Capítulo Dois

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            Quando cheguei à minha casa já eram quase nove da noite, meu pai estava vendo algum programa bobo de comédia, dei um beijo em sua bochecha, e ele me sorriu todo contente. Depois afaguei Jake que estava deitado no carpete próximo a uma poltrona, e então fui direito para o meu quarto para tomar um banho quente, para aliviar toda a tensão que estava meu corpo pelo cansaço. Logo que eu e Katie terminamos os estudos a Sra. Crosswood me convidou para jantar com eles, pois já passava das sete. Então liguei para o meu pai avisando que ficaria com eles para o jantar, e que não precisava me esperar. Quando cheguei ao meu quarto vi que precisaria adiar mais um pouquinho o banho, pois precisava urgentemente organizar um pouco daquela bagunça, começando pelo armário de roupas.

            Assim que meu pai entrou no meu quarto percebi que havia passado mais tempo do que queria na arrumação do quarto:

— Ah, querida vim vê se você já estava dormindo, me pareceu tão cansada.

— Sim estou mesmo, mas não podia deixar meu quarto do jeito que estava, mas acho que terminei por hoje. E o senhor já vai dormir?

— Sim, mas acho que vou lê mais duas ou três paginas daquele livro que me emprestou antes disso – então meu deu um beijo na testa – durma bem e tenha bons sonhos minha filha.

— Obrigada papai, o senhor também – então ele saiu, e eu fui direto para o chuveiro.

            Depois do banho, ainda li mais um capitulo de um livro que a professora de inglês, Sra. Kane havia passado como trabalho para daqui a duas semanas. Um clássico de Jane Austen, Orgulho e Preconceito. Ainda enquanto estava lendo recebi uma mensagem de texto do Nick.

Nick: Hey linda, não sei se ainda está acordada, só passando pra te desejar uma boa noite. A gente se vê amanhã. Bj.

Clare: Ainda não, lendo um livro da Sra. Kane. Boa noite para você também. ♥

Nick: Uh, boa sorte com isso. Também temos isso. Qual livro você escolheu?

Clare: O&P e você?

Nick: R&S.

Clare: Serio? Mas O&P é um clássico e há muito mais sobre Elizabeth e Mr. Darcy do que uma simples e doce historia de amor.

Nick: Sim, muito serio. Na verdade eu concordo com vc sobre O&P, mas há algo sobre R&S que me chama muito mais atenção.

Clare: Ok. Convença-me sobre isso.

Nick: Não há o que convencer, sinto muito. É mais algo sobre o que você vê e sente ao lê o livro. Não é sobre compartilhar, mas encontrar por si mesmo.

Clare: Uau profundo. Prevejo lagrimas da Sra. Kane. Você vai arrasar em seu trabalho.

Nick: Obrigado pelo incentivo, mas acho que não. Essa não é realmente a minha área, só não quero bombar se não tô fora dos próximos jogos.

Clare: Vcs caras, só pensam em jogos.

Nick: Não é verdade.

Clare: Certo, se vc diz. Melhor irmos dormir.

Nick: Sim, está tarde. Nos vemos amanhã?

Clare: Claro. Até.

Nick: Até.

            Depois disso, minha noite estava completa, era hora de dormir, e eu fui com um sorriso enorme no rosto. Por muitas vezes era sempre assim que minhas noites terminavam com troca de mensagens entre eu e Nick. Apesar de eu ficar um pouco sem palavras quando estava pessoalmente com ele, elas não faltavam quando trocávamos textos tarde da noite. Katie me dizia que isso era só a falta de estarmos mais vezes as sós para termos mais tempo para conversar e interagir. Eu não pensava assim, está perto de Nick me deixava nervosa, talvez porque eu estivesse tentando ser o que eu não era, e sim tentando imitar o que eu achava que seria o que chamava sua atenção nas meninas. Ser segura de si e em si mesmo era algo que faltava em mim, eu sempre tive meu pai para me proteger quando criança e depois teve a Sam que me colocou embaixo de suas asas como uma mamãe galinha com seus pintinhos. Mas aos poucos eu estava aprendendo a não me esconder por detrás dos outros e fazer as coisas por mim mesmo.

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            Com o decorrer de duas semanas, a escola resolveu fazer um baile para o dia dos namorados, nesse fim de semana, pois além de arrecadar fundos também é um meio de tirar a tensão escolar de todos os dias. E por incrível que pareça Katie estava mais animada que Sam, que é a rainha das farras, eu já nem tanto. Em todos os anos que sempre ia era para ficar rindo das declarações mais toscas que aconteciam, mas no fundo eu queria ser uma daquelas meninas que recebem corações feito de cartolina, com frases clichês e um chocolate junto. Em todos os meus dezessete anos, nunca tive um romance que durasse, na verdade foram um ou dois apenas, e na maioria das vezes não passava de três encontros e eu ficava enjoada das conversas. E assim que conheci Nick quando ele chegou transferido de Nova York, não me interessei por mais ninguém.

            O baile estava realmente animado, o pessoal da organização havia elevado a um alto nível o estilo em relação ao ano passado. Enquanto ouvimos alguns desafinados cantarem no karaokê, eu estava sentada entre Katie e Nick. Como não sabia o que falar com ele resolvi ir para o lado da minha amiga mesmo.

— E então, acho que você terá muitas coisas para colocar na edição da semana que vem, não é mesmo?

— Ah sim, com toda certeza, vai ser uma edição daquelas, e muitos vão querer minha cabeça depois – comentou sorrindo, é e tão bom vê-la sorrir, mas antes que eu comentasse sobre, o Andrew apareceu na nossa mesa:

— Hey Katie, você anh... talvez anh... quer dançar comigo? – tinham acabado de abrir a pista de dança, e juro que nunca vi o Andrew tão nervoso e com um olhar cheio de expectativas em toda minha vida. Simplesmente fazia todo sentido o que Sam havia dito a Katie naquelas semanas atrás. Sorte dele que Katie é um doce e mesmo ele sendo um idiota muitas vezes com ela, ela não deu um toco nele, e de relance percebi que ela estava corada. Uh isso parece interessante.

— Ok... anh acho que podemos sim – e eles saíram um Andrew suspirando de alivio e uma Katie vermelha mais que um tomate. Ela estava linda em um vestido rosa justo até a cintura e com a saia rodada. Sam fez uma maquiagem leve nela, somente para realçar sua beleza e no cabelo fizemos algumas ondas com o babyliss, e o Andrew não estava nada mal com calças jeans, camisa social azul claro e tênis.

            Logo após eles irem, o Tom convidou a Sam, que estava deslumbrante em um vestido vermelho. Quanto a Collin, este eu não sei onde estava. Ele só deu uma passada em nossa mesa e sumiu, ele tem fama de Dom Juan, está sempre enrolado a alguma garota. Então fiquei eu e o Nick em um silencio mortal e um pouco constrangedor. Pois desde que chegamos eu percebi alguns olhares dele para mim, e estava sendo bem difícil não olha-lo também, ele estava em jeans escuros e uma camisa social branca, tão charmoso. Algumas meninas já haviam vindo falar com ele, fora os meninos do time, mas ele não deu muita atenção. Na verdade eu não sabia se ele estava olhando porque meu vestido estava manchado ou qualquer outra coisa que poderia acontecer com uma desastrada como eu. Estava em um vestido azul rodado, com saltos baixos, pouca maquiagem e os meus cabelos estavam soltos em ondas volumosas nas costas. Foi então que eu o ouvi pela primeira vez desde que nos encontramos hoje à noite:

— Você está linda – segurei tanto minha respiração que quando soltei, acabei tossindo um pouco – Você tá bem? – perguntou preocupado, urgh que mancada, ele só me elogiou não me precisava me abalar tanto, mas foi o que aconteceu.

— Sim, estou bem sim. Anh obrigada, você também, que-quero dizer está muito bonito.

— Obrigado. Então... você quer dançar? – eu abri momentaneamente meus lábios - Só ficou a gente aqui tá todo mundo dançando. Então... – ok, ele podia ter parado só no quer dançar comigo, porque ficou parecendo que ele estava só fazendo um favor a mim, já que ninguém havia vindo me convidar ainda, e havíamos ficado só nós dois, mas mesmo assim aceitei.

— Tudo bem, vamos lá então – eu disse por fim.

            Tomando minha mão ele nos levou ao salão, quando ele me fez enlaçar seu pescoço com meus braços e me segurou pela minha cintura, precisei de todo esforço para não ficar paralisada. Ele notando ou não sempre me tirava o chão, mas eu me sentia tão plena em seus braços, que não saberia explicar a grandiosidade do sentimento. Ao fundo tocava uma musica que eu não consegui reparar direito em qual era, só pelo simples fato de está em seus braços parecia estarmos em uma bolha só nós dois.

— Eles fizeram um ótimo trabalho hoje, não é mesmo?

— É, está bem organizado, melhor do que os outros anos – tentei responder o melhor possível.

— Sim, eles melhorarão bastante.

— É.

— Você gosta dessa música que tá tocando? – então eu me concentrei para prestar atenção em qual era a musica que o Dj tocava, era uma musica de Shania Twain, “You’ve got a way”, se não me engano.

“It's in the way you want me

It's in the way you hold me

The way you show me just what Iove's made of”

"Está no jeito de você me querer

Está no jeito de você me abraçar

O jeito de me mostrar exatamente do que o amor é capaz"

— Sim, ela é linda – só então percebi o quanto aquela musica falava comigo e combinava tanto com o sentimento que tenho por ele.

“Oh, how I adore you

Like no one before you

I love you just the way you are”

"Oh, como eu te adoro

Como a ninguém antes de você

Eu te amo exatamente do jeito que você é"

            Nesse momento acabei olhando em seus olhos, e ele olhou para mim com um brilho no olhar que eu ainda não havia visto antes, me senti preenchida de uma felicidade tão grande que tive vontade de deixar de lado toda a minha timidez e beijá-lo ali mesmo. Mas ele desviou o olhar e me abraçou mais forte. Então dei por vencida aquela batalha, mas ao mesmo tempo feliz por acreditar que talvez ele não seja tão indiferente a mim.

            Depois de mais algumas músicas voltamos para a mesa, Sam e Tom já estavam lá com umas caras amarradas, e antes que eu sentasse ela agarrou minha mão e me arrastou para longe deixando Nick meio sem entender o que estava acontecendo. Assim que chegamos do lado de fora ela desabou a chorar.

— Sam o que aconteceu? – perguntei já pensando no que eu faria para o Tom pagar pelas lágrimas que ela estava derramando, pois tinha certeza que tinha a ver com ele. Eu não sou a favor de pagar dor com a dor, mas não gostava que machucassem minhas amigas. E o Tom estava precisando de um banho de água fria para acordar, mas também ela precisava se fazer de tão difícil daquele jeito.

— Ah, eu não aguento mais isso Clare... você acredita que o tempo todo em que estávamos dançando ele não parava de olhar para as outras garotas, aquilo me deixou com tanta raiva, que pisei no pé dele de propósito e foi como acabamos sentados naquela mesa, um com mais raiva que outro – ela fungou e enxugou os olhos e continuou – se ele não me quer porque não sai da frente da fila, tem muitos outros que estão afins de mim, e ele só atrapalha tudo. Nem importa se é só alguém tentando conversar comigo.

— Sam – eu disse depois que ela finalmente se calou – você não deve se deixar abalar por essas bobagens, sabe que o Tom é sempre muito brincalhão e tenho certeza que ele não quer te machucar mesmo com algumas ações nada a ver da parte dele – eu respirei fundo e disse o que achava que estava mais do que na hora de alguém falar para ela – também acho que já passou da hora de vocês dois se resolverem, e não é só ele que tem que ceder, você é uma mulher difícil com um gênio forte. Além disso, você sabe como aquelas líderes de torcida gostam de se oferecer.

— Affs, quer saber tô cansada dessa festa, vamos embora. – muito bem parece que ela não queria ouvir o que eu tinha a dizer.

— Tudo bem, vamos avisar os meninos e a Katie também, não sei se ela vai com a gente agora.

— Tá mais eu vou esperar aqui, não vou lá dentro de jeito nenhum, meu rosto deve está inchado e mais vermelho do que tomate – ela disse manhosa.

— Certo, eu já volto então – eu disse. Na verdade eu não a colocaria para enfrentar Tom daquele jeito, eu sabia bem o quanto ela preservava sua imagem de mulher durona. Eram raros os momentos em que ela se deixava mostrar seu lado mais frágil, e eram poucas as pessoas que ela permitia ver isso.

            Depois de procurar Katie eu a encontrei ainda com o Andrew, que se ofereceu prontamente para leva - lá para casa, e ela aceitou, mas antes me deu um olhar pedindo uma confirmação se estaria tudo bem. Eu concordei, mas antes de ir eu o ameacei de que era melhor cuidar muito bem dela, senão ele ia vê duas leoas muito bravas, que com certeza acabariam com ele. O coitado do Andrew ficou pálido por um momento, mas acenou. Logo após, procurei os meninos, o Tom queria ir conosco, mas o olhar gelado que dei nele, o fez colocar o rabinho entre as pernas e sentar-se de novo.  Me despedi de Nick, que me abraçou e me deu um beijo na bochecha e disse que depois falava comigo. Eu realmente queria poder ficar mais um pouco ao seu lado, mas minha amiga precisava de mim, e como sempre ela nunca me deixou na mão não era hora de eu deixa-la. Encontrei-a dentro do carro no estacionamento da escola, sentada no banco do carona com os olhos fechados ouvindo um rock bem pesado e mascando seus chiclete. Hoje com certeza teríamos muito sorvete e chocolate para colocarmos em dia, mas pelo resto da noite meu coração estava feliz.