— Ei Annie, não é a hora certa para esse tipo de brincadeira - eu disse assustado

— Para de me chamar assim, ENFERMEIRA, ENFERMEIRA - ela chamou uma enfermeira que logo entrou na sala

— Sim ? o que você... Ah meu Deus! você acordou! - ela disse e se aproximou de nós - vou chamar um médico agora mesmo para vê-la

— Antes disso chame um segurança, por favor - ela disse me olhando com repulsa, confesso que senti uma dor enorme no peito ao ver Annabeth me olhando assim

— Por que ? - perguntou a enfermeira

— Esse garoto estranho tentou abusar de mim - ela disse

— Mais querida, ele é...

— Annie, vamos, isso não tem graça - eu disse pegando suas mãos - sou eu, Percy

— Eu nunca vi você em toda a minha vida, agora saia imediatamente daqui - ela disse puxando suas mãos 

—Annabeth, eu...

— SAIA - ela disse arremessando o vaso de flores na minha direção, isso foi aterrorizante, porém não se compara ao olhar que ela direcionou para mim, era uma mistura de medo, raiva, confusão... de tudo, menos amor

— Tudo bem, estarei lá fora - eu disse

 Fiquei um bom tempo do lado de fora da sala enquanto o médico fazia alguns exames em Annabeth, tentei pensar em outras coisas, estava tudo bem, ela estava acordada, isso é o que mais importa. Provavelmente ela só está confusa, é muita coisa para processar, vai ficar tudo bem, sei que vai.

 Fiquei tão perdido em meus pensamentos que não percebi que o médico já havia saído da sala.

— Perseu, por favor, me acompanhe - ele disse e voltou para dentro do quarto, onde Annie parecia estar em um estado total de choque

— Annabeth - eu corri até ela logo que vi seu estado, e dessa vez, ela me olhou com medo

— Eu... eu conheço você ?

— Claro que sim Annie, o que está havendo ?

— Ela perdeu a memória, basicamente, ela não se recorda dos seus últimos dois anos, dois anos e meio

 Isso me atingiu como um soco, eu não podia acreditar, nesse tempo ela ainda morava em San Francisco com seus pais, ela não me conhecia nem ninguém de New York, e o pior, eu não sei nada sobre ela nesse tempo

— E isso é temporário, doutor ? a memória dela vai voltar ? - acho que isso soou mais como um apelo do que como pergunta

— Infelizmente, não temos como saber - enquanto ele falava, Annie apenas olhava para a janela, para o espelho em sua frente, se vendo de repente mais velha, em um lugar desconhecido - o impacto da batida foi muito forte, ela voou pelo para-brisas violentamente, sofreu muitos danos físicos, porém nada permanente, só que os danos neurológicos... foram muito grandes, infelizmente, nosso hospital não tem uma estrutura adequada e nem tão avançada para tratar de casos assim, e como Annabeth é menos de idade, pela lei, sou obrigado a contactar seus pais para verem o que é melhor para ela nesse momento

— Vocês ainda não falaram com eles ? - eu perguntei

— Na verdade falamos, eles disseram que ela estava em boas mãos e para retornarmos com alguma novidade sobre ela, porém estavam cientes de tudo

— E não vieram vê-la ?

— Isso já não é da minha conta, agora se me der licença - ele disse e saiu, deixando apenas Annabeth e eu no quarto

— Como se sente ? - eu disse, sei que não é a melhor pergunta, mas não sei o que dizer, eu basicamente não sei quase nada sobre a Annabeth de dois anos atrás

— Confusa, deslocada, com medo... envergonhada - ela disse essa última sorrindo de leve para mim

— Tudo bem, acredite, eu acordei bem mal também -  eu disse sorrindo e me sentando na beirada da cama

— Disseram que você estava comigo no momento do acidente

— É verdade, nós saímos para comemorar seu aniversário

— Bom, que belo aniversário

— É algo que não vamos querer lembrar, né ? - eu disse e logo percebi a coisa estúpida que eu falei - desculpe, é que... ainda não me acostumei com isso

— Eu também não - ela disse e suspirou - algo me diz que somos mais do que amigos, certo ?

— Sim, na verdade, estávamos comemorando tanto seu aniversário, quanto o nosso de 7 meses juntos - eu disse meio envergonhado

— 7 meses ? - ela disse triste - não consigo me lembrar de nada disso, do acidente, de você, e nem de me mudar para New York, eu nunca tive vontade de morar aqui, já visitei ano pass... a alguns ano, e não me conquistou muito

— Isso é engraçado, você vive dizendo o quanto você ama essa cidade - eu disse sorrindo, tentando esquecer o a parte que ela disse que não lembrava de mim

— Não me imagino gostando tanto desse lugar, o que eu disse que mais gosto aqui ?

— Bom, você adora a arquitetura daqui, diz que é inspiradora, na verdade, você sonha em cursar a faculdade aqui na NYU de arquitetura e...

— Espera... arquitetura ? - ela disse

— Sim, você ama isso

— Não, eu nunca me interessei por isso, eu amo arte, eu e minha irmã Rachel sonhamos desde pequenas em sermos artistas

— Você nunca comentou isso comigo 

— Talvez você não me conheça tão bem quanto pensa - ela disse 

— Annie, eu estou tentando lidar com isso, mas...

— Já falei para você não me chamar assim, somente Rachel, meus pais e Luke podem falar assim comigo, eu não tenho essa intimidade com você - ela disse nervosa, depois suspirou e segurou minha mão - desculpa, é que realmente me incomoda quando alguém que eu não conheço me chama assim, pode me dar licença por favor ? acho que já ouvi muita coisa hoje, preciso dormir um pouco 

— Ei, Anni... Annabeth, pelo menos me escute, me deixe falar sobre...

— Eu não quero saber, Percy, desculpe, mas eu não conheço você, e pelo que você me contou até aqui, você também não me conhece, como nós namoramos durante 7 meses e eu não lhe contei nada sobre mim ? - ela disse enquanto arrumava suas cobertas para dormir, e eu me levantei em silencio - olha Percy, me desculpa, você é realmente muito bonito e eu realmente tenho bom gosto, e você parece ser bem legal - ela disse sorrindo - mais por favor, não espere eu ser uma pessoa que eu não sou, eu não faço ideia de como é a Annabeth que você conheceu, mais é assim que eu sou agora, entenda isso por favor, não quero magoar você, só não posso fingir ser quem eu nem mesmo me lembro que eu era

— Eu entendo, agora descanse, estarei la fora se precisar - eu disse, porém, sem olhar em seus olhos, que eu já não conhecia mais

— Obrigada - ela disse e se ajeitou na cama - a propósito - ela disse com humor quando eu já ia sair do quarto

— Sim ? - eu disse me virando

— Quando você entrou aqui da primeira vez, você me chamou de um jeito engraçado - ela disse sorrindo - o que foi que você disse mesmo ?

— Ah, eu te chamei de Sabidinha 

— Por quê ? - ela disse rindo

— É só o modo como eu te chamo, você sempre deu uma de sabe-tudo, isso me irritava bastante, e quando a gente começou a sair, eu sempre te dizia que você é minha sabidinha

— E eu ? - ela disse com os olhos brilhando

— Você também tinha uma espécie de apelido para mim, você me chamava de Cabeça de Algas - eu disse rindo coçando a cabeça e Annabeth começou a rir

— Cabeça de Algas, por que ? 

— Não faço ideia

— É curioso, e ao mesmo tempo interessante - ela disse pensativa

— O que ?

— Desde pequena, exceto "Annie", eu nunca deixei ninguém me apelidar, de nada

— Bom, acho que... você foi mudando com o tempo

— Acho que sim - ela disse me olhando nos olhos

— Durma bem Annabeth

— Obrigada Percy - ela sorriu e se virou

 Sentei no banco da sala de esperas e não me aguentei. Por que nada da certo para mim ? tudo de ruim acontece comigo. Ela é meu farol, minha luz, como posso ficar sem ela ?

 Tentei segurar as lágrimas, mais foi em vão, apenas agarrei meus cabelos e chorei desoladamente, até soluçar, deixei tudo sair, toda as mágoas do acidente, da minha vida, Gabe, mãe, pai, Tyson, Annie, eu sabia que estava chorando muito alto, ela não estava dormindo e com certeza podia me ouvir, porém não consegui segurar, não consegui reprimir, apenas chorei.

 E torci para não passar de um pesadelo.