Doce Morada escrita por fckfic


Capítulo 11
Um outro olhar


Notas iniciais do capítulo

Tudo bom, gente? Então, chegamos ao penúltimo capítulo de Doce Morada. Até agora, nós tivemos a narração do Enrique em todos os capítulos. Aqui, iremos voltar ao início da história e ver os primeiros momentos de Enrique e Lorenzo pela visão do Lorenzo desde sua chegada à pensão até o primeiro beijo deles (aquele roubado depois deles terem ido num bar). Espero que gostem desse capítulo. Boa leitura!



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Lorenzo POV

Após tanto andar por aquela cidade, conseguir achar uma pensão onde o preço não fosse tão caro, talvez. Escolhi ficar em Évora porque numa cidade menor, os custos provavelmente serão menores. O dinheiro do meu falecido pai está quase terminando. Ou ele estava à beira da falência quando morreu ou eu realmente gasto muito.

Mas eu sinto que nessa cidade eu posso acabar me beneficiando. A minha ideia é ficar só um tempo para conhecer e ver se tem algo que valha a pena por aqui. Uma mina de ouro como diz meus amigos. Tirarei a sorte grande se encontrar uma mulher rica e solteira, que me sustentará apenas pelo fato de eu ser jovem e bonito. Será uma troca onde eu me ofereço como produto de venda e ela me compra e cuida de mim com uma boa vida, regada de luxos.

Entrei na pensão e tirei meus óculos escuros quando a mulher que estava na recepção notou minha presença. Eu pedi por um quarto e ela me fez algumas perguntas sobre o meu período de estadia e explicou a forma de pagamento.

— Ah, meu nome é Lorenzo Valença. Não tinha ideia do tempo que irei ficar, mas deixo aqui adiantado três dias. – lhe entreguei o dinheiro.

— Bem-vindo senhor Valença. Me chamo Madalena e meu marido Duarte lhe acompanhará até o quarto. Suas chaves. – a mulher me entregou um molho com três chaves. Virei-me e um senhor estava de pé. Deveria ser o marido dela.

— Lhe mostrarei o seu quarto. – disse sem a menor simpatia, parecia um velho amargo.

Sentado numa poltrona velha estava um menino. Não o havia percebido até o momento. Ele era magro, tinha a cor de pele meio amarelada, cabelos castanhos claros e olhos da mesma cor. A sua boca era fina e parecia um convite para toma-la. Sorri para ele sem nem prestar atenção no que estava fazendo.

Minha experiência com outros homens era bem pequena se comparada às com mulheres. Porém, aquele garoto me atraía. Parecia que tinha uns dezessete anos. Eu não sei se vou conseguir me controlar. Quem será ele? Talvez o filho dos donos.

Entrei num corredor seguindo o velho rabugento que ia na frente. Ele pediu as chaves e eu lhe entreguei. Então abriu um dos quartos e ficou na porta, me devolvendo a chave e depois sumindo no corredor. Entrei no quarto e tranquei a porta. Era pequeno, mas não parecia sujo. Estava cansado por ter andado por aquela cidade à procura de um lugar para ficar.

Deixei a minha mala de couro no chão ao lado da cama e me sentei nela. Havia um travesseiro e lençóis grossos. Tirei os sapatos, as meias e por fim me deitei, não demorando a pegar no sono.

Quando acordei, pensava que já era outro dia. Cocei os olhos e tirei da mala um par de sandálias para ficar mais confortável. Olhei pela janela que tinha no quarto e estava tudo escuro. Resolvi sair para saber a hora. Fui andando pela pensão até ouvir alguém perguntando sobre mim e falando sobre jantar e um tal de Enrique ter que ir me chamar. Apareci diante da mesa, onde algumas pessoas estavam sentadas.

— Não será preciso. – sorri vendo os donos da pensão, o menino de mais cedo, uma senhora e outro homem e outra mulher que pareciam ser um casal.

Me sentei na última cadeira vaga, que era justamente de frente para o menino. Foquei meu olhar nele por um segundo que também estava olhando para mim. Seria o tal Enrique?

Duarte, ou velho rabugento, falou algo sobre abrir um vinho. Os vinhos portugueses tinham uma ótima fama e eu não recusaria um pouco de álcool. Madalena foi enchendo os copos, mas não serviu a senhora, a ela mesma e ao menino. Fiquei curioso com aquilo. Mesmo ele sendo novo, desde muito cedo meu pai já me deixava tomar vinho e até coisas mais fortes.

— O garoto não vai nos acompanhar numa taça? – perguntei extremamente curioso. – Fique à vontade para se servir. – olhei para ele que parecia acanhado.

— Ele não pode. Tem escola amanhã. Está no último ano e não pode desandar agora. – então o menino era um certinho? Interessante.

— Perdão, o senhor tem total razão. Estude que você pode ir longe. Parece um garoto inteligente. – falei olhando fixamente para ele. Queria que ele absorvesse cada palavra minha, mesmo não tendo falado nada demais.

Então me voltei para a comida e comecei a devorar aquilo. Estava com muita fome e nem tinha percebido direito. Quando terminei, fui para o meu quarto visto que não deveria ter nada para se fazer ali. Pouco me importava entrar numa conversa com o rabugento e o outro homem. O único que me interessava era o Enrique e esse foi ajudar a mãe.

Fiquei no meu quarto por um bom tempo pensando nos meus amigos em Londres. Talvez eu não precisasse casar com uma mulher rica agora. Eu poderia ir para Londres e ficar com Joseph, Ronald, Lily e Carlie por um tempo. Depois eu dava um jeito. Na verdade, eu não havia pensado direito nesse plano de casamento. Era só uma ideia desesperada para quando o dinheiro acabasse. O que eu menos quero agora é me casar.

Saí daquele quarto depois de um bom tempo. Por ter dormido mais cedo, estava sem sono. Estava vestido pronto para me aventurar na madrugada de Évora. Algum lugar interessante deve ter por aqui, não é possível. Não podia sair pela frente porque tudo devia estar fechado, então fui para o que parecia ser o quintal da pensão tentar encontrar uma saída e encontrei Enrique ali para a minha surpresa.

Ele não estava me vendo, parecia em outro mundo, então resolvi surpreende-lo. Pisei em um galho fazendo um barulho suficiente para ele pular de susto e logo após cair no chão. Confesso que senti pena, mas não pude evitar de gargalhar. Havia sido muito engraçada a sua expressão, parecia ter visto o próprio demônio.

— Perdão. – estendi minha mão para o ajudar a se levantar. – Você não vai me fazer se sentir mal por isso, vai?

— Não se preocupe. – respondeu ele com a cara fechada.

— O que faz aqui?

— Nada. – ah, então ele iria me tratar com frieza? Mas não ia mesmo!

— Eu tava pensando em sair pelos fundos, mas agora tô me perguntando porque não sair pela frente. Tava tão acostumado em sair escondido do meu pai que não queria ser pego no flagra. Mas isso não importa porque eu tô pagando por isso e posso sair a hora que quiser. – menti um pouco para puxar assunto com ele, que me olhou com uma interrogação no olhar. – Me diz aí, pra qual lugar pessoas como nós vão a essa hora? – “pessoas como nós” eu quis dizer: pessoas que talvez fiquem com meninos, às vezes. Eu esperava que ele ficasse.

— Pessoas como nós?  

— Jovens quero dizer. – menti.

— Ah, eu não sei muito bem. Mas dizem que tem um bar na cidade que vende bebida barata. Eles devem frequentar. Os jovens.

Perguntei sobre outras coisas, sem conseguir chegar a pergunta que eu realmente queria fazer. “Então, eu te achei bonito. Muito bonito. Sei que pode parecer estranho porque eu sou um homem e você também, mas não custa perguntar se, talvez, você não queira, sei lá, trocar uns beijos?”

No fim, acabei descobrindo que ele na verdade tinha dezenove anos. Desisti de sair só para ficar conversando com aquela figura por mais tempo. Enrique era adorável. Em certo momento, cheguei a perguntar se ele já havia beijado uma mulher. O garoto estranhou, mas respondeu que já havia beijado alguém sim. Insisti se o beijo foi em uma mulher e ele me cortou, me fazendo rir.

O fiz prometer que me acompanharia na noite seguinte para o bar que havia me falado. Seria nesse momento que tentaria me aproximar de vez ou então me daria por vencido e deixaria para lá. Uma coisa é certa: esse garoto me atrai demais. Ainda forcei um abraço, tentando sentir como era o seu corpo. O menino esguio retribuiu sem jeito e eu voltei para o meu quarto.

Quando acordei no outro dia, andei pela pensão e encontrei Madalena na cozinha avisando que logo serviria o almoço. Eu nunca fui acostumado a acordar muito cedo. Enrique deveria estar na escola, então fiquei apenas esperando dar a hora do almoço para poder revê-lo.

Fui para a mesa quando o almoço estava pronto e então o garoto chegou e se sentou na minha frente, mesmo tendo outros lugares vagos. Não controlei o sorriso, imaginando que talvez ele retribuísse as minhas investidas, porém de um jeito mais retraído. Fiquei olhando para ele durante quase todo o almoço. Eu iria até o fim para saber no que isso daria.

Depois do almoço, fiquei esperando ele terminar de ajudar a mãe. Perguntei sobre nossa saída pela noite e ele estava quase desistindo. Consegui convence-lo a ir. Era a minha grande oportunidade.

Pela tarde, fui até a cidade e fiquei averiguando ao redor, tentando me situar no local. Talvez pudesse conhecer alguém que seria de grande ajuda. Acabou que só conversei com uns jovens idiotas que me falaram que viriam mais tarde no barzinho e eu prometi aparecer.

Voltei para a pensão e tomei um banho. Durante o jantar, estava distribuindo sorrisos e risadas, mas por algum motivo Enrique parecia me ignorar. Será que ele estava chateado por eu ter saído de tarde e não ter lhe avisado. Seria muito controlador de sua parte, sendo que nem amigos direito somos.

Quando estava perto do horário combinado, vesti um uma camisa branca, um casaco vinho por cima e uma calça cara que comprei em Londres. Encontrei com ele no lugar do dia anterior e fomos andando para o bar, conversando.

— Mas pelo menos um pouco você vai beber. – estávamos falando sobre bebidas. - Precisa experimentar das boas coisas da vida e eu irei lhe mostrar. – o meu beijo, por exemplo.

— Devo agradecer a gentileza? – fiquei surpreso com a sua ironia e fingi estar ofendido.

— Gosto mais de você quando está todo tímido e mal consegue me responder.

— Tenho sido tudo menos tímido ultimamente. – aquilo significava algo? Ah, mas significa sim.

— Não diga essas coisas. Irei me sentir responsável por te corromper. 

— Eu sei bem onde me meto. Se eu estou fazendo isso, saiba que não é pela sua insistência e sim porque eu quero. – era hoje que eu beijaria esse garoto. Não tô conseguindo mais me segurar.

— É bom saber.

Chegamos no bar e eu pedi duas bebidas. Uma mais fraca para Enrique. O garoto bebeu rápido demais me impressionando. Inclusive, ele continuava a me impressionar minuto após minuto. Vi duas meninas olhando constantemente para nós desde que chegamos ao bar. Era a minha hora de tirar a prova.

— Quer dançar? Aquelas duas moças ali parecerem estar a fim de companhia. – apontei para as meninas e torci para que ele negasse. Diga não, diga não!

Enrique se virou para ver as meninas e vi quando uma delas sorriu para ele e ele sorriu de volta. Droga!

— E a noite acaba de começar. – falei fingindo uma falsa animação e indo até as garotas tentando controlar a raiva. Não iria impedir o moleque de ficar com a menina se ele quisesse.

Conversei um pouco com as meninas, Alice, a loira e Mafalda, a morena. Depois, levei as duas até Enrique, contra a minha vontade.  

— Enrique, meu amigo, essas são Alice e Mafalda. Meninas, este é o Enrique.

— Muito bonito seu amigo. – Alice disse e eu quase concordei em voz alta.

— Obrigado. As duas são lindas. 

— Eu estava comentando que viemos aqui para fugir do tédio e que queríamos dançar. – falei tentando arranjar os pares. - Meninas, vocês dão a honra de nos acompanhar numa dança? 

— Seria um prazer. – Mafalda mal esperou eu terminar de falar e já foi segurar a mão de Enrique, puxando ele. Segurei na mão de Alice e segui os dois. Fomos para a frente do bar e começamos a dançar a música animada.

Os dois estavam bem entretidos e eu não estava aguentando ver aquela cena. Me sentia estúpido por eu mesmo ter arrumado aquilo. Puxei Alice e fomos para longe daquelas pessoas. Não queria que aquele momento estragasse minha noite, então puxei a loira para um beijo e ficamos assim por um tempo.

O problema era que o amarelo não saía da minha cabeça. Que porra era aquela? Me deixa em paz, caralho!

— Não está tarde para você e sua amiga? – perguntei a Alice depois de um tempo e ela concordou com a cabeça.

Voltamos para a frente do bar e ela se despediu, levando a outra junto. Abri um sorriso de satisfação. Finalmente estava sozinho com ele de novo. Quer dizer, não sozinho, mas pelo menos sem aquela enxerida.

— Vamos também? – perguntei.

— Por mim, sim.

Caminhamos em silêncio. Eu nem sabia o que dizer. Na verdade, eu só queria beija-lo de uma vez. Eu não aguentava mais me segurar. Geralmente, quando eu quero beijar alguém, a pessoa também quer e não preciso ficar esperando por muito tempo.

— Você beijou aquela garota? – seria tudo ou nada agora. Chega de enrolação. 

— Sim.

— Posso provar? – diga que posso, vai!

— Agora estamos um pouco longe do bar e ela já deve ter ido tamb... – nem esperei ele terminar a frase e ataquei sua boca com desejo.

Seus lábios finos estavam entreabertos e eu aproveitei para guiar o beijo. Queria mostrar a ele o quanto eu queria aquilo. O quão louco ele estava me deixando. Porém, não pude fazer isso. O beijo durou muito menos do que eu queria. Enrique se afastou e eu o olhei sem entender. Foi ruim?

— Me desculpe se te ofendi.  

— Não vamos falar sobre isso. – essa frase fez meu coração se apertar.

Fomos o resto do caminho em silêncio e mal nos despedimos quando chegamos à pensão. Me joguei na cama e coloquei os braços na minha cara. Eu tinha feito merda. Ele não queria me beijar. Imaginei tudo errado.

Mas eu quero tanto ele. Aqueles míseros segundos me deixaram com vício da sua boca. Eu não sei mais o que fazer agora, mas preciso sentir isso de novo. Do jeito certo. Preciso tê-lo novamente.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam de reler esses momentos na visão de Lorenzo? Próximo capítulo é o último e já está escrito e depende de vocês quando irá sair. Por que? Porque eu quero saber o que vocês acharam da história e o que esperam do final. Pode ser até que eu acrescente algumas coisas que vocês achem que precise. Enfim, até o próximo amores!
*Aviso: Eu postei uma nova fanfic aqui no Nyah, que na verdade são três contos (dois deles já postados) com protagonistas LGBT's. Esse é o link para quem quiser ler: https://fanfiction.com.br/historia/753933/Bandeira_Erguida/



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