Ela foi uma de suas acompanhantes favoritas. Joanne, a garota do vestido azul.

Achou a TARDIS acidentalmente enquanto caminhava, distraída com um livro. Bateu de frente com a cabine azul e derrubou seu exemplar de Relíquias da Morte.

—Ai! Joanne, você é uma negação. -Murmurou, esfregando a testa.

Ergueu o olhar e encarou a cabine de polícia. Surpresa passou por seu rosto, então alegria.

—Eu sei o que você é!-Exclamou. -A cabine do Doutor!-Olhou em volta. -Doutor? Doutor?

—Acho que esse sou eu. -A garota se virou rapidamente, encarando o homem com o sobretudo. -Eu sou o Doutor, mas você já sabe disso. Você é...?

—Joanne! Joanne Watson. Eu sei tudo sobre você... Quer dizer, não tudo. Só teorias e essas coisas que se pode encontrar na internet. Amo esse tipo de coisa, só que não fazia ideia de que era real! Mas você parece muito real!-Refletiu um pouco. -Estou tagarelando, não estou?-O Doutor sorriu.

—Sem problema. -Franziu a testa. -Você estava chorando?

—Um dos meus personagens favoritos acabou de morrer. -Pegou o livro do chão, limpando a poeira.

—Talvez eu tenha algo a ver com isso. Eu apareci lá e disse “Ei, Jo, por que você não mata esse cara? Vai causar um grande impacto nos leitores!”. -Joanne arregalou os olhos.

—Você conheceu Joanne Rowling?

—Eu conheço muita gente.

—E essa aqui é a TARDIS, não é? Eu li sobre ela, vi umas fotos... É linda!

—Ah, ela é mesmo. Você parece estar bem por dentro do assunto.

—Eu acompanho o canal do Elton Pope, ele faz vídeos sobre você para a internet.

—Ah, Elton. Lembro dele. Enfrentamos um Abzorbaloff. Bons tempos.

—Então tudo o que ele disse era verdade?-O Doutor assentiu. -Isso é fantástico! E um pouco assustador. -Olhou em volta. -Se você está aqui... Então há algum perigo?

—Não. Eu estava apenas... Visitando uma velha amiga. Não há nada o que temer. E você?

—Vim conhecer Londres. Fã de Harry Potter. -Mostrou o livro. -Fui em alguns lugares onde gravaram, esse tipo de coisa. -Olhou por cima do ombro rapidamente. O Doutor percebeu que ela estava muito curiosa sobre a TARDIS.

—Você quer vê-la?

—Eu posso? Prometo que não tocarei em nada!

—Então vamos lá.

Joanne o seguiu para dentro da TARDIS. Parecia maravilhada, sem saber o que olhar primeiro. Era como uma leitora compulsiva numa biblioteca.

—É a coisa mais linda que eu já vi. -Sussurrou. -Maior por dentro do que por fora.

O Doutor sorriu, olhando a cena. Ele já conhecia esse tipo de reação. Viu várias e várias vezes, em rostos de dezenas de humanos que tiveram a chance de entrar na TARDIS. Ele mesmo às vezes se pegava admirando sua nave assim, como se fosse a primeira vez.

Ele tinha que admitir. Joanne Watson era uma acompanhante em potencial.

—Você deve ter ido à tantos lugares! Imagine as coisas que já viu! A Terra acaba algum dia? É verdade que o mundo acaba nesse ano? Os alienígenas estão entre nós? Tem vida em Marte?-Suspirou. -Estou tagarelando de novo. Desculpe.

—Não, tudo bem. Eu gosto disso. -Joanne sorriu.

—Pra onde você vai agora?

—Ainda não sei. Aonde você iria?

—Hum... -Mordeu os lábios, pensativa. -Eu não sei. Tantos lugares... Planetas, tempos... Acho que iria onde ver as estrelas de pertinho. Ou algo assim.

—Então vamos.

—O que? Aonde?

—Você vai ver. Allons-y, Joanne!

Quando os dois saíram da TARDIS, pouco depois, estavam em uma nave-observatório. A sala onde a cabine azul pousou era completamente transparente, permitindo uma boa visão do lado de fora.

—Onde estamos?-Joanne perguntou, se aproximando do vidro.

—Essa é a nave Galáctica 3000. Recém colocada no meio de um berçário de estrelas.

—Isso é... Lindo. Sempre olhei as estrelas lá de baixo... Querendo vê-las de perto...

—E agora você está entre elas.

—Sim!-Sorriu e limpou algumas lágrimas dos olhos. -É fantástico. -Olhou em volta. -Dá pra ver a Terra daqui?

—Não. Estamos muito longe. Uns... Seis, sete anos de distância.

—Viemos tão longe... Em menos de cinco minutos? Incrível! Olhe, acho que tem umas estrelas nascendo ali!

O Doutor sorriu, observando a expressão alegre de Joanne. Ela estava completamente encantada com o que via, rindo e chorando ao mesmo tempo. Ela seria uma ótima acompanhante. Ele poderia mostrar seus lugares favoritos no Universo, e descobrir novos ao lado dela... Mas... Talvez... Talvez ela não quisesse. Ela podia simplesmente seguir seu caminho quando voltassem à Londres. Não seria a primeira a não querer acompanhá-lo. Se Joanne realmente esteve pesquisando sobre ele, sabia que ser a acompanhante do Doutor podia ser muito perigoso. E quem poderia culpá-la por ficar com medo?

—Doutor, tudo bem?-Joanne perguntou, olhando-o com a testa franzida.

—Sim, sim. Só estava... Pensando. Faz muito bem.

Meia hora depois, o Doutor estava deixando a garota no mesmo lugar onde a pegou. Saíram juntos da TARDIS, sentindo o contraste da cidade com o que tinham acabado de ver.

—Muito obrigada, Doutor. -Joanne agradeceu. -Eu nunca pensei que iria tão longe e nem que veria algo tão maravilhoso. Nunca vou me esquecer disso. Obrigada. Bem, eu... Hum... Acho que tenho que ir. Foi bom conhecer você. -Estendeu a mão timidamente. O Doutor sorriu e a apertou.

—Foi um prazer conhecer você, Joanne Watson. Espero que você esbarre mais vezes na TARDIS. -A garota riu.

—Nunca se sabe. -Começou a se afastar. -Adeus, Doutor. -Então se virou e caminhou em direção ao hotel, como se fosse a coisa mais difícil que já fez na vida.

***

Ela se sentia como a Cinderela, perdendo a magia no fim da noite. Ir com o Doutor e a TARDIS para o meio do espaço, ver um berçário de estrelas, foi como mágica. E agora Joanne tinha voltado para sua realidade.

Se perguntou se ficaria como Elton Pope, com apenas lembranças e uma história para contar. Uma história que ela jamais esqueceria.

Sua mente revivia os momentos na nave-observatório, quando bateram na porta. Foi atender, esperando que fosse uma das camareiras, mas era o Doutor.

—Hã... Eu não esbarrei na TARDIS. -Brincou.

—Não. -Sorriu. -Mas você esqueceu seu livro. -Entregou o exemplar pra ela. -Olhe na primeira página.

—Por quê?

—Apenas olhe. -Joanne abriu o livro e soltou um grito animado.

—Isso... É um autógrafo da J. K. Rowling?

—Ela me devia uns favores.

—Obrigada!

—Eu também... Queria saber... Se você não quer... Sei lá... Me acompanhar em algumas viagens.

—Está falando sério?

—Estou. -Colocou as mãos nos bolsos. -Tem lugares incríveis lá fora, caso queira... Você sabe, conhecê-los.

—Eu... Eu adoraria.

Em menos de dez minutos, Joanne tinha tudo o que precisava para a viagem, pagou o hotel, e correu em direção à TARDIS com o Doutor, sentindo-se como uma Cinderela que ganhou sua segunda chance.

—Aonde vamos?-Perguntou, se aproximando do painel

—Onde você quer ir? Pode escolher. Qualquer lugar do espaço e tempo. Pra frente, pra trás, pra cima, pra baixo, é só dizer.

—Nós... Hum, podemos ir... Para um determinado lugar em 1977?

—Claro que sim! O que quer ver lá?-Joanne sorriu.

—Ver algo que eu sempre quis ver.

—Então allons-y, Joanne Watson!