Sophia escrita por znestria


Capítulo 10
Natal




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As férias de inverno, como sempre, passaram voando, e, antes que Sophia percebesse, estava acordando na manhã de Natal. Levantou-se na cama e admirou a vista: lá fora, a neve caía pacificamente, com as montanhas ao fundo. Então percebeu os presentes que se amontoavam em volta de sua cama e sorriu ao alcançá-los.

Enquanto abria o primeiro, uma pequena caixa embrulhada em papel vermelho, acabou fazendo mais barulho do que pretendia e acordou as meninas no dormitório, uma a uma. Logo estavam todas alegres, abrindo e admirando as novas aquisições.

“Caramba”, sussurrou Sophia, ao abrir o presente dos pais. A caixinha era, afinal, de jóia, e dentro dela havia um delicado colar com pingente em gota. A pedra era de um azul escuro muito bonito. Para você usar no Baile, dizia o bilhete na caligrafia do mãe. E depois havia um monte de adesivos natalinos colados certamente colados pelo pai.

Sophia ouviu Georgie dar um gritinho de alegria na cama do lado. Virou-se e viu que a amiga segurava um par muito brilhante de luvas de couro em suas mãos. 

“É de Sean!” ela exclamou, não cabendo em si de alegria. “Ele comprou as luvas que eu vi em Hogsmeade!” 

Sophia sorriu, muito feliz pelos dois, e então continuou a abrir seus presentes. Georgie havia lhe dado um relógio prateado muito bonito.

“Ele é um relógio/despertador/agenda”, a amiga explicou. “Pensei em você quando vi, ainda mais porque você chegou muito em cima da hora no Expresso este ano. Basicamente, você diz a ele coisas do tipo ‘Me acorde todos os dias às 7’, ou ‘O aniversário da minha mãe é no dia tal, lembre-me todos os anos’, ou até mesmo algo muito específico como ‘Terei detenções às 8 nas noites de segunda e quarta desta semana, na terça da outra e na quinta da seguinte’. A moça da loja me garantiu que iria funcionar.” 

“Caramba, Georgie”, disse, ainda olhando o relógio, estupefata. “Obrigada!” E levantou para abraçar a amiga.

Rogério havia lhe dado uma almofada inflável que prometia fazer a pessoa que se deitasse nela cair no sono em segundos. Sean lhe dera um livro entitulado ‘Por Dentro do Quadribol Búlgaro’, o que a fez girar os olhos, mas então percebeu que dentro havia um lenço de seda, cuja etiqueta dizia ‘Lenço Absorvente Para Todas As Ocasiões’. Pegou sua varinha e fez vinho jorrar de sua ponta em cima do lenço, torcendo para que o objeto realmente cumprisse seu efeito. E, realmente, o lenço se manchou e logo tornou a ficar branco. 

Brilhante, pensou. Agora poderia carregar o lenço consigo para o resto de sua vida e nunca precisaria lavá-lo.

“Ah, Soph, eu amei!” suspirou Georgie de sua cama. “É uma polaroid, não é?” 

Sophia sorriu, virando-se para a menina. “É, sim. Você é a única razão para eu me lembrar da cara de vocês durante as férias. Agora vai poder ter as fotos na hora, e essa câmera é encantada, então as fotos já se mexerão.” 

A amiga guinchou e se levantou em um pulo para abraçá-la. 

“Só há um jeito de testar, não é?” Disse e então enfiou a câmera na cara da menina, tirando uma foto. No mesmo instante saiu um pedacinho de papel do buraco da máquina, e, lentamente, a foto foi se tornando nítida. No filme, uma Sophia muito sonolenta encarava o espectador com cara de confusa e então arregalava os olhos. 

“Ah, é maravilhoso!” exclamou Georgie. “Obrigada!” 

Sophia coçava os olhos. “É, já estou me arrependendo de ter lhe dado.” 

As meninas terminaram de abrir os presentes e então desceram para a Sala Comunal, levando os melhores para baixo. Encontraram Rogério e Sean (este e Georgie agradeceram um ao outro pelos presentes muito afetuosamente) e se entreteram com todos os novos objetos reunidos. Testaram a almofada que Rogério lhe dera deixando-a em um dos sofás, e uma terceiranista que encostou nela adormeceu e logo estava roncando. Georgie tirou uma foto da menina inconsciente, explicando-se, “É uma memória divertida para se guardar”. 

Desceram muito alegres para tomar café. Mas mal terminaram de comer e já estavam de volta à Torre, usufruindo de seus novos pertences.

O almoço estava esplêndido. Havia montanhas de comida, e, mesmo sem saber àquela hora que não haveria café da tarde, Sophia se encheu tanto que sabia que não tornaria a ficar com fome até o jantar. Os amigos saíram para os jardins, pois ouviram que Miguel Corner, do terceiro ano, havia ganhado um trenó em miniatura. No entanto, Sophia ficou por pouco tempo; subiu para descansar e, antes que percebesse, adormecera. 

Acordou com Georgie chamando-a. 

“Soph! Já são cinco e meia!” 

Ela levantou-se em um sobressalto. Tinha dormido a tarde inteira. Já era hora de começar a se arrumar para o Baile.

“Por que não me acordou antes, Georgie?”

“Eu acabei de voltar, estava com Sean e não vi o tempo passar”, a amiga explicou, mexendo afobadamente em seus pertences. “Até briguei com ele por não ter me avisado, mas ele não entendeu por que eu precisava subir tão cedo…” 

As duas então, começaram a se arrumar com pressa, a ansiedade batendo cada vez mais forte no peito de Sophia. Mas, ao decorrer das horas, percebeu que na verdade estava tranquila, talvez até adiantada.

Às sete e meia, Sophia já se admirava no espelho, pronta. Trajava as vestes lilás de Madame Malkin. Havia duas tranças na parte superior de sua cabeça, cada uma saindo de cima de uma orelha e se juntando na parte de trás. De acessório, usava apenas o colar que ganhara dos pais. 

“Soph, você está linda”, suspirou Georgie. Ela virou-se para a amiga. Usava vestes prateadas e tinha os cabelos em belas ondas, como sempre, mas estavam diferentes. Sophia piscou e percebeu que a amiga tinha transfigurado a cor dos cabelos. Estavam um castanho um pouco mais claro, mas mais quente também. 

“Ah, você também”, respondeu, segurando as mãos da amiga. “Adorei o que fez com os seus cabelos. Ficaram…” Parou no meio da frase e soltou um “Ah!”.

“O que foi?” perguntou Georgie, preocupada, voltando sua atenção ao espelho.

“Hã, nada. Só tive uma ideia.” 

As duas desceram à Sala Comunal. Já havia muitos estudantes em vestes formais, todos muito elegantes, andando para lá e para cá. Avistaram os dois amigos próximos à porta.

Quando perceberam as meninas se aproximando, Sophia percebeu Sean prender o fôlego. “Vocês estão lindas”, ele disse, embora só olhasse para Georgie. O casal se agarrou nos braços um do outro.

“Vamos?” propôs Rogério, oferecendo o braço para Sophia, visto que não encontrariam seus próprios pares por algum tempo. Os quatro então saíram da Sala Comunal e desceram.

O saguão de entrada estava apinhado de alunos, todos em vestes coloridas. Alguns, como Sean e Georgie, esperavam parados em um canto, enquanto outros, como Rogério e Sophia, andavam pelo cômodo procurando seus pares. 

A cada minuto que passava, Sophia ficava mais ansiosa - onde estava Viktor? 

Rogério encontrou Fleur, que estava reluzente em suas vestes cinza-prateadas de cetim. Sophia, então, continuou a busca sozinha, seu coração batendo muito forte. Por que inventara de ir com alguém de fora, o que estava pensando? Não havia ninguém de Durmstrang por ali. Não conseguia aguentar ficar fazendo papel de boba por muito tempo mais…. Decidiu sair para os jardins, para que ninguém a visse passando vergonha… 

Assim que pisou no gramado, percebeu que a área estava completamente transformada, parecia agora uma gruta, e tinha milhares de luzes encantadas flutuando. Maravilhada, esqueceu-se por um momento de suas preocupações e ficou apreciando a decoração.

Foi então que Viktor apareceu em sua frente. 

“Focê ecstá muito bonita”, ele disse.

“Ah, obrigada”, respondeu Sophia, ainda atordoada, mas muito mais calma. Seu batimento lentamente ia desacelerando, embora tivesse pulado por um segundo quando Viktor falara.

“Famos?” ele estendeu o braço. Sophia viu que os demais alunos de Durmstrang já se arrumavam em fila. 

“Viktor, aqui!” chamou Karkaroff quando se aproximaram, gesticulando para que tomasse o lugar logo após o seu. Então percebeu Sophia e a encarou duvidosamente; ela, sentindo que estava sendo avaliada, desviou o olhar.

Esperaram por pouco tempo, em posição, até que todos da delegação estivessem prontos, e finalmente abriram as portas de carvalho e adentraram o saguão. 

“Campeões aqui, por favor” chamou McGonagall. 

Sophia e Viktor foram até a professora, juntando-se aos demais. Sophia sorriu para Rogério e cumprimentou Cedrico e Cho alegremente. Só Harry Potter estava com uma menina que ela não conhecia, embora soubesse que a garota ou era da Corvinal ou tinha uma gêmea na Corvinal. 

A Prof. McGonagall mandou-os esperar ao lado de uma das portas. De pé e à vista de todos, Sophia sentiu muitos olhares curiosos - e alguns não muito bem intencionados, principalmente de grupos de garotas. Olhou para seu par e rapidamente entendeu. 

Quando todos tinham finalmente se sentado, McGonagall os chamou para entrarem. Andaram em pares. 

O Salão estava mais bonito do que Sophia jamais o vira. Suas paredes estavam cobertas de gelo prateado e cintilante, e havia centenas de guirlandas de visco e azevinho cruzando o teto, que agora era um céu escuro e cheio de estrelas. As compridas mesas haviam desaparecido, e, em seus lugares, havia pequenas mesas redondas para, Sophia contou, uma dúzia de pessoas.

Estivera tão encantada com a decoração que nem percebera que as pessoas os aplaudiam, ou que haviam sido conduzidos a uma das mesas, que claramente era a principal. Dumbledore, Karkaroff, Madame Maxime, Ludo Badman e um jovem ruivo já se encontravam sentados nela. 

Sophia sentou-se entre Viktor e Rogério. 

“Está lindo, não está…” comentou Sophia, para ninguém em geral, embora sentisse que Viktor prestava atenção. Então virou-se para ele, esperando que ele tivesse subido o olhar para observar o Salão, mas ele a encarava. “O que achou?” ela perguntou, corando, mas com os olhos ainda brilhando.

Ele tinha levantado o olhar para o teto, mas Fleur o impediu de responder:

“Ah, isse non é nada. No Palace de Beauxbatons, tems esculturres de gelo em volta da sala de jantarr no Natall. Êles não derretem, é clarro… Parrecem enorrmes estátues de diamante, faiscando pela sala. E a comide é simplesman superrbe…” 

Fleur continuou falando por um tempo, mas Sophia já parara de prestar atenção. Não só a atitude da garota estava a irritando, mas também Rogério, que observava Fleur de um jeito vidrado e concordava com tudo que ela dizia.  

Dumbledore então disse, olhando para o seu prato: “Costeletas de porco!” E a comida apareceu. Logo todos o estavam imitando, pedindo as opções disponíveis no menu.

“Peru assado com batatas”, Sophia pediu a seu prato.

“É pem parrecido com o almoço”, Viktor comentou.

“Pois é”, desculpou-se Sophia, dando um sorrisinho. “Eu gosto muito de Natal. Como só temos uma vez ao ano…” 

Ele sorriu de volta e pediu o seu, que eram uns pimentões coloridos recheados com arroz.

“Que bonitos!”

“Son bulgárros. O carrdápio ecstá pem completo.” 

“Ah, sim, estão realmente caprichando… Agora estou até me arrependendo de não experimentar os pratos novos”, e olhou tristemente para seu peru tradicional. 

“Aqui”, disse Viktor, dando um dos pimentões para ela. Sophia o olhou, estupefata, sem saber o que responder. 

“Ah, não… Você não precisava…” balbuciava.

“Sem prroblemas.” Ele deu os ombros e começou a comer. Sophia sorriu e provou a comida. Estava realmente deliciosa.

“Humm…” disse, saboreando. "Não sei como são na Bulgária, mas estes pimentões estão muito bons.” 

“Ecstão. Bem parrecidos com os que fazem em Durrmstrang.” 

Sophia reprimiu uma risada ao imaginar elfos domésticos ingleses aprendendo receitas com elfos eslávicos. 

“A comida de lá é boa?” Perguntou, tentando afastar a imagem dos elfos de sua mente.

Viktor concordou com a cabeça. “Sim. É pem boa, mas gerralmente non temos sobrremesa, como aqui.” 

“Bom, Hogwarts não é muito boa se você estiver de dieta. No meu primeiro ano, engordei uns 2 kg porque não estava acostumada com tanta comida boa toda hora. Meus pais não são cozinheiros muito bons”, Sophia riu, e Viktor abriu um sorriso. “Mas com o tempo eu me acostumei e comecei a comer que nem uma pessoa normal. Embora ainda seja um pouco triste voltar para a comida de casa nas férias.” 

“Ah, eu adorro voltarr parra a casa dos meus pais. Minha mãe faz um ensopado muito pom.” 

“Você vê eles com muita frequência?” 

Viktor balançou a cabeça. “Non. É difícil, com a escola e o time.” 

“Ah”, disse Sophia, sem jeito. “Mas no final tudo vale a pena, não é? Quero dizer, é o que eu acho, mesmo com a minha vida relativamente pacata.” 

“Pacata?”

“Bom, tranquila. Quero dizer, não estou no time de quadribol e não faço tantas atividades extracurriculares… As oficiais, pelo menos.” Sophia deu os ombros.

“Focê non gosta de quadribol?”

“Sim, eu gosto! Só não jogo. Digamos que eu, hã, não fui feita para voar.” 

Viktor deu uma risada ao ver a careta de Sophia, e ela se juntou a ele. 

“Em Durrmstrang temos jarrdins muito grrandes; no verrão, quando tem sol, sobrrevoamos os lagos e as montanhas todos os dias…” 

Sophia balançou a cabeça, sorrindo. "A torre da Corvinal já tem uma vista bem boa dos jardins”, desculpou-se.

Viktor bufou, também sorrindo, em aceitação. Então trocou de assunto:

“Todas as Salas das Casas son em torrres?” 

“Não. A da Grifinória também é, mas a da Lufa-Lufa é no porão, e a da Sonserina é nas masmorras, embaixo do lago. Falam que lá embaixo é meio frio às vezes, por mais que tenham lareiras.” 

“Focês non podem entrrarr nos dorrmitórrios uns dos outrros?” ele perguntou, franzindo a testa.

“Bom, tecnicamente não, embora não seja impossível.” Sophia deu um sorriso divertido.

“Nós non temos tantas separrações, podemos nos sentarr com quem quiserrmos. São poucos alunos, então non adiantarria separrarr.” 

“Sério?” perguntou Sophia, levantando as sobrancelhas. “Achei que Durmstrang tivesse mais alunos que Hogwarts, já que incorpora praticamente toda a Europa Oriental.” 

“É que Durrmstrang só aceita alunos com pais bruxos”, explicou Viktor, mexendo-se desconfortavelmente em sua cadeira. 

Sophia encostou-se para trás. Tinha esquecido que Durmstrang tinha a reputação de ser favorável à ideologia de sangue puro, tanto que o próprio Grindelwald havia estudado lá. Sentiu um aperto muito grande no peito, e não olhou mais para Viktor quando recomeçou a comer em silêncio. Não queria culpá-lo pela postura da escola, mas não conseguia sentir-se à vontade como estava antes.

Terminaram de comer sem conversar. Assim que todos estavam satisfeitos, Dumbledore se levantou e pediu que os estudantes fizessem o mesmo. Então acenou a varinha, desobstruindo o salão das mesas e cadeiras, e fez surgir uma plataforma, que Sophia percebeu ser o palco. Foram colocados instrumentos, incluindo algumas gaitas de foles, o que fez Sophia franzir a testa, preocupada. 

As tão esperadas Esquisitonas, das quais Sean não parara de falar nos últimos dias, apareceram finalmente. Tinham cabeleiras enormes, e suas vestes negras estavam propositalmente rasgadas. Realmente faziam jus ao nome, concluiu Sophia. Elas se pareceriam muito com as bandas de rock dos anos 80, se não fosse pelos instrumentos. 

Viktor então fez um gesto convidativo e Sophia, absorta, tomou seu braço, e ele os conduziu até a pista. Sophia sentiu todos os olhares em si e de repente ficou muito consciente da mecha de cabelo que soltara de uma de suas tranças e do pequeno amassado nas barras de suas vestes. Respirou fundo, procurando não encontrar o olhar de ninguém, embora desejasse muito localizar os rostos familiares de Georgie ou Sean. Em vez disso, recebeu um sorriso reconfortante de Cho, que também parecia um pouco nervosa. 

As Esquisitonas começaram a tocar. Era uma música lenta e triste, e logo todos estavam valsando. Sophia não conseguia parar de pensar em quão perto estava de Viktor. 

“Focê conhece elas?” ele perguntou, acenando com a cabeça para a banda.

Sophia, desconcertada, demorou um pouco para responder. “Ah, não.” Seu coração começou a bater muito rápido, e, em um momento repentino de coragem, olhou bem nos olhos dele e falou, em um tom levemente desafiador: “Não conheço muito bem música bruxa. Cresci ouvindo bandas trouxas e, honestamente, acho que prefiro elas.” 

Viktor levantou um pouco as sobrancelhas e assentiu. “Pom, esta daqui non é exatamente o meu tipo.” Tão logo terminou de falar, uma das gaitas de fole soltou um som muito agudo, e os dois fizeram uma careta e depois riram. Quando pararam, Sophia já se sentia muito melhor.

 


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