Sophia escrita por znestria


Capítulo 9
Um Caso Perdido




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Não encontrou nenhum dos amigos na Sala Comunal quando voltou, então foi dormir - ainda com o sorriso estampado no rosto - sem contar a ninguém. Quando acordaram, Georgie bocejava constantemente.

“Você e Sean voltaram tarde ontem?” perguntou Sophia, e a amiga não respondeu, só deu um sorrisinho sugestivo.

Desceram para tomar café. Sophia escaneou o Salão, mas não encontrou Krum. Foram, então, se juntar aos amigos. Sean se atrapalhou com o café que bebia ao ver Georgie, e ela riu e lhe deu um beijo na bochecha. Rogério ainda estava meio desanimado, comendo ovos mexidos.

“ROGÉRIO”, exclamou Sophia, subitamente, ao se lembrar. O amigo levou um susto e quase se engasgou com a comida. Algumas pessoas que estavam perto se viraram para olhar. “Esqueci de te contar!” 

Rogério franziu. “Contar o quê?” 

“Cedrico vai com Cho para o Baile!” ela respondeu, guinchando. 

O amigo processou a informação e então arregalou os olhos. “Espera! Isso quer dizer que…” 

Sophia concordava freneticamente com a cabeça. Rogério olhou, esperançoso, para Fleur, que estava a muitos lugares de distância na mesa da Corvinal. Sean e Georgie, ao acompanharem seu olhar, soltaram um “Ahh” - o de Georgie com um pouco de decepção no tom.  

Fleur se levantou. Rogério reagiu instantaneamente e congelou em seu lugar.

“Vai, vai, vai, vai!” disse Sean, empurrando o amigo para fora do assento.

Rogério ficou de pé, arrumou as vestes e saiu atrás da garota. Tinha uma expressão ao mesmo tempo decidida e alarmada. 

Os três o seguiram com os olhos até ele desaparecer pela porta do Salão. Terminaram o café apressados e saíram, sem querer admitir, à procura de Rogério. Não o encontraram, então foram esperar em frente à sala de Transfiguração.

Quando Rogério chegou, ofegante, souberam a resposta imediatamente ao ver sua expressão - seu sorriso estava tão grande que ameaçava rasgar sua pele, e seus olhos cintilavam mais do que nunca. Os três comemoraram e correram para abraçar o amigo, Sean até pulando em seu colo. Alguns alunos, que chegavam para a aula, acompanhavam a cena confusos.

Finalmente se acalmaram, e Rogério contou a história. Assim que acabou, Sean assobiou. Tinha um braço em volta dos ombros de Georgie. “Fleur Delacour! Quem diria, hein, Rogério?” Então acrescentou, com uma voz nostálgica irônica: “Nem parece o garotinho tímido que conheci no trem no primeiro ano…” 

“Ah, cala a boca”, disse Rogério, corando. As meninas riram.

“Bom, agora só falta você, Soph.” Sean se virou para ela. “Vai ter que achar um par tão incrível quanto os nossos.” E apertou o ombro de Georgie.

“Ah…” começou Sophia, um pouco acanhada. “Eu… meio que já tenho um par.” 

Os três a perfuraram com o olhar, o de Georgie especialmente inquisitivo. 

“O quê?” a amiga perguntou, com a voz aguda. “Quem?” 

“Viktor Krum.”

Cada amigo reagiu de um jeito diferente. O queixo de Rogério caiu, e ele arregalou os olhos para a amiga, sem dizer nada. Sean berrou “NÃO!”, mas com um enorme sorriso se abrindo. Georgie também sorria, e deu um gritinho de felicidade. 

Antes que pudessem fazer perguntas, entretanto, a Prof. MacGonagall chegou e os conduziu para dentro da sala de aula. Sophia lembrou que deixara os pergaminhos de mensagem com os Weasley. Severa como a professora era, percebeu que os amigos só ficariam sabendo da história no período seguinte. 

Assim que a sineta tocou, os três a cercaram e fizeram-na contar toda a história. 

Sean tinha as mãos na cabeça. “Eu nem sabia que Krum falava!” 

“Ah, Soph, você tem que conseguir um autógrafo pra gente!” disse Rogério.

“Eu não!” exclamou. “Pede você!” 

“Eu sabia!” Georgie a abraçou. “Bom, não sabia, mas suspeitava.” 

Sophia riu. O resto do dia passou voando, e ela nem prestou muita atenção nas aulas. Não conseguia parar de pensar no quão sortuda era. 

 

 

 

“Olha esse daqui!” chiou Georgie, esfregando um papel na cara de Sophia.

Estavam no banheiro do 1o andar. Sophia escovava os dentes em frente ao espelho, e a amiga examinava o catálogo do correio-coruja da Madame Malkin. O Baile era a menos de uma semana de distância, precisavam escolher logo as vestes que iriam usar. 

Sophia olhou o vestido que Georgie gostara.

“É bem bonito”, disse, a boca cheia de pasta.

“É…” suspirou Georgie. “A avó de Sean já mandou suas vestes a rigor, são de um veludo verde escuro, acho que vão combinar…” E voltou a murmurar indistintamente para si mesma.

Sophia gargarejou. Quando levantou a cabeça, viu o reflexo de Hermione Granger se aproximando.

“Oi”, a quartanista cumprimentou, simpática.

“Oi”, respondeu Sophia, limpando a boca.

“Vocês são Sophia e Georgie, não são?” 

Sophia concordou com a cabeça. Georgie finalmente fechara o catálogo, e olhava curiosamente para Hermione.

“Eu sou Hermione”, a garota continuou. As duas assentiram. “Então, o negócio é o seguinte. Vocês sabem que Hogwarts tem elfos domésticos trabalhando como escravos, né?” 

As duas concordaram com a cabeça, um pouco surpresas com o quão direta ao assunto a menina tinha sido. Georgie levantou as sobrancelhas desaprovadoramente, o que fez Hermione abrir um sorriso.

“Eu descobri só este ano. Fui até a cozinha para conhecê-los, e Dobby me contou sobre vocês. Ele mostrou muito feliz um poncho que recebera.” 

Elas riram. “Dobby é adorável”, comentou Sophia.

Hermione sorriu em concordância e então retomou a compostura. “Enfim, eu decidi criar um movimento para lutarmos pelos direitos deles! Chama-se Fundo de Apoio à Liberação dos Elfos.” Vendo que Sophia e Georgie não falaram nada, continuou: “Ajudaria se vocês se alistassem.” 

“Ah”, reagiu Sophia, em atraso. “É claro. O que precisamos fazer?” 

“São dois sicles para entrar, aí vocês ganham esses distintivos.” Mostrou uma caixa cheia de distintivos coloridos. “Quando arrecadarmos dinheiro o suficiente vamos produzir folhetos.” 

As duas meninas começaram a revirar suas bolsas à procura de moedas. Cada uma pagou a quantia e recebeu um distintivo de volta. O de Sophia era vermelho e dizia “F.A.L.E.” Então assinaram seus nomes em um pedaço de pergaminho, que continha apenas uma dúzia de pessoas inscritas. 

“Hã, Hermione…”, chamou Sophia. “O que exatamente o movimento planeja fazer?” 

“Bom, a curto prazo, nossos objetivos são obter para os elfos um salário mínimo justo e condições de trabalho decentes. A longo prazo, os nossos objetivos incluem mudar a lei que proíbe o uso da varinha e tentar admitir um elfo no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, porque eles são vergonhosamente sub-representados”, ela recitou, sem parar para respirar. 

Sophia concordou. “São bem bons”, disse. “Mas olha… Em nosso segundo ano, quando descobrimos que havia elfos domésticos em Hogwarts, fomos até Dumbledore. Estávamos tão indignadas com tudo, e ele foi muito simpático, ouviu tudo o que tínhamos a dizer e disse que concordava. Mas perguntou o que propúnhamos, e quando dissemos coisas parecidas com esses objetivos, ele explicou que não tinha controle do Ministério e de suas leis.” 

“É”, complementou Georgie. “Falamos então sobre os elfos de Hogwarts, pois nestes ele conseguia inteferir. E ele disse que não adiantava, pois os elfos que aqui trabalhavam não aceitavam receber salário, gostavam da vida que tinham… Fomos para a cozinha e, realmente, nenhum pareceu interessado.”

“Conhecemos Dobby há alguns dias, ele foi o primeiro”, concluiu Sophia.

Hermione franzia a testa. 

“Então temos que levar o assunto ao Ministério! Precisamos fazê-los entender!” 

“Mas como?” perguntou Sophia. “Nós escrevemos uma carta ao Profeta Diário depois de falarmos com Dumbledore. Não publicaram e nem mesmo responderam. Aposto que jogaram fora.” 

“Ultimamente o Profeta não tem se ocupado em publicar notícias muito relevantes”, comentou Georgie.

Hermione não disse nada, e mudou o peso para uma perna, desconfortável. Então concluiu:

“Bom, se por enquanto não conseguirmos alcançar os órgãos maiores… Podemos pelo menos começar a conscientizar as pessoas quanto ao movimento.” Ajeitou a caixa dos distintivos em suas mãos. “Já seria um começo se tivéssemos mais pessoas falando sobre isso.” 

As duas concordaram.

“Vamos falar para os nossos amigos entrarem no F.A.L.E.” disse Georgie.

Hermione sorriu rapidamente e saiu. As amigas trocaram um olhar.

“Você sabe que Sean não vai querer participar disso”, disse Sophia.

“Ah, eu posso ficar enchendo o saco dele até aceitar”, respondeu Georgie prontamente. 

As duas saíram do banheiro e voltaram a discutir os vestidos.

 

 

 

Poucos dias depois, enquanto comia o café-da-manhã, Sophia observava as corujas voando pelo Salão, ansiosa. Já fizera seu pedido a Madame Malkin - escolhera vestes lilás com bastantes bordados. Quando uma coruja voou em sua direção, seu coração parou, mas logo percebeu que a ave trazia uma carta.

“São meus pais”, disse Sophia, enquanto lia a caligrafia garranchada da mãe (Como é que os alunos dela entendem, pensou). “Bom, não ficaram tão felizes sobre eu não voltar para o Natal, mas parecem bem animados sobre o Baile. Meu pai até quer saber quem é esse tal de Viktor Krum que vai me levar.” 

“Fale para ele que até a minha mãe gostaria que eu levasse Krum para o Baile”, riu Rogério. “Ah, ela não parou de falar dele depois do jogo…” 

Terminaram de comer e voltaram para a Sala Comunal. O inverno já tinha atingido sua força total - os jardins do castelo estavam cobertos por vários centímetros de uma neve branca e fofa. Ficaram ao redor da lareira, os quatro jogando um mini campeonato de xadrez bruxo. Georgie venceu, e então se esparramaram nos sofás, conversando animadamente.

Ouviram gritos e risadas saindo dos jardins, e viram pela janela que muitos alunos brincavam na neve. Agasalharam-se e saíram para fazer o mesmo. Georgie tinha começado a montar, com usa varinha, um boneco de neve muito bonito, até que Sean e Rogério acidentalmente o destruíram com uma bola de neve do tamanho de uma bola de piscina. Indignada, Georgie os atacou de volta e começaram a travar uma batalha. Ela conjurou um taco de gelo e, com suas habilidades de batedora, rebatia todas as bolas que os meninos jogavam, acertando-os. 

Sophia, rindo, decidiu não tomar partidos e começou a construir um forte de neve. Estava construindo uma engenhosa passagem subterrânea quando ouviu uma voz falar atrás dela:

“Ecstá muito pom.” 

Sophia corou. “Obrigada”, agradeceu.

Não tinha falado muito com Viktor desde que ele a convidara para ir ao Baile. Tinham, em vários momentos, se encontrado, mas nunca eram oportunos - ou Sophia estava com os amigos, ou atrasada, ou os dois. Trocavam só algumas breves palavras antes de se separarem. 

Viktor olhou para Georgie, que ainda investia contra os amigos. “Ela é pem talentosa.” 

“Sim, ela é”, Sophia concordou, sorrindo. Mal imaginava a reação da amiga ao ouvir que um jogador de quadribol profissional elogiara sua habilidade. “Ela também ficou muito admirada com você na Copa Mundial de Quadribol.” 

Ele ficou constrangido e assentiu. “Focê foi?” 

“Ah, não, tive que viajar com meus pais. Mas queria muito ter ido, falaram que o jogo foi muito bom”, respondeu Sophia, de um jeito apologético.

Viktor não falou mais nada. Sophia percebeu que talvez não fosse o assunto favorito dele, então disse:

“O que está achando de Hogwarts?” 

Ele se animou um pouco. “Ah, é muito bonito. O castelo é pem maiorr que o nosso, temos só quatrro andarres. E aqui é mais conforrtável; apesarr de lá serr mais frrio, as larreirras só son acesas parra finalidades mágicas.” 

“Nossa", comentou Sophia. “Vocês se acostumam com o frio então? O navio parece ser meio gelado.” 

Viktor deu os ombros. “Usamos as capas dentrro do castelo. No navio também.” 

“Ah, mas vocês deveriam passar mais tempo no castelo! Quero dizer, sei que você vai bastante à biblioteca, mas na nossa Sala Comunal temos lareiras bem gostosas. Talvez você pudesse passar lá…” Mas tão logo as palavras saíram de sua boca, ela percebeu o que tinha dito. A Sala era na verdade só para alunos da Corvinal, embora, teoricamente, qualquer um poderia entrar se respondesse corretamente a pergunta da águia. “Ah, na verdade não sei… É um pouco cheia…” 

"O saguão é aconchegante”, ele disse, e ela sorriu aliviada.

“Espere só para ver a decoração de Natal! Só vi umas duas vezes, mas é sempre linda!” Seus olhos brilharam ao se lembrar. Normalmente voltava para a casa dos pais durante os feriados, mas duas vezes tinha ficado, a primeira por curiosidade e a segunda para fazer companhia a Georgie.

Ele sorriu. Antes que pudesse falar, entretanto, foi atingido por uma bola de neve no peito.

Sean arquejou.

“Ah, desculpa, cara, sinto muito mesmo…” ele balbuciava. Georgie pegou sua mão e o levou para longe.

Sophia fui até Viktor, que tinha a cara séria, e varreu a neve de suas vestes. “Sean é meio estabanado”, desculpou-se. A expressão no rosto dele suavizou-se. Então percebeu o quão próximos estavam e se afastou. Deixe de ser boba, vai ter que dançar com ele, pensou.

Como se tivesse lido sua mente, ele disse:

  “Non sei se focê sabe”, começou, “mas os campeões têm que dançarr no Baile.” 

“Ah, sim”, concordou Sophia, grata em mudar de assunto. “Rogério, meu amigo, vai com Fleur. Ela já tinha avisado.” E então acrescentou, corajosamente: “Mas eu também não tenho problema em dançar.” 

Ele comprimiu os lábios em um pequeno sorriso.

Sophia viu Georgie puxando Sean para o castelo, e Rogério os seguia, um pouco deslocado. “Você quer entrar?”, perguntou. Percebeu que talvez tivesse sido meio rude, dando a entender que o castelo era seu e que ele precisava ser convidado para entrar… Mas Viktor concordou com a cabeça e os dois começaram a caminhar juntos.

 

 

 

Assim que sentou à mesa da Corvinal para jantar, Sean soltou:

“Soph, sinto muito, muito mesmo, eu estava tentando jogar uma bola mais difícil para Georgie mas acabei errando um pouco a mira (“Um pouco?” repetiu Georgie) e joguei com mais força que pretendia… Você sabe que eu não sou muito bom com essas coisas, por isso nem estou no time de quadribol, seria uma desgraça…” 

Antes que pudesse dar continuidade às suas desculpas, Sophia o interrompeu:

“Tudo bem, Sean”, riu. “Ele não vai guardar rancor, relaxe.” 

Ela viu o rosto do amigo se suavizar em alívio. Então ele retomou seus lamentos, mas dessa vez irônicos:

“Sou uma desonra a Hogwarts…” ele gemia dramaticamente.

“É, é, entendemos”, respondeu Georgie, impaciente. “Desonra para você, para sua vaca, é isso mesmo. Agora”, ela se virou para a amiga, enquanto Sean a encarava confuso (“Vaca?”). “Onde é que estava até agora, senhorita?” 

Sophia girou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso. Os olhos de Georgie brilharam.

“Ahá!” ela exclamou.

“Não é nada disso que você pensa”, apressou-se a explicar Sophia. “Eu estive mostrando o castelo a Viktor, é só.” 

“Viktor?”, Georgie levantou uma sobrancelha, o sorrindo se alargando.

“Mostrando o castelo, sei…” repetiu Sean. “Não estavam se demorando em nenhum corredor deserto ou sala vazia por aí, estavam?” 

“Não, Sean, por que, você por acaso esteve quando voltou tarde ontem à noite?” 

Sua fala calou o menino. Ele e Georgie não falaram mais nada.

Sophia olhou para o lado e viu Rogério sentado a alguns lugares de distância, com um olhar bobo em Fleur, que estava energicamente conversando com uma garota ruiva de Beauxbatons. 

“É, ele é um caso perdido”, disse Georgie, ao acompanhar o seu olhar. 

Sophia deu os ombros. Não o culpo por não querer sentar só com vocês, pensou, enquanto os dois amigos começavam a falar baixinho um com o outro, dando risadinhas, mas não disse nada.

 


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