Entre os sons e as palavras escrita por RMartins


Capítulo 2
Como ele me conquistou?




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Sou acostumada a ser deixada. Todos fazem isso, mesmo meus pais o fizeram deixando-me crescer por mim mesmo.

Construo todas as minhas relações assim: Pronta para receber, acolher e deixar ir. Ninguém iria querer ficar mesmo.

Um novo cara começou o processo de conhecer. O nome dele é Lúcio Valero e ele é escritor. Nos conhecemos em uma cafeteria do meu bairro. Porém, realmente conversamos em um segundo encontro inesperado: em um bar que eu não queria ir.

Tudo correu bem durante a noite, trocamos os contatos e beijamos. Sim, foi bem rápido, mas eu gostei.

Agora, tenho que me focar em terminas minha composição (sou uma musicista). Vou participar de uma competição que o prémio será um ano de estudo pago na Berklee College of Music. Pensava que iria conseguir iniciar meus trabalhos, pois ninguém me procura mesmo. Me enganei.

Quando acordei e olhei para meu celular pude reparar que havia uma mensagem. Era de Lúcio.

“Bom dia Camille. Ontem foi um dia muito divertido e eu quero agradecer por isso. O que acha de ir em uma exposição que está ocorrendo hoje? Vou entender se não poder, está muito em cima da hora... mas iria adorar sua companhia”.

Eu sabia da exposição que ele falava. Era o circuito Arte, Música e Letra. Basicamente, artistas de rua iriam expor seus quadros, esculturas, poesias, composições e todo tipo de arte em praça pública. Maldito, acertou a isca exata para me chamar para sair.

“Eu aceito sim Lúcio! O que acha de encontramos na praça as 14? ”.

 “Ok! Te espero lá”.

Pronto, tinha marcado o “segundo encontro” mais rápido da minha vida. Agora tinha um desafio: Decidir o que vestir em no máximo duas horas. Isso se eu quisesse chegar em cima do horário.

Decidi pedir reforço! Liguei para Emelly, ela é designer de moda e sempre me salvava nesses momentos. Outro fator de ter ligado, foi que por sua causa que fui no bar no dia anterio. Ela havia usando o argumento “Ninguém pode se trancar tanto tempo no próprio quarto”.

― Emy, me salva! O cara de ontem me chamou para sair e eu não sei o que usar.

― Calma, o escritor? O de cabelos pretos e olhos verdes? Nossa, ele é bem apressadinho, né?

― Sim! Mas, ele me chamou para ir no circuito de Arte.

― Maldito, acertou na mosca.

― Pois é! Mas vamos parar de falar disso. Preciso decidir o que usar!

― Use suas roupas normais menina. Aquela blusa horrível do Senhor dos Anéis e uma calça jeans. Supondo pela cara de Nerd dele aposto que adora isso.

― Como imaginei, te liguei atoa... vou resolver aqui e depois te conto como foi.

Bem, o maior problema de Emy era o fato dela nunca gostar dos caras que saio... algo como ciúme de melhor amiga. Mesmo estando em dúvida decidi acatar a sugestão dela.  Blusa do Senhor do Anéis, calça jeans, tênis all-star.

Fiquei pronta mais rápido que imaginei e cheguei bem antes do horário. Decidi por aproveitar o local enquanto não chegava a hora combinada.

A praça era grande, arborizada, com duas estuas horríveis de antigos prefeitos. Os artistas tinham se espalhado por ela de forma aleatória. Embaixo de uma arvore tinha uma menina que tocava um alaúde (um instrumento antigo que era usado por trovadores no passado) e algumas pessoas se aglomeravam em torno.  Decidi me aproximar do grupo e para minha surpresa a garota acompanhava o que parecia um poeta que conclamava uma poesia.

“Oh! Azul que és belo em teus tons.

Tocar-te deve ser como tocar o céu.

Ter-te deve ser como ter o mar.

Sentir-te deve ser como sentir a uma estrela.

Espero ver-te novamente.

Em meio a esses tons que me tanto me encantaram. ”

Por estar acompanhando a união da voz que conclamava e o instrumento que usava de uma tática ardilosa de quatro notas acabei por não notar que estava recitando a poesia. Para minha surpresa era Lúcio. Gentil, engraçado, culto e poeta. Vai dar merda.

Assim que ele abriu os olhos ao terminar de recitar, sua visão bateu de encontro com a minha. Nunca tinha visto alguém mudar do tom de pele branco para o vermelho tão rápido. Ele ficou bem fofo envergonhado.

Após ter cumprimentado a garota que tocava e algumas pessoas que o parabenizavam ele veio até mim.

― Olá Camille, você chegou bem cedo, ainda são uma e meia da tarde.

Ele ainda estava levemente ruborizado. Putz, que fofinho.

― Sim, acabei decidindo chegar mais cedo para ver algumas coisas. Mas, mudando de assunto, reparei que gosta bastante de azul.

Fiz questão de dizer isso enquanto mexia no cabelo... não resisti a deixar ela mais envergonhado. Deu certo.

― Sim pode-se dizer que é minha cor favorita. Bem, o que acha de vermos um pouco dos artistas?

Acenei positivamente com a cabeça e fomos andando e conversando sobre o que víamos. Passamos a tarde toda na praça. Confesso que me divertir como poucas vezes em um tipo de exposição. Tivemos conversas mais intimas dessa vez. Falamos sobre nossa arte, nossos processos criativos, coisas que fazíamos quando crianças, sobre onde havíamos estudado, sobre gostos pessoais, sobre filmes favoritos, músicas, ele me contou que estava no bar com dois amigos, cujo os nomes eram Thomas e Davi, e que havia os deixados sozinhos por minha causa e que agora devia um almoço para eles.

Tudo na tarde foi perfeito, mas claro, algo tinha que atrapalhar. Por volta das seis da tarde havíamos visto quase que noventa por cento de todas as obras da praça e decidimos por tomarmos um café juntos. Quando chegamos na cafeteria que havia próximo à praça estava tão atenta a nossa conversa que não reparei que o maior dos imbecis estava no local, meu ex.

― Olha só, se não é a gracinha da Camille! Nem imaginava te encontrar nesse lado da cidade... e vejo que acompanhada.

Imbecil. Não esperou nem eu e o pobre do Lúcio sentarmos e já se aproximou. Ele estudou comigo no ensino médio e era o “rock-star” do colégio. Nunca fomos muito próximos nessa época, mas, a uns quatro meses atrás nos reencontramos num show, saímos juntos e ficamos por dois meses juntos, até eu reparar o quanto ele continuava babaca e terminar. Acredito que ele não havia superado bem o termino.

― Quem é esse franguinho?

― Não te interessa Augusto! Vamos embora daqui Lúcio.

― Não vai não, você nem me deu chance de terminamos de conversar naquele dia Camille.

Ao dizer isso o imbecil estendeu o braço para segurar o meu, entretanto Lúcio impediu o ato segurando o pulso dele.

― Opa, não se deve segurar uma garota sem a permissão dela sabia?

― E quem você acha que é para tocar em mim frangote?

Eles se encaravam, Augusto tinha por volta de um metro e oitenta, enquanto Lúcia tinha por volta de um metro e setenta. Eu não fazia a menor ideia do que fazer.

― Bem, eu só sou o atual namorado dessa linda garota e, também, sou um bom conhecedor do número da polícia. Acredito que seria um pouco problemático passar a noite na delegacia por injuria a minha pessoa e tentativa de agressão contra a garota. Acredito que as pessoas do bar que estão nos olhando não iriam se importar de testemunhar, certo pessoal?

Quando olhei em volta reparei que o bar estava cheio e que todos olhavam para a discussão que acontecia. O maior idiota do mundo também reparou isso e ao pensar sobre a ameaça de Lúcio, começou a andar em direção da saída. E quando estava para sair disse.

― Ainda precisamos terminar de conversar Camille.

Assim que o rock-star sem cérebro foi embora Lúcio olhou para mim com um sorriso e começou a rir.

― Acho que você não tem um bom gosto para namorados.

― Pois é, parece que eu acabei de descobrir que tenho um novo e nem sabia.

― Hey, falei aquilo só como forma dele não te incomodar mais.

Por algum motivo que não intendo, essa frase me incomodou um pouco.

― Da próxima vez não precisa me defender, consigo fazer isso por mim mesma.

Estava com uma expressão de brava, mesmo que tentasse não parecer.

― Bem, desculpa, não consigo resistir a ajudar uma pessoa que gosto de conversar.

Pela segunda vez naquele dia ele estava envergonhado, mas, dessa vez, não era de forma tão fofa, pois ele olhava para uma direção contraria a mim enquanto coçava a cabeça. Reparando isso decidi por concertar a situação.

― Tudo bem, o que acha de tomarmos nosso café senhor namorado?

― Vamos sim!

Ele tem um maldito sorriso lindo. Vai dar merda.

E novamente conversamos muito, e agora assuntos mais íntimos ainda. Falamos sobre relacionamentos anteriores, sobre nossas famílias, sobre nossos sonhos, nossos medos, nossas ambições. Foi ainda mais incrível, nem parecia que havíamos passado pela situação com o idiota do ano.

Quando reparamos que já iria dar nove horas da noite decidimos dividir um Uber. O carro chegou rápido e por todo trajeto continuamos a conversamos intensamente. O trajeto fez com que o carro parasse primeiro em minha casa. Quando estava para descer do carro e me despedir dele com um aceno por fora do carro, Lúcio não permitiu. Ele me puxou e me beijou de novo. Um beijo incrível e demorado.

― Azul se tornou minha cor favorita depois de conhecer uma garota que carregava um livro de para gente maluca em uma cafeteria.

Disse ele no meu ouvido, o que me causou arrepios por todo corpo. Filho da puta.

― Isso explica o motivo do seu poema ser tão mediano... aquela garota é bem mediana.

― Eu não acho.

E me beijou de novo. Isso vai dar tanta merda, mais tanta merda. Dessa vez não deixei fluir. Sai apressada do carro e disse um tchau envergonhado enquanto corria em direção do portão. Quando comecei a entrar, olhei para trás e vi o carro partindo acebei sorrindo de uma maneira idiota.

É, isso já deu merda.


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Notas finais do capítulo

- Espero que tenha gostado do capítulo. Lembre-se, caso encontre algum erro de grafia me avise, tenho pouco tempo para revisar ;-;
— Sintam-se a vontade para comentar, obrigado por ler!



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