— AAAAAAHHHHHHHH - só consegui gritar ao acordar, o que houve ? onde eu estava ? cadê a Annabeth ? meu corpo inteiro explodiu de dor, vi vários soros em meu corpo e meu braço esquerdo engessado

 Não conseguia enxergar direito, tinha muita luz, eu só queria sair correndo dali, ver minha sabidinha que...

 Annabeth, o carro, o acidente...

 Tudo veio a tona, como uma pancada, fiquei quieto, tentei me lembrar de tudo, lembro de um corpo... UM CORPO, estirado bem a minha frente, não vi de quem era, estava tudo escuro, tentei me lembrar de mais coisas.

 Estava em um transe tão profundo que quase não vi uma mulher entrar no quarto: quem era ? mãe ? não. Annie ? não. Devia ser uma enfermeira, já nem sei mais. 

 Ela fez algo com o tubo que ia até meu braço, eu a olhava, porém quase não a via, ela não me importava, nem sei descreve-la, acho que era loira, não importa. Algo que ela pois no tubo, um líquido me deixou cansado assim que chegou ao meu braço, eu não quero dormir, não posso...

 Acordei, mas era como se ainda estivesse dormindo, me sentei na cama e fitei a parede, por quanto tempo estou assim ? não sei. Só sei que fui despertado por uma voz desconhecida, era a mulher daquela hora:

— Boa noite senhos Jackson - disse ela

 Apenas a fitei

— Como está se sentindo ?

— ...

— Está com fome ?

— ...

— Deseja algo ? - vi que ela estava ficando um pouco nervosa, não do tipo brava, e sim assustada mesmo - vou deixá-lo descansar, precisar de algo me...

— Onde ela está ? - eu disse, quase não reconheci minha própria voz pelo seu tom

— Quem ?

— Annabeth, cadê ela ? Onde está a Annabeth ? - era como se eu tivesse despertado, tentei sair da cama mais senti muita dor, meu braço estava quebrado, então voltei a me sentar - CADÊ ELA ? SOFREMOS UM ACIDENTE, NÃO FOI ? ONDE ESTÁ A ANNIE ? - eu disse mais urgente, morrendo de dor

— Senhor, peco para que...

— NÃO ME MANDE ME ACALMAR, CADÊ ELA ? EU QUERO SABER SE ELA ESTÁ BEM

— Ela está em coma, Percy - disse uma garota que apareceu logo atrás da enfermeira, Thália - que bom que acordou cabeça de algas - ela disse e veio me abraçar, o que eu deixei, afinal, não é todo dia que se abraça Thália Grace

— Thália, v... você disse que a Annie... - comecei logo que ela se afastou de mim, podia jurar que a vi enxugando uma lágrima disfarçadamente

— Vou deixá-los a sós - disse a enfermeira saindo do quarto e fechando a porta, Thália se sentou na poltrona que ficava ao lado da minha cama, foi só nesse momento que reparei no quarto que eu estava, era grande, bonito, completamente branco e vazio

— Hoje é dia 24 de julho, já tem quase duas semanas que vocês sofreram o acidente - começou Thália, era a primeira vez que ouvia sua voz calma e gentil - um motorista bêbado bateu em vocês por trás, ele não resistiu aos ferimentos

— E Annabeth ? 

— Disseram que ela estava sem o cinto... - e então eu me lembrei

" - Você não existe - ela disse chorando

  - Se eu não existisse, quem faria isso ? - eu respondi limpando uma lágrima dela, e ai ela tirou o cinto para me beijar e... "

— ... quando o carro bateu em vocês, ela saiu voando alguns metros pelo para-brisas - continuou Thália

 Então foi o corpo dela que eu vi estirado no chão

 Não conseguia respirar direito, meu peito ficou pesado

" Não pode ser,  não pode ser, não pode ser, não pode ser " eu tentava repetir para mim mesmo, era um sonho, só um sonho ruim.

 Senti uma mão segurar a minha, ela estava de luvas então não posso dizer como era seu toque, mas era caloroso, abracei Thália e chorei em seus ombros, já não ligava mais para minha dor, meu mundo caiu ali, e ao fechar os olhos, apenas via a mulher que eu amo, estirada no chão ensanguentada, e minha mão inutilmente estirada tentando alcançá-la.

— E depois ? - eu disse vários minutos depois, ao me "acalmar"

— Vocês foram trazidos imediatamente para cá, disseram que você havia quebrado três costelas e o braço esquerdo, além de algumas outras faturas, porém nada de alarmante, já Annie tinha vários outros ferimentos sérios e lesões, ela está em coma induzido e não se sabe ao certo se acordará, e se acordar poderá ter sequelas graves, só depende dela agora

— Eu preciso vê-la

—Impossível, você não te condições para sair desse quarto agora, tente ser paciente Percy, ela vai voltar para nós - e ela sorriu pela primeira vez desde que entrou no quarto

 Algumas semanas se passaram, na verdade várias semanas se passaram ao meu ver, soube que logo receberia alta e poderia visitar Annabeth, que continuava em coma, porém, sua situação havia se estabilizado. Só recebia visitas de Thália, Nico, Grover e (raramente) minha mãe, que não veio me ver no dia da alta.

— Ei, Percy, vá com calma - disse Nico ao me ajudara sair da cama

— Já me acalmei por tempo demais aqui, preciso vê-la - eu disse

— Disseram que amanhã você iria já poderia visitar ela, se acalme até lá - disse Grover

— Fala meninos, ainda estão ai ? - disse Thália aparecendo no quarto, ela chegou para me cumprimentar e foi visitar Annabeth

— Ele não para quieto - disse Nico 

— Eu quero sair daqui logo - disse eu - Thália, como ela está ?

— Está melhor, ela já não precisa de aparelhos para respirar

— Sério, isso é incrível - disse Grover e eu apenas suspirei feliz

 Minha felicidade nesse dia foi temporária, assim que abri a porta de casa fui surpreendido com uma discussão, mamãe e Gabe como sempre, minha Mãe me viu e me deu um abraço rápido e disse que era bom eu estar em casa e que prepararia algo bom para o jantar dessa noite, e saiu, apenas isso.

— Fala pirralho, como vai a pata ? - disse Gabe se sentando no sofá e abrindo uma cerveja, em "pata", ele se referia ao meu braço quebrado

— Como se você se importasse - disse indo para meu quarto, e ao abrir, me deparei com uma mesa de pôquer com várias cadeiras, garrafas de cerveja, vodka e whisky espalhadas pelo quarto, além de bitucas e maços de cigarro, várias peças de roupa que claramente não eram minhas jogadas em toda parte, e um cheiro horrível, cheiro de Gabe

— Aproveite que chegou e limpe essa droga de quarto, tive que jogar várias tralhas fora para as noites de jogos, seu quarto não é nada mal, dê logo o fora dessa casa para mim pegar ele logo - disse gabe rindo

— VOCÊ TÁ DE SACANAGEM COMIGO SEU PORCO IMBECIL ? QUE PALHAÇADA É ESSA ? EU ESTAVA NO HOSPITAL E VOCÊ ESTAVA DANDO FESTAS NO MEU QUARTO ? PORQUE VOCÊ NÃO PEGA ESSAS SUAS COISAS NOJENTAS E ENFIA LOGO TUDO NO... - ouvi uma explosão, Gabe havia atirado a garrafa de cerveja em mim e vários cacos de vidro voavam na minha direção, me cortei no rosto, braço, bariga e perna, além de me encharcar com a cerveja, um dos cacos perfurou uns 5 cimômetros abaixo do meu olho esquerdo, Gabe veio para cima de mim e me deu um tapa, cai com tudo no chão por cima do meu braço esquerdo, que continuava engessado, gritei de dor e sucumbi as lágrimas

— Olha aqui seu moleque - disse gabe me levantando pelos cabelos - não house nunca mais falar comigo nesse tom novamente, entendeu ? se não eu mando você para o hospital novamente, com muito mais do que um braço quebrado, entendeu ?

— Vai se ferr...

— PERCY!!! - ouvi minha mãe exclamar, ela apareceu na cozinha e me olhava furiosa - peça desculpas ao Gabe imediatamente

— Você não tá falando sério 

— Nunca falei tão sério na minha vida - ele me olhou fixamente enquanto eu tirava os pedaços de vidro do meu corpo

— Olha só o que ele...

— Você o ofendeu - ela me interrompeu séria

— Desculpas Gabe - eu disse olhando ele, sinceramente, eu queria chorar

— Nunca mais house me desrespeitar dentro da minha casa, ou eu acabo com você e te jogo na rua seu moleque - ele disse e olhou para a minha mãe - o que está fazendo ai parada ? vai me buscar outra cerveja agora

— Claro querido, e Percy, arrume seu quarto e essa bagunça toda aqui, depois tome um banho e venha jantar - ela disse e saiu

 Na manhã seguinte, logo que acordei me dirigi para o hospital, estava totalmente exausto, terminei de limpar meu quaro muito tarde, além de descobrir que várias coisas minhas, incluindo materiais escolares, foram jogados fora.

 A moça da recepção pensou que eu fosse lá para me tratar, já que estava todo cortado e machucado, mas disse para ela que fui pegar algo na prateleira com apenas um braço e cai e me cortei, ela acreditou.

 Peguei um buque de flores e me dirigi ao quarto de Annabeth, a enfermeira disse que ela não tinha nenhuma visita agendada para hoje, então poderia ficar o dia lá com ela, fui até seu quarto e ao abrir a porta, acabei deixando o buque cair

 Ela estava lá, sentada, olhando para a janela, o sol iluminando seus cabelos dourados, ela era com certeza a mulher mais perfeita desse mundo, se não fosse por ela, eu já teria sucumbido faz tempo, ela que me dava forças para continuar de pé, para não desistir, para não me entregar, talvez, sem ela, eu já nem estivesse mais aqui.

— Annie ? - eu disse, ela me olhou, seus olhos cinzas pareciam cansados, ela parecia confusa, me olhou de um jeito engraçado e disse:

— Oi, sou eu mesma

— Eu sei que é - eu disse e corri para abraça-la, a apertei em meus braços e ela não retribuiu, na verdade, ela se encolheu assustada - ah, me desculpe, está com dor ?

— Não - ela me olhava curiosa

— Que ótimo, estou tão feliz que você está aqui comigo sabidinha -segurei seu rosto e fui beijá-la porém ela se afastou rapidamente

— Sabi o que ?

— Annie, está tudo bem ?

— Por quê você continua me chamando assim ?

— O que ? - eu disse, agora quem estava assustado era eu, ela me olhou, dessa vez com raiva e disse:

— De uma vez por todas, quem é você ?