O par perfeito escrita por Cristabel Fraser


Capítulo 2
Eu não preciso de você


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá... olhem eu aqui novamente com mais um capítulo fresquinho. Bem, inicio agradecendo a cada um que está dando a oportunidade para eu apresentar-lhes este projeto e também a quem favoritou e colocou nos acompanhamentos, muito obrigada mesmo. Sem cada um de vocês aqui eu seria apenas uma autora amadora escrevendo para os ecos do além, rss. Agradeço também as queridas Isabella e Gabi que me deram algumas dicas valiosas que muito me ajudou para a construção dos personagens, obrigada queridas. Este capítulo está um tanto grandinho, como alguns sabem só tenho o costume de fazer capítulo grandes quando é para um bônus, mas as ideias fluíram e não consegui parar de escrever até chegar em determinado ponto. Vou amar saber a opinião de vocês. Boa leitura e nos vemos lá embaixo.



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Eu não preciso de você. Eu estou bem, eu sou boa com ou sem você. Você não verá lágrimas. Não vai precisar de um tecido, porque eu vou ficar bem, e esse é o meu tempo...”

(Never Ever – Meghan Trainor)

♪♫♪♫♪♫♪♫

 

 

Após averiguarmos todo o perímetro do museu, Gale e eu fomos dispensados no fim do dia. Achei que por ter sido meu primeiro dia foi totalmente monótono. Eu precisava de ação, ou enlouqueceria.

— Você vai ficar bem? – pergunto para Peeta antes de ir pra casa.

— Esses não são meus primeiros ferimentos, moça. Já tive piores, acredite – diz ele calmamente. – Tente descansar, pois quando chegar a hora de entrarmos em ação de verdade não terá mais sossego. – Balanço a cabeça concordando ao me despedir e caminho até um ponto para chamar um taxi.

— Ei, Katniss quer carona? – Eu tinha vindo com Gale do departamento até aqui, mas não queria criar vínculos. Meu pensamento era apenas em manter nosso relacionamento profissional.

— Agradeço, mas vou ter que passar no mercado antes de ir pra casa... até amanhã. - Não dei muito espaço para puxar assunto e já fui entrando num taxi quando este parou.

Assim que chego escuto uma agitação vindo do quarto da minha prima e quando bato de leve na porta entreaberta a vejo fazer malabarismos entre fechar o zíper do vestido e calçar as sandálias.

— Ah, que bom que chegou, Kat... pode fechar pra mim? – pede assim que nota minha presença e prontamente a ajudo. – Acha que estou exagerando para apenas conhecer alguém? – diz ela apreensiva.

— A frase “a primeira impressão é a que fica” significa algo pra você? – pergunto e ela dá um risinho.

— Bem, se ele estiver mal arrumado vou entender que não quer passar uma boa impressão, certo?

Acabamos por rir.

— Madge, você sempre foi vaidosa e temos que nos apresentar como somos de verdade.

— Ok, então... como estou?

— Está linda.

— Como foi seu primeiro dia?

Caminhamos para sala e acabo por me jogar no sofá.

— Foi normal, ou seja, sem ação alguma. – Dou de ombros.

— Acalme-se Everdeen, já, já sua pacata vida irá mudar. Sei disso pelos inúmeros de processo que reviso todos os dias. Annie me consolou dizendo que mais tarde iríamos beber e esquecer nosso dia.

Ela deu mais uma olhada no espelho acima do aparador e se despediu jogando alguns beijinhos no ar.

— Divirta-se! – grito quando ela fecha a porta.

Sigo até meu pequeno quarto e tomo um relaxante banho. Visto uma camisola leve, afinal o calor está estrondoso. Sigo até a cozinha e encontro metade da pizza da noite anterior. Dou uma aquecida e bebo um refrigerante pra acompanhar. Volto para a sala ligando a TV e começo a zapear os canais até encontrar um onde está passando um seriado de comédia.

Meu celular começa a tocar e no visor vejo a foto da minha irmã.

— Ei, Patinho como vai sua vida nada tranquila?

— Não me chame assim Katnisse sabe o quão odeio esse apelidinho tolo, não sou mais um bebê que caga toda hora.

— Uh, alguém acordou do lado contrário do planeta hoje. Ok, me perdoe, mas me diga como está, futura cirurgiã?

— Correria total Kat, eu mastigo os livros ao invés de comida, mas ser médica é o que sempre quis, então... vou indo bem. Os professores sempre me chamam para ser a assistente.

— Ou seja, você é a primeira da classe. – Nós duas rimos e ela me atualiza sobre sua rotina. – E o papai, como ele está?

— Ele vai te ligar a qualquer momento. Está em uma missão em algum lugar na Nigéria. Ai, ai... – suspira ela, antes de continuar. – Papai pediu para que você viesse ficar comigo até ele voltar, sabe se lá quando, mas uma amiga da faculdade falou com os pais e eles conversaram com o papai assegurando que eu podia ficar com eles e que estaria bem.

— E ele deixou? – Ela dá um risinho e pigarreia antes de me responder.

— Digamos que ele teve de conhecer até a terceira geração da família de Rue, mas no fim deixou e aqui estou. Ela desceu para preparar café, pois teremos uma apresentação amanhã e é importante termos um bom desempenho.

— Uau, você progrediu muito Primrose Everdeen, nunca pensei que viveria para te ver tomando café forte e puro.

— Também não imaginei viver pra te ver seguindo os passos do papai, ou quase isso. E não é só eu que virei amante da bebida forte, não é?

— Você tem toda razão, mana. Vamos admitir que nós duas precisamos estar cem por cento acordadas quando o dever nos chamar.

— Mas e você Kat, como foi o primeiro dia? – Vou em frente e conto a ela as gafes e surpresas vividas neste dia. – Minha nossa essa vai para o Livro dos Records de que você é a pessoa mais azarada da face da Terra. Quem diria, Gale Hawthorne ser seu parceiro, e o desgraçado só ficou ainda mais bonito!

— Isso sem contar os outros dois agentes que tive de passar o meu dia, mas um é casado então não conta.

— Mas e o loiro bonitão? Esse dá para você investir – graceja de modo que me irrita, mas conhecendo minha irmã apenas digo:

— Não me dou ao luxo de paquerar em serviço.

— Mas se o colírio para os olhos te dá uma animação para ser acordada pelo seu despertador chato todas as manhãs, acho que vale a pena estar no seu posto – diz ela referindo-se ao Peeta. – Cuidado pra não virar a enfermeira particular dele, pode ser que o paciente se apaixone como aconteceu com a mamãe e papai.

— Ah, mana não me faça lembrar na história de nossos pais.

Conversamos por mais algum tempo até que nos despedimos com uma promessa de um encontro de irmãs, isso significava cinema, pipoca e outras guloseimas.

 

✗✗✗

 

— Katniss... Katniss, acorde. – Sinto alguém me cutucar com leveza, mas certa delicadeza acaba no instante seguinte.

— Madge... já é hora de eu ir trabalhar? – bocejo sentindo um sono desgraçado.

— Não, acabei de chegar e você estava dormindo toda torta no sofá.

— Ah, isso... é que o seriado estava tão interessante sabe... – Solto mais um bocejo e desta vez me levanto avaliando a aparência da minha prima. – Pelo visto o cara fedia e estava mal arrumado – observo a figura à frente analisando sua leitura corporal, braços cruzados na altura do peito e cara de desapontamento.

— Pois te digo que ele se encontrava tremendamente bonito e o cabelo impecavelmente penteado, sem contar o perfume Calvin Klein irresistível.

— O cara era um desprezível metido a besta, então? – Chuto mais uma teoria e pelo seu revirar de olhos errei novamente.

— O maior problema é ele ser, Gale Hawthorne.

Tive que desviar meus olhos para um outro ponto conhecido de nosso apartamento só para verificar se estava acontecendo algum tipo de apocalipse zumbi, mas a dura, triste e cruel realidade em me deparar com um vaso indiano que tia Maya – mãe de Madge – nos trouxe em sua última visita me fez perceber que eu não tinha atravessado nenhuma dimensão paralela e nem ocorria algum tipo de apocalipse.

Resfoleguei antes de voltar a encara-la.

— A essa altura você deve ter descoberto que somos parceiros de campo e que... pera aí! – Coço minha cabeça instintivamente e penso na sua amiga Annie. – Madge, quem é o marido da sua amiga?

— Finnick Odair, você o conheceu? – pergunta ela mais perplexa do que eu.

— Sim, e não só o conheci como estamos trabalhando em um caso.

— Meu Deus, achei que nunca iria passar por um efeito borboleta e cá estamos, prima. – Ela caminha até a outra ponta da sala e prepara dois drinks e me entrega um.

— Mas o encontro foi tão horrível assim? Te adianto que não me importo se você se apaixonar por ele, mas não sem antes o canalha provar que mudou.

— Ai que horror Kat. Não estou tão na fossa assim pra agarrar o primeiro que aparece. Faz apenas três meses que Wes e eu terminamos.

— Um bom motivo pra você seguir em frente.

— Estou seguindo. Wes implicava demais comigo, não quero estar com outro alguém assim.

— Mas e aí, vocês conversaram?

— Sim, conversamos. Primeiro fingimos que nunca nos tínhamos vistos. Depois Annie e Finnick nos deixou a sós para “nos conhecermos melhor” e no fim, foi uma despedida sem drama e os Odair querendo marcar um próximo encontro em outro bar onde tem noite de Karaokê.

— Uau, os Odair estão se achando os casamenteiros.

— Nem brinca com isso, Kat.

— Mas o que você achou do Gale de agora?

— Ele não parece tão babaca como quando você terminou com ele, mas eu não o quero como namorado.

— Infelizmente não posso te dizer muito sobre ele, Madge. Hoje em campo ele me pareceu mais centrado, sabe? Mas isso não quer dizer nada. Em minha mente ele continua sendo o desprezível, galinha comedor de loiras... opa, sem querer ofende-la. – Dou um risinho constrangedor e descarto a ideia de comentar com ela sobre o olhar estranho que ele tinha quanto a minha interação com Peeta.

— Pode apostar que não me sinto ofendida, prima. Sou superior a qualquer oxigenada que aquele caçador de buidseach levou pra cama.

Buidseach? Que porcaria de termo é esse?

— Quer dizer bruxa, em gaélico escocês. Cortesia de uma cliente requintada casada com o homem mais lindo que já vi na vida.

— Ah, para vai... – Faço uma careta e ela só quer me explicar toda sua trama.

— Lavínia, é só casada com Darius Mackenzie, o escocês mais doce e cortês que já se viu na vida. Ele está abrindo uma filial com um outro executivo em Manhattan, e o casal veio em nosso respeitado escritório pedir que fizéssemos e acompanhássemos todo o processo dessa filial.

— Porque os melhores homens já estão casados e só os cafajestes estão a solta?

— Porque a vida conspira contra nós, entende?

Fizemos um brinde as nossas “vidas perfeitas” e acabamos por quase beber toda a garrafa de vodca. Conversamos amenidades e contei a ela sobre meu dia e ela quis detalhes, e quando o fiz, me incentivou sobre Peeta e como fiz com minha irmã, descartei a ideia.

— Tive uma ideia, assim que tirarmos férias vamos para a Grécia e conhecer algum gringo bonitão e nos extravasarmos como se o amanhã não fosse existir e vamos nos divertir, prima – sugere ela quando estamos diante das respectivas portas de nosso quarto.

— Ótima ideia.

 

✗✗✗

 

Realmente acordar com meu rádio despertador era uma tortura e talvez, somente talvez, a simples ideia de ver o colírio para os meus olhos - como Prim tinha mencionado - me desse um pouco de pique pra acordar um pouco mais animada. Com isso em mente, tomo um banho bem tomado. Penteio minhas madeixas  castanhas as jogando para o lado direito deixando um ar sexy e despojado. Que pensamento é esse Katniss? Briga minha consciência. Não é nada consciência, eu só quero me arrumar e ser feliz comigo mesma. Devolvo fazendo minha maquiagem frente ao espelho. Borrifo meu J’adore in Joy e deixo vidente que por onde passar serei notada pelo aroma marcante da colônia.

Dou mais uma voltinha no espelho do quarto, noto que a calça marca bem minha silhueta e pelo menos três botões da minha camisa deixa vidente meus seios. Visto meu terninho por cima, ajeito meu distintivo e pego minhas coisas indo em direção a saída.

— Bom dia prima, quer carona? – Madge como um ritual diário bebia sua vitamina de morango. – Servida? – Ergue seu copo duplo e nego com a cabeça.

— Vou tomar café perto do DP.

— Então vamos zarpar agora. – Ela recolhe sua pasta de cima da mesa e as chaves do carro. Quando percebo estamos a um quarteirão de onde trabalho e minha prima usa seu habitual óculos de sol que quase lhe tampa todo o rosto. – Errr... se importa se eu deixá-la aqui? Não quero correr o risco de ver, você sabe quem e ele se achar o tal por me ver no dia seguinte ao encontro.

— Prima, você já fez muito em me trazer novamente. Aliás, preciso comprar um carro...

— Deixe de ser boba, garota. Enquanto eu puder posso te trazer, só não garanto vir te buscar, porque as vezes saio tarde do escritório.

— Tranquilo, Madge. Tenha um bom dia.

— Bom dia pra ti também amada. – Trocamos nossos beijinhos na face e parto para meu destino, mas não sem antes passar na cafeteria e pegar um café e pãezinhos de queijo, meu café da manhã favorito.

Adentro o departamento e logo avisto Finnick, Gale e Peeta, este terceiro está sentado na ponta da mesa, e meu Cristo ele usa uma camisa azul clara, um colete cinza combinando e perto dele vejo um terno que deduzo fazer parte de seu look. Paro no meio do caminho e olho de um lado para outro, tentando inutilmente encontrar algum rosto conhecido que não fosse as três figuras masculinas, mas não tenho sucesso algum, pois não conheço ninguém e os três patetas que riam entre si e comiam algo acabam por me notar e Finnick faz um aceno nada discreto daquele tipo “mamãe estou aqui”. Abaixo a cabeça e a sacudo tornando a levantá-la e seguir com ela erguida tomando cuidado para não tropeçar em nenhuma mesa.

Alguns agentes e recepcionistas que se encontram em suas mesas me olham curiosamente. Aqui tudo é separado por biombos envidraçados e há algumas salas particulares ao redor.

— Ah, Everdeen você perdeu... – Finnick mal espera eu aproximar deles e já descarrega. – Sua prima é sensacional, muito inteligente por sinal. Nosso colega aqui ficou caidinho por ela. – Ele dá um encontrão no ombro do moreno que me encara com um ar bem sem graça.

— Quer rosquinha? – Peeta me oferece estendendo uma caixa com uma variedade atraente, seu sorriso enviesado e seu inebriante cheiro-  que por um segundo me embriaga - quase me faz pegar o doce, mas paro no meio do caminho.

— Obrigada, mas acabei de comprar meu café. Pão de queijo... – Ergo o pacote com um risinho e ele sorri de volta enquanto balança a cabeça.

— Boa escolha, moça.

— Achei que só os tira curtissem rosquinhas.

— Você vai perceber que rosquinhas, café, cachorro-quente, pizza, hambúrguer, refrigerante e milk-shakes são os alimentos que mais consumimos por conta da correria.

— Como conseguem manter a forma?

— De duas a três horas na academia daqui do distrito e um regiminho básico de vez em quando... – ele reflete por um tempo. – Bem, eu não faço essa última, mas acho que não tenho tendência a ser obeso, acho que é isso.

— De repente Gale e eu sobramos e fomos enterrados no Saara. – Finnick fala divertindo-se com a situação e quando olho Gale, este tem uma compenetração em mim que chega a me assustar. Levanto minha sobrancelha direita e ele entende as entrelinhas que estou claramente perguntando “o que foi?”

Nós terminamos de comer e somos designados para nossos anteriores postos, ou seja, de volta a Van frente ao museu.

— Katniss tem um minuto? – O moreno segura meu antebraço quando estamos no parque próximo ao automóvel.

— Um minuto – aponto para meu relógio de pulso e ele revira os olhos cinzentos.

— Estou falando sério. Quero que saiba, que não sabia que a Annie e o Finnick iriam me apresentar sua prima.

— E o que eu tenho com isso?

— Eu-eu... – ele gagueja e percebo sua tensão quando passa as mãos sobre o rosto, conheço muito bem o gesto, afinal tivemos uma história. – Que droga... por que é tão difícil conversar quando me olha deste jeito...

— De que jeito? – pergunto perplexa.

— Sei que nunca vai me perdoar pelo o que fiz com você e...

— Eu não quero que você desenterre coisas que têm que ficar enterradas. Não quero suas desculpas...

— Espere Katniss, me deixe falar...

— Falar o que, Gale? – Me exaspero e sei que gritei porque algumas pessoas que passam por nós, nos encaram. – Não temos nada pra falar. – Abaixo o tom da minha voz e aponto o dedo em riste em sua direção. -  Não quero que você mencione nada sobre nosso passado a ninguém, tá me entendo? Se fizer isso, juro que corto o fluxo do seu sangue e não o faço voltar a respirar – digo ameaçadora, mas me arrependo no mesmo instante, ele me olha assustado e suas íris brilham em contato com as minhas.

— Mas quero tentar fazer meu pedido de desculpas. Sei que não mereço seu perdão. Você sempre foi incrível e foi além de melhor amiga e amante. Você foi a irmã que sempre quis ter... – ele diz com a voz afável e cheia de sentimentos. Sinto minha garganta se apertar. Sempre tive o mesmo sentimento por ele. Sempre o amei como um irmão. Ele me ensinava tantas coisas e me defendia de todos. – Só quero que saiba que te amei de diversas formas, mas a que mais significou, foi ter sido seu irmão. Sei que sou um ordinário desgraçado por ter traído você daquela forma. Mas se isso te conforta, todas as vezes que ia visita-la sentia repulsa e nojo de mim mesmo. Tentei por vezes contar tudo e terminar o namoro, mas daí você me olhava daquele jeito doce e terno de sempre e pedia pra eu nunca me afastar...

— Pare já! – Não permito que as lágrimas vertam de meus vasos lacrimais e a única solução é cuspir minha raiva. – Eu não preciso de você, Gale. Na verdade, nunca precisei. Você faz da tua vida o que quiser, só não se meta com quem amo – aponto meu dedo indicador na ponta de seu nariz e noto o olhar assustado. – Fique bem longe da minha prima, ou vai se ver comigo!

Antes de adentrar a Van e encarar meus dois colegas, visto a máscara da serenidade e finjo que nada aconteceu. Logo Gale aparece e pela sua expressão - se não estava chorando faltou bem pouco -, mas não ligo, pois ele não ligou no passado e mesmo que se sentisse um cachorro desgraçado, não teve a decência de ser sincero naquela época. E por que no dia de hoje ele queria se explicar? Não me importo. O que me interessa é entrar em alguma sala de balística e atirar em alvos até acabar com as balas.

— Está pronta pra entrar em ação, agente Everdeen? – pergunta Peeta me estendendo uma pasta e no momento que verifico o que está escrito, vejo que se trata de um disfarce. Vou ser uma repórter durante a missão. Terei que abordar alguns civis e pessoas importantes que eles me indicarem. – Serei seu câmera-man, ok? – Me limito a concordar com a cabeça e logo Finnick me pede licença e começa a colocar escuta, câmera escondida, um crachá de imprensa, para eu pregar no terninho e por último me entrega um comunicador auricular.

Nossa missão é árdua e cansativa no quesito de ficarmos por horas em pé e eu ficar fazendo diversas perguntas a cada individuo que passava por nós na entrada do museu. Acho que só não é mais cansativo por conta da bela visão a minha frente, me fitando a todo tempo.

— E voltamos aos nossos estúdios – digo teatralmente.

— Está cansada? – Meu câmera abaixa a filmadora e vejo o cansaço estampado em seus olhos também.

— Já entrevistei praticamente todos que entraram nesse evento e nada...

— Calma, não se desanime, moça. E aí vem mais um... – ele aponta para determinada direção e lá vou eu abordar mais um, mas percebo um sotaque bem diferente. Peeta me encara estranhamente e escuto quando o ponto em meu ouvido diz para ficarmos em alerta. Finnick me passa algumas instruções e deixamos o individuo passar. – Vem comigo. – Peeta segura meu braço e nos encaminha para nosso ponto de espionagem. – Você veste tamanho... 40, certo? – diz ele me analisando dos pés à cabeça.

— Sim, mas como...

— Abre aqui Finnick. – Ele me ignora a princípio quando bate levemente na porta do veículo e em instante está me estendendo uma sacola da Versace. – Tome, vai se vestir e estarei te esperando aqui.

— Me-me... me vestir aonde?

— Aqui no seu camarim. – Finnick sai da Van sendo acompanhado por Gale e aponta para eu entrar sozinha. – Vai se acostumando, a Van sempre será seu camarim quando precisar entrar em ação.

— Entrar em ação?

— Sim, moça. Chega de perguntas e vista-se logo. – Peeta já se ajeitava colocando um smoking de corte perfeito e Finnick o ajudava colocando uma gravata borboleta preta, mas que tinha uma espécie de câmera escondida.

Acato sua ordem e sem mais protestos entro no meu “camarim”. Ao abrir a sacola tiro de dentro um deslumbrante vestido de cor alaranjada, mas não uma laranja aceso e gritante, mas a tonalidade se adere como o laranja do pôr-do-sol. O modelo era lindo. Alças duplas de cada lado do ombro. O decote era discreto contendo algumas contas bem distribuídas no busto que deixavam um ar soberano e o comprimento ultrapassa os meus pés calçados com um Peep Toe preto nada a ver com o vestido o qual não conseguia terminar de fechar o zíper.

— Uma ajudinha aqui seria ótima – digo colocando a cabeça pra fora. Peeta prontamente se solicita, e seu olhar queima sobre mim, mas talvez seja o quão descabelada eu devia estar. – O zíper... – Me viro e sinto um arrepio quando suas mãos habilmente terminaram de subir o zíper. – Devo estar parecendo uma leoa que acabou de correr atrás de sua presa e sem sucesso não conseguiu se alimentar.

— Cristo, está falando sério? – O encaro sem ter o que dizer. – Eu diria que está mais para uma tigresa do que leoa, mas não quero discutir com você já que posso ser caçado, né? – Novamente fico sem palavras, ele tinha exatamente esse efeito em mim. – Bem, tem um par de sandálias dentro da sacola e algum tipo de prendedor de cabelo, acho que vai combinar com seu look e te dou cinco minutos, nada mais, para terminar de se arrumar. Estamos perdendo tempo.

Com toda certeza eu teria que me esforçar para ser mais rápida em me arrumar nos próximos disfarces, tão rápida quanto o The Flash. As sandálias de marca Casadelly me chamaram a atenção pelo estilo autentico. Por incrível que pareça coube perfeitamente em meus pés. Fiz um coque desajeitado como eu tinha visto em algumas celebridades e o toque final foi o prendedor cujo o detalhe era uma libélula de cor cobre.

Assim que desço da Van uma mão ampara a minha para que eu não caia.

— Pronta para enfrentar o perigo? – Seus olhos cintilam sob a luz da iluminação do parque e da lua que banhava a noite.

— Poxa, achei que não sairia mais de dentro – reclama Finnick, mas por trás da sua máscara de indignação vejo todo o divertimento.

— Me desculpe, fui pega desprevenida. – Dou de ombros e ele ajeita todos os mini aparatos tecnológicos necessários em mim, pedindo permissão em algum ponto que ficou claramente sem graça.

— É isso aí agentes, resolvam isso rapidamente. Outros agentes entrarão em ação assim que tiverem um sinal. Saibam que tem outra equipe disfarçada lá dentro – informa, e Peeta e eu trocamos um rápido olhar. Olho para Gale, mas ele continua calado até meu acompanhante lhe acenar com a cabeça.

— Boa sorte. – É a única frase que escuto do moreno.

— Devemos ficar todo tempo juntos. Você enrosque seu braço no meu e ficará sorrindo, como se tivesse acabado de receber um aumento do seu chefe, ou qualquer agrado que mais gosta de receber – ele dita de forma profissional. – A propósito, este vestido lhe caiu muito bem. Você está linda, se me permite dizer.

— Obrigada... – Aceito de bom grado seu elogio, mas não deixo de sentir minhas bochechas se aquecerem. – Quem comprou esse look e como sabiam meu tamanho?

— Moça tenho uma amiga que é mágica, e ela sabe tudo sobre todos... – O encaro como se não estivesse caindo em sua ladainha e ele sorri pra mim. – Bem, é verdade que eu tenho uma amiga mágica, mas quem passou todos esses detalhes foi o Gale, e eu comprei tudo e agora fará parte de seu guarda-roupas.

— Gale que deu detalhes? – pergunto sentindo meu sangue parar de circular por um momento.

— Sim, ontem depois que você se foi, concordamos que precisávamos de preparar algum disfarce além do carro de emissora de TV. Pensamos que uma hora, ou outra precisaríamos entrar em ação, entretanto essa foi uma ideia que tivemos – ele aponta para o vestido. – Espero que tenha gostado.

— Eu gostei muito, mas não fiquei apagada com essa cor?

— Não, você está como as tardes de verão que sempre adorei contemplar da janela do meu quarto, na casa dos meus pais.

— Devo acreditar?

— Sim, com toda certeza. Essa tonalidade é minha cor favorita. A cor do pôr-do-sol.

Para desviar do meu constrangimento lembro de uma pauta dessa conversa.

— O que Gale falou sobre mim?

— Ele nos contou que te conhecia desde quando você era uma garota e que eram como irmãos de sangue. Que um, sempre ajudava o outro. E acabei dizendo que agora vocês dois voltaram a ser como irmãos, ou talvez seria algo a mais...? – ele raspa a garganta uma vez e sinto um calafrio por todo meu corpo.

— Gale e eu fomos bem unidos no passado, e hoje... bem, trabalhamos juntos, apenas isso. Não tenho nenhum tipo de envolvimento com ele.

— Ele só disse coisas boas sobre você.

— Ah, que ótimo... quer dizer então, que sou o centro da conversa dos três patetas?

— Ei, eu não sou pateta, e só pra deixar bem claro, falamos diversos assuntos. Você não foi o centro de nada. Respeito a privacidade de uma dama. – Peeta entrega um cartão de visitas ao segurança na entrada e adentramos o saguão principal. O local está lotado de pessoas, e como ele me orientou, enrosco meu braço no seu e começamos a caminhar lentamente.

— Seu olho me parece bem – digo referindo ao olho inchado do dia anterior.

— Finnick fez uma maquiagem impecável pra que não parecesse que eu fosse atingido, o que achou? – Ele vira o rosto de um lado para o outro pra que eu analisasse.

— Finnick fez maquiagem? – inquiro incrédula.

— Sim, ele faz isso muito bem, mas só pra constar foi apenas base pra tampar o roxo. Ele manja até umas horas no Photoshop, então fazer isso em alguém é fichinha pra ele.

— Compreendo.

Iniciamos uma lenta caminhada e acabamos por admirar vários artefatos e alguns quadros.

— A primeira coisa que fiz quando vim morar em Nova York foi visitar o museu de História Natural. Lá é incrível, já foi alguma vez?

— Só quando eu era criança, tenho poucas lembranças, mas lembro que o lugar que mais adorei foi o Conservatório de Borboletas, achei incrível aquelas quinhentas borboletas voando.

— Meu lugar favorito foi a Exploração Espacial e o piso onde ficam os Dinossauros. - Acabamos por rir juntos, mas Peeta olha por cima dos meus ombros para logo fitar meus olhos. – Preciso que venha comigo e tente parecer o mais natural possível – concordo com a cabeça e seguimos com meu braço enroscado ao seu por outro corredor. – Ri como se eu estivesse contando algo engraçado – sussurra ele em meu ouvido e sinto um forte arrepio, mas faço o que me pede e rio. – Não estou escutando direito, precisamos nos aproximar mais – fala ele baixinho.

— Como assim? – pergunto no mesmo tom.

Ele apenas segura minha mão e me puxa.

— Você está tão linda. Sei que já disse isso milhares de vezes, mas você é a mulher mais linda que eu já vi em toda minha vida. – Arregalo meus olhos surpresa pelo o que acabei de escutar, e não só isso, mas Peeta colocava algumas mexas que insistiam em cair sobre meu rosto, atrás da minha orelha enquanto falava. – Finnick é ele, tenho certeza. Posso aborda-lo? – O loiro olha em direção a uma câmera de segurança acima nós e pelo meu comunicador escuto a voz do Odair.

— Ele está falando alguma coisa em russo, você consegue compreender?

— Sim, ele está ao telefone com algum comparsa, tenho certeza. É algo sobre esta noite. Consegue rastrear o ID com quem ele está falando?

— Consigo, só vai levar um minuto.— Desta vez eu é que olho por cima dos ombros de Peeta, evidentemente o salto e um pouquinho de esforço consigo isso, já que ele é bem mais alto. O homem o qual estamos espreitando realmente tem um idioma russo. Não entendo nem sequer uma palavra do que diz, mas pelo visto Peeta sim. – Pronto, Mellark. Localizei o suspeito a quatro quarteirões daí. Vou acionar alguns agentes que estão por aí e você pode aborda-lo... agora!

Finnick corta o contato conosco e Peeta finge se esbarrar sem querer no homem e em minutos os dois iniciam um embate corpo a corpo e trocam farpas em russo entre si. O local que estamos não há movimentação e agradeço mentalmente por isso. Eu, vendo que Peeta tem tudo sob controle não interfiro, e tudo acaba com o loiro algemando o homem e recitando os procedimentos padrões da apreensão.

— Você está bem? Parece um pouco pálida – observa ele, assim que estamos do lado de fora.

— Estou bem, só um tanto surpresa.

— O que aprendeu no seu curso e nos testes preparatórios?

— Aprendi muita coisa, mas ele me pareceu muito mal. Por um instante achei que ele fosse acionar alguma bomba.

Ele dá um risinho antes de comentar:

— Pelo o que Finnick vinha observando, não tinha nada suspeito sobre bombas. Eles queriam mais é atrapalhar os termos políticos.

— E agora, o que acontece?

— Ele será interrogado, investigado e deportado para seu país.

— Eu não sabia que você falava russo.

— Sei algumas línguas, mas nada para me gabar. Segundo meus pais e educadores, sempre tive um QI avançado, e minha mãe me colocava em vários cursos, dentre eles o de línguas estrangeiras.

Fiquei admirada com ele, mas o que não me saía da cabeça era o tom romântico que usou comigo há pouco. Estou meio desnorteada até agora.

Somos informados que devemos apresentar um relatório de campo no dia seguinte. Quando somos dispensados Peeta pergunta como irei embora e digo que de taxi. Ele me oferece carona, mas nego agradecendo pela condescendência. Fico sabendo por Finnick que Gale era pra estar no lugar de Peeta na missão, mas que de última hora não estava se sentindo bem.

Talvez o motivo fosse ele ter se sentido intimidado por mim, mas não queria pensar nisso agora. O que eu mais queria era chegar em casa e descansar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse impasse da Kat e do Gale? Bem pessoal o foco dessa minha fic é o nosso amado casal Peetniss, mas sempre aparecerá os amigos e familiares desses dois fofos. Muita coisa ainda acontecerá para chegar até o ponto da One AMS (A MANHÃ SEGUINTE) e consequentemente dar continuidade a partir dela. Uma certa personagem, que aliás será marcante nessa fic ainda aparecerá, querem dica? (uma certa mágica com varinha e  cartola) aguardem. Não sejam tímidos e me presenteiem com comentários e eu devolvo com um novo capítulo.

Ps: Não estou colocando limites de comentários pra eu postar, mas gosto de saber a opinião de vocês. Tenham todos um ótimo FDS e quanto as outras fics onde sou coautora serão atualizadas, ok? É só que não depende apenas de mim moçada. ;-)



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