Bittersweet - Fleurmione escrita por Blue Cupcake


Capítulo 1
Único.




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Bittersweet

Ela observava-a na cama. Os cílios dourados de Fleur davam leves tremidas juntamente com suas pálpebras. Seus lábios estavam relaxados e sua expressão estava tão plena que Hermione sabia que ela não sonhava, apenas dormia profundamente. Seu corpo estava nu, porém coberto pelo lençol de seda, a manta empurrada para o lado por conta do calor.

A morena se apoiava num cotovelo, deitada ao lado dela. Estava vestida, pronta para ir ao trabalho no ministério, mas não conseguia levantar-se, não diante daquela imagem. Sentia um frio na barriga ao lembrar-se da noite anterior, e sua mente não parava de pensar o quanto ela era sortuda por tê-la ali ao seu lado.

A luz solar das 8 da manhã entrava pelas brechas da cortina, iluminando o quarto num tom amarelo e dando um brilho estrelar ao cabelo ondulado loiro de Fleur, que emoldurava seu rosto no travesseiro azul. Hermione, finalmente, respirou fundo e levantou-se da cama o mais lenta e delicadamente possível, ainda assim, acordando a loura.

—Bom dia. – Sussurrou Fleur numa voz rouca e preguiçosa, esticando-se na cama como uma gata.    

—Desculpe, não quis acordá-la. – A morena aproximou-se, dando-lhe um beijo suave na testa. – Pode dormir mais, ainda é cedo...

—Hmm... Não posso. – Ela coçou os olhos tentando espantar o sono. – Tenho que ir pra casa... Gui espera que eu chegue às dez.

Hermione retesou-se com o nome do homem. Sua expressão se fechou e ela virou-se em direção à janela, abrindo as cortinas e tentando concentrar-se na vista de uma Londres caótica no começo de um dia de trabalho.

—Você está incomodada. –Fleur notou. Olhou a morena de cima a baixo, vestida em seu terninho azul e seus sapatos de saltos altos. Seu cabelo ia-lhe até a cintura, em cachos macios.  – Achei que não tínhamos problema com isso mais.

—Estou. – Admitiu Hermione. Suas sobrancelhas estavam franzidas. – Eu... Não gosto disso.

—Eu tenho três filhos com ele. – Fleur murmurou inexpressiva. – Eu não posso simplesmente... Abandonar tudo isso.

—Eu sei. – Hermione suspirou, descruzando os braços. Já tinham tido aquela discussão diversas vezes no último ano. Sempre acabava assim, e ela entendia o lado da loura, mas isso não queria dizer que concordasse. – Talvez um dia...?

—Sim. – Fleur levantou-se da cama e abraçou-a por trás, nua. – Com certeza.

Hermione virou-se para o espelho, observando-se e fitando o rosto de Fleur, apoiado em seu ombro. Virou-se pra ela e segurou seu rosto em suas mãos, dando-lhe um beijo apaixonado. A loira pressionou seu corpo contra o dela.

—Estou atrasada. – Hermione forçou-se a dizer, interrompendo o beijo. Se fosse seguir suas vontades, deitaria-se com a loira novamente. – preciso ir.

—Te vejo sábado então? – Fleur perguntou, fixando seus olhos azuis nos castanhos claros dela. Ela adorava aqueles olhos.

—Claro. – Sussurrou Hermione. – Não será nem um pouco estranho eu ir a uma festa onde você estará com seu marido.

Fleur riu, divertindo-se. Largou à morena e virou-se, procurando suas roupas pelo quarto. Antes de sair, Hermione lhe deu um pequeno beijo nas costas, entre o pescoço e o ombro esquerdo, que arrepiou seu corpo inteiro.

Ao sair do quarto e fechar a porta atrás de si, Hermione sorriu sozinha. Lembrou-se de como tudo aquilo tinha começado, uma loucura secreta entre as duas.

***

Era 25 de dezembro, e todos se reuniram na casa de Gui e Fleur para celebrar o natal. Havia muita comida, conversa e cerveja, e parecia haver uma competição na mesa pra ver quem falava mais alto. Hermione estava contida aquele dia, focando em seu prato e conversando com Ginny, que a via como confidente para discutir sua relação com Harry.

—Eu já disse a ele milhares de vezes. Por favor, NÃO largue as meias no chão. Parece que entra por um ouvido e sai por outro, ele acha que além de sustentar aquela casa, ainda sou empregada dele? Homens são tão folgados...

—Já percebi. – Respondeu Hermione, olhando para o outro lado da mesa, onde Rony discutia sobre quadribol com Harry e Gui.

Ginny seguiu seu olhar e virou-se pra ela, com expressão preocupada.

—Não acredito que vocês terminaram ainda. O que exatamente deu errado? Eu sei que meu irmão pode ser bem estúpido às vezes. – Ela revirou os olhos.

— Eu diria que foi uma incompatibilidade intensa. – Hermione sorriu internamente, então apoiou a mão no ombro da amiga.  –Foi um término amigável, pode ficar tranquila.

Na verdade não tinha sido, graças ao orgulho inabalável de Rony, mas pelo menos, ela estava tranquila.

Ginny virou-se para o outro lado quando Luna a chamou, querendo contar novidades sobre a nova revista que estava produzindo. Hermione fez o mesmo, tentando puxar conversa com Fleur.

—A casa de vocês está maravilhosa. – disse. – Vocês redecoraram não é?

—Ah sim. – Fleur sorriu-lhe, simpática. – Este lugar precisava de uma repaginada. Fico feliz que gostou, Mione.

Hermione tomou um gole de vinho, sem saber ao certo como continuar a conversa. Nunca havia sido muito próxima de Fleur. Felizmente, ela começou a perguntar-lhe sobre o trabalho no ministério. A morena respondeu-lhe animadamente, pois este era um dos assuntos que mais gostava de discutir. Sentia-se muito orgulhosa de ter chegado onde estava.

—Sempre soube que você tinha um futuro brilhante pela frente. – Fleur lhe disse, com um sorriso orgulhoso em seus lábios vermelhos. – Dava pra saber.

—Ah, obrigada. – A morena ficou sem graça e não soube o que dizer. – Ah, e você, que tem feito?

—Bem... – Fleur desceu os olhos para as mãos descansando em seu colo. – Nada de interessante. As crianças ocupam muito meu tempo, não consigo trabalhar. E Gui fica fora o dia inteiro...

Ela ergueu a mão para a taça de vinho e tomou um longo gole. Hermione desviou os olhos, desconfortável.

—Bem, tenho certeza que conseguirá achar um hobbie que te agrade, até conseguir trabalhar. – Sorriu-lhe, tentando ser positiva.

—Certamente. Gosto muito de escrever. – Confessou-lhe, então sorriu: – Talvez algum dia escreva um romance famoso.

—Tenho certeza que irá. – Hermione colocou a mão em seu braço. – E eu adoraria ler.

A loira riu com seus dentes perfeitos. Olhou para seu marido que discutia alto com Rony do outro lado da mesa, logo depois dando a ele um tapa leve na cabeça, como se o gozasse.

—Bem, parece que teve alguma partida importante ultimamente. – observou com uma sobrancelha erguida.

—Claramente. – concordou a morena.

Fleur olhou para ela, com certa hesitação.

—Você e Rony... Não estão mais juntos, certo? – Perguntou. Hermione suspirou, repetindo a si mesma que teria que se acostumar-se com essa pergunta.

—Não. Não deu certo. – Respondeu, sem querer entrar em detalhes.

—Oh sim. Se você se sentir confortável, estou aqui para conversar. – A loira sorriu-lhe e pegou na sua mão, mostrando-se de confiança.

Hermione lhe deu um leve sorriso, mas acabou não lhe contando mais nada. Não sentia necessidade que mais alguém soubesse disso além dela mesma.

As duas continuaram conversando e bebendo vinho, até que todos se levantaram da mesa e foram para a sala, onde colocaram uma música animada. Alguns dos casais dançavam já altos pelo álcool e Hermione ria das histórias de Luna e Neville perto do calor da fogueira. Em certo ponto da noite estes foram embora pois Luna tinha que resolver problemas da edição de sua revista da semana seguinte. Rony ainda discutia com Percy, talvez se prendendo àquela conversa para não ter que lidar com o fato de sua ex namorada estar presente. Ginny e Harry dançavam, assim como Sr e Sra. Weasley. Fleur conversava algo com Gui, até que a avistou, sozinha e um tanto sem graça, agora que as pessoas com quem estava conversando tinham ido embora.

Ela murmurou algo para Gui, que se voltou para conversar com os rapazes, e caminhou graciosamente até ela, em seu vestido branco de seda.

— Então... Por que não está dançando na minha festa, Mione? – Perguntou-lhe em uma voz suave.

—Não tenho par. – Riu Hermione. Fleur estendeu-lhe a mão.

—Agora tem. – Respondeu-lhe, severa. – Vamos, a música está ótima.

Hermione olhou em volta rapidamente mas deu de ombros, aceitando a mão da loira. A música era agitada, e as duas riam e rodavam juntas, cantando junto com a letra das Esquisitonas.

Fleur sacudia os ombros e suas ondas loiras davam pequenos saltos. A barra de seu vestido girava e seus tornozelos eram rápidos. Os cabelos cacheados de Hermione tornaram-se levemente rebeldes e ela dançava de olhos fechados, tentando não se importar com as pessoas ao seu redor e sentindo a animação da música.

De repente, a música acabou e outra, muito mais lenta começou a tocar. Hermione deu um sorriso agradecido à Fleur e se encaminhava de novo para sentar-se no sofá, mas Fleur lhe puxou pela mão.

—Gui está ocupado agora. – Ela lançou um olhar ao marido, que ainda conversava com Rony. – Vamos, dance comigo! – pediu-lhe. Hermione olhou-a nos olhos e então voltou para o meio da sala. Todos os outros estavam distraídos com suas respectivas conversas, então ela não se importou.

Fleur ergueu uma mão e Hermione segurou-a, colocando a outra mão na sua cintura, desajeitada. Fleur sorriu e deixou que a morena guiasse, as duas rindo dos tropeços da loira, que disse não se lembrar muito bem como se dançava.

Assim que a música terminou, Hermione rodou Fleur, segurando sua mão no alto. A loira se desequilibrou no salto e quase teria caído, se Hermione não a tivesse segurado pela cintura. As duas gargalhavam enquanto voltavam ao sofá.

Hermione voltou seus olhos para o relógio, que já marcava uma da manhã.

—Oh, eu tenho que ir. – Levantou-se, ajeitando o vestido.

—Mas já? – Fleur ergueu as sobrancelhas, surpresa.

— Tenho que trabalhar amanhã e... Bem, já está tarde. – Respondeu-lhe a morena. Fleu levantou-se e lhe deu um beijo na bochecha.

—Tudo bem, Mione. Sabe, me escreva! Podemos marcar de fazer algo juntas qualquer dia. – Sorriu-lhe.

—Claro! Tudo bem. – Hermione despediu-se do resto da festa e, ao sair pela porta, aparatou para casa.

* * *

Eram onze da noite e Hermione colocava sua camisola, preparando-se para dormir, quando alguém bateu ansiosamente à sua porta.

Arrastando os pés, receosa em deixar sua cama macia e convidativa para trás, ela foi até a sala, perguntando-se quem seria àquela hora. Talvez fosse algum vizinho precisando de algo importante.

Assim que a abriu, Fleur se adiantou para dentro sem pedir licença, agitada.

—Preciso da sua ajuda. – Ela virou-se pra ela, ansiosa, enquanto Hermione fechava a porta novamente. – Vamos a uma festa!

—Huh? – A morena esfregou os olhos, bocejando. Fleur finalmente olhou-a, de cima a baixo.

—Uau. Bela camisola, garota. – Sorriu maliciosamente. Hermione corou, cobrindo com o roupão o vestido curto de seda azul clara.

—hã... Você disse festa? – Ela piscou os olhos repetidamente, tentando mudar de assunto e entender o que estava acontecendo. – Agora?

 -Isso. – A loira ajeitou o cabelo atrás da orelha, impaciente. – Veja bem, Gui me deixou na mão, e essa é uma festa importante, eu tenho que ir e não quero ir sozinha, sabe por quê?

—Por quê?

— Eu vou fazer uma network. Ela sorriu em expectativa. - Talvez eu consiga algum emprego decente, e não tenha que começar do zero. É uma festa do ministério francês.

—Ah... Uau. – A morena arregalou os olhos. – Uau mesmo. Hã... Tudo bem.

—Ótimo! Sabia que podia contar contigo! – A loira cruzou o espaço que as separava e a abraçou forte. Um cheiro de caramelo invadiu as narinas de Hermione. – Vamos nos arrumar então.

—Tudo bem... Só preciso lavar o rosto. – Fleur sentou-se no sofá para esperá-la e a morena foi até o banheiro.

Chegando lá, fechou a porta e a trancou. Foi até a pia e jogou água em seu rosto, numa falha tentativa de acordar seu corpo. Enxugou o rosto na toalha e olhou-se no espelho por alguns segundos.

Ela tinha trabalhado o dia inteiro. Fazia mais ou menos uma hora que tinha chego em casa e estava exausta. Por que ela estava fazendo aquilo mesmo?

Fleur era sua amiga. Ela tinha que ajudá-la, repetiu para si mesma, encarando-se no espelho.

No entanto, a perspectiva de ir a uma festa com ela era muito mais intensa do que seria com uma amiga. Hermione vinha sentindo coisas estranhas desde que as duas começaram a se corresponder, três meses atrás. Tinham saído algumas vezes e acabaram se tornando verdadeiras amigas e confidentes. No entanto, Hermione sentia-se esquisita toda vez que Fleur a abraçava para agradecer algo, ou toda vez que ela pegava no seu braço para dar ênfase a algo que dizia... Lembrou-se do cheiro doce que acabara de sentir quando a abraçara e sentiu-se arrepiar.

Tentou afastar esse pensamento. Ela era sua amiga. Não podia arruinar isso, era uma coisa boa em sua vida.

Mas sem dúvida, era inegável que sentia algo por ela. Sua amiga. Sua amiga casada. Sua amiga casada com o irmão de sua melhor amiga, com filhos.

Decidida a agir normalmente, saiu do banheiro e encaminhou-se para o quarto, onde a luz estava acesa. Ao abrir a porta, deparou-se com Fleur de roupa íntima, tentando decidir entre dois vestidos em cima da cama.

—oh Merlin. – Hermione suspirou, desviando o olhar para o lado, corada.

—Qual você acha melhor? – Fleur virou-se pra ela. Hermione tentou focar o olhar em seu rosto, ignorando sua cintura fina, a pele alva... – O vermelho ou o preto?

—O preto. – Ela respondeu, sem nem olhar os vestidos, só querendo apressar o fim daquela situação.

—Ok. – A loira o vestiu e foi até o espelho para começar a se maquiar. Hermione virou-se para o guarda roupas, do lado oposto do quarto e escolheu um vestido qualquer. Tirou o roupão e por fim, a camisola. Não percebeu que enquanto fazia isso, Fleur a observava pelo reflexo do espelho. Vestiu o vestido verde que sempre usava nesse tipo de ocasião e começou a escovar os cabelos.

* * *

—Ah, você viu aquele cara? – Fleur riu, apoiada na parede. – Ele tava totalmente dando em cima de você!

—Você acha? Oops! – Hermione tropeçou na soleira da porta. – Eu acho que ele estava muito mais interessado na comida do que em mim.

—Não, isso era aquela senhora de roxo. Eu a vi escondendo os salgadinhos na bolsa! Que feio...– Fleur jogou-se no sofá, tirando o salto alto dos pés doloridos.  – Ele falava francês e também queria dar uns beijos franceses! Totalmente interessado em você... E também naqueles drinks, que aliás estavam maravilhosos.

—Com certeza. - Hermione jogou-se ao lado dela, tirando os sapatos também. As duas sentiam a cabeça rodar e a vista meio embaçada. – Acho que vou dormir antes que eu passe mal.

— Eu também. – Fleur respirou fundo e se levantou do sofá seguida por ela. As duas foram para o quarto, com um andar desajeitado.

—Você quer que eu te empreste um pi..? – Hermione parou a pergunta no meio, vendo que Fleur tinha apenas tirado o vestido e deitado. – Deixa pra lá.

A morena acabou fazendo o mesmo por preguiça, apagou a luz e deitou-se ao lado dela. Tentou dormir, mas estava muito consciente da presença de Fleur ao seu lado, e começou a se lembrar dos pensamentos que tivera no banheiro e que evitara durante toda a festa.

A luz laranja da rua refletia na pele do braço de Fleur. Ela estava de costas para Hermione, e esta não tinha certeza se ela estava dormindo ou não. O álcool no corpo fazia com que ela quisesse dizer algo, contar tudo que sentia, mas o pequeno resquício de consciência que havia em sua mente a impediu. Depois de uma hora em claro, num ímpeto não pensado, Hermione deslizou os dedos pelo braço da loira, de maneira tão suave que quase não encostava. Ela viu os pelos do braço dela se arrepiarem e parou imediatamente, com medo que a loira acordasse.

Fleur começou a se virar na cama e Hermione fechou os olhos numa tentativa ridícula de fingir que estava dormindo. Desistiu, assim que notou que a loira estava de frente para ela.

—Desculpe, não queria te acordar. – Foi tudo que conseguiu falar, sussurrando. Os olhos azuis de Fleur eram indecifráveis na escuridão. A loira apenas se aproximou mais dela na cama e ficaram num silêncio constrangedor por alguns segundos. Fleur parecia estar ponderando algo.

Hermione estava prestes a pedir desculpas, quando Fleur colocou a mão em seu rosto, suavemente acariciando sua bochecha com o dedão. Em um momento rápido e imprevisível, inclinou-se e beijou-a, primeiro suave, depois, intensamente.

***

O sol bateu nas pálpebras de Hermione e ela abriu os olhos, esfregando-os por causa da claridade. Virou-se para o lado, ainda um pouco grogue, e, ao tatear a cama, encontrou nada além de um papel.

Sentou-se na cama de um salto, lembrando-se da noite anterior. Isso foi um erro, pois a ressaca atacou e sua cabeça deu intensas pulsadas de dor.

Ainda assim, não se distraiu do fato de que ela e Fleur tinham... Não podia ser. Devia ter sido um sonho, um sonho bobo, ela era apenas sua amiga.

No entanto, deu-se conta de que estava nua sob o lençol. E lembrou-se da festa.

—Fleur? – Gritou, na esperança de que ela estivesse no banheiro ou na cozinha. Ninguém respondeu. A loira tinha ido embora. – Oh não! Não... E-Eu estraguei tudo. – Murmurou consigo mesma, passando as mãos na testa.

Sentindo que estava prestes a chorar, esticou a mão e pegou o papel que ela tinha deixado. Ele continha apenas duas frases:

“Não posso fazer isso. Eu sou casada.“

Hermione leu aquelas duas frase dez vezes, até realmente entendê-la. E então sorriu, aliviada.

A única razão que isso tinha para dar errado era Gui.

O sentimento que ela tinha era correspondido. Isso se confirmou quando ela se lembrou do beijo tenro que a loira te dera na noite anterior, o beijo que tinha começado aquilo tudo. Ela não era a única que tinha sentido algo diferente. Isso acalmou seu coração, mas deu espaço para outros questionamentos.

Pensou em como seriam as coisas agora. Continuariam amigas? Não, sabia que isso não era possível. Se separariam? Isso seria terrível. No entanto, havia uma saída.

Uma saída egoísta. Hermione ponderou sobre ela por horas, sentada em sua cama, alheia à fome pelo café da manhã.

Hermione não conseguia, não parava de pensar na noite anterior. Queria aquilo mais vezes, queria aquilo pra sempre. Ela não ia aguentar ficar perto de Fleur sem ter a possibilidade de tocá-la, de beijá-la. Aquela pequena paixão secreta que sentira subira a um outro patamar após aquela noite, um patamar em que ou era tudo, ou nada.

Pegou um papel e escreveu apenas uma palavra, em uma caligrafia ansiosa.

“ Deixe-o.“

Enviou o bilhete pela coruja, sem assinaturas, e contemplou o que acabara de fazer. Ela começara algo errado e egoísta. E como era.

Mas ela não ia importar-se com isso agora. A sua vida inteira, colocara as outras pessoas em um pedestal acima de si mesma. Pela primeira vez, iria seguir os seus desejos. Fleur despertara esse sentimento nela.  

Levantou-se da cama e foi tomar um café, com a alma plena.

***

A resposta não veio. Por dois meses, Hermione checava todos os dias se sua coruja havia trazido algo de novo, mas nada havia além da edição diária do profeta diário e cartas pessoais. Na primeira semana, isso a deixava ansiosa de uma maneira terrível. Na segunda, ela havia começado a se acostumar com a ideia de que Fleur não tinha aceitado sua proposta em seu bilhete. Na terceira semana, ela começara a se sentir horrível por sequer ter sugerido aquilo.

Ela não conhecera muito Gui. Só sabia que ele era uma pessoa tranquila, que se aventurava com dragões, tinha uma família de dar orgulho ao Sr. e sra. Weasley, e que, mesmo distante, era um irmão presente para Rony. Ele não era um homem ruim, muito menos parecia ser um marido ruim e isso deixava seu coração pesando uma tonelada.

Depois de tanto tempo, já se acostumara com a ideia de deixar isso no passado, como um erro que não deveria ter sido cometido. Focara-se no trabalho, e não tinha ido à mais nenhuma das festas dos Weasley’s, recebendo Ginny em casa para a amiga perguntar-lhe o que estava acontecendo.

—Nada, - respondeu. – Só tenho estado muito ocupada com o trabalho.

—Seu emprego é tudo pra você não é, Mione? – Ginny bufou. – Estamos com saudade de você.

 Realmente, ele era. Quer dizer, antes daquilo tudo acontecer.

Hermione então resolveu tirar pequenas férias para si mesma, então viajou para a Itália num final de semana. Escolheu um bom hotel na área nobre de Roma e saiu sábado para conhecer a capital. Assim que o dia terminou, pediu um taxi e voltou para o hotel.

Ao sair do elevador, caminhou pelo corredor até seu quarto, distraída, quando se deparoucom uma cena que a fez largar as sacolas de souvenirs que tinha comprado.

—Fleur! – Expirou. As sacolas continuaram caídas aos seus pés.

A loira estava sentada em frente à sua porta, com a cabeça apoiada nos joelhos. Seus cabelos estavam molhados, assim como suas roupas, então Hermione deduziu que ela tinha pegado uma chuva em Londres antes de aparatar pra lá.

Assim que ouviu seu nome ser pronunciado ela ergueu a cabeça e Hermione caiu de joelhos em frente a ela, segurando seu rosto, vermelho e molhado de lágrimas. Percebeu que a loira estava tremendo.

—Nós.. Nós tivemos uma grande briga, e eu não... Eu precisava falar com você. – Murmurou com um nó na garganta.

—Entre, vamos. – Hermione abriu a porta do seu quarto e a ajudou a se levantar. Fechou a porta arás de si, esquecendo-se completamente das sacolas, abandonadas do lado de fora. – O que houve?

A loira sentou-se em sua cama, enxugando as lágrimas, e aceitou o copo dágua que Hermione tirara do frigobar.

A morena sentou-se ao lado dela e passou o braço por seus ombros.

—Ele... – Fleur começou. – Ele conheceu alguém.

—Oh. – Hemione desviou os olhos para o chão. Não sabia o que pensar daquilo.

—Faz um ano. – Fleur amassou o copo em suas mãos. – Um ano.

Hermione não respondeu. Não sabia o que dizer.

—Eu abri mão de tantas coisas por ele. Eu... Eu desisti... De você. – Ela virou-se pra ela. – Aquela noite... Eu não conseguia parar de pensar nela por semanas. Mas... O mínimo fio de afeto que eu tinha com ele me obrigou a me sentir culpada por aquilo e a te esquecer, e essa foi a coisa mais difícil que eu já fiz.

Hermione continuou em silêncio, sentindo um turbilhão de coisas passar pela sua cabeça.

—Me desculpe. – Fleur suspirou, enxugando as lágrimas. – Eu não consigo nem imaginar como você deve ter se sentido.

—Bem péssima. – murmurou Hermione, finalmente dizendo algo.

—Eu sinto muito. De verdade. – Fleur olhou-a nos olhos. – Eu entendo se você não quiser mais nada comigo, mas eu sinto muito a sua falta, todos os dias. – Ela sorriu, tristemente.. – E não te quero de volta apenas como amiga.

 Hermione não pôde deixar de sorrir com o pedido, quase que o aceitando imediatamente mas, antes de tudo, tinha que perguntar:

—Como serão as coisas agora? Digo, entre você e ele.

Fleur desviou o olhar do dela e respondeu com uma voz amarga:

—É claro, vou pedir o divórcio.

* * *

Hermione sentou-se à sua mesa no ministério, sentindo-se plena. Tinha tido uma ótima noite com Fleur e agora iria para o seu trabalho gratificante. Não podia deixar de sorrir.

Estava, definitivamente, ansiosa para sábado, dia que Gui viajaria para a Guiana e ela e Fleur teriam uma semana inteira a sós.

Imaginava o dia em que o divórcio de Fleur finalmente acontecesse. As duas iriam a um jantar romântico à luz de velas, em algum restaurante chique do centro de Londres. E então ficariam até tarde conversando, rindo e bebendo vinho, para depois passar o resto da noite curtindo uma à outra.

Depois disso a vida de Fleur continuaria, com seu marido e filhos. Já a de Hermione continuaria paralisada, assim como estava desde o dia em que conheceu aqueles olhos azuis.


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