Realmente (Me Chamam de Rei) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 3
A partida da princesa


Notas iniciais do capítulo

É, eu sei que fiquei muito tempo sem postar, mas devo voltar à ativa agora. Lembrando: todos os capítulos estão escritos, então só falta postar mesmo.



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Depois de algumas semanas, o rei a rainha de Gotseven aceitaram formalmente o noivado. Foi terrível ter que contar para Sunghee, mas ela foi maravilhosamente compreensiva, embora eu pudesse ver que estava triste. Ela conhecia muito bem suas obrigações e seu destino.

— Ele virá para cá ou eu irei?

— Você terá que ir — eu disse.

— O príncipe Yugyeom vai se hospedar aqui no palácio por um tempo — explicou Yumi. — Assim vocês poderão conversar e se conhecer um pouco melhor antes de se casarem. O casamento será lá. Todos nós iremos para a festa e depois retornaremos.

Aquela era a pior parte. Sunghee iria se separar do reino e se separar de nós. Eu passaria a ver a minha filha raramente, e o que me chateava era saber que Tteok também teria que ficar. Ela iria para um reino distante sem conhecer ninguém, e era tão nova!

Depois de nossa conversa, deixamos Sunghee livre para pensar e se acostumar com a ideia. Eu fiquei no quarto para observar o lugar para onde eu sabia que ela iria: o jardim. Eu sabia que ela iria para lá porque foi lá que a encontramos antes da conversa, onde ela sempre ficava com Tteok. Dissemos que precisávamos conversar, e Tteok tinha ficado lá. Observei o lugar onde ele permanecia, e logo ela apareceu ali. Não podia ouvi-los, mas observei-a dizer algo para ele, que muito provavelmente era a notícia. Ao menos de longe, Tteok não pareceu esboçar nenhuma reação extraordinária, assim como havia acontecido com a Sunghee. Eu já estava com vontade de chorar só de vê-la tendo que dizer a ele que teria que ir embora. Depois de algum tempo de conversa, eles se abraçaram bem forte, e eu não aguentei. Pisquei, e uma única lágrima escorreu pelo lado direito do meu rosto. Eu não sabia se eles eram apaixonados um pelo outro ou se só se amavam como irmãos, mas era nítido que havia um sentimento especial entre eles. De qualquer modo, a separação seria muito dolorosa, e eu sentia isso porque ela também seria dolorosa para mim.

Eu costumava dizer que eu nunca tinha amado, mas não era verdade. Eu nunca tinha me apaixonado por ninguém, mas eu amava a minha filha com todo o meu coração. Eu queria protegê-la, queria vê-la feliz… E estava falhando miseravelmente.

— Mianhaeyo, minha filha — sussurrei para mim mesmo, com a voz falha pela decepção.

Fechei a cortina e me direcionei para dentro do quarto, secando as lágrimas com as pontas dos dedos. Me posicionei de frente para a penteadeira. Observei minha própria imagem: um bom rei, um péssimo pai. De repente, minha coroa pareceu pesada demais. Tirei-a da cabeça e observei seus detalhes. Depois, olhei novamente para meu reflexo? O que era eu sem ela? Um homem comum? Um homem sem tantas responsabilidades.

Por muito tempo eu tinha suportado as desvantagens da coroa. Nunca antes ela tinha parecido tão pesada.



Eu vinha tentando ocupar minha cabeça com algo que não fosse a coroa. Fui para a cozinha tentar produzir algo que não fosse amargo. Curiosamente, a única pessoa na cozinha era Tteok, sentado de frente para um prato cheio de kyungdans, o que era uma raridade. Doces nunca sobreviviam muito tempo na frente de Tteok. Ele encarava os bolinhos como se tivessem sido recheados com a alegria da vida e não pudessem mais ser comidos.

— Sem apetite?

Tteok dirigiu o olhar para mim com um pouco de preguiça. A cabeça pendia na mão. Sem me responder (o que também era estranho, porque Tteok sempre foi muito educado, mesmo quando eu dizia que não precisava ser tão formal), ele voltou seu olhar para os doces.

— A senhora Hyeri fez para mim, mas...

Ele não terminou a frase, mas não era preciso. Empurrou o prato, e eu me sentei de frente para ele.

— Você está triste porque ela vai embora.

Tteok balançou a cabeça, não como uma negação à minha suposição, mas como uma rejeição à ideia.

— Eu sempre soube que isso aconteceria, vossa majestade. Só que… Eu achei que estaria preparado.

— Ninguém está preparado. Nem ela, nem eu, e pode apostar que o coitado do príncipe se encontra na mesma situação. Eu queria que ao menos você pudesse acompanhá-la nesse novo reino, mas não vejo abertura para isso.

— Não sei se seria tão legal. Não me vejo fazendo isso. Ficar ao lado dela, vendo-a casada com outro homem…

— Você sabe que o casamento não significa isso tudo na monarquia, Tteok.

— Miane, mas eu não quero ser como meu appa. Eu venho de um lugar onde as coisas funcionam de outra maneira.

— Ah, Tteok… Você é tão legal com ela… Gostaria muito que vocês pudessem se casar.

— Ele sempre diz isso. Mas eu prefiro não sonhar. Muito menos agora. Ele chega amanhã, não chega?

— Sim.

— Eu e a princesa vamos passear na cidade daqui a pouco. Já que é a última oportunidade que ela terá para olhar o próprio reino, ao menos por um longo tempo. Será bom voltar para casa. Com licença, vossa majestade.

— À vontade. Ah, vai comer esses kyungdans?

Tteok conseguiu rir muito fracamente.

— São todos seus.



Eu fiquei da sacada olhando enquanto Sunghee e Tteok saiam cobertos com as capas. Em vez de pegar uma carruagem, foram à pé, dizendo que aproveitariam mais tranquilamente o passeio. Eu achava melhor daquela forma. Afinal, ninguém conhecia o rosto da princesa de Omelas, mas todos conheciam o brasão real estampado na carruagem, os enfeites dos cavalos, as roupas do cocheiro.

Procurei ler um livro para me distrair na ausência das minhas duas companhias favoritas. Tinha cogitado chamar Jungkook para um novo jogo dos reis, mas imaginei que ele estivesse ocupado demais. De fato, ouvi barulhos enquanto estava escolhendo o livro. Tratei de sair dali o mais rápido possível, com a raiva que não era facilmente encontrada em mim. Era o dia da chegada do príncipe de Gotseven, era a marca de que a princesa herdeira iria partir, e eles não se importavam.

Fui me esconder em um dos quartos mais altos do palácio, para garantir que seria deixado em paz. Não fiquei muito tempo lendo. A pressa tinha me feito escolher um entediante livro de amor que não me agradava nem um pouco naquele momento. Seria mais fácil se não existisse amor, se as princesas simplesmente casassem com os príncipes e não fossem obrigadas a ficar amargamente longe de suas paixões. Estava pensando no que poderia fazer para me distrair sem Jungkook, sem Yumi, sem Sunghee e sem Tteok, quando um dos criados entrou esbaforido no quarto.

— Vossa Majestade — disse ele, tentando se conter. — Perdoe-me, mas… Precisam do senhor lá embaixo.

— Aigoo, eu me escondi bem mesmo. O que houve? O príncipe chegou?

— Não, senhor. A princesa… A princesa foi capturada.

Me levantei na mesma hora, já sentindo a respiração falhar.

— Como assim a princesa foi capturada, que história é essa?

— Ainda não entendi direito, majestade, mas Tteok está contando à rainha e ao príncipe. Ao que entendi… Um monstro a capturou.



Assim que cheguei na sala, me deparei com vários criados alarmados ao redor da cena principal. Tteok parecia muito assustado e ao mesmo tempo com muita raiva, agarrando-se no appa como se fosse uma criança de novo. Yumi discutia com o general do exército, tentando convencê-lo a ir atrás de Sunghee.

— Não tem como saber para onde eles foram, vossa majestade. Isso é o mínimo que precisamos para fazer buscas…

— Não, não é. Busquem no reino todo!

— Mas o capturandam não deve ter vindo de dentro do reino, majestade.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

— Tteok disse que estavam na cidade quando o capturandam apareceu de repente e pegou a princesa — explicou Jungkook, acolhendo o filho, embora também fosse perceptível que ele estava abalado. Tteok, por sua vez, chorava, completamente desesperado. — Calma, filho — pediu ele, com a voz serena que eu raramente via.

Hyeri apareceu do nada com um cálice de água.

— Aqui, meu bem — ofereceu ela a Tteok.

Eu tinha a impressão de que, se fosse qualquer outra pessoa, Tteok teria jogado o cálice longe, mas era Hyeri. Tteok bebeu tudo de uma vez, em meio aos soluços. Quase engasgou.

— Tteok — eu disse, me abaixando perto dele. — Eu sei que está abalado, mas preciso muito que me conte o que aconteceu. Assim poderemos tentar salvá-la.

— Não tem como salvá-la. Vocês nunca ouviram as lendas?

— Que lendas? — perguntei.

— Esqueçam. São lendas de rua. — deu de ombros. — Dificilmente alguém neste palácio conhece.

— A única parte dessa lenda que eu conheço é o Capturandam, do Alice no País das Maravilhas.

— Não é O capturandam, é UM capturandam. É uma raça, são monstros bem raros.

— Monstros em geral devem ser bem raros, já que eu nunca ouvi falar de nenhum — comentou Yumi, ainda irritada com aquilo tudo.

— Mais ou menos. Monstros pequenos andam tranquilamente pelas partes periféricas da cidade. Os grandes vivem em florestas, montanhas… A não ser que sejam domesticados, que é o caso do Hebi.

— Quem é Hebi?

— O capturandam, senhor. Ele pertence ao inimigo da monarquia. Provavelmente o Hebi o levou até ele.

— Tteok, eu não estou entendendo nada. Tem que contar essa tal lenda toda, mas precisa ser rápido.

— A lenda do inimigo da monarquia, o Lord Baepsae. Ele treinou o capturandam para, um dia, caçar sangue real para ser sacrificado em nome dos crimes da monarquia.

— Que crimes?

— Ninguém na cidade sabe se os antigos reis de Omelas cometeram crimes ou se ele diz isso em prol das injustiças da ralé. O sacrifício é composto por três dias de escravidão, até o pôr-do-sol do terceiro dia, onde o Hebi… onde o Hebi se alimenta do sangue real.

— Então ainda há tempo. Onde esse lorde fica?

— Ele vive na Morte.

— Na morte?

— É o nome do castelo dele. Fica um pouco além das fronteiras da cidade em direção ao sul. Mas é suicídio ir até lá. Hebi toma conta dos arredores da Morte. Nem o exército conseguirá superá-lo.

Eu me levantei. Decidi não perguntar mais nada a Tteok, que estava abalado demais para mais respostas. Eu não achava nem um pouco impossível salvar minha filha, e ela era a coisa que mais importava para mim. Se havia alguma chance de salvá-la, eu iria atrás dela.

Olhei para o general. Nunca poderia pedir ao exército que age em prol do reino para ir em atrás da princesa, quando Tteok deixava bem claro o risco de tal ato. Depois, olhei para Jungkook, que não queria ser rei. Se eu morresse no meio do caminho, talvez ele tivesse que fazer isso quando Yumi morresse. Nesse meio-tempo, ele precisaria se casar e ter um filho de sangue real para que a sucessão pudesse ocorrer. Mas ele falava sobre esse tipo de sacrifício, e eu confiava que ele estaria disposto. Eu tentaria fazer com que aquilo não fosse necessário. Tentaria trazer a verdadeira herdeira de volta, mas eu conhecia todos os riscos, e assumia as consequências. Abandonei a sala e toda aquela tensão acumulada. Fui rapidamente aos estábulos e pedi um cavalo. Eu não sabia muito bem o que estava fazendo, mas eu sabia que tinha que ir para além dos limites da cidade, na direção sul.

Na direção da Morte.


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Notas finais do capítulo

Uma virada dessas, bicho!



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