Jar of Hearts escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
I've learned to live, half alive


Notas iniciais do capítulo

Link para a música se quiserem ouvir:

https://www.youtube.com/watch?v=8v_4O44sfjM



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And who do you think you are?

Runnin' 'round leaving scars

Collecting your jar of hearts

Tearing love apart

(E quem você acha que é?

Andando por aí, deixando cicatrizes

Colecionando um jarro de corações

Despedaçando o amor)

 X

Ela ainda se lembrava daquela horrível sensação que a permeava. Sempre que fechava os olhos, a lembrança de seu próprio eu pedindo para que Sasuke não fizesse aquilo, implorando para que ele desistisse daquela ideia tola a envolviam.

Era quando se via aprisionada naquele genjutsu novamente.

X

Eram os quatro novamente: Kakashi, Naruto, Sasuke e ela. Como no princípio. Naruto havia feito alguma idiotice para a qual Kakashi fizera vista grossa. Sasuke o chamara de idiota enquanto Sakura ralhava a respeito de sua infantilidade. Mas no final das contas, ao pedir desculpas como sempre, todos eles caíam na gargalhada enquanto Kakashi prometia que da próxima vez, a rodada de lamens seria por sua conta.

X

Mas, como sempre, Sasuke havia optado por seguir seu caminho sozinho. Um caminho que levaria à morte dele ou de Naruto. Um caminho que os levara novamente para uma batalha sangrenta que Sakura não pôde impedir.

Mais uma vez.

− Sakura idiota, tola, boba. Achou mesmo que poderia pará-los? – Um riso seco escapou de sua garganta. Haviam lutado juntos, juntos novamente. E ainda assim, Sasuke escolheu abraçar a escuridão. E quem era ela para impedi-lo?

Ninguém, gritava o seu subconsciente. Ela não era ninguém.

X

Quando os encontrou, estavam quase mortos. Esgotados, ela sequer conseguia compreender a imensidão dos chakras que habitavam seus corpos. Como era possível que após terem enfrentado uma guerra—a maior de todas as guerras—, os dois ainda tivessem tido forças para batalhar por tanto tempo?

Sangrando. Sangrando até a morte.

Sakura vira tanto sangue durante a batalha, sentira tantas pessoas padecendo em seus braços. Rostos conhecidos, rostos de amigos, rostos de pessoas que cumprimentava todos os dias a caminho do hospital.

Ela ainda se lembrava dos gritos de dor ecoando em seus ouvidos, do barulho dos ossos estalando e se partindo, mas principalmente do cheiro de carne queimada.

Sakura salvou a ambos, querendo matá-los e abraçá-los ao mesmo tempo.

X

Dias se passaram antes que fossem sequer capazes de manifestar um pouco de chakra. Sakura os acompanhava de perto, mas com tantas baixas, com tantos feridos, mal tinha tempo de observá-los. A mente enleada a mantinha ocupada, mas não a fazia esquecer-se das costas de Sasuke sempre que fechava os olhos para adormecer por um pouco que fosse.

X

Desses sonhos, ela acordava gritando. A lembrança de Sasuke partindo da primeira vez e todas as outras a permeando como um mau-agouro, a profetização de algo que aconteceria. De novo, e de novo, e de novo.

X

Mas quando chegava ao quarto onde Sasuke estava, o rapaz permanecia adormecido em um sono tranquilo. Parecia até mesmo em paz, ela diria, e tudo o que Sakura queria era sentir aquela paz também. Mas lembrava-se apenas da dor e do sofrimento. Dos gritos das pessoas pedindo por ajuda e chamando os nomes de seus entes queridos. O cheiro de queimado invadia suas narinas e Sakura precisava correr para o banheiro, despejando todo o conteúdo de sua última refeição.

X

Ela se lembrava, em especial, de uma explosão que havia sido ocasionada por um dos jutsus de Madara. Ela reconheceu Hanabi e Hiashi no meio dos feridos e não sabia o motivo de uma criança tão jovem estar ali.

Mas não eram todos eles jovens demais para uma guerra?

Só que ninguém avisou à Sakura, na Academia Shinobi, que a guerra não faz distinção entre adultos e crianças, jovens e velhos. E quando teve que escolher entre manter Hiashi vivo ou averiguar o estado de uma Hanabi desacordada, ela optou pelo pai.

O cheiro da carne dele queimada, ela sentira. Averiguando sua situação, a havia considerado crítica, com costelas fraturadas e alguns órgãos comprometidos. O lado direito de seu corpo havia sido esmagado por uma pedra que ela havia removido. Os danos, quase irreversíveis. Foi apenas por um milagre do destino que conseguiu levá-lo, e a Hanabi, para os cuidados de outros médicos antes que Tsunade pudesse intervir. Mas ela ainda se lembrava dos olhos dele e do pedido para que cuidasse de seus filhos.

No plural.

Não apenas Hanabi e Hinata, mas Neji também.

Sakura não teve coragem de lhe contar que o sobrinho já estava morto.

X

O pesadelo com Sasuke se repetia todas as noites até que passou a dormir no quarto do jovem Uchiha para ter certeza de que ele não partiria sem aviso prévio novamente. Retalhos de acontecimentos da guerra a envolviam, a morte de Akamaru inclusa junto com a de incontáveis shinobis. Ela havia ajudado Shizune e Ino a separar os feridos por tarjas. Aqueles que recebiam a tarja negra deveriam simplesmente ser deixados de lado à própria sorte, descartados como lixo.

“Não temos mão de obra para todos”, dissera Tsunade. “e alguns deles são tão irreversíveis... não posso fazer nada. Nem mesmo com meus conhecimentos.”

Quando perguntara a respeito de Hiashi, Tsunade desviou o olhar.

“Estamos lutando para mantê-lo estável.”

Havia um mas naquela frase que sua mentora não quis expressar, Sakura sentiu.

“Os danos foram extensos demais. Acredito que se você não estivesse por perto, Sakura, ele teria padecido sem chance alguma. Mas estamos lutando por ele. Continue a cuidar dos feridos. Temos que tratar daqueles que podemos salvar. Infelizmente, a guerra é assim.”

Deixava marcas, Sakura aprendeu. Marcas que pareciam nunca mais cicatrizar.

Naquela noite, sonhara com a explosão novamente. Com seus sentidos avariados e com o barulho dos ossos se quebrando. Sonhou com o cheiro de queimado e com Hiashi implorando pela segurança de seus filhos.

Seus filhos.

Como era a dor de um pai que perdia seu filho na guerra? Sakura sequer podia imaginar, mas ouvira casos que corriam pelas paredes de hospital. Casos de pessoas que não eram tão próximas e ela deveria se sentir egoísta por agradecer a todos os deuses por isso, ma agradecia todas as noites.

Quando despertou, assombrada pelo rosto de todas as pessoas que não havia conseguido salvar como médica, estava chorando. E o embrulho no estômago a fez correr para o banheiro e vomitar novamente. Quando voltou para o quarto, Sasuke estava lá. Ele a encarava.

X

Sinto muito por tudo, ele lhe dissera após a batalha final contra Naruto. Parecendo genuinamente arrependido. Parecendo tudo menos Uchiha Sasuke.

Ela se sentia em estilhaços. Sentia como se alguém a tivesse colocado em um liquidificador, fazendo-a em pedacinhos. Talvez tivesse. Talvez fosse esse o efeito que Sasuke tinha sobre si.

Mas não conseguia não perdoá-lo, voltando para aquele vício eterno de amar alguém que talvez nunca fosse capaz de retribuir seus sentimentos.

− Nunca parece que vai ficar mais fácil, mas aos poucos os pesadelos vão se tornar menos frequentes. – ele disse, os olhos fixos nela. Eram oblíquos, sombrios. O que se passava por trás de sua mente?

− Como sabe? – questionou limpando o canto da boca.

− Quando se mata muitas pessoas, os pesadelos também te perseguem. É como as coisas são. – A naturalidade de suas palavras fizeram Sakura desviar o olhar. – Sinto muito.

Não era pelas mortes que ele pedia desculpas, ela sabia. Era por tudo o que havia acontecido. Era pelo que a vingança havia feito a ele.

− Você já me pediu desculpas e eu disse que tudo bem. – Caminhou na direção da janela, sentindo-se de repente sufocada lá dentro. Esperara tanto tempo para ele acordar e agora sentia como se tragasse todas as suas forças.

− Não é o bastante. – Ouviu quando ele se levantou da cama e se posicionou atrás dela. O coração de Sakura parou de bater por um milésimo de segundo. – Nunca vai ser por tudo o que fiz você e Naruto passarem.

Algo dentro de Sakura arrefeceu com aquelas palavras e ela ergueu os olhos para a lua.

− Então faça ser.

X

Ela sabia. Soube naquela conversa que Sasuke não estaria por perto para sempre. Soube pelo seu jeito que ele jamais conseguiria superar tudo o que havia acontecido, toda a culpa. Se perguntava se um dia os pesadelos dele parariam também.

Os pesadelos vão se tornar menos frequentes, Sasuke havia dito. Mas nunca que parariam.

Sakura cerrou os punhos, olhando para ele novamente adormecido, ainda exausto pelo uso excessivo do chakra e tocou a testa suavemente como se ainda sentisse o toque dele ali.

A culpa, a dor, o terror da guerra estavam gravados em sua mente. Mas por enquanto Sasuke ainda estava lá. E ela se apegaria a isso até que ele partisse seu coração novamente.


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Notas finais do capítulo

Como o último fragmento das três oneshots que dão abertura para Estigma, trago para vocês SasukeSakura.

Temos aqui, dois dos casais principais e um que eu tive a liberdade de incluir por vontade própria que foi ShinoKiba. Os outros dois casais - ShikamaruTemari e SaIno - serão retratados como núcleos secundários em algum momento, mas o meu foco principal será nesses três casais que vão se formar ao decorrer da história.

Confesso que escrever com Sasuke e Sakura foi o meu maior desafio. Tive um bloqueio muito forte pra desenvolver os dois, porque precisei pesquisar a fundo para relembrar os acontecimentos. E foi muito difícil entrar na mente de Sakura, mas eu acredito que com os acontecimentos ainda recentes, ficou aquela dor, o receio, a culpa e o medo.

Para os que leram o spinoff NaruHina, verão que Hiashi e Hanabi tinham sido citados e aqui explica o que aconteceu a eles durante a guerra. Isso foi alterado por mim para encaixar melhor o drama na história.

Enfim, o projeto Estigma será desenvolvido a partir dessas três histórias e para não aprisionar nenhum leitor em casais que não gostam, eu vou fazer capítulos individuais para os shipps.

Espero que vocês gostem e se tiver algo que eu possa melhorar na interação desse casal, me digam também. Foi muito difícil pra mim!

Espero ver todos vocês no projeto Estigma!



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