Operação Zumbi escrita por Morgenstern


Capítulo 18
18 - Tirando Dúvidas




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— Cora? – Luke chamou desfazendo o silêncio que havia ficado depois do murro.

Respirei fundo balançando a cabeça tentando organizar os pensamentos, estava irritada completamente furiosa sobre tudo o que estava acontecendo naquele momento. Há dois dias minha vida simplesmente virou um pesadelo e eu não conseguia acordar para voltar ao que era antes. Estava com raiva com meus pais por terem escondido coisas de mim, com raiva deles por terem me deixado sozinha aqui, raiva pelo modo como o doutor Robson falou com Parker, estava com raiva por não ter conseguido nem metade do que eu realmente queria. Era como se aquele homem sabia sobre a vida que eu não conhecia, a minha vida.

— E agora? – Tony perguntou me fazendo voltar a realidade.

Sim, era um boa pergunta e agora? Iríamos soltá-lo e sermos expulsos da Cidade? Ou pior, presos ou mortos por traição? Iríamos deixá-lo trancado ali até morrer? Iríamos matá-lo? Ergui meu olhar para Parker, o único em minha zona de visão e pude perceber o quão perdido ele estava. Por ter sido descoberto? Por não termos mais escolhas daqui em diante?

—  A culpa é minha. Eu não deveria ter começado tudo isso. – falei de repente, desviando o olhar para todos ali.– O que está dizendo? Você não teve culpa. – Tori respondeu se aproximando de mim. – Bem, agora eu tenho. O que faremos com ele? – olhei para ela, para Tony e finalmente para Luke, quem poderia ter pensado sobre o 'e depois', mas nem mesmo Luke sabia o que fazer. – Vamos soltá-lo em algum lugar fora da Cidade. – Parker disse por fim.– E deixá-lo morrer?– O que você quer, manter um homem como esse vivo? – Não, mas... – Bem, ele lhe injetou algo sabendo que você possuía a cura. Sem contar que, provavelmente, deve ter traído seus pais. E sem comentar que ele irá contar ao Presidente o que aconteceu aqui, é só deixá-lo vivo. – Parker tem razão. – Luke disse, me fazendo encará-lo completamente chocada.

Nós tínhamos de nos manter frios e calculistas, afinal, sentir, hesitar ou ter pena eram apenas um passo para nossa morte. Nosso maior inimigo eram os zumbis, criaturas que não raciocinavam, não tinham pena e muito menos hesitavam em morder qualquer pessoa viva, realmente viva. Mas neste momento nosso maior inimigo era um homem, que sabia sobre mim, meus pais e o que aconteceu dentro do laboratório, mas que provavelmente nunca iria nos contar toda a verdade.

Então, o que eu poderia fazer? Matá-lo e deixar que tudo se perca com ele? Ou mantê-lo vivo e tentar uma última vez?

— Podemos trancá-lo em algum prédio velho fora da Cidade e tentar uma última vez. Vamos lá, esse homem sabe de muita coisa sobre nós. – falei evitando olhar para Parker. – Enquanto isso pensamos no que fazer com ele.

— E você acha que ele irá contar? – Parker perguntou descrente.

— Se conseguirmos pressioná-lo com seu maior medo. – Está falando dos zumbis? – Tori perguntou me fazendo concordar com a cabeça. – Ok, vamos lá então.

Tori e eu fomos até as portas do galpão para checar se os Betas ainda estavam no muro, não ouvimos vozes, risadas ou qualquer indício que ainda estariam lá. Demos o sinal para os rapazes que traziam o corpo desacordado do médico. Tori ergueu a escada para que subíssemos e com as cordas que usamos para pular o muro pelo o lado de fora, jogamos para dentro da Cidade para que pudessem amarrá-las ao doutor para puxarmos até o topo. Quando a primeira fase foi concluída, amarramos cada uma das cordas em nossas cinturas, pulando logo em seguida para a segunda fase do plano.

Para a nossa sorte conhecíamos pelo menos cem quilômetros ao redor dos muros, ou seja, tínhamos plena certeza de quantas ruas, becos existiam ali, comércios, casas e prédios. Foi apenas uma questão de tempo para que encontrássemos um prédio de dois andares completamente vazio, sem zumbi, sem qualquer coisa que possa nos ameaçar. Tori havia ficado no muro apenas por precação, ela iriam nos puxar de volta quando tudo acabasse. Luke e eu levamos o médico até um quarto parcialmente escuro com apenas duas janelas iluminadas pela lua. O lugar dava arrepios com papéis de parede descascados, cortinas rasgadas voando com o vento e a madeira que rangia em nossos pés. Deixamos o corpo em um dos feixes de luz enquanto esperávamos nas sombras, no canto do quarto, enquanto o doutor Robson voltava a consciência.

— Você acha que dará certo? – perguntei em um sussurro para Luke. Eu não conseguia ver seu rosto mas sabia que ele estava ao meu lado, poderia distinguir sua silhueta mas, definitivamente, não pude ver sua reação à minha pergunta. 

— Espero que sim. – foi o que ele respondeu. Uma tosse rouca me fez prender a respiração completamente. Encarei o corpo do médico enquanto ele acordava atordoado, olhando por todas as direções sem um foco, visivelmente desesperado e com medo. Com certeza estávamos mexendo com sua sanidade. 

— Confortável, doutor? – Luke perguntou. A voz grossa e ameaçadora fez o doutor Robson procurar a direção da voz. – Bem, se você é tão difícil para falar a verdade, vamos tentar algo novo. Quem sabe você possa mudar de ideia. 

— Conte, exatamente, o que aconteceu com meus pais. – perguntei dando ênfase a cada palavra, dando um passo para ficar na luz e visível para ele. 

— O que você está fazendo? – doutor Robson perguntou, sua voz trêmula só confirmava que o nosso plano daria certo.

— Tirando dúvidas. – Luke quem respondeu, em seu tom sarcástico. – Vamos lá doutor, você sabe que pode nos contar tudo. 

— Para depois morrer? Há. Prefiro morrer sem trair... 

— Você viveu muito bem depois de trair meus pais, não foi? 

— Eu não trai seus pais! – ele gritou deixando lágrimas deslizarem rapidamente em seu rosto. – Seu pais só eram uma pedra no nosso sapato e quando sumiram, foi proveitoso para nós. 

— Nós? – quis saber. 

— Os Alfas e eu. Por favor, eu não tive culpa com o que aconteceu com eles. Ninguém teve, eles simplesmente desapareceram. – doutor Robson chorava em desespero. 

— Eles foram confirmados como mortos! Para mim!

— Você sabe como acontece, quando você não volta. Você sabe que as chances são nulas. Seus pais não voltaram, tudo o que George fez foi dizer que estavam mortos. 

— Existe uma chance de estarem vivos? – perguntei confusa, um pouco tonta.  

— Seu pai nunca escondeu o fato de achar que haviam pessoas lá fora, que desejava poder ajudá-los mesmo sabendo que George não iria aceitar qualquer um vivendo entre os muros. Por favor Cora, me leve de volta. – ele suplicava. – Me leve de volta e eu prometo não contar a ninguém.

— Você acha que estão vivos? – repeti presa em meus pensamentos. Tentava encaixar sinais e sentimentos, mas nada parecia forte o bastante para ter certeza.  

— Como George construiu a Cidade? – Luke perguntou. O médico balançou rapidamente a cabeça em negação.

Mas eu estava longe de qualquer maneira. Estava pensando sobre meus pais e sobre o que poderia ter acontecido a eles. Mortos? É uma possibilidade, mas conhecendo eles da forma que eu conhecia, talvez haja esperança. Eu sabia o quanto papai gostava do mundo de antes, das árvores nos parques, a brisa do vento, o sol, a lua, o frio, o calor e não o estado em que o mundo se encontrava agora. E mamãe, tão guerreira como era, não iria desistir de si, de mim ou de nossa família.

Mas onde, eles poderiam está?

Voltei a realidade com gritos que me espantaram. O doutor Robson estava encolhido no canto da parede gritando para que parássemos. Nós não iríamos. Ele estava com medo do que via em sua frente, estava desesperado por sua vida e nós sabíamos que isto seria apenas uma forma de termos todas as respostas. Parker estava nas sombras segurando uma madeira enterrada nas costas de um homem, sim, era um homem. Um homem sem braços que rosnava e tentava se arrastar para o médico.

— Vamos lá doutor. – Tony disse ao meu lado. 

— Tudo bem, tudo bem. Eu digo. – o médico choramingou. – George era soldado na época, mas queria algo grandioso e quando soube o que os médicos estavam fazendo no laboratório, ele foi o primeiro a nos proteger dos que eram contra. Quando o vírus se espalhou, ele ficou no comando para salvar apenas quem ainda tinha chances. 

— Esse laboratório, ele ainda existe? – Luke perguntou. 

— É claro que existe! Onde você acha que o pai de Cora e eu trabalhávamos?

— Está no shopping, não é? – perguntei arriscando adivinhar qual seria sua resposta. 

— Por favor, tirem esse bicho daqui. Eu conto tudo, mas por favor.

Parker puxou o zumbi para longe do médico, porém, o deixou a vista apenas para que ele saiba que o 'bicho' ainda estará lá se não nos respondesse. O doutor Robson respirou fundo tentando se esticar com os tornozelos e pulsos presos, o que era parcialmente impossível.

— Sim, o laboratório está no shopping. Pelo menos parte dele, a que não foi destruída no incêndio. 

— Foi lá que você injetou sabe se lá o que em Cora? – Parker perguntou. 

— Sim, mas me deixe explicar. – ele falou rapidamente ao ver o zumbi se aproximar. – O laboratório são só salas com ferramentas para podermos criar novos remédios e eu apenas injetei um desses remédios que criamos, apenas isso. Eu ainda não sabia que ela poderia ter a cura e provavelmente não iria reagir se eu lhe desse algo mais forte. – encarei o médico chorando, desesperado e calmo apesar do momento lembrando do momento em que estava em seu consultório, quando antes de injetar em mim um remédio ele havia tirado o meu sangue.

— Você tirou o meu sangue! – gritei atraindo a atenção do zumbi que tentou se virar para mim. – Eu lembro que você tirou um pouco do meu sangue. – falei caminhando em direção a ele, passando pelo zumbi preso, ficando cada vez mais próxima ao médico. – Você disse que queria analisar meu sangue. Você iria refazer a Cura não é?

— Não! – ele gritou de volta. Agora nós dois tínhamos a atenção do zumbi que tentava se aproximar. – Eu não sabia do seu sangue ainda, só fiquei curioso por ser filha de Steven. Eu só queria ter certeza de que não tinha nada. Eu não iria criar a Cu...

— Cora. – Parker o interrompeu, balancei a mão para ele deixar o médico falar. 

— Eu não poderia recriar algo que seu pai roubou! 

— O que está falando?

— Cora. – Parker me chamou mais uma vez, me fazendo ignorá-lo.

— Meu pai não roubou nada! Se ele mesmo criou e...

— Com a minha ajuda! – gritou elevando sua voz mais do que a minha. Era claro que todo o medo e desespero se tornou raiva e decepção. – Eu o ajudava. Nós a criamos e ele desaparece com todo o meu trabalho! Ele não tinha o direito. – respirei fundo fechando os olhos por um instante. Toda aquela gritaria irracional não iria nos levar a nenhum lugar, só iria chamar atenção para zumbis.

— Tudo bem doutor, quem mais sabe sobre o meu sangue no laboratório? – ele me olhou erguendo as sobrancelhas em choque e eu sabia o motivo, a resposta daquela pergunta definiria seu destino ali, naquele quarto assombroso, com quatro crianças que brincavam de soldados justos.

— Cora! – Luke gritou me fazendo olhar, pela primeira vez para os três garotos que me olhavam em choque, assustados quando viram o zumbi se soltar da madeira em nossa direção.

Tudo pareceu em câmera lenta quando me virei para encarar o doutor, branco de choque ao perceber o que estava acontecendo atrás de mim. Fechei os olhos no momento em que deslizei para o lado quando senti rosnados perto demais, ouvi os gritos desesperados do médico e não tive coragem de abrir os olhos. Mãos me pegaram meus ombros me puxando para a porta, bem ao lado de Tony que observava tudo em choque assim como os outros. Parker ainda segurava a madeira em sua frente como se não conseguisse acreditar no que havia acontecido


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