Inveja escrita por anabfernandes8


Capítulo 33
Consequências


Notas iniciais do capítulo

Ai, gente, primeiramente bom dia, boa tarde ou boa noite pra vocês! Venho aqui com a maior cara lavada SEIS MESES DEPOIS. Nossa, como o tempo passa rápido, juro que nem me liguei que tinha passado tanto tempo viu! Mas enfim, é meio que por uma causa boa que tô sumida há tanto tempo. Eu não sei se vocês lembram que eu comentei que tinha tentado uns processos seletivos, deu errado e fiquei mal e tal. Bom, em agosto finalmente deu certo e finalmente comecei o mestrado, enfim, o bem venceu. E esse mestrado tava (e ainda tá) consumindo todas as minhas energias.
Mas tirei um tempinho pra escrever e vim com um novo capítulo. Desculpa pela minha falta e prometo compensar vocês nos próximos! Sem mais delongas, boa leitura a todos!



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Chegar em casa não fez com que o humor de Sasuke melhorasse. Ele ainda se sentia extremamente chateado com as falas de TenTen, principalmente quando ela colocou seu relacionamento em pauta, expondo, inclusive, algumas das suas inseguranças em relação a isso. Talvez amanhã ele fosse capaz de considerar aquilo com mais calma, mas, naquele momento, não queria mais pensar na situação. 

Mesmo se sentindo daquela forma, ainda havia algo a ser feito antes de deitar e esquecer tudo aquilo: ele precisava falar com Reiwa sobre a Academia no dia seguinte. Durante todo o caminho, o menino não havia falado absolutamente nada, como se estivesse sentindo que não era o momento correto para conversar. Sasuke se sentia péssimo por tê-lo envolvido naquilo, mas suas emoções foram expostas antes mesmo que ele pudesse lembrar que havia outras pessoas na mesa.

O Uchiha mais velho sentou-se no sofá, trazendo o pequeno para ficar exatamente à sua frente. Os olhos negros pequenos lhe olharam com atenção e uma nota de receio. Tentou suavizar ao máximo sua voz para falar com o filho; ele não tinha culpa do que acontecera, então não fazia sentido que sofresse as consequências de erros alheios. 

“A partir de amanhã, você vai começar a frequentar a Academia Ninja.” Quando Sasuke percebeu a confusão naqueles olhos tão parecidos com os seus, ele suspirou, lembrando a si mesmo que, por mais esperto que a criança fosse, haviam termos e coisas que ele ainda desconhecia. “A Academia é um centro de treinamento para futuros ninjas. Entre conhecimentos básicos, ferramentas ninja e chakra, você vai aprender de tudo um pouco.”

“Não vamos mais brincar com a takô?” O ninja sentiu-se um momento de alívio ao constatar o quanto as preocupações do filho eram simples. Sabia o quanto ele estimava os momentos em que brincavam com a pipa. 

“Ainda podemos brincar nos finais de semana. Na Academia também tem muitas atividades legais que você pode fazer com os seus colegas.” Ele se lembrou com humor das coisas que fazia na academia quando tinha aquela idade. Sua família ainda era toda viva naquela época e lembrava-se de preferir passar o tempo com o irmão do que com os colegas de turma, mesmo que Itachi insistisse que ele deveria fazer amigos. “Você também vai aprender a se defender. É o que nós fazemos nos treinamentos.”

Aquela informação pareceu atiçar a curiosidade de Reiwa. Sua expressão de medo foi substituída por algo similar a euforia.

“Então eu vou poder ficar forte igual você?” O pequeno lançava um olhar de admiração em sua direção, o que o deixou desconcertado. Não estava acostumado a tal situação.

  “Você provavelmente vai ser ainda mais forte do que eu.” O pequeno Uchiha abriu um sorriso pequeno e foi inevitável que o pai não fizesse o mesmo. “Eu conversei com o Kakashi e mesmo que as aulas já tenham começado, ele disse que está tudo bem você entrar agora. Você vai poder aprender coisas novas e conhecer pessoas da sua idade.” 

Reiwa franziu a testa, seu humor mudando rapidamente, aparentando que ele não estava muito de acordo com aquilo. Sasuke sabia que ele era receoso em conhecer novas pessoas, além do fato de que precisariam ficar separados, então afagou as costas dele antes de continuar:

“Eu vou te apresentar uma pessoa bem legal, que vai cuidar de você. Ele também foi o meu sensei quando eu tinha a sua idade.”

A informação pareceu ter deixado o menino um pouco menos apreensivo, mas ele ainda não parecia estar comprando totalmente a situação. E havia outras coisas que o preocupavam fora o fato de que passaria o dia longe do pai. Um vinco se formava entre suas sobrancelhas conforme uma nova preocupação ocupava sua mente. Quando aquela expressão durou um pouco mais de um minuto sem nenhuma pergunta acompanhando, o adulto voltou a falar: 

“Qual é o problema?”

“E se não gostarem de mim?” Sasuke conteve um suspiro porque o filho tocou exatamente no ponto que o preocupava. Não que eles não gostariam de Reiwa pela pessoa que ele era (na verdade pela pessoa que ela estava se formando), mas seu receio era que suas escolhas do passado teriam um peso negativo na vida dele. 

Mas o Uchiha mais velho também não tinha respostas para aquela pergunta e continuar pensando naquilo estava quase deixando-o paranoico. A única coisa que poderiam fazer naquele momento era esperar o dia seguinte, e os próximos depois desse, e ter paciência para lidar com a situação.

“Nós vamos pensar em outra atividade se você não gostar da Academia.” A criança balançou a cabeça mais rápido dessa vez, parecendo um pouco mais aliviado. Não havia obrigações, então. Eram apenas alternativas e, acima de tudo, era um teste. A nova dinâmica da Vila da Folha não demandava mais a necessidade de tantos ninjas como antigamente, então o filho poderia seguir para outras áreas se assim fosse o seu desejo. 

Quando pareceu que a conversa estava acabada, Sasuke chamou a atenção de Reiwa para o banho. Eles se levantaram e foram juntos até o banheiro; tudo o que Sasuke queria depois do banho era fechar os olhos e esquecer todo aquele dia. Mas ele estava enganado ao pensar que a conversa havia chegado ao fim.

Ele estava no processo de encher a banheira quando ouviu a voz baixa de Reiwa, chamando-o:

“Papai?” Quando os olhos do mais velho voltaram para ele, Reiwa percebeu que seu humor havia voltado ao normal. Era a primeira vez que havia presenciado o descontrole do pai. Mesmo não tendo entendido o motivo pelo qual o desentendimento havia ocorrido, assustou-se o suficiente para nunca mais querer presenciar uma cena como aquela. “Posso… fazer uma pergunta?”

Sasuke ficou levemente surpreso com o questionamento. Que tipo de pergunta Reiwa poderia ter? Balançou a cabeça em concordância, enquanto sentia se a água estava morna o suficiente e propícia para banho.

“Você não vai falar com eu… falar comigo? Como fez com a tia TenTen?” O tom de voz da criança ainda era baixo, cauteloso, mesmo que apenas os dois estivessem presentes no recinto. O ex-nukenin conteve um suspiro, definitivamente precisava começar a se preocupar com o tipo de situação que deixava Reiwa ter acesso. Tudo o que menos precisava naquele momento era que o filho começasse a ter medo dele. 

Então, disposto a lidar com aquilo da única forma que sabia, com a verdade, ele abaixou-se para ficarem da mesma altura.

“Eu e a TenTen brigamos porque ela fez algo que sabe que eu não gosto. Quando alguém fala que não gosta de algo, é preciso aceitar. E respeitar. E se no futuro você disser que não gosta de algo e alguém agir como ela, você também deve brigar.” Se TenTen estivesse ali, Sasuke tinha certeza de que ela diria que estava ensinando maus modos para o filho. Mas ele não se importava com coisas como ter modos ou não. Gostaria que Reiwa aprendesse desde cedo que merecia ser respeitado, tanto por suas opiniões quanto por suas escolhas. 

O garoto lembrou a si mesmo que, por mais que não gostasse, precisava guardar aquela expressão do pai em sua memória. A expressão que ele fez quando estava “brigando”. Ainda não sabia qual nome era dado para aquela emoção, mas ele provavelmente a faria novamente quando não gostasse de algo. Reiwa encarou um ponto aleatório na parede, tentando lembrar-se se já tinha visto aquele semblante antes. Chegou a conclusão de que não; era justamente por aquele motivo que assustou-se tanto, era a primeira vez.

“E se eu fizer? Algo que você não goste?” Ele concentrou-se novamente no homem à sua frente. Sasuke faria aquela expressão para ele se dissesse algo que o desagradasse? 

“Eu vou deixá-lo saber se algo me incomodar, não se preocupe.” Sasuke desligou a torneira, satisfeito quando a banheira atingiu o nível de água adequado. Mas algo ainda parecia incomodar o filho. Ele sempre fazia uma expressão de concentração quando algo o incomodava. “Qual é o problema agora?”

O Uchiha menor apertou os lábios, sentindo-se temeroso. Porém, mesmo com aquela emoção tomando conta do seu peito e ameaçando impedi-lo de formar frases, ele levantou um dos braços, movendo-o na frente do corpo. O adulto o encarou, estando longe de compreender o que aquilo significava.

“Como se chama?” Reiwa perguntou, continuando a mover o braço sem qualquer direção. Sasuke ainda demorou um minuto antes de entender o que ele estava querendo dizer.

“Essa parte do corpo?” Reiwa balançou a cabeça rapidamente em concordância. “Chama-se braço.”

“Por que…?” Durante os dias que passaram juntos, Reiwa nunca observou ninguém comentar sobre aquele assunto, então ele se sentia reticente e tímido por estar tendo aquela curiosidade. Quando eles tomavam banho juntos, percebeu a falta daquela parte, mas não parecia importante na época. Sua curiosidade só começou a aflorar quando percebeu, após conhecer mais pessoas, que seu pai era o único sem um dos membros. “Por que você tem um só?”

Então era aquilo, pensou Sasuke, finalmente compreendendo aonde ele estava querendo chegar. Se a criança tivesse feito aquela pergunta alguns dias atrás, provavelmente teria sentido um pouco de medo em entrar naquele assunto, mas, depois de tudo o que estava acontecendo em sua vida, aquele parecia o menor de seus problemas. No entanto, naquele caso específico, Reiwa só precisava saber uma fração da verdade; contaria toda a sua história quando ele fosse mais velho, parecia mais adequado.

“Eu fiz algumas escolhas erradas na vida e essa foi uma das consequências.” 

“Se eu fizer essas escolhas erradas… também vou ficar sem?” Reiwa não fazia a maior ideia do que significava aquela expressão, mas pelo semblante do pai não parecia algo agradável.

Parecia o tipo de pergunta ideal a ser feita naquela situação e Sasuke tinha esperanças de que o filho teria um caminho diferente do seu no futuro. Que ele não precisasse passar por tudo o que ele próprio passou, mesmo que soubesse que passar por alguma emoção poderosa era basicamente um pré-requisito para ativar a maior herança do seu clã: o Sharingan. Todos os seus entes próximos haviam despertado a habilidade após situações dolorosas.

“Não, nem todas as pessoas vão perder o braço.” Algumas delas vão perder a vida, pensou, com pesar, lembrando-se, mesmo depois de todo aquele tempo, de Zabuza e Hakú, mas aquilo era algo que Reiwa definitivamente não precisava saber no momento. 

“E dói?” Sasuke sentiu alívio quando o pequeno mudou de assunto. 

“Não mais.” No começo lhe incomodava um pouco, mas foi por pouco tempo. O Uchiha sempre teve o pensamento de que um ninja deveria lutar com as armas que tinha, então se ele tinha um braço a menos agora, precisou se adaptar àquelas condições. 

Ele voltou seu foco para Reiwa, percebendo que, aparentemente, aquelas poucas explicações haviam sido o suficiente para ele. Pelo menos por enquanto. Sasuke não poderia impedir que Reiwa soubesse de tudo que havia feito e ele também não tinha vergonha, só não parecia um tópico adequado para sua idade atual. Ele revelaria tudo quando fosse a hora.

“Vamos tomar banho antes que a água fique fria.” Sugeriu, recebendo um aceno em concordância.

O banho se passou tranquilamente e a criança pareceu deixar de lado os assuntos mais sérios para focar em algo mais importante para ele naquele momento: saber mais sobre a Academia. Então, Sasuke contou algumas de suas histórias de quando era criança e eles passaram por um momento agradável com risadas.

Quando os dois estavam limpos, vestidos, acomodados na cama e Reiwa parecia a beira de cair no sono, foi quando o Uchiha lembrou-se do pergaminho entregue por Kakashi. Levantando-se com cuidado para não acordar o pequeno, ele revirou sua bolsa ninja e foi em direção a sala para ler o conteúdo com mais calma. O Hokage só teria pedido para que ele conferisse se tivesse a ver com uma única situação, o que deixava-o tenso. Acomodou-se melhor no sofá e abriu o documento.

***

Sasuke observou Reiwa entrar na Academia acompanhado de Iruka. A criança lançou diversos olhares em sua direção conforme andava, até que não pudessem mais se ver. Seus olhos escuros demonstraram apreensão e medo inicialmente, o que era compreensível já que ele estava em um ambiente desconhecido e conhecendo pessoas novas, mas o Uchiha mais velho se surpreendeu com o quão rápido o professor da Academia Ninja conseguiu conquistá-lo. E então, mesmo com a hesitação estampada em sua face, ele parecia determinado a pelo menos dar uma chance àquela experiência.

Após deixá-lo no local, Sasuke encaminhou-se na direção do seu campo de treinamento. Não era tão cedo e a maioria dos comércios em seu caminho já estavam abertos. Andou calmamente pela rua sem prestar muita atenção nas pessoas ao redor, seus pensamentos estavam direcionados à mensagem transcrita no pergaminho entregue pelo Hokage. Já não bastassem todos os seus problemas… porém, diferente dos outros, aquelas informações exigiriam dele algumas atitudes e mudanças, que eram coisas que, definitivamente, havia esperado não ter que se preocupar tão cedo.

“Bom dia, Sasuke!” O Uchiha voltou a si quando ouviu uma voz feminina cumprimentá-lo. Ele observou a paisagem ao redor, percebendo que estava passando em frente ao Ichiraku Lámen e Sakura era quem estava falando com ele. Aproximou-se dela, constatando que estava sozinha.

“Bom dia.” Respondeu, de forma simples. Ele e Sakura não eram exatamente os melhores amigos naquele momento, mas a kunoichi era educada demais para ignorar um conhecido. Além disso, depois de conhecer Reiwa, não só Sakura, mas alguns outros shinobis começaram a tratá-lo melhor.

“Não esperava te encontrar por aqui.” A Haruno comentou, disposta a puxar assunto. Era uma sorte ter encontrado um conhecido por ali e era melhor ficar conversando com ele, mesmo que não fossem tão próximos, do que ficar mais um minuto encarando o nada enquanto Naruto comprava seu café da manhã.

“Acabei de deixar o Reiwa na Academia.” Explicou o moreno, ele realmente não estava acostumado a fazer aquela rota. Sua casa ficava nos limites de Konoha, então ele sempre pegava o mesmo caminho para encontrar seu time, o que não incluía passar por aquela parte mais movimentada da vila.

“É mesmo? Vai fazer bem a ele conhecer pessoas da mesma idade e fazer amigos.” Sakura, por um momento, voltou aos tempos de infância, quando sua única preocupação era uma competição fútil e infantil com Ino pela atenção dos garotos, para ver quem tinha o cabelo maior, a roupa mais bonita… haviam sido bons tempos e ela meio que sentia falta daquela despreocupação..

Sasuke acenou, em concordância, esperando que ela estivesse certa. Ele olhou em volta, pela força do hábito, apenas por alguns segundos, até que Sakura chamou sua atenção novamente.

“Você pode ir se estiver atrasado. Eu não quero ficar lhe segurando aqui. É só que estou há um bom tempo aqui fora esperando o Naruto comprar um lámen e me empolguei quando encontrei alguém conhecido.” A kunoichi de cabelos róseos explicou, recebendo uma resposta negativa do outro ninja. 

Sasuke não estava atrasado, na verdade ele se sentia um pouco agradecido por estar ali com ela, pois, devido ao horário, tinha certeza que encontraria TenTen e teria que ficar alguns minutos sozinho com ela, já que os outros dois companheiros sempre atrasavam. Ele ainda estava um pouco chateado com a atitude do dia anterior e seria melhor evitar uma conversa por enquanto.

“Eu geralmente não o espero, até porque você sabe como o Naruto é enrolado, mas como somos só nós dois hoje, resolvi abrir essa exceção…” Sakura continuou falando e aquilo chamou a atenção do Uchiha. 

“Só vocês dois?” Ele tentou uma abordagem mais sutil, não querendo se intrometer ao perguntar de Sai diretamente. Ele observou a expressão da kunoichi adquirir um tom de aborrecimento, como se estivesse se lembrando de algo incômodo.

“Sim, o Sai está de repouso em casa. Ele deveria estar no hospital, mas é tão teimoso quanto o Naruto, então deixei que ficasse em casa.” Sasuke a encarou surpreso e, antes que pudesse fazer uma pergunta, ela continuou falando. “Nós fomos atacados na volta e uma falta de organização na formação fez com que ele fosse ferido no ombro. Ele está bem agora, não foi nada tão grave, mas está com algumas faixas e eu passei uns comprimidos. Vai precisar de alguns dias de descanso.” 

“Então é por isso que ele estava assim ontem.”

Foi inevitável que Sasuke se sentisse chateado ao escutar aquela informação. Não que Sai tivesse alguma obrigação de contar tudo o que acontecia a ele, porém aquele fato deixava evidente o quanto TenTen estivera e sempre estava certa o tempo todo. Ele devia ter se oferecido para acompanhá-lo em casa, como ela havia dito, ou até mesmo perguntado alguma coisa depois daquele ataque de tosse na noite anterior. Sentia-se ainda mais estúpido e uma sensação amarga subia por sua garganta. 

“Ontem?” Sakura perguntou, confusa. Se Sasuke tivesse ido visitar Sai ontem, ela saberia. E se eles tivessem se visto, ele não pareceria surpreso com a situação dele. A kunoichi foi tomada pela desconfiança. “Onde vocês se viram?”

“Ele e o Naruto foram até o restaurante onde temos o costume de jantar.” Pensando mais a fundo na situação, Sai havia ido até onde eles estavam só para mostrar aqueles papéis estúpidos em relação ao seu aniversário, algo que provavelmente ele e TenTen estavam preparando em segredo. Por que aquilo era tão importante para eles? Ele poderia ter se machucado ainda mais. Por que arriscaria seu repouso por algo tão pequeno?

Naruto escolheu exatamente esse momento para aparecer ao lado deles, acariciando a barriga com um sorriso satisfeito no rosto.

“Mesmo já tendo tomado café da manhã, você devia ter entrado, Sakura-chan. Eu sei que estava cheio lá dentro, mas não precisava ter me esperado aqui fora, dattebayo!” O loiro só percebeu depois que a kunoichi não estava sozinha. “Ah, ei, Sasuke! O que está fazendo aqui?”

Se estivesse mais atento, o Uzumaki teria percebido a expressão de fúria da companheira de time e, talvez, teria tido tempo o suficiente para fugir. Porém, desatento, ele foi pego de surpresa quando Sakura o puxou pelo colarinho, praticamente soltando fumaça pelas ventas.

“Eu devia saber que era um erro confiar em você, baka. O que tem dentro dessa sua cabeça? Eu disse que não era para saírem de casa e me esperarem enquanto eu pegava alguns suprimentos no hospital, mas imagine a minha surpresa ao descobrir que você e o Sai saíram escondidos para ir a um restaurante.” Os olhos azuis arregalados foram do rosto em fúria de Sakura para a expressão costumeira de Sasuke. 

Naruto não podia acreditar que o Uchiha havia denunciado eles. Quer dizer, ele provavelmente não tinha como saber que aquilo era um segredo, mas porque diabos os dois haviam entrado naquele assunto? Merda, ele sabia que não deveria ter escutado as súplicas de Sai e definitivamente não deveria ter sentido pena quando ele fez aquele drama todo. O companheiro se revelou um verdadeiro especialista em súplicas.

“Foi só por um momento, Sakura-chan, eu estava cuidando dele o tempo todo.” O loiro falou, em um tom de voz baixo, admitindo sua culpa. Mas aquilo não pareceu amenizar a expressão da kunoichi.

“Eu não vou nem perguntar o que vocês foram fazer lá porque não existe motivo no mundo que vai me convencer de que era realmente necessário vocês terem saído. O Sai tem sorte de estar de repouso, mas ele não perde por esperar quando melhorar.” Sakura ainda não poderia acreditar na pouca ideia daqueles dois desmiolados. Ela respirou fundo, tentando se acalmar. Estava tão concentrada na ira que se esqueceu por um momento que Sasuke ainda estava lá. Ele os encarava com aqueles olhos impassíveis, mas meio distantes. “Sasuke?”

O moreno pareceu voltar a si e concentrou sua atenção nela. Ele também estava tentando se acalmar e seus pensamentos foram longe ao pensar em toda aquela situação. O dia mal acabara de começar e ele já estava tendo que lidar com tudo aquilo. Pensava da mesma forma que Sakura, mas julgava-os ainda mais por saber exatamente o motivo pelo qual eles haviam decidido escapar. E, no seu ponto de vista, não parecia nada plausível.

Mas o Uchiha não tinha tempo para ficar ali observando a briga entre os dois antigos companheiros de time. Àquela altura, mesmo atrasados, Gai e Lee já deveriam ter chegado. Ele era comprometido quanto à sua rotina, porém, naquele dia, por um momento pensou se deveria faltar ao treino para verificar com seus próprios olhos a condição de Sai. Ao pensar naquilo, sentiu-se ainda mais chateado ao perceber que nem ao menos sabia onde ele morava. 

“Você pode me explicar aonde o Sai mora?” Sasuke cortou Sakura antes que ela pudesse falar alguma coisa. Mas a kunoichi não pareceu aborrecida, na verdade ela estava a ponto de perguntar se ele não gostaria de visitar o amigo. Eles eram namorados agora, afinal. Só o fato de descobrir daquela forma, por ela, já era complicado, então ela não julgaria o moreno por estar irritado, como seu tom de voz aparentava. 

Então, com mais paciência do que achava ter naquele momento, até porque o Uchiha não tinha culpa de nada e eles até estavam do mesmo lado naquela história, a Haruno explicou a ele em detalhes como chegar à residência do Shimura. Depois da fala, Sasuke agradeceu em um tom de voz baixo e despediu-se deles com um cumprimento verbal, afastando-se rapidamente na direção contrária. 

Os outros dois ficaram ali e Naruto até tentou escapar de fininho, mas Sakura estava atenta aos movimentos dele e intensificou ainda mais o aperto, deixando claro que eles só iriam conversar depois porque já estavam atrasados para se encontrar com Yamato; mas fez questão de frisar, diante dos olhos azuis assombrados, que, se não fosse aquilo, eles iriam acertar as diferenças ali mesmo, independente de quem estivesse observando.  

***

Mesmo tendo chegado atrasado pela primeira vez desde que estava no time 9, nenhum dos companheiros fez algum comentário sobre aquilo, provavelmente sentindo a metros de distância o mau humor de Sasuke. Apenas trocaram cumprimentos usuais e perguntaram sobre Reiwa.

“Vai ser bom para ele. Vai fazer muitos amigos na Academia.” Comentou Lee, empolgado. Ele estava feliz que o companheiro de time havia escutado os seus conselhos. Quando o Uchiha limitou-se a acenar, não parecendo muito interessado naquele assunto, o Rock constatou que havia algo de errado com ele naquele dia.

Aquilo também não passou despercebido com TenTen e Gai e a kunoichi abaixou a cabeça, sentindo o peso do que havia feito na noite anterior. No fundo, ela tinha esperanças de que Sasuke deixaria aquilo de lado como se não fosse importante, passando uma borracha na situação e conversando com ela normalmente como sempre fora. Mas não. Apesar de não estar surpresa, já que ela o conhecia bem o suficiente, não conseguiu evitar ficar magoada. 

A Mitsashi adormeceu e acordou pensando naquilo. Repassando várias vezes a cena, a fim de refletir o que havia feito de errado. O que não precisava ter sido dito, as palavras que poderiam ter expressado o que queria dizer porém de uma forma menos invasiva, um pedido de desculpas extenso… Tudo pareceu cair por terra naquele momento. Duvidava que o Uchiha estava disposto a ouvir o que ela tinha a dizer baseado no semblante dele. 

“Bom, vamos gastar toda a nossa força da juventude.” Interferiu Gai, chamando a atenção de todos para si. Apesar de não estar alheio à situação que acontecia ali, ele acreditava que agir como de costume era o melhor a se fazer. Talvez poderia quebrar um pouco do gelo. 

Então, seguindo normalmente a rotina de treinamento deles, Gai dividiu-os em duas duplas. Eles geralmente variavam os grupos para acrescentar dinamismo às situações e, naquele dia, as duplas eram compostas por Gai e TenTen versus Sasuke e Lee. Os dois grupos teriam que lutar um contra o outro e conseguir vencer através de estratégias, simulando o mesmo cenário que provavelmente enfrentariam contra possíveis inimigos. 

Assim que começaram, o Maito logo percebeu que aquele não seria o melhor rendimento de todos. Naquele momento, era possível notar com clareza o quanto as situações emocionais poderiam afetar os ninjas no campo de batalha. Ser um shinobi vinha com uma enorme responsabilidade e, muitas vezes, eles precisavam abrir mão de desejos individuais para proteger a aldeia. Deveriam ser centrados e agir em nome da coletividade, colocando a emoção de lado e priorizando a razão.

Se estivessem realmente em uma batalha real, teriam sérias complicações. Quando faziam formações como aquela para treinarem, geralmente Gai enfrentava Lee e Sasuke e TenTen iam um contra o outro. Mesmo no meio da luta, o sensei fez algumas observações, já que aquela era a sua função também. Sasuke costumava ser ágil e habilidoso em relação a ataques à distância, além de que sua percepção e capacidade de criar estratégias rapidamente eram realmente impressionantes. Porém, naquele dia, ele parecia ter um pouco de dificuldade para criar táticas, então parecia mais preocupado em se defender dos ataques de TenTen do que atacar.

Já a Mitsashi aparentava estar completamente distraída. Ela sempre foi muito boa em acertar seus alvos, o que demonstrava sua excelente pontaria, entretanto aquela não estava sendo sua melhor performance. Ela também estava se movendo mais lentamente que o de costume, considerando que ela era uma das ninjas mais velozes entre aqueles da sua idade. Isso provavelmente poderia ser explicado pelas bolsas sutis abaixo de seus olhos, demonstrando que ela teve uma noite de sono conturbada. 

Dentre os três, Lee era o mais focado, mas mesmo assim ele parecia levemente preocupado com os outros dois companheiros de time, lançando olhares constantes a eles, o que desviava sua atenção do que realmente importava naquele momento. Geralmente rápido e forte, o Rock estava um segundo mais lento do que sua velocidade normal, o que significava que estava tendo um pouco de dificuldade em esquivar dos ataques do sensei, não sendo acertado por muito pouco. 

Eles passaram a manhã inteira naquele esquema. Por mais que Gai tivesse tido vontade de encerrar o treinamento diversas vezes, quando já havia ficado claro que aquele não era um bom dia para nenhum deles, ele se manteve comprometido em continuar. O dever era algo importante para ele e eles não poderiam fazer uma pausa todas as vezes que tivessem um problema, ainda mais depois de tanto tempo parados por conta da situação de Reiwa. Fazia parte de ser um shinobi estar focado mesmo tendo que lidar com os problemas do dia a dia.

“Bem, garotos…” Começou o Maito, assumindo uma postura séria enquanto observava os alunos ofegantes. “Nós encerramos por aqui hoje. Não foi o nosso melhor desempenho.” Ele comentou, de forma sincera, tendo os três pares de olhos em si. Nenhum deles pareceu surpreso com o comentário.

“Vai ser melhor amanhã.” Lee também não estava satisfeito com a prática do dia, mas não conseguiu deixar de se preocupar pelos companheiros. Não estavam bem, isso era claro. 

“Na verdade, eu pensei em termos uma folga amanhã. Para que todos possam se restabelecer e voltarmos com mais foco no próximo treino.” Os três acenaram em concordância e uma ideia surgiu na mente de Gai. Se eles pudessem se reunir e passar um tempo juntos… talvez fosse aquilo que precisavam naquele momento. Estava prestes a sugerir que almoçassem juntos, quando Sasuke levantou-se e foi mais rápido na fala do que ele.

“Já acabamos?” O Uchiha perguntou, seu semblante voltando a expressar aquele misto de concentração e raiva. Aquilo surpreendeu o sensei, que ficou sem reação por um instante, tendo dificuldade para encontrar as palavras.

“Sim, mas…” 

“Eu preciso ir.” Sem dar tempo para que ele concluísse a frase, Sasuke saiu a passos apressados para fora do campo de treinamento. Sem ter conseguido ter um tempo de resposta rápido, o sensei apenas o observou sair sem conseguir expressar sua ideia. O ninja sumiu da vista deles em questão de segundos, mal se despedindo dos companheiros.

TenTen soltou um suspiro audível, levantando-se e ajeitando suas roupas amassadas.

“Ele me odeia.” Ela soltou, em um tom de voz triste. Durante a luta, estava tentando criar coragem para falar com o amigo após o treino, porém nem teve chance com aquela saída repentina. 

“Ele não odeia você.” Rebateu Lee, tentando amenizar a situação. Independente da briga do dia anterior, Sasuke não começaria a odiar a kunoichi tão rapidamente. Na verdade, ele tinha um palpite de que aquele não era o principal problema do amigo, apesar de poder estar incluído. Algo deveria ter acontecido para ele agir daquela maneira. 

“Você não viu o jeito dele?” A morena insistiu, claramente magoada. “Ele nem olhou na minha direção.”

“Algo deve estar acontecendo. Vamos dar um tempo a ele.” Falou Gai, tendo o mesmo ponto de vista do Rock. Sasuke não era o mais receptivo ou o mais simpático, mas aquela atitude de hoje não fazia parte do dia a dia dele. “Por que não almoçamos juntos?” Ele sugeriu, por fim, tentando animá-los. 

TenTen concordou, sem muita animação, mas só porque era melhor do que ficar sozinha pelo resto do dia se lamentando. Lee também não parecia tão alegre como de costume, mas aceitou sem hesitação.

***

Sai estava quase caindo no sono quando ouviu uma batida forte em sua porta. Ele não sabia que horas eram, mas Naruto e Sakura deveriam estar no treinamento, então não fazia ideia de quem poderia ser. Pensou em ignorar, mas então houve uma nova batida e, por fim, decidiu que era melhor atender a quem quer que fosse. 

Levantar não foi tão fácil e simples como ele gostaria que tivesse sido. Sentia-se tonto por conta da quantidade de remédios que Sakura havia lhe passado e seu ombro enfaixado doía como o inferno. Até mesmo respirar parecia uma tarefa extremamente trabalhosa. Ele demorou alguns minutos até conseguir se colocar de pé e, calmamente, sentindo uma dor intensa a cada passo que avançava, andou até a porta da frente.

Ele a abriu e a surpresa tomou conta de sua mente ao ver Sasuke parado ali na sua frente, com uma expressão nada agradável. Praguejou, mentalmente. Sabia que devia ter contado a ele como estava quando se encontraram na noite anterior e agora ele se sentia culpado por ter escondido aquele fato do Uchiha. Bom, agora ele havia descoberto e não parecia nada feliz com isso. 


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Notas finais do capítulo

Ai amores, sintam-se à vontade para expressar seus sentimentos ou não também. Tenho uma notícia boa, o próximo capítulo sai dia 01 de fevereiro, agora vou trabalhar com prazos e prometo não atrasar esse próximo capítulo. Um abração pra vocês e espero que todos estejam bem!



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