Wadanohara e o Mortal Mar Vermelho escrita por GaunaZX


Capítulo 2
Retorno




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/749108/chapter/2

No solo da praia, pernas esticadas diante do pôr do sol com a visão perdida sobre o horizonte, a jovem bruxa planejava uma rota segura para casa, carregada com as marcas de suas visões, missões de reparo para com aqueles que tanto aguardavam. Para ela, toda aquela situação se apresentava de forma errada: “O mar é para todos, não deveria haver conflitos”. Não poderia apenas abrir o caminho, teria que contribuir antes para com a melhora deles, teria que ir até eles sem temer o mar vermelho. Após tanto tempo longe do oceano, seus passos a guiaram para longe do toque da areia e de imediato tornou a mergulhar.

No caminho, quando a água lhe circundava onde poderia de fato ser localizada, ela se deparou com Samekichi num reencontro de lágrimas. Pedidos de desculpa inundavam a boca do tubarão enquanto tentava ao máximo segurar as emoções que forçavam o caminho de seu peito até a pele. A Ocarina finalmente entregue, o sorriso intenso e o merecido retorno de uma jornada que antes não possuía fim. “De que vale um mar sem ela” – Concluía os pensamentos de Samekichi, agora estando atado no abraço com aquela que lhe alimentava tais pensamentos.

A chegada ao Reino do Mar foi recebida com positiva surpresa, mas mesmo diante de tudo já havia uma rota a ser tomada. Dentre os moradores avistou Sal, que a seguiu com certa distância para dentro do velho mar após reparar na mensagem deixada em seu olhar.

— Você não vai perguntar? – Wadanohara, ao perceber a indiferença de Samekichi enquanto adentravam tal ambiente.

— Wada, confio em seu julgamento. – Respondeu Samekichi, enquanto seguia calmo com a presença dela.

Tão logo os três estavam reunidos sob o mesmo teto, perplexos diante das revelações a serem apresentadas. Samekichi estranhava pois, mesmo tendo ela em seu coração, a mera concepção de que ela estaria fornecendo qualquer tipo de ajuda ao mar vermelho lhe parecia um conceito de completa impossibilidade. Naquela tarde de verão ela anunciou para os dois que estaria adentrando a mesma prisão que a Princesa Mikotsu e seus súditos tanto ansiavam em abandonar. Ela prosseguiu com as explicações:

— Meu pai cometeu um erro, e isso pretendo concertar – Curta pausa, longo pensar e tão logo retomando:

— Pelo bem do mar, eu peço a ajuda de vocês, por favor!

Samekichi acenou com a cabeça em concordância. Mesmo estranhando a decisão dela, seguiria ela incondicionalmente. Enquanto isso, a mente de Sal dava voltas em si mesmo: “Ajudar a Princesa Mikotsu era de se esperar, mas adentrar o mesmo lugar? O quão ingênua poderia ser tal jovem para se arriscar a tanto?!”, e mesmo neste raciocínio, sua face era de alegria, seus movimentos os de um predador em pele de carneiro. Sem perceber, assumiu instintivamente a forma humana e tão logo o anel se mostrava em mãos. Receio e confusão na face do tubarão, indiferença por parte da bruxa e segundas intenções nas garras do albino. As palavras dele seguiram os gestos do corpo, surpreso quanto aos próprios atos:

— Para isso, você precisará de toda ajuda que tivermos. Aceite este anel como um presente.

— Oh, belo… Não sei como agradecê-lo… – Uma resposta advinda da surpresa da bruxa, acompanhada da resposta de seu familiar:

— Mas eu acho que não seja a hora para isso. Wada, eu vou com você até o final; Se é para agirmos, devemos começar agora!

— Agora que estamos começando a nos entender melhor? – Interrompeu Sal, voz em tom de agressão e logo golpeando com sua resposta: – Wada, agradeça aceitando-me como seu Familiar. E aliás, se são planos que precisam, já tenho algumas ideias em mente!

Uma quebra de ritmo, a desconfiança de Samekichi e o mar vermelho cada vez mais infectando a mente de Sal. Sem quaisquer rituais ou cerimônias, ela aceitou a proposição dele, tomando como a única forma para seguir com o que desejava. O plano se resumia em aplacar o ódio da Princesa Mikotsu antes de tentar trazê-la; Afogar as mágoas, livrar os pulmões das águas daquele oceano de completa podridão. Para Wadanohara, aquela prisão era não mais do que completa maldição para seus habitantes, enquanto que o coração de Sal alinhava-se não com estes, mas sim com as intenções do Mar da Morte, enamorado com a violência e o sangue, coisas tais que lhe traziam uma inexplicável alegria.

— Se você realmente quer adentrar o Mar Vermelho, precisas primeiro tomar a Espada Sagrada. – Tão logo falou Sal – Ninguém notará a princípio de seu desaparecimento. Afinal de contas, Tatsumiya apenas checa o lugar onde está guardado uma vez por ano, até onde observei.

— Mas e se ela tiver alguma magia de detecção no lugar? – Interrompeu Samekichi.

— De fato. Ela deve passar apenas uma vez por ano apenas para reforçar o feitiço! – Completou Wadanohara.

— Bem, isso ainda não descarta nossas possibilidades. – Curta pausa de Sal, um novo pensar e o recomeçar do raciocínio: – Talvez a magia apenas aponte a presença de alguém, e não de quem é o invasor.

Eles refletiram, todo pensamento sempre encontrando uma parede bem concretada ao final. Caminhos inacabados, retornos despreparados e derrotas adiante. Finalmente concluíram que um deles acabaria levando a culpa. Prontamente, Samekichi tomou a frente nesta empreitada. Rápidos movimentos pelo oceano, seguindo as instruções do caminho e sem esbarrar com quaisquer olhares. Depois de algum tempo, reunido dos outros, carregado com a certeza de que ninguém soubera do que havia ocorrido teve finalmente a certeza de que fez o que seria correto dado a situação, entretanto, mal sabiam que Tatsumiya havia avistado o tubarão com o artefato em mãos. O mar não reagiu e tão prontamente se dispuseram a abrir o temporário caminho para as profundezas do Mar Vermelho, selando a passagem atrás deles por escolha de Wadanohara.

— Seguimos em frente, sempre. Não podemos jamais ousar recuar diante da adversidade. – Suplicou a jovem bruxa na promessa que fez a si mesma durante seus anos de isolamento.

Samekichi se preocupava pois, mesmo com a confiança, percebia que algo vinha na mente dela. A garota doce e ingênua que um dia já foi aos poucos se desfazia diante de seus olhos a cada palavra dita. Ele atuava adiante em seu papel, entretendo-a, mas sabia que uma hora chegaria o momento em que o instinto não poderia lhe guiar e estaria por completo perdido. Naquele mar vermelho nadou, confuso quanto a visão do lugar e o constante cheiro de sangue e morte que naturalmente circundava todo o lugar.

— Você parece incomodado, Samekichi. Respire fundo, irá lhe fazer bem Afirmou Sal, numa tentativa de empurrar o tubarão para a direção que desejava.

Próximos do solo, por dentre ruínas de templos e casas em decomposição, cercados por manchas de escuridão e os grandes olhares de desconhecidos seres. Seguiram juntamente dos peixes mortos, ossadas cheias de vida e morte, movendo-se de forma agonizante sem saber uma direção para se tomar. Wadanohara, olhando para Sal demandou a ele que a guiasse até a princesa, que mesmo sem ter certeza, sabia que de alguma forma ele sabia os caminhos daquele lugar. Eles foram, eles chegaram e assim se depararam com a dita ambientação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wadanohara e o Mortal Mar Vermelho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.