Um Meme escrita por Mackernasey


Capítulo 1
Cuidado que eu moido


Notas iniciais do capítulo

Os spoilers dos avisos são até o final do arco do Festival Esportivo. O aviso de linguagem imprópria deve ser levado a sério, é todo mundo muito boca suja aqui.
Desejo a todos uma boa leitura!



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Ok, já era o suficiente de treino por hoje, ou acabaria se prejudicando. Tomou duas garrafinhas cheias e despejou a última sobre a cabeça, precisava aliviar o calor. Enquanto caminhava para dentro de casa e usava uma toalha para enxugar a mistura de suor com água, Bakugou deslizou os dedos pela tela de seu celular, formando a linha reta que era seu desenho de desbloqueio. Assim que foi conferir as mensagens, o garoto sabia que algo bem sério havia acontecido. Ou pelo menos algo grande.

De qualquer forma, com certeza não era nada normal o grupo da Classe A ter ficado com 347 mensagens, e subindo, nessas duas horas de treino diário que ele tinha acabado de terminar. Conferiu as escassas mensagens pessoais antes de ir mergulhar nas centenas do grupo. As primeiras sessenta não tinham nada demais, apenas discussões sobre uma prova, gente que perdeu o cronograma das aulas de novo, Iida lembrando do material necessário para um trabalho que aconteceria só na próxima semana e Kyoka mandando link de músicas que ninguém pediu. Então a conversa começou a tomar um rumo extremamente irritante. Assunto iniciado por Kaminari e alimentado por Mineta, todos começaram a fazer piadas com o Festival Esportivo, sendo a premiação de Katsuki o foco das gracinhas.

Bakugou já estava tendo um verdadeiro desafio de autocontrole para não explodir o próprio celular, então quando finalmente chegou na imagem que causara o alvoroço no grupo, ele teve que jogar o aparelho longe na grama para salvá-lo.

— Sem explosões perto da casa, Katsu-chan! — sua mãe berrou do andar de cima — Mais uma dessas e eu escondo a pimenta!

Por mais aterrorizante que aquela ameaça pudesse soar, as palavras da mãe pareciam fazer parte de outra dimensão quando atingiram o enfurecido Bakugou. Aquilo não podia ser verdade, nem mesmo Kaminari com o cérebro torrado teria coragem de fazer uma imagem daquelas, quanto mais mandar para todos da sala! Katsuki juntou o celular do chão e continuou a ler as mensagens enquanto pensava como aquele pikachu de bosta seria um homem morto no dia seguinte. Todavia, quanto mais descia na conversa, menos claro ficava quem tinha editado, de quem tinha sido a ideia, quem decidiu mandar no grupo e se era realmente Kaminari usando o próprio celular naquele momento.

O garoto começou a ficar enjoado de ler tudo aquilo, não queria mais saber, queria ver todos eles mortos! Já não estava nem um pouco fácil de lidar com o resultado do Festival Esportivo, com a reação da mídia ou com as piadas na internet e em programas de humor, e agora isso?! As pessoas que tinha que conviver todos os dias... gente que, mesmo que ele não tivesse nenhuma real ligação forte, eram os mais próximos a ele. Bakugou nunca se importou muito com essas coisas, sempre vendo os outros como meros “personagens secundários” em sua “jornada heróica”, no entanto não se sentia nem um pouco bem em ser motivo de tanta piada, em ser tão ridicularizado.

Mandou uma mensagem “Vocês realmente não têm medo da morte, não é mesmo?” e abandonou o celular pelo resto do dia, ficando tão atipicamente silencioso e quieto que sua mãe checou se ele não estava doente diversas vezes.

Naquela noite, Katsuki dormiu chorando… de puro ódio, é óbvio!


 

A falta de ânimo era tão forte que ele quase faltou aula, mudando de ideia apenas por não estar com saco pra aguentar bronca da mãe. Caminhou tão lentamente para a U.A. que por pouco não perdeu todos os ônibus que chegavam a tempo do início da aula, sendo o último a chegar na sala. De frente para a porta da Classe A, Bakugou escutava alguns comentários maldosos sobre si se sobressaindo em meio às conversas, mais barulhentas e caóticas do que o usual. Suspirou, na intenção de se preparar para entrar, porém quando começou a se movimentar para entrar, sentiu que não foi o suficiente, dando outro suspiro profundo quase que involuntário. Retomou o ódio na cabeça e finalmente entrou na sala fazendo uma explosão barulhenta para o teto tanto para chamar atenção quanto para intimidar e amedrontar, junto com sua carranca de “estou plus ultra puto”.

— Calem a boca, seus pedaços de merda insignificantes! — berrou, instituindo o silêncio e fazendo muitos se encolherem ou até realmente se esconderem, como Mineta fez — Eu ‘tô pouco me fodendo ‘pra quem teve a ideia, quem editou, quem disse ‘pra mandar no grupo e quem realmente mandou… Se a pessoa me tirar do sério, eu vou fazer ela se arrepender de ter nascido!!! — Deu uma pausa dramática para poder observar as reações individuais — Sabendo que isso está claro e bem estabelecido… Vão tomar nos seus cus! — Mostrou o dedo do meio e sentou em seu lugar.


 

O dia seguiu num clima extremamente tenso, e todos o evitaram ao máximo nas atividades práticas e durante os intervalos. Entretanto, mesmo que Bakugou direcionasse um olhar de morte e destruição para qualquer um que lhe encarasse ou só até mesmo fosse notado o olhando, quem se importava em observá-lo discretamente podia ver profunda tristeza em seus olhos… Ou talvez fosse Eijiro apenas imaginando coisas. Talvez Bakugou só estivesse putasso mesmo. Provavelmente iria esquecer a situação assim que o meme morresse, até porque era super difícil de imaginar Katsuki dizendo algo como “cuidado que eu moido”, por melhor que fosse essa ideia… Kirishima tentou afastar esse pensamento o mais rápido possível antes que ele trouxesse toda a dor consigo.

Com certeza aquele nuance de tristeza quebrava um pouco a imagem durona e máscula que Kirishima tanto admirava em Bakugou, mas adicionava um novo charme, era intrigante, atraente e… perigoso. “Que bosta”, ele pensou, “pareço uma menina que lê Crepúsculo falando do crush” e riu de si mesmo, dando um sorriso infeliz. É, ele tava muito fodido. Mas fazer o quê? Bakugou era uma delícia! … E um cuzão insensível violento, claro. Isso aí. Totalmente fodido.

De qualquer modo, Kirishima não podia fingir que não tinha reparado no olhar quebrado de Katsuki. Aquele meme era engraçado pra caralho, porém foi muito cruel. Então, por mais que lhe rendesse uma enxurrada de xingamentos e algumas explosões na cara, ele precisava falar com o garoto explosivo depois da aula.


 

Bakugou começou a guardar suas coisas antes mesmo do final da aula, o que arrancou alguns olhares de reprovação do professor, mas ele estava cagando para isso. Assim que o sinal tocou, ele levantou e começou a caminhar para a saída, empurrando a multidão grosseiramente, fazendo Kirishima começar a entrar em pânico porque não conseguiria falar com ele. Eijiro não queria chamar Bakugou na frente de todos, porém não podia deixar ele sair e… A!!!

E então, como uma resposta divina, ele estava lá. Preto, brilhante e esquecido. Era tanta sorte que Eijiro mal conseguia acreditar.

— Bakugou! — O esperado olhar mortífero lhe foi dirigido e Kirishima não poderia estar mais feliz por aquele clima de extermínio — Você esqueceu seu celular!

Katsuki parou bem no meio da passagem, travando a pequena multidão que queria sair.

— Que bosta! Só… só joga aqui! — Bakugou estava desesperado para vazar daquele lugar de bosta e descontar o ódio no treinamento.

— ‘Tá doido? Vai que dá merda?! — O mundo deu uma oportunidade para Kirishima e ele não iria largar — Deixa o pessoal sair e vem cá pegar… Ainda não ajeitei minhas coisas e tal…

Bakugou fez uma careta, mas aceitou, para o alívio de Kirishima. Assim que a sala estava vazia, o loiro entrou e rapidamente esticou a mão para pegar o celular. No entanto, Kirishima pôs sua mão sobre a mão alheia, fazendo ele lhe olhar nos olhos, confuso. O coração de Eijiro disparou ao realizar o toque, mas manteve a coragem firme, estava preocupado com o babaca que amava.

— Preciso conversar contigo — declarou, sério, ainda mantendo as mãos unidas.

Normalmente, Bakugou teria-lhe mandado tomar no meio do cu, se foder e ir chupar uma rola suja, porém a seriedade e determinação nos olhos de Kirishima eram tão intensos que não lhe restou opção senão ceder. Sentou-se numa cadeira aleatória e a arrastou ruidosamente para perto da mesa de Eijiro.

— Desembucha! Quero ir logo ‘pra casa! — Kirishima estava ficando cada vez mais preocupado com o olhar frágil e distante do amigo.

— Que você está bravo com a piada de mal gosto da galera, você deixou bem claro. Mas eu queria realmente saber se você ‘tá bem, como você ‘tá, porque você ‘tá bem estranho e eu não pude deixar de reparar nisso. — Kirishima realmente tentou escolher bem as palavras, contudo, a situação não podia ser mais complicada e ele já estava se sentindo sortudo demais por Bakugou ter aceitado conversar com ele tão facilmente.

— Ah, você ficou preocupadinho? — Aquilo doeu — Que bosta, hem? — Aquilo também doeu — Eu ‘tô super bem. E mesmo que não estivesse, não vai ser você que vai conseguir fazer algo pra resolver isso! — Aquilo doeu muito mais — Patético...  — Aquilo foi a gota d’água.

— Sim! Eu fiquei preocupado! — Kirishima gritou, as palavras explodindo pra fora, sem controle, os olhos começando a encher — E sabe por quê? Porque você ‘tá o dia inteiro com uma cara de cu de quem ‘tá se sentindo um lixo, e eu sei como é se sentir assim, e eu me importo com você, por mais cuzão que você seja comigo! — Ele se arrependia de cada sílaba no momento que saíam de sua boca, porém não conseguia pará-las — Eu sempre tento falar contigo, te chamar pra almoçar junto, lanchar junto, fazer lição, porque eu gosto muito de você, eu te admiro pra caralho e, olha só, você ‘tá sempre sozinho. Porque ninguém gosta de você! Porque você é um babaca com todo mundo! Eu passei praticamente a madrugada inteira discutindo no grupo, te defendendo, dormi três horas essa noite por causa disso. Então se seu orgulho é tão frágil que não posso ser bacana contigo porque eu te amo, então vai se foder!

— Você me ama? — Eijiro, que ainda estava puto, ficou ainda mais irritado porque aparentemente essa tinha sido a única parte que o outro escutara.

Nenhum dos dois reparou em que momento da discussão tinham levantado. Naquele momento, um súbito de coragem, raiva e impulsividade correu pelas veias de Kirishima. Segurou Bakugou pela roupa, os braços endurecidos pela individualidade, realmente na intenção de socá-lo. Era o que queria. Era o que Bakugou merecia. E então ele fez. Kirishima beijou Bakugou enfurecidamente.

— Sim, eu amo. E vai se foder! — Kirishima deu as costas para Bakugou e saiu da sala, apenas parando um pouco na porta para dizer: — Até amanhã, babaca… — Virou o rosto para encarar o outro — Fica bem.

Enquanto os passos de Kirishima no corredor ecoavam cada vez mais distantes, Katsuki se recuperava do choque. A imagem não interessava mais. O meme idiota não o irritava. Muito menos importavam quaisquer que fossem os responsáveis por aquilo. Ela era até um pouco engraçada, não? Bakugou sorriu e ele estava pouco se fodendo por quê.


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Notas finais do capítulo

Algumas coisas a se explicar:
a) No momento que se passa a fic, Kirishima já aceitou que tem um crush pelo Bakugou, mas ainda não sabe muito bem o que fazer com isso. Eu resolvi por dessa forma porque você chuta um matinho e saem correndo 80 fanfics que retratam a etapa de "ele é muito legal, admiro ele muito. É, admiração", "Ah, isso não é paixão... né?" e "Não! Eu não posso estar apaixonado!!", mas se vê pouco do "como lidar com essa porra?".
b) Os xingamentos que o Bakugou leva no final são mais do que merecidos, e o Kirishima só perdeu a paciência porque o Bakugou não foi simplesmente agressivo, como já é esperado, ele foi cruel e ofensivo, ele atacou o Kirishima com as palavras, fez pra machucar (ou, no máximo, pouco se lixando se ia machucar). Lembrem-se que o Katsuki é um babaca com todo mundo (Kirishima incluso) o anime todo, e, mesmo que nós que lemos a fic saibamos que ele tá mal com toda essa história de meme (o Kirishima também sabe), todas as ações dele para com os outros foram violentas, cruéis e cuzonas, então o que ele mais precisa é um choque pra acordar pra realidade e aprender a ser uma pessoa decente.
c) O Bakugou poderia com certeza tem desviado ou impedido o beijo, até poderia ter impedido de Kirishima se aproximar tanto e de ter agarrado ele pela roupa, mas o choque primeiro das palavras do Kirishima e depois de entender o que o Kirishima estava pra fazer tiraram completamente a ação dele.

Eu amo esse shipp, mas quero ver o Kirishima regulando o Bakugou até ele baixar a bola e ser um bom garoto (legal, agora tive ideia pra fic BDSM, me segura).

Enfim, espero que tenham gostado!
Beijos e até a próxima fic!