TenTen olhava atentamente a vista que tinha da varanda do quarto de Temari, no qual estava hospedada até o momento.

Estava maravilhada com a visão que tinha. O pôr-do-sol em Sunagakure era realmente magnífico. Não se lembrava de ter visto algo tão belo assim em Konoha.

A luz emitida pelo sol dava a aldeia um tom dourado, era realmente maravilhoso.

Após algum tempo admirando aquele belíssimo pôr-do-sol, TenTen se deu conta de que a lua já havia aparecido e, para a sua infelicidade, ela estava cheia. Era inevitável olhar para ela e não se lembrar dele.

Onde estará Neji agora? Nos braços de Mayuri, talvez... Logo os dois se casarão, e aí eu o terei perdido, para sempre.

Riu de seu pensamento com amargura. Para perdê-lo, ele teria de ter sido seu algum dia, e isso nunca aconteceu. Ela nunca passou de uma companheira de time para Neji, nem sequer poderia se considerar amiga do gênio, afinal, os dois nunca foram muito próximos.

O simples fato de pensar nele, de olhar a lua cheia já era suficiente para sentir o coração pesar no peito. Nunca imaginou sentir tanta dor, mas o amava. O amava como nunca achou ser possível, e isso a estava destruindo, esse amor a estava matando aos poucos, e era exatamente por isso que ela precisava arrancá-lo de si. Precisava tirar Hyūga Neji de sua mente, mas, acima de tudo, precisava tirá-lo de seu coração. Sim, era exatamente isso que ela faria.

Depois dessa decisão, TenTen deu um longo suspiro e se afastou da varanda, indo até o futon que lhe fora oferecido por sua anfitriã.

Ao ouvir passos na sala, deduziu quê algum dos irmãos havia chego, então foi até o cômodo para receber quem quer que fosse. Chegando lá, viu que estava certa.

― Bem-vinda de volta, Temari-san! ― Cumprimentou-a com um sorriso.

― Olá, TenTen!  ― Respondeu com o mesmo entusiasmo ― Já jantou?

― Não. Estava esperando por você.

A mais velha a olhou desconfiada e então questionou:

― Estava me esperando ou se perdeu ao lembrar-se dele?

Como a família de Temari a recebeu, TenTen achou justo contar pelo menos para a moça o que a levou à Suna. A loira sabe de tudo, desde os sentimentos da morena até o motivo que a levou a partir de Konoha.

― Ambos, eu diria. ― Sentou-se no sofá com o olhar perdido ― Eu estava admirando o belíssimo pôr-do-sol que vocês tem aqui em Suna e, quando a lua apareceu, não pude evitar as lembranças. Aqueles olhos que tanto me perseguem em sonhos...

― TenTen... ― Se sentou ao lado dela ― Já considerou voltar à Konoha e enfrentá-lo?

― Para quê? ― Levantou-se bruscamente. Aquela não era uma opção ― Para ser rejeitada assim que ele me vir? Não, Temari, eu não posso. Não suportaria.

― E você já pensou que, talvez, ele também sinta algo por você?

A Mitsashi não teve outra reação senão rir. De onde a amiga tirou tal absurdo? Só poderia estar brincando!

― Temari tem razão, TenTen. ― Assustou-se ao ouvir a voz de Gaara, pois não havia visto o ruivo entrar ― Você não tem como saber dos sentimentos dele.

― Sim, Gaara-kun, eu não conheço os sentimentos de Neji-kun, mas conheço sua personalidade. Mesmo que, por algum tipo de milagre, ele viesse a sentir por mim o mesmo que sinto por ele, o gênio do clã Hyūga jamais iria contra uma ordem de Hiashi. Ele tem a obrigação de se casar com Mayuri-san.

― Neste caso, vocês dois serão infelizes pelo resto de suas vidas. ― O ruivo concluiu com pesar. Depois de todos esses anos e, principalmente, depois da Grande Guerra, todos em Konoha se tornaram grandes aliados e, por que não dizer, grandes amigos.

― Gaara-kun, muito obrigada por me dar asilo quando eu precisei. ― Fez uma reverência ― Não sei como lhes agradecer pela hospitalidade.

― Não há motivos para agradecer, TenTen. ― Temari sorriu ― É para isso que servem as amizades. Fique o tempo que precisar.

― Obrigada.

Depois de mais algumas palavras trocadas por eles, Kankurō chegou e então os quatro foram jantar.

O jantar seguiu cheio de conversas animadas e exposições de momentos embaraçosos da infância deles, que Temari fazia questão de contar. Depois de muitas risadas, broncas e rostos violentamente vermelhos, a morena ajudou Temari a tirar a mesa e lavar a louça, enquanto Gaara e Kankurō se retiraram para seus quartos.

― Acredito que a mensagem do Hokage chegue amanhã. ― A loira disse enquanto secava alguns pratos.

― Tomara. ― Sorriu fraco ― Acho que Kakashi-sensei não irá criar caso sobre minha transferência para cá. Eu já havia a solicitado antes de vir, então...

― E você não tem medo que ele conte a Neji onde você está?

― Não. ― Deu de ombros ― Ele só contaria se Neji-kun perguntasse, e ele não irá perguntar.

― Tem certeza? ― O olhar curioso da amiga fez a Mitsashi rir.

― Tenho, sim. Conheço Neji. Ele não irá perguntar.

Quando terminaram o trabalho na cozinha, ambas foram se preparar pra dormir. O dia seguinte seria cheio.

~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•

Assim que o dia amanhaceu os quatro já estavam prontos para partir. Sendo Kazekage, os afazeres de Gaara começavam cedo. Já Kankurō e Temari ficaram responsáveis por mostrar a TenTen suas tarefas caso Kakashi aprovasse seu pedido. A morena sabia que aquele seria um longo dia.

A mestra de armas de Konoha não parava de pensar nos amigos que deixou para trás, os únicos que sabiam onde estava, além do Hokage, eram Gai-sensei e Lee. Mestra de armas de Konoha... Será que ainda poderia se intitular assim? Provavelmente não. Sentiu um aperto no peito, perderia tudo o que sempre sonhou, o que tanto amou. E se aquela fosse a decisão errada? Estaria se condenando pelo resto da vida.

Talvez ainda pudesse desistir, voltar para casa, para seus amigos... Não! Já estava lá, não voltaria atrás. Não tinha uma família em Konoha, não havia ninguém a esperando... A única razão que tinha para voltar estava de casamento marcado com uma bela morena de olhos perolados.

Mas o que raios a Mitsashi estava fazendo, afinal?! Neji não era sua única razão para voltar! E seus amigos? Seu sensei? Eles eram sim sua família. Ficaram ao seu lado no momento mais difícil de sua vida, e como ela os agradecia? Virando-lhes as costas e indo embora na primeira oportunidade!

A confusão que se passava em seu interior era tão intensa que a moça nem se deu conta das lágrimas que molhavam seu rosto. Agradeceu à Kami por estar sozinha naquele momento. Detestava chorar na frente de outras pessoas, a fazia sentir-se fraca, e ela odiava aquela sensação.

Ouviu passos no corredor e tratou de enxugar o rosto, não queria ser vista assim.

Como se estivesse adivinhando, assim que secou as lágrimas a porta da sala em que estava se abriu, revelando Kankurō.

― TenTen-san... Ah, desculpe... Está tudo bem? ― Questionou, estranhando a expressão da mesma.

― Está sim. ― Forçou um sorriso, não queria deixar suas dúvidas e frustrações tão óbvias ― Queria me falar algo? Algum problema?

― Não exatamente. A mensagem do Hokage chegou.

― Mesmo? E o que diz? ― O coração disparou. Agora era a hora da verdade, não poderia voltar atrás.

― Ainda não sabemos. O ninja que a trouxe quer falar com você primeiro.

― Ninja? ― Os olhos castanhos se arregalaram. Por que Kakashi não havia mandado um pássaro?

Uma possibilidade lhe passou pela cabeça. E se o ninja em questão fosse Neji? E se ele veio a buscar? Repreendeu-se por esse pensamento. Hyūga Neji nunca viria atrás dela, por mais doloroso que fosse saber disso.

― Sim. Ao que parece, ele fez questão de trazer a mensagem. Está esperando por você na sala do Kazekage. ― Disse, virando-se para a porta e saindo da sala, sendo acompanhado pela Mitsashi.

Durante todo o curto trajeto até a sala de Gaara, TenTen ficou a se perguntar quem poderia ser esse tal ninja que trouxe a mensagem. Tendo excluído Neji ― que não devia sequer ter sido uma opção ― não restavam muitos palpites. Talvez Lee, ou quem sabe Naruto. Não conseguia pensar em mais ninguém.

Ao se encontrar diante da grande porta, Kankurō deu dois toques na mesma, ouvindo um abafado "entre" logo depois. Assim que adentraram o cômodo, viram Gaara e, de costas para eles, Naruto.

Quando o loiro se virou para os que acabaram de entrar, TenTen soltou o ar que havia prendido ― e nem havia se dado conta disso.

― Naruto... ― Tentou esconder a decepção em sua voz. A verdade era que queria muito que tivesse sido ele a vir. Queria que tivesse sido Neji ― Por que o Hokage mandou você para trazer uma simples mensagem?

― Oe, TenTen-chan. ― Deu um largo sorriso, como de costume ― Kakashi-sensei não me mandou trazer mensagem nenhuma, eu apenas vim fazer uma visita à Gaara e acompanhar um amigo.

― Que amigo? ― Estava visivelmente confusa, afinal, não havia mais ninguém no local.

― Eu. ― A voz que soou atrás de si fez seu sangue gelar.

Virou-se lentamente na direção do som. Seus olhos se encontravam mais uma vez arregalados. Lá estava ele, encostado ao lado da porta ― num ponto onde não seria visto por quem entrasse, apenas por quem estivesse de frente para a porta ― com os braços cruzados e os olhos fixos nela.

― Neji... ― Deixou escapar num sussurro.

― TenTen... ― Deu dois passos até ela e seguiu falando ― Acho que nós dois precisamos conversar.

― Não temos o que conversar. Apenas me entregue a mensagem de Kakashi. ― Tentou soar firme e indiferente, mas era difícil com seu coração tão descompassado. Por Kami, o que raios Hyūga Neji estava fazendo ali?!

― Sim, nós temos. Se, quando terminarmos nossa conversa, você ainda quiser a mensagem, eu lhe entregarei.

TenTen abriu a boca para protestar, mas foi interrompida por Kankurō.

― Naruto, Gaara, têm algo que eu preciso mostrar a vocês. Me acompanhem, por favor.

Gaara de imediato entendeu as intenções do irmão e tratou de se retirar da sala, já Naruto não compreendeu de cara e, por isso, precisou ser arrastado porta a fora pelo mais velho.

A Mitsashi não se deu ao trabalho de disfarçar o olhar assassino que lançou para eles antes de saírem.

― Pois bem, ― prosseguiu o Hyūga ― agora podemos ter nossa conversa em paz.

― Já falei que não temos o que conversar, Neji. Tudo o que eu tinha para lhe dizer, eu disse naquela carta. ― Caminhou até a porta na intenção de sair pela mesma, mas foi impedida pelo agarre forte do moreno em seu pulso. ― Mas o que...

― Talvez você não tenha nada para me dizer, mas eu tenho muito a lhe falar. ― Seu tom sempre tão calmo e seus olhos frios mascaravam muito bem todo o nervosismo e a apreensão que ele sentia.

― Está bem, Hyūga. ― Deixou escapar um suspiro cansado ― O quê de tão importante você tem para me dizer?

― TenTen, por que não disse aquelas coisas olhando nos meus olhos?

Por mais que soubesse que Neji falaria sobre a carta, por mais que soubesse o quão direto ele era, aquela pergunta a deixou surpresa. De certa forma, ela já havia sido respondida, não é mesmo?

― Acredito que esta pergunta foi respondida na carta. ― Virou-se de costas para ele. Não queria ter de olhar em seus olhos.

― Eu não acredito que você seja uma covarde. ― Sentiu ele se aproximar e fechou os olhos. O que ele pretendia com tudo aquilo? Vê-la implorar? Nunca!

― Mas é exatamente isso que sou! Eu preferi fugir à ter de enfrentar você! ― A esta altura os belos olhos castanhos já se encontravam marejados. Agradeceu à Kami por estar de costas para Neji.

― Você devia ter me dito.

― Para quê?! ― Virou-se para ele bruscamente, sem conseguir conter as lágrimas que agora escorriam por seu rosto. Ele queria ouvi-la falar? Pois bem, agora ele ouviria! ― Para ouvir você dizer o quão ridícula eu sou? Para que você rejeitasse meus sentimentos e jogasse na minha cara que está noivo de uma linda mulher que está à sua altura? Não, Hyūga, eu não preciso ouvir isso de você! ― Cuspiu cada palavra deixando um Neji completamente estupefato.

Sim, pela primeira vez Hyūga Neji encontrava-se atônito demais para formular uma resposta. Então era aquilo que ela pensava? Que ele faria pouco caso de seus sentimentos e jogaria seu noivado na cara dela? O moreno não poderia estar mais perplexo.

― Se é isso que acha que eu faria, não me conhece de verdade. ― O belíssimo par de olhos enluarados recairam sobre a Mitsashi, deixando-a inquieta.

― Que quer dizer? ― Quem se encontrava confusa agora era ela. E o que mais ele faria, senão zombar de seus sentimentos? Rejeitaria educadamente? Patético!

― Quero dizer que eu jamais faria isso. E eu não estou mais noivo de Mayuri. Fui franco com Hiashi-sama e ele entendeu, assim como o pai de Mayuri, que permitiu que ela ficasse com Reiji.

― E o que você faria, Neji? ― A irritação já se fazia presente em sua voz ― E por quê não está mais noivo? Mas o quê você está tentando dizer, afinal?!

Aquela era uma excelente pergunta. O que ele estava tentando dizer? Talvez esse fosse o problema, ele estava tentando dizer...

― Acho que... Acho que estou tentando dizer algo que não deve ser dito. ― Os orbes castanhos cravaram em si ainda mais confusos do que já estavam.

Sem dizer mais nenhuma palavra, Neji findou a curta distância que os separava e a beijou.

A Mitsashi demorou alguns segundos para corresponder devido a surpresa, mas quando finalmente se deu conta do que estava acontecendo, enlaçou o pescoço do Hyūga e correspondeu com vontade.

Eles pararam o beijo devagar e mantiveram as testas coladas, tentando voltar a respirar normalmente.

― Entendeu agora? ― Perguntou Neji, num sussurro.

― Aham. ― Foi tudo o que a Mitsashi conseguiu dizer, mas então lembrou-se de algo importante ― Neji, entregue-me a mensagem de Kakashi.

― O que?! ― Desfez o abraço e a encarou ― Por que quer o pergaminho?

― Preciso fazer o certo, Neji. Entregue-me.

Ele a olhou por alguns segundos sem compreender. Eles haviam se beijado, ela disse que entendeu... Então por que queria a maldita mensagem? Bem, se ela a queria, então ele lhe entregaria.

Neji pegou o pergaminho e entregou para TenTen, sem esconder sua insatisfação por ter de fazê-lo.

Ela sabia que o rapaz não entendia o porquê de ela querer a mensagem, mas ela precisava fazer o que era certo.

Quando estava com o objeto em mãos ela mais uma vez respirou fundo, olhou para o Hyūga e depois para o pergaminho. Ela sabia exatamente o que devia fazer.

Sem pensar duas vezes, a Mitsashi jogou o pergaminho numa lata de lixo a poucos passos deles, para a total surpresa de Neji.

― O que você fez?

― O que era certo. ― Ditas estas palavras, mais uma vez TenTen enlaçou o pescoço dele e, desta vez, fora ela quem o beijou.

Nada mais precisava ser dito. Naquele momento, palavras nada mais eram que meros detalhes, coisas sem importância.

Existem certas coisas que simplesmente não devem nem precisam ser ditas.

À propósito, se TenTen tivesse lido o pergaminho, teria visto que Kakashi negou o pedido de transferência.