Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 24
Beta


Notas iniciais do capítulo

A Divisão Sigma é encarregada de trabalhar num novo projeto das Diamantes.



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Era ainda o início da noite, mas todas as gems da Divisão Sigma estavam dormindo. Aquele hábito tão estranho as gems havia se tornado a única forma de limpar a mente de todo o estresse causado por aquela guerra. Os humanos não só eram bestas ferozes e sanguinárias como também tinham um poder absolutamente aterrador. Como eles haviam conseguido armas tão destrutivas? Como eles haviam conseguido tamanha habilidade em combate contra outras gems? Essas e outras dúvidas estavam acabando com os neurônios de Cornalina.

Para piorar, os humanos também demonstravam um grande conhecimento acerca do modus operandi das gems de Homeworld. Eles sabiam como enfrentar as tropas da Hessonita, sabiam como contra-atacar, enquanto a Divisão Sigma, que supostamente deveria enfrentar de igual para igual, não sabia nem por onde começar a detê-los. Já haviam sofrido nas mãos do Esquadrão Platina em Yuria e, agora, em Kenusa. Se aquilo continuasse, a Divisão certamente seria desmontada, ou pior: algumas delas poderiam ser estilhaçadas pessoalmente por uma das Diamantes, como punição.

Essa tempestade de pensamentos atormentadores fez Larimar acordar no meio da noite. Ela olhou para suas amigas, que dormiam nas posições mais variadas possíveis (algumas até meio cômicas, por sinal), depois percebeu que Ônix não estava entre elas. A gem negra estava num canto mais afastado, parecendo desconfortável. Ela nem notou quando Larimar se aproximou. Parecia estar muito concentrada com alguma coisa.

(Larimar, cutucando Ônix): Ônix...?

Ônix tomou um susto, como se estivesse acabado de despertar de um estado de transe.

(Ônix): L-Larimar? Oi. O que você está fazendo aqui?

(Larimar): Eu acabei acordando e notei que você não estava lá com as outras? Por que você está aqui sozinha?

(Ônix): Eu... não consigo dormir.

(Larimar): Está assim por causa do que aconteceu com a Ametista?

(Ônix): Não... é por outra coisa.

(Larimar): O quê?

(Ônix): Eu não quero falar sobre isso...

(Larimar): Tem alguma coisa a ver com aquele treco nas suas costas?

(Ônix): ...

(Larimar, suplicando): Ônix, pode falar comigo sobre isso, eu sou sua amiga!

Ônix então mostrou para Larimar o tal “anel misterioso” em suas costas, que Larimar tinha visto horas antes. Pior: não era apenas um anel, eram três. O que mais incomodava Larimar é que eles pareciam estar grudados nas costas de Ônix. Quando ela estava estendendo a mão para tocar, Ônix lhe advertiu:

(Ônix): Não toca, por favor.

(Larimar): Ô-Ônix... o que são essas coisas?

(Ônix): Sabe aquele exoesqueleto que eu uso nas batalhas?

(Larimar): S-Sim.

(Ônix): Pois é... ele é conectado no meu corpo por meio desses três plugs. Eles também servem como transmissores de longo alcance, fazendo com que eu meio que me transforme num radiocomunicador ambulante...

(Larimar): Dói muito?

(Ônix): Já me acostumei com isso. Só preciso tomar cuidado para não danificarem o aparelho nem me poofarem, senão vão ter que reinstalar tudo de novo.

(Larimar): Nossa... é por isso que você não dorme? Porque dói?

(Ônix): E também quem é que conseguiria dormir com toda aquela tagarelice dentro da minha cabeça? É pedido de reforços disso, SOS daquilo. Sem falar que quase nada daquilo é...

Ônix foi interrompida quando sentiu Larimar lhe abraçando com uma expressão sentida. Larimar parecia profundamente triste com a história de Ônix, apesar da gem negra contar tudo aquilo com certa banalidade.

(Ônix, um pouco incomodada): Vem cá, o que você está fazendo?

(Larimar): E-Eu... estou te abraçando... achei que você pudesse estar triste...

Ela tinha começado de novo. Larimar às vezes agia mais como uma criança do que como uma soldado gem. Quase tudo relacionado àquela guerra, que por sinal já durava décadas a fio, a surpreendia com facilidade, e Ônix não tinha muita paciência para lidar com aquele todo aquele sentimentalismo.

(Ônix): Tá, obrigada. Agora pode me soltar?

(Larimar): Poxa, Ônix...

(Ônix, suspirando): Tudo bem, desculpa, eu fui meio grosseira. Mas escuta, você tem que parar com esse comportamento.

(Larimar): Que comportamento?

(Ônix): Sei lá, você age como se tivesse passado os últimos séculos enterrada num buraco e não soubesse absolutamente nada dessa guerra. Parece que tudo abala você! Você mal age como se fosse uma soldado. Por que você está aqui afinal?

Larimar não respondeu nada e um silêncio constrangedor se formou entre as duas. Ônix se aborreceu consigo mesma porque no fundo sabia que Larimar só queria ajuda-la, mas a gem negra simplesmente tinha um problema sério de personalidade. Talvez pelo estresse causado por aquela guerra, talvez pelo trauma envolvendo a experiência que colocou aqueles plugs bizarros em seu corpo. Talvez por outro motivo que nem ela conhecesse.

(Larimar): Estou aqui porque a Diamante Azul queria que eu estivesse aqui, por isso. Ela me entregou sob custódia da Diamante Rosa, que nem fez com a Celestita.

(Ônix): Por que a Diamante Azul fez isso?

(Larimar): Bem, ela gosta muito da Diamante Rosa. Até demais. É difícil de explicar.

(Ônix): Foi o que ela disse a você?

(Larimar): Não, foi o que eu pude perceber. A justificativa que ela me deu originalmente foi que a Diamante Rosa precisava de gems com habilidades de luta iguais às nossas.

(Ônix): Bom, eu já vi as habilidades de luta da Celestita, mas as suas? Não me leve a mal, mas você não me parece do tipo...

(Larimar): Guerreira? Agressiva? Lutadora? *suspiro* Sabe Ônix, espero que você nunca tenha que ver como é o lado agressivo de uma larimar. Acredite, por mais difícil que esteja uma batalha, você não vai querer ver como é que uma larimar luta.

Outro silêncio constrangedor se formou entre as duas. Sustentar uma conversa por mais de três minutos estava extremamente difícil para elas. O dia realmente havia sido terrível e parecia que conversar era a última coisa que Ônix queria fazer.

(Ônix): Escuta, eu acho que é melhor você tentar voltar a dormir. Eu vou ficar acordada por mais um tempo, ok?

(Larimar): Tudo bem, já vou voltar para junto das outras.

A pequena gem azulada saiu andando sem olhar para trás. Ônix se sentiu extremamente aliviada, mas também um grande vazio dentro de si. Apesar de gostar de ficar sozinha, Ônix não conseguia deixar de pensar naquele comportamento de Larimar: ela gostava de brincar na água, de pregar peças nas outras gems, de contar piadas, enfim, de fazer todos à sua volta sorrir. Aquele poderia não ser o melhor comportamento para uma gem combatente, mas era algo tão... belo, chamativo, revigorante. Era como uma flor delicada nascendo em meio a um deserto impiedoso.

A segunda-comandante da Divisão Sigma começou a ficar pensativa, e ao mesmo tempo, com a mente embotada. Pouco a pouco as pálpebras de Ônix começaram a ficar pesadas, até que a gem negra decidiu fechá-las só por alguns segundinhos...

...

...

...

— Ônix? Ônix?

(Ônix): Hã, o quê?

Quando Ônix abriu os olhos de novo, já era de manhã. Larimar havia ido acordar Ônix, que caíra em um sono profundo logo após a conversa que tivera com ela.

(Larimar): O transporte já chegou. Temos que ir.

Uma enorme nave de transporte (https://vignette.wikia.nocookie.net/steven-universe/images/e/e0/YellowDropshipByOllie.png/revision/latest?cb=20180109212635) havia aterrissado na praia. Ao entrar lá dentro, Ônix encontrou suas outras companheiras da Divisão Sigma, todas arrumadas e prontas para a viagem, incluindo Jet, que havia recuperado sua forma física algumas horas antes

(Ônix): Para onde estamos indo?

(Bixbita): Bom, o computador dessa nave está com marcação num grupo de coordenadas que estão marcadas com o codinome “beta”.

(Ônix): “Beta”? Por acaso é o nome de outro esquadrão?

(Bixbita): Não sei. Algo me diz que não é o nome de outro Esquadrão.

(Cornalina): Bom, quanto mais rápido chegarmos lá, mais rápido descobrimos, então vamos logo.

A nave começou a decolar, até que a bela ilha que aquelas gems adotaram como lar foi ocultada pelas nuvens. Depois disso, ela começou a viajar numa velocidade absurda, até chegar ao seu destino em questão de 2-3 minutos. Depois disso, a nave aterrissou. Quando a rampa de desembarque se abriu, as gems ficaram boquiabertas com o que viram: estavam diante de uma região montanhosa e árida, semelhantes aos cânions norte-americanos, só que menores. Perto da nave, estava uma enorme equipe formada por peridotes, além de dezenas de injetores. Também havia uma ágata amarela (https://i.pinimg.com/originals/33/4f/d7/334fd718f3d6f0b03004f0537d82e0b7.png) que chefiava aquela equipe e que estava acompanhada de vários quartzos amarelos, todas esperando a chegada da Divisão Sigma.

(Ágata amarela): Saudações. Eu sou a Ágata codinome 4H7T e estou aqui a serviço da Comandante Hessonita. Suponho que vocês devem ser as gems da Divisão Sigma, a divisão responsável por caçar e enfrentar os inimigos do infame Esquadrão Platina. Saibam que é uma honra ter vocês aqui conosco. Quem de vocês está no comando?

(Cornalina): Eu estou. Sou a Comandante Cornalina e estas do meu lado são minha subcomandante Ônix e minha guarda-costas Jade. Recebemos uma mensagem de que seríamos mobilizadas para cá para cumprir uma missão importante. O que seria?

(Ágata): Bem, Cornalina, fui informada pela minha superior, a Comandante Hessonita, que as Diamantes requerem a construção de um novo Jardim de Infância. Como você já deve estar informada, grande parte das gems do Jardim de Infância Prime acabou desertando para o lado das rebeldes. Além disso, a resistência dos nativos, principalmente as ações do já mencionado Esquadrão Platina, causaram uma perda de gems muito além do esperado, de forma que está se tornando inviável para as Diamantes Amarelo e Azul continuarem mandando suas tropas para combater a rebelião.

(Cornalina): E esse novo Jardim de Infância Beta vai ser construído aqui?

(Ágata): Sim senhora.

(Cornalina): Desculpe-me, mas... isso é uma péssima ideia. Francamente, esse lugar é horrível! Quase não há fertilidade nesse solo. Sério, olhe isso.

Para enfatizar sua fala, Cornalina pegou um punhado de areia do solo e soprou, fazendo aquele montinho se dissipar no ar seco e árido.

(Cornalina): Sério, de onde nossas gems vão tirar energia para crescerem? E mesmo que elas amadureçam adequadamente, por onde elas cavarão seus buracos de saída? Sério, estas montanhas são tão pequenas e o espaço entre elas é tão estreito que elas teriam que empurrar umas às outras para conseguirem sair. Me respondam uma coisa: ultimamente vocês têm tido problemas com ataques de humanos?

Antes que a Ágata pudesse responder, uma recruta quartzo, no auge da sua ingenuidade, começou a falar, deixando sua superior um tanto encabulada.

(Recruta Quartzo): Bom, tem uns humanos malucos de pele vermelha e uns penachos engraçados na cabeça que volta e meia vêm gritando assim: “AYAYAYAYAYAYAYAY”!!!

(Cornalina, revirando os olhos): Puxa, por que não estou surpresa? Isso vocês tendo problemas só com uns humanos meia-boca. Imagine então se os platinas encontram isso aqui e resolvem atacar. Enquanto eles estariam destruindo os injetores e estilhaçando nossas peridotes, as gems do Jardim de Infância Beta estariam ocupadas demais cavando buracos de saída deitados e caindo de cara no chão.

A imitação hilária da recruta quartzo, mais a situação tragicômica hipotética narrada por Cornalina fez com que Jade deixasse uma risota escapar, sendo prontamente censurada por uma cotovelada da Ônix.

(Ágata Amarela): Bem, queira me desculpar, comandante Cornalina, mas estas são nossas ordens. Não tem muito mais que a gente possa fazer.

(Ônix, cochichando aborrecida): Com esse tipo de ordens, não me admira que aquelas pragas orgânicas estejam limpando o chão dessa bola de lama com nossas formas físicas.

(Ágata Amarela): Vem cá, o que foi que você disse, terráquea?

(Cornalina, séria): Ela não disse nada. Então, vamos começar o trabalho ou não?

(Ágata Amarela): Sim senhora! Muito bem, eu quero todos os quartzos ajudando a alocar aqueles injetores o mais rápido possível! Nada de moleza!

(Cornalina, se dirigindo à Divisão Sigma): Muito bem, ouviram a comandante. Todas vocês, ao trabalho.

As gems da Divisão Sigma começaram a se unir às subordinadas da Ágata Amarela para ajudar na construção do Jardim de Infância Beta. As peridotes explicaram como os injetores deveriam ser posicionados, mas o resultado continuava sendo uma bagunça total. Peridotes e quartzos simplesmente não conseguiam trabalhar em equipe.

— Não, não, NÃO!!! Vocês têm que manter uma distância entre os injetores, senão eles podem bater um no outro!

— Por que cargas d’água você plantou uma gem aí? Não está vendo que essa superfície é extremamente porosa? Ela não vai crescer adequadamente nessas circunstâncias!!!

— Olha por onde vai, seu pedaço de nacho caolho!!! Vai enfiar essa maldita broca na pedra da tua Diamante!!!

A cena toda daria uma ótima videocassetada ambulante se elas não estivessem vivendo tempos de guerra. Injetores trombavam uns nos outros tentando achar espaço para implantar as pedras das futuras gems, peridotes batiam boca por conta de desentendimentos.

O ápice daquele circo foi quando, acidentalmente, uma das pernas de um injetor bateu numa citrina distraída, derrubando-a em cima de cinco outras gems, sendo que duas delas eram a Jet e a Celestita. O amontoado de gems desabou em cima de um injetor que estava em posição perpendicular, semeando uma gem. Não deu outra: a máquina envergou e desabou no chão, mas não antes sem soltar uma lasca colossal da montanha onde estava presa, para profunda irritação de uma das engenheiras!

(Peridote chiliquenta): Suas burras, estúpidas, alopradas! Olha o tanto de arenito que vocês acabaram de desperdiçar, suas... suas... TONTAS!!!

(Celestita, cochichando para Jet): Esse chilique de peridote tá ficando difícil de aturar, viu?

(Peridote chiliquenta): Tontas, tontas, tontas, tontas! TONTAS!!!

— Escuta aqui, por que vocês peridotes não param de pití e vêm fazer algo de útil?

(Peridote): Como é que é, quartzo? Como se atreve a falar assim com sua sup...?

A peridote tomou um susto ao descobrir que a gem com quem ela ia bater boca era a própria Cornalina Laranja e acabou ficando toda desconcertada:

— C-Cornalina, d-digo, Comandante Cornalina? O q-que a senhora está fazendo no meio dessas quartzos?

(Cornalina): Ué, eu estou ajudando elas! Já que vamos ter que erguer um jardim de infância nesse lugar horrendo, acho que vamos precisar de todos que estiverem disponíveis para trabalhar.

(Peridote): Mas Comandante Cornalina, você é uma oficial de alto nível! Não devia estar se maculando com esse trabalho sujo de carregar entulho para lá e para cá.

(Cornalina): Sim, é um trabalho sujo, mas ainda é mais eficaz do que ficar abrindo esse berreiro todo.

A peridote ficou atônita com a conduta da líder da Divisão Sigma. Uma oficial fazendo trabalho de soldado raso, junto com suas subordinadas era algo tão chamativo quanto uma barata andando numa toalha de seda branca. Aquilo também chamou a atenção da Comandante Ágata Amarela, mas ela não disse nada.

Embora Cornalina tivesse conseguido apagar aquele foco de incêndio, outro se acendeu pouco depois: Um grupo de gems estava ajudando a carregar alguns entulhos. No meio desse grupo estava a Esmeralda. A pequena gem esverdeada, por ser defeituosa, não tinha a força física nem a resistência características de uma esmeralda. Enquanto Esmeralda levava uma enorme pedra nas costas, suas pernas começaram a tremer e ela começou a sentir muita dor nas costas, até que ela perdeu o equilíbrio e acabou derrubando a carga em cima de uma citrina com cara de poucas amigas!

(Citrina): AAAAAAIIIIII!!! Quem foi a maldita que jogou isso em cima de mim?

(Esmeralda, assustada): D-Desculpa, desculpa, desculpa!!!

(Citrina): Ah, foi você, seu projeto de nefrita? Você por acaso sabe o que aconteceu com a última descolorida que tentou bancar a engraçadinha para cima de mim?

(Esmeralda, mais assustada ainda): Eu já disse que sinto muito! Não foi de propósito!

Mas a Citrina não quis nem saber e agarrou a gem menor com toda a brutalidade, erguendo-a no ar.

(Citrina): Garanto que você vai sentir muito mais a minha mão fechada acertando sua cara acidentalmente!

Esmeralda estava morrendo de medo. Aquilo sempre acabava acontecendo: ela cometia um erro, uma gem maior que ela se enfurecia (até porque, por ser pequena, a coisa mais fácil do mundo era ela achar uma gem maior que ela) e a usava como saco de pancadas para descontar sua raiva. Era sempre assim.

Mas não daquela vez.

(Celestita, agarrando o braço da Citrina): Ei, o que é que você está fazendo?

(Citrina): Me larga! Eu vou ensinar para esse projeto de nefrita o que acontece com quem mexe comigo!

Celestita deu um empurrão na gem amarelada, fazendo ela soltar Esmeralda.

(Celestita, séria): Tenha mais respeito! Não está vendo que ela é uma esmeralda?

A citrina reagiu com uma surpresa inicial, seguida da pior cara de deboche que uma gem poderia, possivelmente, fazer.

(Citrina): Se essa porcariazinha é uma esmeralda, então eu sou uma hessonita.

Sem a menor cerimônia, Celestita simplesmente sentou a mão na cara da citrina desaforada, com um soco tão forte que fez a infeliz cair sentada. Dessa vez, foi a vez de Celestita bancar a debochada.

(Celestita): Uma hessonita, é? Eu acho que não. Hessonitas não iam cair tão fácil assim com um mísero soquinho desses.

Foi o suficiente para a citrina explodir e avançar com tudo contra as pernas de sua atacante azul. Ambas as gems começaram a trocar murros, até serem separadas por uma Ônix aborrecida.

(Ônix): O que raios vocês duas estão fazendo?

(Citrina): Essa celestita imbecil começou a me bater porque...

(Celestita): Essa brutamontes queria bater na Esmeralda!

(Ônix): Muito bem, chega de gritaria! Vocês duas, voltem ao trabalho! Se eu tiver que separar outra briga, eu volto na próxima vez com um canhão.

(Citrina): Aí, quem foi que te nomeou como comandante, hein?

Sem nenhuma paciência para gems respondonas, Ônix simplesmente sacou seu canhão e apontou para a cara da citrina, com um olhar bem sério, fazendo-a engolir em seco.

(Ônix): Foi a Cornalina. Eu sou a vice-comandante da Divisão Sigma. Qualquer reclamação que você tiver pode apresentar para a Cornalina ou para meu canhão. E aí, o que vai ser?

A Citrina nem quis mais conversa. Partiu dali e foi direto voltar ao trabalho.

(Celestita, ajudando Esmeralda a se levantar): Você está bem?

(Esmeralda, sorrindo): Estou sim. Obrigada, Celeste.

(Ônix): Esmeralda, você tem que ser mais cuidadosa. Essas gems aqui não vão ser bondosas com você. Não fique tentando carregar mais peso do que realmente aguenta.

(Esmeralda): Está bem. Obrigada também pela sua ajuda, Ônix.

O trabalho continuou seguindo em frente, com Ágata, Cornalina e Ônix tentando apagar os focos de incêndio relacionados às discussões que volta e meia se erguiam entre peridotes, citrinas e as integrantes da Divisão Sigma. Apesar dos contratempos, o trio de comandantes conseguiu garantir o bom andamento da obra.

Se bem que... talvez “bom andamento” não seja o termo mais adequado para descrever o que estava acontecendo.

Como Cornalina havia dito, aquele era, de longe, o PIOR lugar para se construir um Jardim de Infância: o solo não tinha fertilidade suficiente para nutrir as gems incubadas, as montanhas eram baixas demais para que fosse criado um padrão adequado de espaçamento entre os buracos de incubação/saída das gems e os espaços separando as montanhas eram tão estreitos que, quando as gems saíssem de seus buracos, era quase certo que a primeira coisa que iriam fazer seriam trombar nas companheiras e se esborrachar no chão.

A comandante da Divisão Sigma era caprichosa, mas não era capaz de fazer milagres

 

2 meses depois...

O Jardim de Infância havia sido concluído e a Comandante Hessonita havia comparecido pessoalmente para conferir o resultado do que havia pedido.

(Cornalina, cochichando para Jade): Olha a cara de quem viu sua pérola se fundir com uma rubi. Eu não disse que isso não ia dar certo?

A expressão facial da comandante realmente não era nada simpática: ela foi passando por cada gem que havia emergido de lá com um olhar que parecia reprovar a própria existência delas. E os motivos não faltavam: aquelas gems haviam saído todas erradas.

Jaspes deveriam ser gems enormes, com 2,5m de altura, com braços similares a pistões capazes de transformar crânios de guerreiros humanos em farinha de osso. Hessonita não pediu nada além daquilo que seria esperado de uma jaspe. Ao invés disso, ela recebeu uma jaspe magricela e raquítica, com trejeitos que mais pareciam com os de uma pérola (https://images-wixmp-ed30a86b8c4ca887773594c2.wixmp.com/intermediary/f/5a49a4e6-577b-4782-b505-6d8c9cc8305c/dauv6tx-99d856c6-bc00-444e-a271-a3825bdcf4cf.png/v1/fill/w_610,h_1311,q_70,strp/skinny_jasper_by_angeliccmadness_dauv6tx-pre.jpg).

Cornalinas eram uma mistura entre gems subcomandantes, algo entre sargentos e tenentes, e gems combatentes. Elas tanto poderiam ser brucutus que saem quebrando tudo numa batalha como comandantes razoáveis. Ambas as opções eram aceitáveis. Ao invés disso o Jardim de Infância Beta acabou soltando um aborto com pouco mais de meio metro de altura (https://pm1.narvii.com/6407/bc3d8407ba90e73176b2464dccaa69aba295527e_hq.jpg). A própria Cornalina Laranja ficava encarando aquilo como se tentasse se convencer de que aquilo ao seu lado era outra cornalina. Sério, em que lugar da galáxia aquela versão avermelhada da Esmeralda iria liderar um pelotão? Ou destruir dezenas de inimigos? Nem mesmo a Esmeralda, que era benquista entre suas colegas de Divisão, era levada a sério como comandante. Tanto que, a despeito dela ter patente superior à todas as outras gems, deram o comando à Cornalina. Esta, por sua vez, designou uma terráquea como sua vice-comandante.

Um trabalho! Era só isso que elas tinham que fazer corretamente! Nem daquilo elas deram conta!

(Hessonita): Digam pra mim, vocês acham que essa guerra é uma piada? Mais da metade das gems produzidas no Jardim de Infância Prime desertaram para o lado das rebeldes. Nós perdemos duas facetas para os nativos. De alguma forma, humanos estão se apoderando de nossa tecnologia e estão usando-a contra nós. Como se não bastasse tudo isso, eles criaram uma divisão de elite que já nos impôs DUAS derrotas extremamente humilhantes! E agora vocês vêm com isso?

(Cornalina): Comandante...

(Hessonita): Um trabalho! Foi tudo o que eu dei para vocês fazerem! Vocês não deram conta de fazer isso e ainda se dizem uma divisão de elite?

(Cornalina): Escuta aqui, eu falei para a sua subordinada Ágata que esse não era um bom lugar para construir um Jardim de Infância. Era esperado que algumas gems saíssem defeituosas, mas pelo menos todas emergiram. Desculpe-me, mas eu não sei fazer milagres!

(Hessonita): E você acha que eu sei? Hein? Por acaso acha que uma comandante magnífica como eu têm condições de liderar uma campanha bem-sucedida contra as rebeldes quando tudo o que eu tenho para liderar é um monte de trastes inúteis e defeituosos?

(Cornalina, com raiva): Escute aqui, como se atreve a falar assim dessas pobres gems? É justamente essa sua mania de subestimar os outros que lhe causou aquelas duas derrotas. Quantas outras humilhações você ainda vai querer antes de aprender a não menosprezar...

*SLAP*

Ônix teve que segurar Jade porque ela fez menção de avançar na Hessonita depois dela calar Cornalina com um tapa no rosto. A Comandante da Divisão Sigma ficou olhando para o nada, encarando o vazio com uma expressão de profunda incredulidade. Hessonita teve que agarrá-la rudemente pelas bochechas para que ambas voltassem a travar contato visual.

(Hessonita, apontando o dedo no nariz de Cornalina): Escute fofa, vamos fingir que nada disso aconteceu. Que você não se excedeu em sua autoridade e nem que levantou a voz contra uma oficial superior. Seria muito bom para nós duas se isso não se repetisse, assim você não teria que machucar esse lindo rostinho de novo e eu não teria que sujar minhas mãos. Agora, já que você está tão certa de que eu não sou uma boa comandante, então vou transferir o comando para uma gem mais compentente: você.

Aquilo pegou todas as gems presentes de surpresa, exceto Cornalina, que ainda tentava digerir aquele tapa que levara.

(Hessonita): Ouviu bem, Ágata? Graças à petulância de sua amiguinha, ela vai ficar responsável tanto pelas novas gems, quanto por você e suas quartzos. Mas não se preocupe, é temporário. Só espero que ela não deixe todas vocês serem estilhaçadas logo na primeira batalha.

Hessonita se retirou, deixando para trás uma Cornalina extremamente desestabilizada. Todas as gems defeituosas que ela defendeu momentos atrás quiseram dar a ela um pouco de apoio emocional, mas ela ignorou a todas. A comandante da Divisão Sigma se retirou para um lugar mais isolado, ficando ajoelhada de frente a um dos buracos de saída de uma das gemes, a fim de poder chorar fora todas as suas emoções.

— Cornalina?

Ao reconhecer a voz de Jade, Cornalina tratou de limpar as lágrimas apressadamente para falar com ela.

(Cornalina, com a voz embargada): Jade?

(Jade, séria): Você está chorando?

(Cornalina): Não, não estou. Eu só fiquei meio sentida com... aquilo.

(Jade, séria): Você é uma péssima mentirosa, sabia?

(Cornalina): Sabia sim.

A gem laranjada teve que se segurar para não ter uma recaída e chorar com todas as forças na frente da Jade, que prontamente resolveu abraçar a melhor amiga.

(Jade): Por favor, não fica assim. Aquela hessonita é uma idiota.

(Cornalina): É esse o problema, Jade... eu olho para aquela gem arrogante... e parece que estou me olhando no espelho. Ela me faz lembrar a forma como eu tratava a Esmeralda, a Celestita, a Jet, A Ametista... Minha Diamante, a Ametista... ela foi estilhaçada e eu nem tive a chance de me desculpar com ela por tudo o que aconteceu.

(Jade): Cornalina, pare de pensar nisso! Escute, nós duas cometemos muitos erros, mas ainda estamos aqui para consertá-los. Você é uma ótima líder e uma amiga melhor ainda. Se você apenas tivesse visto como todas aquelas outras gems olharam para você quando você as defendeu.

Cornalina não disse mais nada, apenas abraçou com força sua melhor amiga, que retribuiu o abraço. Ambas ficaram juntinhas por alguns segundos, até que Cornalina começou a sentir uma sensação estranha. Uma mistura de formigamento com esquentamento na região do seu umbigo. Quando ela foi olhar, viu sua gem brilhando, juntamente com a gem da Jade. Ambas, extremamente surpresas, empurraram-se uma para longe da outra, se encarando mutuamente com uma expressão de susto extremamente cômica.

(Cornalina): Errr... acho melhor voltarmos para junto das outras gems.

(Jade): Concordo com você.

000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000

Enquanto isso, Hessonita estava dentro de sua nave, mas por mais estranho que pudesse parecer, ela não estava no espaço sideral, nem voando por um campo de batalha longínquo. A nave dela estava sobrevoando o Jardim de Infância Beta, numa posição estratégica na qual nenhuma gem do solo poderia vê-la a olho nu. Hessonita observava com bastante interesse alguns monitores que mostravam as atividades no Jardim de Infância Beta. Uma nefrita que passava por ali acabou se deparando com aquilo e achou muito estranho.

(Nefrita): Comandante Hessonita, o que a senhora está fazendo?

(Hessonita): Nada demais, estou apenas vigiando as atividades do Jardim de Infância.

(Nefrita): Mas Comandante, pensei que a senhora já tinha deixado a Cornalina no comando.

(Hessonita): E deixei.

(Nefrita): Então porque ainda estamos aqui sem fazer nada? Não seria melhor se nos apresentássemos às Diamantes em busca de novas ordens ao invés de deixarmos uma nave inteira ociosa?

(Hessonita, séria): Vem cá, quem disse que estamos ociosas? E quem disse que você dá as ordens aqui? Volte já ao seu posto, nefrita.

(Nefrita): S-Sim, Comandante.

Com a nefrita se retirando, Hessonita voltou sua atenção aos monitores, com um olhar que exibia a maldade dos pensamentos que circulavam sua cabeça.

(Hessonita): Você me deu um golpe duro na frente de todas aquelas gems, Cornalina. Fez questão de esfregar meus dois fracassos na minha cara. Vamos ver então como você se sai na sua próxima batalha. Com certeza, será derrotada, mas espero que você saia viva. Assim você aprende a não falar imbecilidades sobre o que não sabe. Agora, tudo o que ocorrer será apenas de responsabilidade sua, e isto é algo que faço questão de ver.


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Notas finais do capítulo

Fato curioso: os "plugues" nas costas de Ônix são um aspecto da personagem original, criada pelo usuário Lopoddity, do Deviantart. Na história dele, os plugues servem para transformar Ônix numa estação de rádio ambulante, o que também acarreta várias noites em claro, ouvindo transmissões em certas frequências. Na minha história, os plugues também servem para plugar as partes do exoesqueleto de batalha dela (https://www.deviantart.com/lopoddity/art/Gemsona-Onyx-2-0-607324338). Eu coloquei ela como terráquea na minha história porque, como as gems terráqueas são vítimas de preconceito na série original, seria mais condizente uma delas ser submetida a um experimento dessa natureza do que sacrificarem uma gem de Homeworld.

Este capítulo vai apresentar aos novos leitores um dos conceitos mais importantes de Steven Universo, e também vai dar início a algumas referências cujos veteranos na série vão adorar reconhecer. Aos que ainda não sabem, os Jardins de Infância são lugares onde as máquinas conhecidas como Injetores literalmente plantam gems no solo, onde elas ficam encubadas até amadurecerem e, literalmente, brotarem da terra. À medida que mais e mais gems vão brotando da terra, o lugar vai perdendo cada vez mais sua fertilidade. Agora imagine isso em escala mundial. Deu para entender por que Rose iniciou a rebelião, né?

O próximo capítulo vai se passar entre os dois meses que as gems levaram para terminar o jardim de infância e vai mostrar o que os humanos estiveram fazendo nesse meio tempo. Ele também trará alguns conceitos bastante interessantes sobre Ahkvata, por isso vocês não perdem por esperar.

Espero que tenham gostado. Agradeço aos leitores que deixaram seus comentários com elogios e críticas positivas. A todos vocês um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Aproveitem bem este presente, e também o novo episódio que saiu, "Familiar".



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