Wadanohara e o Mortal Mar Vermelho escrita por GaunaZX


Capítulo 1
Começo




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Sob as águas daquele grande mar azul e nas profundezas de uma familiar vizinhança residia uma bruxa e seu leal tubarão. Wadanohara e Samekichi viviam seus dias em pequenas aventuras de pequenos afazeres provindos dos pedidos dos residentes próximos, a população local marítima ao qual para ela eram parte deste mar, deste lar ao qual ela sempre fora tão próxima.

Dela era o olhar inocente e os passos de alegria, um mágico sorriso onde tudo se unia em paz e compaixão. Quem a acompanhava, sempre ao seu lado era o nobre tubarão, indiferente aos desejos do mar, mas sempre atento ao bem-estar de Wadanohara. Juntos, corriam pelo mar aproveitando as noites estreladas, acordados até tarde admirando o luar em todo o seu esplendor.

Naquela noite ele escolheu pronunciar seus sentimentos, mas a inocência da jovem bruxa barrou o entendimento da mensagem. Ao invés disso, ela interpretou como um amor familiar, um amor de amigo e, mesmo notando tal entendimento nela, ele aceitou que ela não o compreendesse.

Na mesma noite Sal elaborava planos para mudar aquele oceano, para trazer aquilo que foi banido. O Tubarão albino que nadava como que com a pele de um golfinho alegre escondia mais do que apenas aparências e intenções; Guardava consigo as angústias daqueles que arbitrariamente foram deixados de lado, contendo o peso da morte em seu coração e os pesadelos eternos em sua mente. Ele não se lembrava quando tudo começou, quando as mensagens começaram a aparecer, apenas lembrava que tinha escolhido e aceitado todas as palavras e sensações encaminhadas. Pensou em Wadanohara, em como ela sempre se esforçava pelo mar e o quanto isso a tornava feliz.

— Talvez, apenas talvez, se eu fosse o familiar de Wadanohara as coisas seriam diferentes, eu seria feliz, eu seria… – Refletia Sal repetidamente.

Viu no sorriso e inocência da jovem o caminho, mas seu espírito já estava próximo demais do Mar da Morte. Mesmo assim, o pensamento permaneceu, vendo nela a resposta de como abrir o caminho para aqueles que estavam presos além da realidade.

Num dia alegre após alguns afazeres, Samekichi decidiu ir em busca de algo para presentear Wadanohara, concluindo que sua confissão amorosa não tenha sido bem sucedida por algo estar faltando: um presente que simbolizasse o quanto ele se importava com ela. Neste meio tempo, durante um curto passeio, Wadanohara se deparou com Sal organizando alguns velhos baús. Ela se ofereceu para ajudar e ele aceitou tal de bom grado.

— Muito obrigado pela ajuda, Wadanohara; gostaria de ter alguma coisa para te dar em retorno, mas estou sem nada no momento. – Justificava Sal.

— Ah! Não se preocupe. Apenas saber que pude ajudar já é suficiente para mim. – Respondia Wadanohara com o sorriso estampado na face.

— Hm, hey, mas eu acho que tive uma ideia!

Confusão e perdição tomaram o olhar da jovem, sem quebrar a alegria que carregava.

— Que tal um passeio rápido pelo mar? Apenas suba em minhas costas e se segure!

Antes que ela desse sua resposta, Sal já se encontrava levando-a em suas costas em alta velocidade, a água fluindo por eles tal como o vento dos céus, a visão do ambiente de forma espetacular. A eles pertenceu os risos e sorrisos de diversão, a sensação de adrenalina e a alegria do momento. Quando pararam, repararam que estavam um tanto longe de onde começaram; Os arrepios de preocupação chegaram até Wadanohara e calada ela não pode se manter:

— Hm. Obrigada pelo passeio, Sal! Mas…

— Hehe… Oh, verdade… Um pouco longe, acho que estamos no Velho Mar.

— É, eu acho que não deveríamos estar aqui.

— Talvez.

Silêncio. Ela aguardou uma explicação para o estranho dizer. Tão logo ele voltou a falar:

— Entretanto, acho que me lembro deste caminho!

— Caminho? – Indagação, uma resposta imediata e um rápido esquecer por parte dela referente ao assunto vigente.

O templo abandonado, um local histórico na qual todos esqueceram; Sal disse que estava muito cansado para nadar e insistiu que o caminho mais rápido para se retornar para casa era por ali, pelas entranhas da velha construção onde por tantas noites ele esteve planejando, apenas aguardando a oportunidade de aplicar um de seus planos. Ela estava um tanto temerosa enquanto caminhava ao seu lado, sempre atenta aos arredores esperando que algo de estranho fosse ocorrer. A presença de Sal não lhe dava segurança nem confiança, entretanto, de nada ela suspeitava. Isso ele notou, sentindo-se menosprezado pela jovem bruxa logo se dispôs a pensar:

“Eu tenho que fazer ela me entender! Apenas mostrar não será suficiente… Se Samekichi estivesse aqui, ela não estaria tão insegura, mas certamente ele seria um estorvo…”

— Sal, você me parece meio… Preocupado com algo.

A linha de raciocínio quebrada, e a oportunidade diante dele crescendo.

— Esse lugar também te dá arrepios?

— Ah, não, de maneira alguma! – Esclareceu Sal.

A face dela, perdida e atenta, esperando respostas.

— Sabe, antes do Velho Mar se tornar um lugar abandonado, todo um povoado aqui habitava?

— Não me diga que…

— Sim. Antes do conflito, antes dos afazeres de seu pai, a princesa morava aqui com seus súditos. Mikotsu e todos aqueles que apoiavam ela. Isso torna este lugar algo histórico.

— Mas… – Infelicidades, palavras que falhavam para ela.

— Não importa se o passado é algo bonito de ser recordado; apenas devemos lembrar do que aconteceu.

Antes em preocupações, Wadanohara se fechou em tristeza. Para ela, aquele lugar era um lembrete de desastres, de um conflito sangrento que precede o seu nascimento e que, mesmo assim deixa o gosto amargo e amargurado na boca. Reparando a reação dela, Sal perguntou:

— O que foi? Eu disse algo errado?

— N-Não, apenas…

— Eu sei, não é uma história muito alegre… Mas sempre podemos fazer algo para trazer um final feliz!

Fora da linha de visão de Wadanohara, Sal assumiu sua forma humana – as barbatanas em braços, as pernas repentinamente tocando o solo com suavidade e ele próprio vindo a estar atrás dela. Enquanto suas palavras tocavam os ouvidos, as mãos lhe tocavam a cabeça. Sem que Wadanohara levantasse qualquer suspeita enquanto se apertava em melancolia, Sal tratou de jogar na mente dela todas as visões da qual ele sofria; cada pesadelo, cada mensagem, cada imagem. Tal como se o Mar da Morte fluísse diretamente para a mente de Wadanohara, acompanhado da voz de seus residentes aprisionados.

Através disso ela veio a compreender o destino que seu pai trouxe para eles, que a beleza do Grande Mar Azul vinha as custas de tantos infortunados. Como rocha, caiu indignada de joelhos. Maiores crueldades vieram para a imaginação de Sal, tal como as práticas da tortura e os esforços para o jorrar do sangue – atos que fariam ela aceitar suas visões por inteiro, sua perspectiva inserida tal como doença contagiosa. Entretanto, ele resistiu, não verdadeiramente desejando isso sobre ela, mas aceitando que as forças do mar vermelho tomavam maior presença em seu coração depois do ato que havia acabado de praticar. As lágrimas fluíram dos olhos da jovem, sem que alguém viesse confortá-la.

— Agora você viu, e daqui em diante deves compreender. – Afirmou Sal considerando que seria o suficiente para se dizer.

Sem respostas e inconsolada, ela seguiu sozinha para longe, enquanto Sal permaneceu imóvel e incerto de ter tomado o caminho correto. Culpa. No final da tarde, Samekichi retornou para casa com um presente em mãos, apenas para se deparar com o fato de que ela não haveria retornado. Nem Sal e nem Samekichi chegaram a vê-la por um longo tempo – ambos se sentindo culpados de que talvez tenham acometido algo contra ela sem que percebessem – um deles tendo de fato nada causado; a sua presença perdida pelos turbilhões de emoções concentrados nos pensamentos de Wadanohara. Uma Ocarina e um Anel, ambos presentes sem dono, aguardando o retorno da destinatária e de um final feliz.

“É justo o que foi feito com eles? Este mar é o meu lar, mas… Pai, porque você chegou a tanto? As coisas não me parecem certas; não, não estão certas! Eu deveria fazer algo… Eu deveria… Não. Eu só preciso de algum tempo sozinha. Logo eu volto para casa… Samekichi deve estar preocupado… Me perdoe Samekichi… E Sal, me desculpe se ter saído sem falar algo tenha te ofendido… Não sei se entendo inteiramente… Mas eu preciso de tempo.” – Refletiu a jovem Bruxa.

Longe de seu lar, Wadanohara refletiu sobre suas visões e mensagens, tentando decidir quanto aos seus atos. Não poderia simplesmente destruir a barreira e abrir um portal para o outro lado – isso causaria uma guerra, ocasionando toda uma catástrofe por conta da destruição carregada no Mar da Morte. A natureza daqueles que haviam sido aprisionados fora corrompida pelo tempo e, mesmo entendendo seu sofrimento, seria injusto trazer dor para casa. Assim pensou e assim refletiu isolada durante dez anos. Samekichi, desesperado, se viu vasculhando todo o mar em busca de encontrar a jovem bruxa e, tendo falhado em localizá-la em quaisquer lugares próximos, partiu numa jornada árdua pelo mundo em busca da presença dela. A Ocarina, sempre em mãos na esperança de quando encontrá-la, seu primeiro ato ser o de presentear. Sal, levando para si que tenha falhado com seu plano, se dirigiu a procurar outras formas de concluir sua missão; sempre carregando consigo um Anel, dito presente ao qual ele usaria para pedir para se tornar o familiar de Wadanohara.

Os anos passaram, as preocupações de todos cresceram. A jovem bruxa chegou a uma conclusão; o tubarão albino prestes a realizar um novo plano; o leal tubarão perdido nas profundezas do mar gélido numa procura eterna. Mesmo com paz, infinitas preocupações e a sensação onipresente de que algo aconteceria.


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