eu tenho que me controlar. Você é... Frágil demais. Eu estou cansada de fingir ser algo que não sou... Conter-me para que eu possa estar com uma humana. 

Joguei o casaco novamente sobre a mesa, minhas mãos protestando pela força com a qual eu segurava o tecido. 

O desespero e a dor varreram qualquer resquício de dignidade que havia em meu ser. 

— Apenas diga as palavras, Edythe. 

A vampira me olhou uma última vez, seus olhos torturados. 

— Você não serve pra mim.


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Notas finais do capítulo

E aí? E aí?

TT: @el.diablexx