A Garota de Vestido Azul escrita por Karina A de Souza


Capítulo 3
O Doutor se Foi


Notas iniciais do capítulo

Olá *u* Aproveitem o capítulo.
Allons-y!



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Os pais de Joanne achavam que ela podia cuidar de si mesma e partiram do Brasil quando ela tinha dezoito anos, deixando-a sozinha com dinheiro e recomendações. Ambos se mudaram para uma cidade pequena, fora do país, onde estavam vivendo muito bem, da pesca e de uma plantação própria.

—Eles são meio... Eu não sei... Essas pessoas bem naturais. -Jo tentou explicar, saindo da TARDIS. -E... Céticos. Então, se não for pedir demais, não diga que você é um alien, nem que viajamos no espaço e tempo numa caixa azul. Tudo bem?

—Então não posso chegar e dizer “olá, eu sou o Doutor, sou um Senhor do Tempo e levei sua filha na minha nave para o espaço, além de termos ido para o passado”?

—Definitivamente não.

Se aproximaram da pequena casa de madeira, que ficava na beira da praia. Dois barcos e algumas redes estavam num canto, coisas do pai de Joanne.

A garota bateu na porta, e enquanto esperava, parou pra pensar. O que seus pais achariam do Doutor? Ele era uma figura curiosa, de terno azul, um sobretudo marrom e um sorriso animado. Ela tinha uma boa impressão quando olhava pra ele, mas e seus pais?

A porta abriu, relevando Alana Watson, suja de farinha e um pouco descabelada.

—Minha Jo!-Abraçou a filha, quase esmagando-a. -Minha Jo está aqui!-Se afastou. -E... Esse... Hum...? É seu amigo?

—Eu sou o Doutor. -Estendeu a mão. Alana a apertou, lançando um olhar rápido para a filha.

—É médico?

—Não... Só Doutor mesmo.

—Certo. Bem, entrem, e não se espantem com a bagunça na cozinha, estou fazendo uns bolinhos de banana.

—Já gostei da sua mãe. -O Doutor sussurrou, entrando na casa atrás de Joanne.

—Engraçadinho. -Sussurrou de volta. -Cadê o papai?

—Remendando uma rede velha. -Alana respondeu, enquanto a filha e o Doutor se sentavam. -Mas me digam, o que estão fazendo por aqui? Eu achei que você estaria fazendo aquela viagem do Harry Potter. -Joanne riu.

—Era uma viagem em Londres, mãe. Conheci o Doutor lá. Estamos... Viajando juntos desde então.

—Ah... Viajando juntos... Sei.

—Senhora Watson, são os melhores bolinhos de banana que eu já provei nessa vida. -O Doutor disse, de boca cheia, fazendo Jo segurar o riso. -E eu digo isso como um fã dessa iguaria.

—Muito obrigada. -Jo sabia que agora o Senhor do Tempo tinha conquistado sua mãe.

—Olhem só quem apareceu!-Vítor exclamou, puxando a filha para um abraço que Jo retribuiu lembrando do pequeno Vítor que conheceu na viagem ao passado. -Ligamos pra você várias vezes na última semana e você não atendeu. Fiquei preocupado.

—Ah... Eu perdi meu carregador. -Joanne mentiu. -Prometo mandar mais notícias. Esse é o Doutor, meu amigo. -O Senhor do Tempo acenou, ainda devorando os bolinhos oferecidos por Alana.

—Bem, e o que estão fazendo por aqui? Achei que iria para casa depois que saísse de Londres.

—Eu vou, em algum momento. O Doutor e eu estamos viajando por aí.

—Certo. Doutor, por que não vem comigo até lá fora? Vou te mostrar meus barcos.

—Claro, claro. -Murmurou, sorrindo.

O Senhor do Tempo seguiu o homem para fora da casa, inocentemente. Jo se perguntou se ele sabia ou não que Vítor queria ter uma “conversinha” com ele.

—Ele parece ser um bom homem. -Alana disse, tirando uma forma do forno e colocando outra. -Mas você tem certeza de que deve mesmo sair por aí com ele? Mal se conhecem.

—Não se preocupe, mãe. Ele é realmente legal. -Se sentou outra vez.

—E vocês dois...? Ele parece um pouco velho pra você.

—Somos amigos. Apenas amigos. Fique tranquila, está tudo bem.

Do lado de fora, o Doutor e Vítor realmente estavam tendo uma “conversinha”, como Joanne tinha imaginado.

—Ouça, Doutor. Minha Jo pode parecer uma garota muito adulta e esperta, mas é uma menina. É inocente e... E ainda não entende que as pessoas podem ser muito más. Então se vão mesmo continuar com isso de viajar por aí... Prometa que vai cuidar dela.

—Eu vou, senhor Watson. Quero que Joanne fique bem tanto quanto o senhor quer. Não vou mentir dizendo que o que estamos fazendo é cem por cento seguro, porque não é. Mas vou fazer de tudo para levá-la sã e salva pra casa no fim.

—Espero que sim, Doutor. Espero que sim.

***

—Ele não te ameaçou com a arma dele, ameaçou?-Joanne perguntou, sentada ao lado do Doutor na passarela que seu pai tinha construído perto de casa.

—Não. Ele faz muito isso?

—Nunca precisou. Meus pais gostaram de você. Só... Querem ter certeza de que vou ficar bem. -O Senhor do Tempo encarou o horizonte estrelado.

—Eu não posso garantir isso. Por mais que queira evitar, coisas ruins às vezes acontecem com quem anda comigo.

—Bem... Coisas ruins acontecem o tempo todo, até com pessoas boas. A vida é assim. -Deu de ombros. -E então... Vai me contar algo sobre você?

—Ah, mas você me conhece. -Olhou pra ela, sorrindo.

—Não diria que conheço de verdade. Não sei quase nada. E você deve ter uma vida bem interessante. Sempre viajando por aí... Descobrindo coisas. Fala um pouco sobre você. -Ele revirou os olhos e suspirou.

—Tenho quase mil anos. Vim de muito, muito longe. De Gallifrey.

—Nós podemos ir até lá?

—Não. Gallifrey... Não existe mais. Nem meu povo. Eu sou o último Senhor do Tempo.

—Eu sinto muito. -Segurou a mão dele.

—Desde então eu pertenço a lugar nenhum e a todos os lugares. Parece estranho, não é?

—Você não poderia ser normal. -Ele sorriu.

—Definitivamente não. E não podia escolher uma acompanhante normal também.

—Vou levar como um elogio. -Sorriu e ficou de pé. -Vamos, o jantar deve estar pronto. -Doutor levantou. -Obrigada, de novo, pelo que está fazendo por mim. Você é mesmo um bom... Alien.

—Assim me faz parecer um daqueles alienígenas de filme ruim.

—Não. Você é bem mais bonito. -Começaram a andar em direção à casa, de mãos dadas. -Me responde uma coisa. O ET de Varginha é real? Por que eu realmente acredito que algo caiu lá e está sendo escondido na Área 51...

—Ah... -Começou a rir. -Esse era eu. Caí acidentalmente em Varginha, causei tumulto... Sabe como é, às vezes não consigo ser discreto. -Joanne arregalou os olhos, chocada.

—Está falando sério?

—Seríssimo. Fui eu. E como pode ver, não estou mais na Área 51.

—Ai meu Deus. Vai ter que contar isso direitinho depois. -Riu. -Doutor, você é uma caixinha de surpresas maior que a TARDIS.

Depois do jantar, o Doutor (que foi bombardeado de perguntas pelos pais de Jo) anunciou que ele e Joanne iriam embora na manhã seguinte. A senhora Watson se prontificou a dar alguns bolinhos de banana para a viagem, já que o Doutor tinha gostado tanto. Joanne só conseguia rir da situação.

—Bem, ela gostou de você. É oficial. Pode comemorar. Tem problemas com todos os pais de seus acompanhantes ou todos gostam de você?

—Pode ser difícil de acreditar, mas alguns me detestam. -Joanne fingiu estar surpresa.

—Como eles conseguem?-Sorriu. -Aonde vamos amanhã?

—É uma surpresa. -Seu bom humor parecia ter sumido, ele estava sério agora.

—Está tudo bem? Eu disse algo errado?

—Não, não é você. Eu apenas... Bem, é hora de dormir. -Recuou para dentro do quarto. -Foi ótimo conhecê-la, Joanne Watson. -Ela franziu a testa.

—Está se despedindo, Doutor?

—Boa noite. -Então fechou a porta, deixando a garota completamente confusa.

***
Joanne acordou com a claridade. Ela nunca conseguia dormir direito durante o dia. Parecia estranho. Normalmente iria querer ficar enrolando na cama, até o café da manhã ficar pronto, mas a expectativa de partir para novas aventuras com o Doutor a fez levantar o mais rápido possível e ir para a cozinha.

—Alguém caiu da cama. -Alana comentou, espiando a filha por cima do ombro. -Estou fazendo mais algumas coisas pra vocês levarem na viagem. Que tal uns biscoitos?

—Você não precisa se preocupar com isso, mãe.

—É bom poder cozinhar bastante. Não há muito o que fazer aqui.

—O Doutor já levantou?

—Ainda não o vi. Por que você não vai chamá-lo? O café está pronto.

—Okay. -Se apressou até o segundo quarto de hóspedes e bateu na porta. -Doutor? Hora de levantar. Temos uma viagem hoje, lembra?-Sem resposta. -Doutor?-Empurrou a porta.

O quarto estava perfeitamente arrumado, como na noite anterior. A cama feita, as toalhas na cômoda onde sua mãe tinha deixado. Não havia nenhum sinal do Doutor.

—Algum problema?-Vítor perguntou, se aproximando. -Jo?

—Você o viu? Viu o Doutor?

—Ontem à noite, depois do jantar. O que aconteceu?

—Ele... Ele se foi.

—Como...? Não iam juntos? Vocês brigaram?

—Não. Nós estávamos bem... Eu acho.

Então se virou e começou a correr. Ela lembrava exatamente onde a TARDIS tinha sido deixada. Iria até lá e perguntaria por que o Doutor tinha saído sem avisar. Ele era meio distraído às vezes, com certeza não tinha feito por mal. Era tudo um mal entendido. Ele devia estar na sua bela caixa azul agora mesmo...

Mas a TARDIS não estava lá. Era como se tivesse um buraco na paisagem, onde a nave tinha pousado. Devia estar ali, entre duas árvores. Estava ali ontem. Por que não estava mais?

Primeiro Jo pensou que algo tivesse acontecido. Talvez alguma invasão. Talvez seres maus tivessem vindo para a Terra e o Doutor correu para pará-los, esquecendo de avisar sua companheira.

Mas depois, Joanne entendeu. Ele realmente tinha se despedido dela na noite anterior, por que estava indo embora. O Doutor não tinha esquecido dela. Ele tinha a abandonado.


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Notas finais do capítulo

Achei que seria legal o Doutor ser o "ET de Varginha". Pensei em fazer uma one sobre isso, está nos meus planos.
Bem, os pais da Jo são um pouco inspirados nos meus.
E então, o que acharam? Contem nos comentários.
Até mais! ♥



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