Operação Zumbi escrita por Morgenstern


Capítulo 19
19 - Para me manter viva




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Ouvimos os rosnados do zumbi enquanto ele mordia e puxava a pele, ouvimos o som de pingos no chão, mas não ouvimos gritos ou xingamentos vindos do doutor, não mais. De repente Luke gritou com Parker que deixou cair a madeira em suas mãos, Tony puxava sua arma apontando-a para o zumbi enquanto gritava algo para os dois que brigavam e eu estava completamente em choque observando aquela cena. Pude sentir a bile arder na garganta e o estômago revirar por dentro, de repente a sala se inclinou me fazendo tropeçar para o lado esbarrando em Tony, fazendo-o atirar bem acima da cabeça de Parker que encolheu os ombros com o som de tiro. O zumbi, ouvindo todo o barulho que fazíamos se virou para nós mostrando o corpo do médico imóvel, banhado de sangue com ossos e órgãos à vista. 

Tony se inclinou para frente vomitando todo seu jantar, fazendo Luke e Parker se afastarem ainda mais para a janela. Respirei várias vezes forçando meus pés a firmarem no chão apesar de não senti-los por completo, ouvia as batidas do meu coração nos ouvidos tendo a certeza de que o quarto estava saindo e entrando em foco, fechei os olhos por um instante pressionando as pálpebras para que tudo voltasse ao normal, mas nada estava normal. Olhei para minhas mãos apenas para vê-las mais brancas do que o normal e embaçadas, olhei para frente encontrando Luke gritando algo para mim mas eu nem mesmo conseguia ouvi-lo. Me virei para a porta do quarto no instante em que uma lâmina se erguia pouco abaixo de meu queixo. Pisquei uma, duas, talvez milhares de vezes antes de tombar para frente sentindo dois braços em minha cintura e não enxergar nada além da escuridão.

Imagens de momentos ainda criança me encheram de saudade e felicidade, vi quando papai me entregou uma pistola, a minha primeira pistola, vi quando mamãe me abraçou antes de sair para uma de suas Buscas e quando sentávamos nos degraus de casa observando o céu escuro e repleto de estrelas, que contava até cair no sono. Eu estava lá, a Cora de quatro anos e a Cora de dezessete. E mesmo sabendo o que iria acontecer depois, sabendo que os perderia, mesmo assim sorri e acreditei quando me disseram que voltariam antes do almoço, me fazendo dormir novamente. Acordei com a sensação de estar sonhando, vi uma luz naquela imensa escuridão apontando para o teto, era uma lanterna. Sabia que aquele não era meu quarto na casa 55 e não era meu dormitório Beta mas ainda assim não consegui evitar cair no sono novamente.

Abri os olhos tendo consciência de que não estava em segurança, aquele não era meu quarto, não era nossos dormitórios e provavelmente nem mesmo era na Cidade. Como se estivesse voltado para meu corpo, me deixando em alerta novamente sentei olhando ao redor para o quarto iluminado por apenas uma janela de vidro com grades enferrujadas atrás, não havendo nada além do colchão aonde eu estava. Olhei minha roupa, era a mesma que me lembrava de usar, olhei para os lados apenas para ver se minha CFR estava ali e é claro que não estava. Fui até a janela para, pelo menos, tentar ter uma localização de onde eu estava, vi prédios, casas, ruas e tudo muito parecido com o mundo fora dos muros da Cidade, mas havia algo que os diferenciava, algo que me deixou intrigada. Havia sombras ali, mas muito diferentes das que eu costumava ver quando estava nas buscas. 

A porta do quarto abriu de repente me fazendo pular em surpresa, me virei sentindo falta de uma arma. Havia um zumbi ali, com roupas rasgadas, sujas e ensanguentadas assim como sua boca e mãos. Se ele já havia feito um lanchinho, precisava de mais para encher a barriga? Tentei enxergar o que havia atrás dele, mas só se via uma parede. Nos encaramos por cinco segundos até que ele avançasse e como eu estava totalmente desarmada, minha única saída seria lutar. 

Olhei para a janela e as grades que me impediam de passar. Ótimo. Olhei para o colchão, mas nem mesmo havia metal, madeira ou qualquer objeto que pudesse me ajudar naquele momento. Olhei para o corpo que se arrastava em minha direção rosnando com os braços esticados para frente para me pegar. Esperei o tempo certo, esperei que ele ficasse a meu alcance, esperei um segundo e então, esmurrei com toda minha força o nariz da coisa. O zumbi cambaleou para trás com o nariz caído na pele cinza e logo voltou a avançar como se aquilo não tivesse lhe afetado e realmente não afetava, eles não poderiam sentir dor ou qualquer outro sentimento. Já no meu caso, tive que disfarçar a dor nos nós dos dedos. 

Corri para o lado contrário e antes que ele pudesse se virar para mim, empurrei suas costas para a janela, fazendo com que o vidro rachasse. Um segundo mais tarde, empurrei sua cabeça em direção a vidraça. Não tinha um plano, a única coisa que conseguia pensar era em quebrar o vidro com a cabeça dele. Quando o vidro se quebrou com vários pedaços no chão, continuei batendo a cabeça do zumbi nos ferros. Olhei para o chão, para os pedaços grandes e afiados do vidro conseguindo pensar em algo. Me baixei por um segundo pegando o primeiro pedaço que minha mão encontrou, aproveitei que ele estava de costas e apesar de ser um pouco mais alto do que eu, tinha livre passagem para sua nuca. Respirei fundo apertando o pedaço de vidro na mão, ignorando o fedor e os rosnados, buscando toda força que precisaria para cortar a pele, os músculos, as veias e o osso para conseguir chegar na outra ponta. Ignorei o sangue que jorrava em meu rosto, ignorei a vontade de vomitar e a dor na palma da mão pelo vidro não só rasgar o zumbi, como também a mim. Faltava pouco para chegar na outra ponta do pescoço quando ele caiu duro no chão, me fazendo puxar todo o ar que conseguiria para conseguir respirar novamente. Me sentia sufocada e exausta.  

A porta foi aberta e palmas ecoaram dela me fazendo virar lentamente para ver quem era, me deixando alerta apesar de toda exaustão. Limpei com as costas da mão o sangue nos olhos para ver um homem velho com barba grisalha, que poderia ser tão ameaçador quanto o zumbi e verdadeiramente mais difícil para matar, ele parou quando me viu dos pés a cabeça. Seu rosto que antes mostrava fascinação agora terror. Ele olhou para o corpo duro no chão, para as gotas de sangue preto nas paredes, para a janela e finalmente para mim que respirava ofegante mesmo que quisesse me mostrar calma. Ele não pronunciou uma única palavra, rasgou a ponta de sua blusa de flanela e me entregou mantendo uma distância segura, tanto para si próprio como para mim. Amarrei rapidamente em volta de minha mão pressionando no ferimento, fechei o punho novamente erguendo meu olhar para ele sem ter certeza se deveria falar algo. 

— Posso ver que faria outra vez. 

— Para me manter viva, sim. Eu faria. – o homem assentiu com a cabeça pressionando os lábios enquanto desviava o olhar para o zumbi. 


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