As piores sensações da vida estavam divididas entre derrubar comida acidentalmente no chão e rolar na cama, em tentativa de pegar no sono. Lilith havia sentido isso a semana inteira, aquele frio na espinha como a sensação de perigo que vinha se aproximando cada vez mais do garoto azul, Kyle Prince, e os dois sabiam disso. Até a audição de Yale estava mais aguçada a essa altura.

— Esqueça isso.— Disse a Ackerman, pulando com os sustos toda vez que algum aluno fechava a porta do armário.

Leybrand e Kyle caminhavam com elas naquela manhã. Ambos usando as jaquetas de couro dos Piratas. Todos os outros alunos olhavam torto para os dois, como se eles tivessem matado alguém para poder usar a jaqueta e aquilo a irritava, muito.

— Você quer que eu esqueça que vamos todos morrer? — Questionou em tom de piada. Percebeu que os quatro tinham aula de Cálculo com o professor novo. Entraram na terceira sala na direita do corredor e lá estava o professor. Ao vê-lo, Kyle se escondeu atrás de Yale o que foi uma cena cômica, visto que os dois tinham vinte centímetros de diferença.

— Porque você está se escondendo? — Perguntou Lili, e ele a mostrou um olhar arregalado e apontou para o professor.

— Ele é meu irmão. Era dele que eu estava fugindo quando nos encontramos. — Apesar dela estar preocupada, Yale soltou um riso forte, e se virou para Kyle, dizendo ironicamente:

— Como você espera se esconder atrás de mim, senhor um metro e oitenta? — E apontou para Leybrand, no que o Prince fez uma careta.

— Ele me mata se eu chegar perto dele. — Yale fez um aceno em concordância. Ela se virou para Kyle, e ele se sentiu nervoso por ser encarado durante tanto tempo por uma garota. Nunca tinha sido assim antes. Na verdade, ele nunca teria chegado perto de uma garota a não ser que fosse sua irmã, ou, se fosse pra quebrar a moça no soco, mas conhecer Lilith Teach mudou isso.

— O que foi? — Disse, já incomodado por ela olhar tanto. Desviou os olhos, porque tentar encarar ela de volta o faria ficar vermelho e ele sabia disso.

— Você poderia sair pela porta e cabular a aula. — Sugeriu, mesmo que aquilo fosse colocar o novo amigo em problemas maiores.

— Não. Se Ian está aqui, Jonathan deve estar lá fora. — O Prince olhou em volta, e não pôde se sentir menos sufocado. Os olhos castanhos de Jonathan o encaravam na última carteira da fileira onde ele normalmente ficava, e notou também que os olhos azuis de Ian também olhavam para ele. O garoto azul se moveu rapidamente para a cadeira que estava na frente de Jonathan, sentando-se ali. Se sentiu enjoado só de pensar na hipótese de sua desconfiança na realidade ser verdadeira.

— Quem está lá fora?

Perguntou, o nervosismo percorrendo por sua espinha. Não podia ser quem ele estava pensando. Eles queriam matá-la?

— Exatamente quem você está pensando. Sua esposa está lá. — Kayla Prince. Sua irmã e futura esposa. Um dos pontos importantes e antiquados dos Prince era manter o sangue na família, porque havia uma característica nos Aumanil que era chamada de absorção racial. Na verdade, era a crença de que os poderes se perderiam caso algum Prince se casasse com outro ser sobrenatural além de alguém de sua mesma raça. Por exemplo, se Yale se casasse com Kyle, os filhos do casal seriam inteiramente banshees, e não teriam as características dos Aumanil.

— Você vai fazê-la adoecer mais, Jonathan. Por favor, faça-a voltar para casa. Provavelmente nem foi.. — Interrompeu sua linha de raciocínio porque claro que foi uma escolha dela. Ela não gostava de ser vista como a garota fraca. Kayla era extremamente poderosa, mas sua doença a jogava para o banco de reservas. Ela provavelmente já estava ardendo em febre do lado de fora.

— Ela não estaria aqui se você não tivesse ido embora, maninho. — Provocou, e a vontade de Kyle de acertá-lo no rosto pareceu maior do que qualquer coisa que já havia sentido antes. Será que ele não se lembrava que sua ele e sua família  haviam tentado matar Kyle? Ele saiu disparado pela porta, sem nem ao menos falar com os novos amigos.

Yale notou que Ian sorria, mas preferiu não se intrometer em problemas de família. Ela já tinha problemas familiares o suficiente. Logo percebeu que o único assento vazio era na frente da ex-namorada de Leybrand, Allison Carrington.

— Ah, não. — Disse Allison, e Yale sorriu para ela, não de forma superior. Na verdade, sabia que Alli amava Leybrand de uma forma que ela nunca amaria.

(...)

O garoto azul respirou fundo ao chegar ao lado de fora, e Kayla estava ali, com o rosto vermelho de calor e o olhar vidrado no céu azul. Kyle chamou pelo nome dela, e ela se virou para ele, com aqueles olhos enormes, e ele sorriu, feliz em vê-la.

— Você partiu meu coração, Kyle Prince. — Disse Kay, e levantou-se para abraçá-lo. Ian e Jonathan realmente não conheciam Kayla. Ela nunca seria capaz de machucar ninguém de sua família. Ele havia sentido falta dos braços dela. Apesar de Kayla ser uma mulher soberba, eles tinham que manter uma relação saudável porque o garoto azul queria ser capaz de cuidar bem de seus filhos. Queria educá-los da forma que sua falecida tia, Mary Prince, havia feito. Seu próprio pai a havia matado mas a filha dela, Ahumi, estava viva.

— Você não devia estar aqui, Kayla. — A presença dela o deixava cansado. Ela era a dama principal, ela não podia ser tocada violentamente por ninguém na família pois ela tinha a missão de gerar a próxima geração. Se separou dele, encarando-o irritada. Suas habilidades não eram lá as mais poderosas entre os Prince, já que a sua doença impedia consideravelmente seu treinamento.

— Volte para casa. — Pediu ele, e ela negou com fervor. Ele se sentiu tentado a simplesmente desmaia-lá. E então algo o atingiu no estômago, e como ele não estava preparado, não pôde ativar a Auma que era a habilidade da família.

— Obrigada, Kayla. — Kyle reconheceu a voz de imediato, Jasper Prince era um dos piores. O garoto azul poderia até dizer que aquele irmão quebraria todas as regras da família.