No outro dia, como de costume, Sasuke acordou cedo. Reiwa ainda dormia, espalhado pela cama, como ele gostava, e o mais velho caminhou para fora o mais silenciosamente possível. Ele escovou os dentes e lavou o rosto, percebendo que as bolsas escuras embaixo de seus olhos estavam mais leves; aparentemente aquela primeira noite havia sido a pior. Agora que já estava acostumado com o jeito de dormir do filho, ele sabia exatamente como se deitar na cama de forma a não ser incomodado. Quanto aos pesadelos… só havia sido acordado umas cinco vezes, então acreditava que estavam fazendo progresso. 

O Uchiha estava a caminho de colocar água para esquentar para fazer um chá quando uma batida forte na porta da frente chamou a sua atenção. Apenas coçou os olhos confuso, enquanto se encaminhava para atender; mal estava com disposição para ficar mal humorado. Não ficou surpreso ao se deparar com TenTen do lado de fora. A morena trajava sua roupa de treino habitual, juntamente com um sorriso imenso. 

“Bom dia!” Ela apertou os braços ao redor de Sasuke antes que ele tivesse a chance de se esquivar. Não gostava muito de abraços e ela sabia, mas isso significava que a kunoichi estava de bom humor, o que, considerando os acontecimentos recentes, era uma ótima notícia, então acabou deixando para lá. 

“Oi. A que devo a honra da sua ilustre visita?” 

“Não seja sarcástico tão cedo. Não combina com você.” A Mitsashi soltou-se, retirando os calçados e entrando no recinto. Sasuke quis dizer que o sarcasmo era praticamente sua característica mais forte, independente do horário, porém um detalhe chamou sua atenção. Nenhuma briga ou grito com ele por causa do deboche que ela odiava? Apenas um comentário? A morena com certeza estava com um humor incomum naquele dia. “Onde está o Reiwa?”

“Ainda dormindo.” Sasuke fechou a porta, indo direto para a cozinha. Colocou a água para esquentar, em maior quantidade do que normalmente, pois a companheira de time também apreciava aquela bebida.

“Ser criança soa como um sonho.” O Uchiha deu um sorriso pequeno, concordando. “Então, você conversou com o Sai ontem?”

“Não me diga que você veio a minha casa logo cedo pela manhã novamente só para saber sobre isso?” Ele virou-se para TenTen, focando seu olhar nela. Existia um limite para algumas coisas e a amiga de vez em quando o ultrapassava. Por sorte, já acostumado com aquele jeito dela, ele não ficava mais surpreso e muito menos chateado; chegou um momento em que ele teve que aceitar que aquele era o jeito dela.

“Assim você me ofende! Mas não, dessa vez eu não vim só para isso.” O moreno olhou para ela com mais atenção, ainda desconfiado. “Eu juro, eu vim por outro motivo. Mas e então, você e o Sai?”

Sasuke suspirou. A água já estava quente e então ele serviu chá para os dois, enquanto se sentava na mesa de frente para a kunoichi.

“Não conversamos direito. Ontem não era o momento certo.” TenTen olhou-o com aqueles olhos castanhos afiados, como se questionasse qual seria o momento certo, já que no dia anterior não havia sido mesmo que não tivessem pessoas em volta para atrapalhar a conversa. O Uchiha soltou um mini bufo e decidiu que a melhor opção era compartilhar com ela o desfecho da história e qual era o seu plano. “Eu o chamei para o almoço… você poderia ficar com o Reiwa enquanto isso?”

“É claro que sim! Você não precisa nem me perguntar!” Ela bateu palmas, com os olhos brilhantes. O ninja abriu um sorriso pequeno, achando graça daquela reação.

“Você parece empolgada.”

“E o seu humor hoje parece estar bem melhor.” Sasuke apenas deu de ombros, sem saber muito bem o que dizer. Não estava irritado, nem cansado, então poderia admitir que, sim, aquele era um dos dias em que estava de “bom humor”. “Então, o que você está programando para o almoço? Espere…” Ela fez uma expressão de choque, parecendo elétrica. “Isso significa um pedido de namoro?”

“Como assim?” Aquele definitivamente era um assunto que não havia sequer passado pela cabeça do Uchiha. Eles só estavam se envolvendo há pouco tempo e ele não tinha nenhuma experiência com outros namoros… sentiu-se nervoso por um instante. Era aquilo que Sai estava esperando? Havia sido um ideia ruim chamá-lo para o almoço?

“Você não acha que está na hora de vocês firmarem um compromisso mais sério um com o outro?” O dono da casa tomou um gole longo do chá, refletindo brevemente sobre o assunto. Ele estava pronto para assumir um compromisso com nome e tudo? Se sim, aquilo mudaria alguma coisa na vida deles? Se de repente percebesse que era uma ideia ruim, seria difícil voltar atrás depois que tudo já estivesse feito. Suspirou e encarou TenTen, se sentindo ansioso e incomodado. 

“É o que você acha?” 

“Dã, Sasuke-kun. Eu simplesmente não consigo entender como você é um gênio para umas coisas e um estúpido para outras.” Ela balançou a cabeça e suspirou, como se estivesse explicando algo simples a uma criança. “Pra você pode ser que isso não importe muito, mas acho que para o Sai sim. Você não vê o jeito que ele olha para você? Você nunca parou para pensar que talvez seja isso que ele queira?”

Sasuke não sabia se sentia vergonha ou não por nunca ter considerado aquilo. Ele sabia que Sai se sentia incomodado com não saber direito como agir quando estavam próximos, mas havia uma grande diferença entre aquilo e querer um namoro… ou será que a distância entre as duas situações não era tão grande como ele havia imaginado? Passou a mão pelos cabelos, mais confuso do que nunca.

“Você realmente acha que é isso que ele quer?”

“Claro que sim, baka, isso não é o que todo mundo quer?” O Uchiha lançou um olhar cético para a morena, que apenas revirou os olhos e suspirou audivelmente. “Quero dizer, quase todo mundo… você entendeu o que eu quis dizer.”

O moreno refletiu por um minuto. Estava em dívida com Sai, não podia negar. Claro que não iria pedí-lo em namoro só pelo fato de que se sentia em falta com ele em vários aspectos, porém não seria tão ruim surpreendê-lo positivamente depois de tudo… e então toda aquela história de em que pé estava o relacionamento deles ficaria para trás. Passou a mão pelo queixo, encarando TenTen. Sabia que poderia se arrepender do que diria a seguir, mas mesmo assim ele deu uma chance àquela ideia. No final de tudo, não havia sido uma péssima ideia seguir alguns conselhos da amiga. 

“O que eu deveria fazer?” Os olhos da Mitsashi brilharam e o ex-nukenin não achou que começaria a se arrepender de pedir ajuda já tão cedo. Era realmente uma boa ideia pedir conselhos a ela? Um instante depois, como se aquele momento nunca tivesse existido, os olhos da morena se tornaram um pouco tristes.

“Você entende que está pedindo conselhos amorosos a uma pessoa fracassada no amor, certo?” 

“Você não é um fracasso no amor.” Diante daquele momento melancólico, Sasuke abriu um sorriso doce e compreensivo. E ele não estava dizendo aquelas palavras da boca para fora. Ele genuinamente acreditava que um dia a amiga encontraria uma pessoa que faria seu coração bater tão forte quanto batia por Neji. Ela merecia ser feliz.

“Sasuke, eu tô inventando uma festa só pra ver um cara que já deixou claro que não quer ficar comigo.” O Uchiha levantou as sobrancelhas, confuso e surpreso.

“Uma festa?” TenTen corou forte instantaneamente, percebendo que tinha falado o que não deveria. Ela deu um riso nervoso, algo que fazia sempre quando estava em uma situação desconfortável.

“Hã, bem… por que não falamos disso depois?” Sasuke semicerrou os olhos, desconfiado. Seus amigos sempre pareciam prontos para envolvê-lo em qualquer tipo de situação, mesmo que ele já tivesse deixado claro o que o incomodava. 

“O que você está planejando?”

“Algo que provavelmente você não vai gostar…” A morena abriu um sorriso amarelo, cheio de vergonha. “Mas eu tenho certeza que você vai concordar se isso significar ajudar a fracassada aqui.”

Mesmo ainda sem entender muito bem o que aquilo significava, Sasuke concordou em deixar aquele assunto de lado por um momento. Sua expressão se relaxou.

“Acho que o termo fracassada não se aplica bem. Vamos apenas dizer que isso significa que você é uma mulher que não desiste sem lutar.” 

O moreno não tinha tanta certeza assim de que Shino não estava interessado. No dia da festa de Kiba, em que ele foi atrás do ninja dos insetos para que ele fosse encontrar TenTen, ele pôde sentir que havia algo com o outro homem. Não sabia decifrar muito bem, pois era péssimo quando se tratava de sentimentos, porém a única certeza que tinha era que aquilo não era apenas uma preocupação de amigo. Mas ele já tinha problemas o suficiente sozinho e meter-se no relacionamento dos outros realmente não fazia o seu estilo. A sua frente, a kunoichi abriu um sorriso alegre. 

“Esse é um ótimo jeito de ver as coisas.” Sua expressão alegre rapidamente se transformou em uma expressão de concentração. Como se ela tivesse entrado em algum tipo de modo ultra focada. O modo TenTen responsável, que sempre dava um jeito de resolver tudo e bolava várias ideias. “Então, o que você estava pensando em fazer? Devemos comprar flores?”

“Flores?” Era incrível como ela conseguia mudar de assunto tão rapidamente que ele quase não conseguia acompanhar. O que exatamente ela estava querendo dizer com comprar flores?

“Bom, preparar uma refeição é o primeiro passo para um encontro de sucesso. Não me diga que você estava achando que isso era o suficiente?”

Sasuke desviou os olhos, desconcertado. Era realmente tão nítido que ele não entendia nada de relacionamentos comuns? TenTen suspirou pesadamente.

“Parece que temos muito trabalho pela frente. Assim, eu acho que não precisam ser milhares de flores, já que isso nem faz o seu estilo, mas que tal uma rosa vermelha?” 

“Isso parece meio brega.” O Uchiha sabia que a amiga só queria ajudar, mas aquilo não era demais? Flores realmente não faziam seu estilo e ele se sentia ridículo só de pensar em organizar algo assim. Com certeza Sai riria dele quando visse aquilo, pois ficaria claro que ele havia recebido ajuda; nunca teria aquela ideia ele próprio. 

“Diga isso por você. Eu adoraria receber flores da pessoa que gosta de mim.” A Mitsashi juntou as duas mãos e as aproximou do rosto, assumindo uma expressão apaixonada. O moreno suspirou pesadamente, ainda sem aceitar aquela ideia absurda.

“TenTen… isso é realmente necessário?”

“Confie em mim só desta vez, certo?” Ele não sempre confiava? Ofereceu a ela um sorriso irônica. Pensou, mas não verbalizou, que às vezes ele confiava tanto que se submetia a situações que nem ao menos gostava, como aquela. 

“Eu sempre confio em você.” A morena sorriu de forma confiante e eles trocaram sorrisos por um momento. O ninja resolveu deixar aquele assunto de lado, já que percebeu que não tinha opção a não ser aceitar a sugestão da companheira de time. Porém, havia um outro assunto que, naquele instante, lhe incomodava um pouco mais. “Então, que história é essa de festa?”

O sorriso de TenTen vacilou instantaneamente.

“Você disse que sempre confia em mim, certo?” Sasuke tentou ao máximo não fazer uma careta e continuou olhando para a companheira com uma expressão neutra. Não queria parecer com raiva quando aquele aparentemente era um assunto delicado para ela. “Eu estava pensando… por que nós não fazemos uma festinha, algo pequeno, só com os mais próximos, para aproveitar o seu quintal grande?”

O Uchiha pensou naquilo por um momento. TenTen sempre vinha com umas ideias totalmente aleatórias que ele não sabia nem como ela havia começado a pensar naquilo. E também, ele não estava muito certo sobre as outras pessoas tomarem conhecimento da existência de Reiwa tão cedo. Pessoas demais já não sabiam daquela história? Claro que em algum momento os outros ninjas chegariam a conhecê-lo, mas tudo ainda não estava muito recente?

“Não tenho muita certeza… é realmente uma boa ideia? Eu não sei se Reiwa se sentiria bem com tantas pessoas novas.” Até o momento, o menino havia se adaptado bem. Ele se portou de forma tranquila perante a todas as pessoas que conheceu. Mas e se houvesse alguém que ele estranhasse? Como pai, percebeu que aquele era o tipo de preocupação pertinente.

“Mas praticamente todo mundo já sabe sobre ele. A Sakura-chan, a Ino-san…”

“Fora você, Lee, Gai e o Hokage, só elas duas sabem.” TenTen soltou um bufo tão grande que o outro arregalou os olhos, levemente surpreso.

“Qual é, você não pode ser inocente ao ponto de acreditar que aquelas duas não contariam para ninguém… quer dizer, elas só não são mais fofoqueiras que o Naruto e o Kiba.” O Uchiha não se sentia exatamente confortável com aquela situação, porque sim, ele acreditava que elas seriam capazes de guardar aquele segredo. Percebendo a situação, TenTen soltou um suspiro derrotado. “Você não pode me ajudar só dessa vez?”

“Você está realmente insistindo nessa história por causa do Shino? Achei que vocês tinham concordado em serem amigos?” Ao ver a expressão decepcionada da companheira de time, Sasuke se arrependeu de não ter feito esforço para ser sutil. Aquela situação já era difícil o suficiente para ela. Quando ele estava prestes a soltar um pedido de desculpas, a morena falou em um tom de voz baixo. 

“E nós somos amigos. Mas eu também quero estar com alguém, sabe?” A morena parou e encarou o nada, bebendo o restante do seu chá, que já havia esfriado. Ela abaixou a cabeça e suspirou baixinho. “Eu estou sendo estúpida?”

“Claro que não. Só estou preocupado que você se magoe.” Ele sentia um carinho especial por TenTen, mesmo que, por causa do seu jeito, expressasse aquilo de uma forma bastante peculiar. 

“Não precisa se preocupar, eu vou com calma. Quer dizer, você me conhece. Vou tentar ser espontânea.” Ir com calma não era muito bem o jeito da Mitsashi, até porque ela não sabia ser sutil, porém o Uchiha concordou mesmo assim, com um sorriso. 

“Tudo bem.” Sasuke respondeu, ainda meio reticente. Ela disse que havia pensado em convidar só os mais próximos, então talvez não fosse assim tão ruim. A kunoichi levantou os olhos diante da concordância, um sorriso no rosto e os olhos brilhando de animação. Era incrível como ela mudava da água para o vinho em questão de segundos. “Quem você está pensando em chamar?”

“Ah, o pessoal de sempre. O Shino, é claro. E então a gente tem que chamar a Hinata também, pra não ficar muito na cara né.” Sasuke a observou elencar os nomes, ela falava rápido, como se estivesse falando consigo mesma. “A Ino e o Kiba, que já são praticamente um combo, não tem como chamar um sem chamar o outro. A Sakura, o Sai e o Naruto, eu acho, apesar de que se você não quisesse convidar o Naruto seria até melhor. O Lee também tem que vir, ele eu não estava nem contando pois já é praticamente implícito de que nosso time todo está incluso. O Shikamaru e o Chouji ainda estão em missão, então não podem vir… bem, acho que é isso. Há alguém que você queira convidar?”

Ele sabia que a amiga só estava querendo ser educada, porque era óbvio que os nomes citados eram as únicas pessoas com quem ele poderia conversar, tirando seu sensei e o Hokage. Então, o Uchiha apenas balançou a cabeça em negação. 

“Ótimo! Eu vou pedir a eles que cada um traga petiscos e bebidas.”

“Bebidas?” Sempre que aquele mesmo grupo entrava em contato com álcool (porque é claro que ela estava se referindo a isso quando falou em bebidas), os problemas sobravam para ele, Hinata e Shino. TenTen sempre bebia em excesso, principalmente se ela tivesse alguma companhia que conseguisse acompanhar seu ritmo. Naruto e Kiba então, ele nem sabia mais o que dizer sobre, eram outros dois que davam trabalho independente da quantidade de álcool que ingerissem. Um copo ou dez garrafas tinham o mesmo efeito. 

“Qual é, você precisa relaxar. Quer dizer, você está em casa e o máximo que pode acontecer é uma pilha de corpos desacordados quando você se levantar amanhã. E antes que você coloque o Reiwa no meio como uma desculpa, e eu sei que você faria isso se eu lhe desse oportunidade, você sabe que o Lee não pode beber e que ele realmente não se importaria de ter que cuidar da criança.” Sasuke não estava nem minimamente convencido. Foram bons argumentos, mas ele não poderia simplesmente estar transferindo as responsabilidades assim ao sobrancelhudo. Percebendo isso, TenTen levantou uma das sobrancelhas, com uma expressão de ironia. “Eu acho que você precisa um pouco disso. Toda essa coisa de se tornar pai está acabando com você, olha só essas olheiras.”

Instintivamente, o Uchiha colocou os dedos debaixo dos olhos. 

“Está realmente tão visível assim?” A morena riu alegre, mas não comentou mais nada. Na verdade, ela aproveitou a deixa para voltar ao assunto anterior.

“Então, sobre a flor? Vamos colocar ou não?”

Sasuke torceu para que não estivesse tomando a decisão errada em confiar na amiga em relação a aquilo. Por mais que ela se dissesse fracassada no amor, a Mitsashi entendia muito mais daquilo do que ele. 

“Tudo bem, mas só uma.” Ela soltou um gritinho, parecendo se esquecer de que havia uma criança dormindo no quarto ao lado. O moreno arregalou os olhos de leve, receoso de que aquilo poderia acordar Reiwa, mas não falou nada. 

“Achei que você achasse tudo isso uma besteira.” TenTen comentou, já mais contida. Porém um sorriso enorme continuava estampado em seu rosto. Era incrível como ela se animava com certas coisas como se estivessem acontecendo em sua própria vida.

“É claro que eu acho.” Ambos sorriram. 

“Você está entrando no clima! Enquanto você organiza as coisas aqui, eu vou passar na Ino e aproveitar para convidar o pessoal para a festinha de hoje. Eu volto mais tarde, tudo bem?” Ele concordou, observando-a se levantar. “Obrigada pelo chá!” 

Reiwa acordou poucos minutos depois que TenTen saiu da casa. Ele apareceu na cozinha esfregando os olhos enquanto Sasuke organizava a mesa e abraçou o pai pelas pernas. O mais velho o pegou no braço para levá-lo ao banho, pensando qual seria a melhor forma de avisá-lo de que ele teria que ficar com TenTen enquanto o ninja conversava com Sai.

***

Sasuke não se lembrava quanto tempo tinha que ele havia ficado tão nervoso como estava  naquele momento. Eram momentos raros, até porque ele adquiriu um bom controle das suas emoções, mas ali ele simplesmente não conseguia ficar tranquilo. Estava sozinho em casa, apenas esperando que Sai chegasse. A flor já estava na mesa, em contraste com sua cozinha de cor clara. A refeição estava quase pronta, ele só estava terminando de fritar a carne. Não era o menu que tinha pensado, porém TenTen simplesmente havia aparecido com umas tiras da proteína, dizendo que aquela era uma ocasião especial demais para que ele preparasse o mesmo que comia todos os dias. 

A morena também havia trazido utensílios (pratos, vasilhas e copos) de sua casa, alegando ser pelo mesmo motivo pelo qual trouxe a carne. Ele agradeceu a ela, principalmente depois de perceber que os utensílios, que eram pretos, combinavam muito bem com a flor. Sem perceber, ele acabou recriando o cenário perfeito com as cores do seu clã. Reiwa havia saído com a companheira de time, que alegou que o levaria junto ao treinamento com Lee e Gai. Lá, eles poderiam revezar para brincar com ele enquanto os outros dois treinavam, sendo assim não os atrapalharia. 

O menino ficou reticente, não parecendo nenhum pouco feliz com a ideia de ficar distante do pai. Mas Sasuke conseguiu tranquilizá-lo, fazendo ele entender que aquilo seria por pouco tempo e que logo eles se encontrariam novamente. TenTen o levou no colo, pois seria mais rápido, e os olhos de Reiwa ficaram colados no patriarca até o momento em que não podia mais vê-lo. 

Quando a campainha tocou, o Uchiha alisou nervosamente sua roupa. Mesmo que dissesse a si mesmo que não havia motivo para aquele estado de espírito, afinal era apenas Sai, algumas coisas eram mais fáceis de serem faladas do que feitas. Quase se arrependeu de não ter aceitado a sugestão de TenTen para usar uma roupa um pouco mais formal. Havia vestido a calça de sempre, preta, porém diferente da habitual camisa cinza escura de mangas acompanhada do colete cinza claro, optou por uma única parte de cima também escura. 

Também ajeitou o cabelo, passando a mão pelos fios curtos. Num momento de loucura, pois aquele era o único nome que ele poderia dar ao que aconteceu, ele acabou cortando um pouco as pontas. Dessa forma, a franja grande que tinha havia sumido, deixando ambos os seus olhos descobertos. Para não perder chakra, afinal seu Rinnegan não podia ser desativado, ele improvisou um tapa-olhos preto.

Ignorando o sentimento de ansiedade que crescia em seu peito da melhor forma que podia, ele abriu a porta. Sai arregalou os olhos quando o viu, seu rosto adquirindo uma coloração vermelho clara.

“Ah, oi. Desculpe a demora. Eu fiquei preso mais tempo do que gostaria no treinamento e acabei passando em casa para tomar um banho.”

“Tudo bem. Entre.” Sasuke só havia percebido que o outro havia chegado quase uma hora atrasado agora que ele havia comentado. Estava tão ocupado fazendo o que precisava que acabou nem notando a passagem do tempo. 

O dono da casa foi na frente, liderando o caminho para a cozinha. Por sorte, a maioria das coisas já estava dentro das vasilhas, só faltava transferir a carne para um recipiente maior. O Uchiha foi direto fazer isso, mas parou o que estava fazendo quando ouviu o visitante arfar mais alto do que normalmente esse tipo de som teria. Então ele se virou para olhar o que o havia assustado. Sai estava parado na porta da cozinha, encarando a flor que estava em cima da mesa. Sasuke sentiu seu rosto esquentar de vergonha. Se sentia estúpido, como um adolescente com os nervos a flor da pele, principalmente pelo fato de estar começando a ficar preocupado que a surpresa fosse uma resposta negativa do outro.

“Por que você não se senta?” O membro do time Gai falou, recuperando-se rapidamente do embaraço. Ele não podia e ele não ia ficar gaguejando como um idiota. Virou-se de costas para o seu convidado, acreditando que daquela forma ele não se sentiria tão incomodado com tudo aquilo.

“Isso é… bonito.” Sai sussurrou, parecendo encabulado. Ele falou as palavras devagar, como se não confiasse em sua própria voz. 

Na verdade, ele estava bastante admirado. Atrasar-se não estava exatamente em seus planos, principalmente quando ele supunha mais ou menos qual era a opinião de Sasuke sobre aquilo. Mas o treino havia durado muito mais do que o planejado e, quando ele percebeu, já havia perdido a hora. Envergonhado em contar para os companheiros de time que estava indo se encontrar com o Uchiha, pois sabia que ambos fariam piadinhas, ele ainda ficou conversando com Sakura e Naruto ao final, fingindo para eles que não tinha nada marcado. 

Dessa forma, quando finalmente conseguiu ser liberado, passou em casa rapidamente para tomar pelo menos um banho. Pensou em usar uma roupa diferente da habitual, afinal era uma ocasião especial, porém ficou com medo de assustar Sasuke. Só trocou a camisa curta que normalmente usava por uma mais longa, que não deixava sua barriga à mostra. Não queria passar a impressão de que estava esperando alguma coisa dele, até porque realmente não estava. Ele ficou uma pilha de nervos durante todo o caminho e isso não foi embora quando o possuidor do Sharingan abriu a porta para recebê-lo. Muito pelo contrário, foi naquele momento em que seu coração quase quis sair de sua boca.

O dono da casa não estava vestido para uma ocasião especial, mas ele também não estava com a roupa de sempre. O que mais chamou sua atenção, na verdade, foi o cabelo curto. Havia se acostumado com os fios negros longos, que tampavam um dos olhos, então vê-lo daquela forma mexeu com algo dentro de si. Não que Sasuke não fosse bonito antes, mas naquele momento ele estava simplesmente divino. 

Eles adentraram a casa e quando ele achou que nada mais poderia surpreendê-lo, deparou-se com uma flor vermelha em cima de uma mesa organizada com louças pretas. Não que ele esperasse algo de negativo daquele almoço, mas ele com certeza não estava preparado para toda aquela atenção aos detalhes. Bem, talvez ele não tivesse pensado naquilo tudo sozinho, porém só o fato de que ele aceitou aquela ideia já significava muita coisa.

Sai sentou-se, observando Sasuke terminar de organizar algumas coisas. Um sentimento bom tomava seu peito, dissipando um pouco de seu nervosismo.

“Isso foi ideia da TenTen.” Falou baixo e o outro apenas deu um risada. Claro que tinha sido ideia da morena. “Espero que você goste de carne.” 

“Carne parece ótimo.” Aquela ocasião se assemelhava bastante a um encontro de verdade e o Shimura se sentia feliz com isso. Ele estava sorrindo, como um bobo, quando Sasuke se virou, com a travessa de carne em mãos. Quando notou a expressão do homem que estava sentado, o moreno de olhos de cor diferentes corou um pouco. 

Sentaram-se de frente um para o outro. Todas as porções já estavam prontas e eles se serviram em um silêncio agradável. Sem saber como iniciar aquela conversa, o Uchiha começou pelo tópico mais fácil.

“Eu e a TenTen estamos organizando uma pequena festa hoje à noite aqui.”

“Uma festa?” Sai arregalou os olhos, surpreso que o outro estivesse envolvido em algo assim, principalmente na organização. Sabia que ele detestava aquele tipo de coisa.

“Não é nada demais, é só pra reunir o pessoal mesmo. Ela ficou responsável de chamar as pessoas. Você está convidado.”

“Tudo bem.” Notou que Sasuke parecia meio aborrecido com aquilo, mas como imaginou que ele não queria entrar naquele mérito, apenas concordou. “O que eu devo trazer?”

“Petiscos e bebidas.” Sai concordou em silêncio, tentando pensar no que ele poderia comprar para trazer. Talvez devesse dividir algo com Naruto e Sakura?

Eles continuaram a comer, desta vez em silêncio. O Shimura gostaria de pensar que aquele era um silêncio confortável entre eles, mas não estava tão certo daquilo. O dono da casa comia em pequenas porções, como se estivesse sem apetite, mais remexendo a refeição do que realmente alimentando-se. Quanto a ele próprio, tentou estabelecer um ritmo entre nem tão rápido nem devagar demais, para que não ficasse claro o quanto estava nervoso; sua mão trêmula já revelava o suficiente de suas emoções. Seus olhos estavam baixos, mas só porque ele não queria ser pego encarando. 

Em determinado momento, o convidado ouviu um barulho de louças se encostando e levantou os olhos só o suficiente para saber do que se tratava. Sasuke havia colocado seus talheres no prato e estava encarando-o com uma expressão que ele não sabia decifrar se era de determinação ou de raiva.

“Sai…” O Uchiha já estava ficando cansado de toda aquela situação. Odiava ficar se sentindo desconfortável, principalmente em sua própria casa. Enrolação realmente não era muito a sua cara, então quando finalmente um fio de coragem começou a brotar dentro de si, aproveitou para falar tudo o que estava com vontade. “Eu refleti sobre o que está acontecendo entre nós dois. Você me disse que não sabia muito bem como se comportar quando estava próximo a mim. O que isso significa?” 

Sai evitou pensar sobre o que aquele convite para o almoço significava, mas só porque não queria criar expectativas demais. De certa forma, aquilo havia sido uma coisa boa, pois ele havia se surpreendido de diversas formas diferentes e todas elas haviam sido positivas. No entanto, ele não havia se preparado psicologicamente para lidar com aquele assunto, ou seja, todas as suas respostas corriam o risco de serem extremamente sinceras e sem nenhum filtro. Por isso, ele ficou em silêncio por um momento e deixou os próprios talheres na mesa, dando total atenção ao outro. Mesmo que estivesse com vontade de desviar os olhos não o fez, principalmente ao perceber como os olhares de Sasuke estavam intensos do outro lado.

Respirou fundo antes de verbalizar o medo que tomava conta de si. 

“Eu tenho medo de fazer alguma coisa da qual você não vai gostar.”

“Como o quê?” Os olhos do Uchiha ficaram ainda mais comprimidos, como se ele estivesse fazendo um interrogatório. Não havia como escapar, pensou Sai. Havia chegado a hora de terem aquela conversa. No fundo, estava realizando um desejo que há muito queria, porém agora que haviam chegado àquilo, ele se sentia meio acuado. 

“Como invadir o seu espaço pessoal. Ou t-tocar em você.” Foi inevitável que o membro do time Yamato corasse. A vergonha fazia com que ele quisesse fugir daquela situação, mas ele aguentou firme; nem ao menos desviou os olhos. Sasuke o observou cuidadosamente por um momento, antes de relaxar sua expressão, enquanto soltava um suspiro baixo. Ele apoiou a mão na mesa, trazendo seu tronco um pouco mais para frente. 

“Da última vez que nós conversamos sobre esse assunto, eu perguntei se você queria dar um nome para isso.” O ex-nukenin já se sentia mais tranquilo agora que eles estavam conversando sobre o assunto. Realmente, não havia razão para temer. Era apenas Sai. E ele. Ele e Sai. Foi pensando dessa forma que ele pronunciou as palavras de forma confortável, sem se sentir como se estivesse fazendo alguma obrigação ou algo que não quisesse. “Acho que estou pronto para seguir adiante.”

Sai esperava que ele dissesse todos os tipos de coisa menos aquilo. Chegou até a pensar, mesmo por um pequeno instante, que o outro iria dizer que eles estavam indo muito rápido e que deviam desacelerar. Claro que isso não justificaria a flor e todas as outras coisas, mas a paranoia havia colocado todos os tipos de coisas em sua mente. Arregalou os olhos, surpreso era pouco para o estado em que se encontrava. Ele estava dizendo que… Não, é claro que não. Imaginou estar supondo coisas, por isso fez questão de perguntar:

“O que você está querendo dizer com...”

“Eu quero saber se você quer entrar em um relacionamento comigo.” Sasuke observou atentamente como a cor sumiu rapidamente do rosto de Sai. Realmente, ele detestava enrolações, principalmente se isso significava que ele estava indo começar a ficar nervoso novamente. Era melhor colocar logo o que pensava para fora. 

“V-você… Eu não… N-não entendo.” O Uchiha franziu a testa diante daquela reação, incomodado com o embaraço do convidado. Mais especificamente com o que aquilo poderia significar. Definitivamente não estava pronto para ser rejeitado. Ele e TenTen haviam interpretado errado toda a situação?

“Você não quer? Eu achei que…”

“Não.” Sai o cortou, a voz um pouco mais alta do que o habitual. Mas isso era só porque ele estava nervoso. Tomou uma respiração funda, com os olhos fechados. Não era aquilo que ele queria desde que havia começado a ter sentimentos por Sasuke? Não poderia deixar suas emoções estragarem tudo. Realmente, Naruto havia criado um monstro. Como ele havia passado de alguém indiferente a sentimentos para aquele tipo de pessoa que ficava nervoso com qualquer tipo de situação? Precisava aprender a se controlar. Abriu os olhos, determinado a ficar mais calmo. E quando ele falou, sua voz já não estava mais tão trêmula. “Você está me pedindo em namoro?”

Sasuke acena, sem falar nada. 

“Por quê?”

“Por quê o quê?”

“Por que você quer namorar comigo?” O Uchiha levantou as sobrancelhas, confuso e surpreso ao mesmo tempo. Que tipo de pergunta era aquela? O Shimura estava esperando algum tipo de declaração vinda dele ou algo assim? Quis rir e isso fez com que ele se sentisse dez vezes mais leve. Estava demorando para que aquele sentimento que ele sentia sempre que estava com o outro o tomasse. Independente de qual era a situação, sempre que estavam juntos, o moreno de pele pálida conseguia fazer com que ele se divertisse. Abriu um sorriso involuntário.

Os dois se encararam por um momento. Sasuke demorou um pouco para falar, pensando no que deveria dizer. Já Sai estava tentando entender porque o homem à sua frente sorria como se tivesse ouvido algo muito engraçado. Ele havia dito algo cômico sem perceber?

“Gosto de estar com você.” O moreno do Sharingan soltou, aparentando não ter nenhuma dificuldade em admitir aquilo. O sorriso ainda estava em seu rosto. “E o que está acontecendo entre nós é bom. E quando você se sente desconfortável por não saber como se referir a mim, isso também me deixa desconfortável.” De tudo o que havia acontecido, aquela era a pior coisa. As únicas coisas que já conseguiram deixá-lo desconfortável em sua vida era a incessante obsessão de Naruto por ele e a falta de respostas relacionadas ao incidente envolvendo Itachi e sua família. Odiava viver com aquele tipo de sentimento.

Sai simplesmente não sabia o que dizer. O homem à sua frente realmente estava se declarando para ele? Dizendo que gostaria realmente que eles entrassem em um relacionamento? Um sentimento quente, e incrível, abraçou seu coração com vontade. Era aquele o gosto da felicidade? Era aquilo que significava gostar de alguém e ser correspondido? Seu rosto se moveu antes que ele pudesse processar todos os aqueles sentimentos; um sorriso contente e verdadeiro. 

“Eu quero. Namorar com você.” Apesar do Shimura querer viver para sempre naquela bolha de alegria e paixão, ele não poderia ignorar a realidade. Infelizmente, aquilo não mudava o problema que havia entre eles. Seu rosto se fechou tão rápido quanto se abriu, o que rendeu um olhar torto do outro lado. “Isso não muda o fato de que não sei como devo agir perto de você.”

“Sai, você pode agir da forma que você se sentir mais confortável.” Sasuke esperava com todas as suas forças que a forma confortável não implicasse em ficar grudado com ele o dia todo, porque se aquele fosse o caso, eles teriam que ter uma nova conversa sobre aquilo e ele acreditava que aquele tópico já estava ultrapassado o suficiente; já não haviam discutido vezes o suficiente sobre aquilo? Sai soltou um suspiro, cruzando as duas mãos na mesa. 

“Você sabe que não é bem assim.”

“O que exatamente você quer saber? Qual a sua preocupação?”

Um rubor leve tomou conta do rosto do ex-membro da extinta Raiz. O Uchiha realmente o faria colocar suas preocupações em palavras? Sai cora por um momento, sem acreditar que realmente teria que explicar algo tão íntimo. Entretanto, uma voz em sua cabeça lembrou-o que suas palavras haviam feito com que o outro se sentisse praticamente na obrigação de se declarar… e toda aquela decoração que ele havia feito para que eles pudessem ter aquele almoço, mesmo sabendo que aquilo ia na direção oposta dos atos normais de Sasuke… ele também não deveria ter um momento de coragem e oferecer nada menos do que as preocupações que habitam sua mente? 

“Eu quero saber se eu posso pegar na sua mão. Ou abraçar você. Ou beijá-lo.” Sua coragem durou só até aquele última palavra, pois, sentindo o peso do que havia falado, abaixou os olhos, tímido.

Por mais simplórias que Sasuke achava que aquelas preocupações fossem, considerando que ele não se importava nenhum pouco com a opinião das outras pessoas, percebeu que, do ponto de vista do Shimura, aquilo era um grande incômodo. Não conhecia muito de sua história, mas pelo pouco que havia ouvido sabia que na Raiz eles não tinham espaço para ser alguém. Seus verdadeiros nomes, seu passado, sua família… nada disso importava. Eles viviam para seguir um único objetivo. 

O Uchiha levantou-se e caminhou lentamente até estar ao lado do outro. Nenhum dos seus passos estavam sendo planejados. Colocou sua mão no ombro de Sai, o que fez com que ele levantasse ambos os olhos negros para si. O que estava prestes a fazer era algo que ele nunca havia feito em sua vida e, também, nunca se imaginou estando em tal situação. Mas, antes que tivesse muito tempo para refletir sobre seus atos, abaixou-se para encostar seus lábios nos do homem sentado. A boca dele era macia e quente, mesmo que o contato só tivesse durado cerca de cinco segundos. 

Sasuke ajeitou sua postura, voltando para a posição anterior, ali de pé ao lado do outro. Não tirou os olhos dos olhos do Shimura em nenhum momento. Queria passar confiança a ele com sua fala. Seu tom de voz saiu baixo, mas audível.

“No geral, eu não gosto de toques. Mas isso tem mudado um pouco por conta do Reiwa.” Fez uma pausa, como se estivesse refletindo sobre algo. “Não quero que você pense que não pode me tocar. Só precisarei de um tempo para me acostumar. Vou lhe deixar saber se eu me sentir desconfortável. E também quero que você me diga se algo lhe incomodar.” 

Sai se limitou a acenar, pois se tentasse falar, as palavras ficariam presas na garganta. Aquele era o mesmo Sasuke Uchiha, aquele de quem havia sentido tanta raiva durante tanto tempo? A passagem do tempo parecia surreal.

“Venha aqui.” Sasuke sussurrou, mal reconhecendo sua voz, que se tornou grave de repente, carregada de desejo e paixão. Apoiou a mão no pescoço de Sai, observando-o se levantar e ficar bem próximo a ele. 

De perto, o Uchiha ficava ainda mais bonito. O Shimura o olhou atentamente, sentindo-se tonto com aquela intensidade toda. Levou suas mãos para a cintura do outro, sentindo-se confortável de poder fazer aquilo sem culpa. Como era bom poder tocá-lo! Eles se aproximaram sem pressa, apenas curtindo aquela eletricidade entre eles, sabendo que no momento em que as bocas se encostassem, eles entrariam em combustão. 

Foi Sasuke quem tomou a iniciativa daquele vez, trazendo o pescoço do outro para unir os lábios. O beijo começou lento, mas esse ritmo não durou muito. Quando o possuidor do Rinnegan conduziu o convidado para a bancada ao lado da pia, colocando-o sentado em cima desta, o que era apenas uma faísca virou um incêndio. As bocas se moveram desesperadas, como se eles precisassem daquilo mais do que respirar. Sai subiu suas mãos para sentir a maciez dos fios negros, enquanto uma das suas coxas era apertada de uma forma prazerosa.

Então, por mais que ele quisesse tirar a imagem que de repente invadiu sua mente, não conseguiu. Foi por isso que decidiu se afastar um pouco, ficando cara a cara com um Sasuke com a boca avermelhada e o rosto cheio de confusão.

“Qual é o problema?”

“Não precisamos continuar se você não quiser.” Estaria mentindo se dissesse que não queria continuar, mas precisava respeitar o espaço do seu, agora, namorado. Tinham tentado cruzar aquele limite uma vez e o fato não foi tão bem recebido. 

“Do que você está falando?” 

“Da outra vez…” Então Sasuke se lembrou que não muito tempo atrás ele mesmo tinha interrompido os beijos porque não estava se sentindo confortável em mostrar sua cicatriz para Sai. No entanto, naquele momento, ele se sentia bem. Ele não se sentia inseguro nem nada parecido. 

Era estranho e até engraçado que, mesmo sem pensar muito naquilo ou trabalhar naquela pequena fagulha de insegurança que brotava dentro de si, ele já não se sentia mais tão incomodado com o que estivera outrora. Não sabia se os banhos conjuntos com Reiwa acabaram fazendo com que se sentisse mais confortável sobre o assunto. Até o momento a criança nunca havia perguntado o porquê o pai só tinha um braço, mas Sasuke sabia que aquele momento chegaria um dia. Então sua cabeça já havia criado algumas respostas para o filho. 

Felizmente, naquele momento, enquanto encarava Sai, ele percebeu que, de repente, não se importava mais em mostrar a ele seu membro mutilado. Ali, algo havia se tornado mais importante que sua insegurança: tocar e ser tocado. E aproveitar que finalmente estavam sozinhos, pois poderia demorar um pouco até que tivessem outra oportunidade como aquela. 

O Uchiha voltou ao presente. O outro aguardava uma resposta, os olhos brilhantes e tranquilos. 

“Agora as coisas são um pouco diferentes. Eu estou me sentindo bem. Podemos continuar.” Sasuke acariciou a perna do Shimura com carinho, diferente do aperto de minutos atrás, e aproximou-se para beijá-lo novamente. 

Sem mais questionamentos e esquecendo-se daquele assunto, Sai enganchou ambos os braços ao redor do pescoço do homem à sua frente. Ele se sentia quente e seu coração batia forte sabendo que eles estavam a ponto de dar o próximo passo. Já havia imaginado a cena algumas vezes, mas estar ali, com uma possibilidade enorme de que virasse realidade, era algo completamente diferente. Estremeceu quando o Uchiha deixou seus lábios e depositou um beijo ardente em seu pescoço, bem próximo à orelha. Gemeu baixo, surpreso com o contato repentino naquela parte sensível de seu corpo. 

Sasuke continuou beijando-o ali, enquanto sua única mão passava para a cintura, brincando com a barra de sua camisa. Quando o ex-nukenin deu a entender que gostaria de retirar sua camisa, Sai não se opôs. Se o toque já era intenso da forma que estava, sentí-lo em sua pele nua seria devastador. 

Assim que a peça de roupa foi retirada, o Uchiha afastou-se para apreciar o corpo à sua frente. O homem que estava sentado tinha uma pele clara, quase acinzentada e debaixo da camisa não era diferente. Tocou a cintura com cuidado, observando-o arfar. O torso era firme sobre a sua mão, ele gostava daquela sensação. Ambos gostavam. 

Sai puxou o outro para um novo beijo. A forma que ele tinha olhado para o seu tronco nu, com tanto desejo e paixão… ali não havia espaço para vergonha, apenas deleite e prazer. Nunca havia experimentado uma sensação como aquela. Queria mais, precisava de mais. Seu coração batia tão rápido que parecia querer sair do peito. Eles se aconchegaram no corpo um do outro, tão próximos quanto era possível, trocando carícias com fervor. 

Um ofego de horror cortou aquela bolha de excitação ao redor deles. Sasuke virou-se, assustado, escondendo-o dos olhares dos recém-chegados. TenTen estava roxa de constrangimento, cobrindo os olhos de Reiwa com uma das mãos. Quando tomou a decisão de levar a criança para casa, vendo o quanto ele estava se sentindo incomodado estando longe do pai, ela nunca imaginou que presenciaria uma cena de quase sexo entre aqueles dois. Não era apenas um almoço? Nem queria saber o que teria acontecido se tivessem chegado alguns minutos mais tarde.

“Nós não queríamos interromper.” A morena sussurrou, vendo com o canto dos olhos Sai descer da bancada e vestir sua camisa apressadamente. Sasuke não parecia nem levemente preocupado em ter sido flagrado naquela situação, enquanto o Shimura estava praticamente na mesma situação que ela.  

“Aconteceu alguma coisa?” Perguntou o Uchiha mais velho, com um tom de voz levemente apreensivo. Percebendo que o pior já havia passado, a Mitsashi levou seus olhos diretamente para o companheiro de equipe, que arrumava os cabelos, e retirou a mão dos olhos da criança, que olhava para todos aparentando confusão. 

“Nada demais. Ele disse que estava sentindo sua falta.” Sasuke não conseguiu segurar um sorriso envergonhado. Ele estendeu a mão para Reiwa, que saiu correndo para abraçar suas pernas. O pequeno apertou os braços ao redor dos membros inferiores dele da forma mais forte que conseguiu. Antes que o pai pudesse dizer alguma coisa, no entanto, a criança virou-se para Sai.

“Desenhos?” Ele parecia genuinamente empolgado. Como se agora que soubesse exatamente onde o pai estava, não houvesse mais motivo para preocupação e ele pudesse brincar tranquilamente. Todos riram e o mestre dos desenhos concordou com um sorriso reconfortante.  

“Por que vocês não vão para a sala, enquanto eu converso com o Sasuke?” O Shimura manteve o sorriso, mas foi inevitável que ele ficasse tenso. Por conhecer TenTen, ele imaginava que tipo de assunto ela queria conversar com o Uchiha. E isso o deixava, no mínimo, envergonhado, principalmente agora que toda aquela onda de coragem havia ido embora. 

“Sala.” Reiwa exclama, animado.

Saindo de trás de Sasuke, Sai estende sua mão para o pequeno, que não hesita em pegá-la. Eles caminham juntos para o outro cômodo, deixando os companheiros de time sozinhos. A Mitsashi se vira para o amigo com um sorriso malicioso, sendo recebido por ele com um grande suspiro.

“Na cozinha? Sério?” Seu tom de voz é de briga, mas ela não consegue deixar de sorrir. Não perderia por nada a chance de brincar com o outro sobre aquele assunto. 

“Vou tomar mais cuidado da próxima vez.” O Uchiha comenta, levantando a mão em rendição. 

“Próxima vez? Então vocês finalmente se acertaram? Estão namorando?” Sasuke não queria dar o gostinho da vitória a TenTen, porque ela falaria que estava certa desde o começo e blá blá blá, mas também como mentiria depois do que ela viu? Então, ele concordou lentamente, já preparado para o ataque de animação que ela daria. Sem decepcioná-lo, ela gritou a plenos pulmões, empolgada. 

“Não acredito!!!”

“Está tudo bem aí?” A voz de Sai veio baixa, mas audível o suficiente. 

“Sim, não se preocupe.” A kunoichi gritou de volta, extremamente empolgada. Ela se vira para Sasuke, com um sorriso que mal cabe em sua boca. “Isso é incrível.”

“Não pense que eu vou gritar assim quando você começar a namorar.” Sasuke provocou-a, um sorriso brincalhão se espalhando em seu rosto. Não era ótimo que as coisas parececem estar dando certo? Firmar um compromisso com Sai não havia sido tão assustador como ele havia pensado. Reiwa gostava dele, o que facilitava bastante as coisas. Conseguira deixar TenTen feliz, mesmo com todos os problemas que ela estava passando em sua vida. 

“Uma mulher pode sonhar.” Eles sorriem um para o outro, cúmplices. Então, repentinamente, como sempre, a morena bate palmas e seu sorriso se transforma em uma expressão séria. “Por mais que eu queira falar disso, temos detalhes para organizar. Eu consegui falar com todos e eles estão se organizando para ver o que vão trazer.” 

O Uchiha apenas suspirou, pensando que, conhecendo a amiga, eles não teriam um minuto de folga até que o primeiro convidado chegasse.