MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B


Capítulo 31
Capítulo 30 - A Vista Dela


Notas iniciais do capítulo

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CAPÍTULO 30

A VISTA DELA

 

 Kira olhou para a multidão à sua frente. Era o inicio da cidade, onde, ocupado por um portal de pedras, encontrava-se o escrito “Bem-vindo à Maré Vermelha”.  Contava-se que, quando a cidade estava sendo construída, a maré ficou avermelhada como sangue e surgiram peixes mortos. Alguns acham que era porque uma criatura mutante que morava no fundo daquele mar passara anos sem comer, apenas adormecida, e por isso acordou com fome. Era uma lenda, óbvio, ou pelo menos esperava-se ser.

  A jovem desmontou do seu cavalo e viu que, a sua esquerda, Harry fizera o mesmo.

—Está com fome amigão? – perguntara o jovem Poderoso para o cavalo, que grunhira como que falando “sim”.

—Será que há lugar aqui para comprar comida? Comida para os animais?

—Provavelmente, Kira, mas não sei onde. – afirmou o jovem, olhando para o chão, como se tentasse lembrar de algo.

—Já viera aqui? – perguntou a jovem.

—Sim! Eu vim uma vez com meu pai e lembro-me que era maior, os prédios e até as pessoas.

—Isso porque você era pequeno né! – afirmou Kira rindo, e ele retribuiu a risada.

—Vou procurar uma casa de rações para os cavalos. – ele disse.

—Tudo bem! Vou procurar saber se alguém viu o “jovem de cabelo castanho com um tufo de cabelo branco”.

—Claro! Mas lembre-se que o lugar de encontro nosso é aqui, no portal da entrada. – ele disse, os cabelos ruivos reluzindo pela luz do sol. A jovem reparou que logo o sol se esconderia porque vinham enormes e pesadas nuvens da direção do mar.

  Ela entrou em meio à multidão. Havia muito barulho e as pessoas se espremiam por todos os lados para conseguirem passar. Era uma multidão enorme. Havia mercadores, pessoas que gritavam por todos os lados oferecendo o produto. Havia pessoas conversando.

—Não acredito! Ele casou com ela? Eu o vi bebê, nascendo! – respondeu uma mulher para outra, as duas envolvidas em um diálogo.

  Do outro lado da rua havia todo o tipo de pessoa gritando. As casas de pedra amarelada desértica foram milimétricamente calculadas. A cidade estava em expansão. Era incrível como havia moradia para tantas pessoas, tudo por causa do mar. Ali havia pescadores passando sua prática por gerações e ali atracavam navios com cargas para todo o reino.

  Kira já estava acostumada com grandes cidades, principalmente por seu pai ter sido um lorde. “Lorde Haland, o respeitado pai de vocês, foi misteriosamente assassinado na noite passada”, lembrara-se ela das palavras do cavaleiro Jhon. Estava tão preocupada com Jackie que esquecera o que acontecera e a sua promessa de descobrir quem era o assassino de seu pai. Era provável que os guardas da capital fossem descobrir quem era o assassino primeiro que ela, mas ela prometeu que teria uma ótima conversa com o assassino.

 Olhou para cima e contemplou o imenso barranco que subia talvez um quilômetro acima da cidade. A parede de rocha que compunha o barranco se manteve por séculos ou até milênios em pé. Era resistente o suficiente para poderem construir uma cidade com nome de Maré Vermelha aos seus pés.

 

  A jovem entrou no meio da multidão procurando pessoas. O seu foco era principalmente os comerciantes, pois se mantinham focados na multidão, o que não foi difícil de achar.

  Se aproximou discretamente de um vendedor de...

—Pêssegos! Pêssegos laranjas  e fresquinhos. – chamava ele.

  Ela se aproximou da barraca dele. Era tapada por um pano, como numa tenda. A mesa de madeira estava ocupada por dezenas de pêssegos, realmente bem laranjas. O cheiro no ar era delicioso, mas ela não podia se distrair com isso.

—Com licença. – ela interrompeu o homem.

—Ah, claro! O que você quer? Temos pêssegos maduros para você comer agora e outros para comer depois, mas nós também temos os descascados, mas estes guardamos em uma caixa separada para que as moscas não os estraguem...

—Não é isso que estou procurando. – ela o interrompeu. Ele falava muita coisa e muito rápido.

—O que você procura, minha cara jovem?

—O meu irmão!

—Ele gosta de pêssego?

—O que? Não! Quero dizer, sim ele amava pêssego mas duvido que tenha comprado suas frutas.

—Então, minha jovem, me dê licença porque tenho clientes para atender, como aquele homem que deve estar cansado depois de uma noite de trabalho, que pelas vestes deve ser um vigia, e então ele passa aqui e eu digo: “quer comprar uns pêssegos?”. Mas ele pode...

—Senhor – ela já estava ficando estressada com tanta coisa que ele falava ao mesmo tempo – eu só quero ajuda. O senhor fica de olho na multidão sempre e pode tê-lo visto.

—E como ele era?

—Ele tinha cabelo castanho com um tucho branco.

  O homem parou e começou a pensar, procurando a lembrança do irmão de Kira.

—Ah sim, eu o vi! – ele respondeu, e Kira ficou surpresa ao ouvir isso.

—E para onde ele foi?

—Eu não sei. A multidão aqui é muito grande e não dá para ficar espionando cada pessoa que passa, mas de uma coisa eu tenho certeza: Ele não comprou os meus pêssegos.

—Obrigada! – ela disse se afastando.

—Ei! – o homem gritou, percebendo a tristeza em seus olhos. Kira olhou para trás. – Ele seguiu pela estrada principal, essa da frente.

  A jovem soltou um sorriso de agradecimento, e não hesitou em seguir pela estrada principal.

  Ao entrar nela, a multidão que a apertava não foi capaz de impedi-la de ver um mulher dando  frutas para as crianças de rua. Provavelmente era um daqueles trabalhos que as pessoas das igrejas e monastérios faziam. Kira se aproximou dela. A mulher vestia uma bata marrom que ia até seu joelho. Seu rosto era enrugado pela idade, e seus cabelos eram extremamente cinzentos.

—Com licença! – interrompeu Kira. – Será que a senhora poderia me ajudar?

—Claro! – a mulher tinha uma voz simpática mesmo envelhecida. –Como posso ajudá-la, minha cara?

—Bem, eu procuro o meu irmão.

—O que ele fez?

—Ele fugiu de casa e não o acho mais.

—Oh! Lamento. – a mulher respondeu tristemente. –Você se lembra de como ele era?

—Ele tinha os olhos castanhos e a pele esbranquiçada, mas acima de tudo tinha um cabelo castanho com...

—Um tucho de cabelo branco?

—Sim!  -Kira respondeu ansiosa com um fio de esperança. –A senhora o viu?

—Ele comeu um dos pêssegos que tinha na minha cesta, que eu comprara na barraca ali da frente.

—Sei, sei! Conheço o vendedor. – Kira respondeu. –Mas, para onde ele foi?

—Seguiu rua acima chegando até a praça. Não sei ao certo, mas se você perguntar por mais algumas pessoas, provavelmente o achará.

—Muito obrigada! – respondeu a jovem.

—Não foi nada, minha cara.

  Kira seguiu  pela multidão. As pessoas andantes não eram como os vendedores ou senhoras que trabalhavam com caridade. Eram impacientes, talvez por serem apertados por todos os lados, talvez pelo calor, talvez por tudo junto.

—Será que a senhora poderia...- ela pergunta para uma andante, mas ela ignorou. –não? Não tem problema. Obrigada!

  Outro homem passou, levando duas meninas agarradas pela sua mão. Ela correu até ele.

—Será que o senhor poderia me ajudar...

—Eu não tenho tempo para comprar suas mercadorias. – ele foi curto e grosso.

—Mas, eu não sou vendedora. Quero saber se você...

—Não! Não posso.

—Mas eu nem disse. – ele sumiu em meio a multidão.

—Obrigada por nada viu? Literalmente por não ter me ajudado em nada.

  Ela olhou em volta. Logo a sua frente, vinham quatro jovens, um deles com cabelos castanhos puxando um cavalo. Uma outra, ruiva, com um capuz estranho e negro na cabeça. Atrás, um jovem louro e...corcunda? Era estranho ver um jovem naquela situação. Ao seu lado, uma jovem também loira estava totalmente tapada, até os braços estavam tapados. Estavam de mãos dadas. No inicio Kira achou que eram irmãos, mas pelas mãos dadas concluiu que eram namorados.

 Ela se aproximou deles e perguntou, assustando-os um pouco:

—Com licença, meu nome é Kira e procuro o meu irmão Jackie. Ele estava indo para Tarinter em segredo. Tem um cabelo castanho com uma mecha branca. Vocês poderiam me dizer se viram ele? – o jovem de cabelo castanho respondeu pelo grupo e mexeu a cabeça negativamente.

  De repente, uma mulher passou perto da jovem loira e se arrastou sem querer em seu braço, parecendo nem ver, continuando o caminho. Ela olhou para seu braço ao sentir a brisa fria tocá-la e descobriu que sua luva se destapou um pouco. Kira se assustou ao ver que seu braço era verde e escamoso. “Ela é uma...MUTANTE! Com um pequeno gemido, ela chamou a atenção do corcunda ao seu lado. Ela puxou a luva imediatamente, tapando-a e olhando em volta para conferir  se ninguém tinha visto. Ela passou seus olhos em Kira, que mantinha suas feições focadas nela. Ela ficou paralisada olhando séria para a Mutante. Se aproximou alguns passos e perguntou baixinho:

—Você não é Corriqueira, é? – e Kira pode ver o medo nos olhos da loura.

  Com medo, a Mutante não conseguia se mover. O jovem ao seu lado puxou-a para frente.

—Desculpe! Não vimos o seu irmão, mas se o vermos, avisaremos que está o procurando. Com licença, mas o nosso amigo já esta lá na frente e não podemos perdê-lo. – justificou ele, puxando a loira até os outros dois lá na frente, deixando ela paralisada e olhando para eles séria.

  Sim, havia Mutantes escapando. Ela pensou em gritar e chamar a atenção de todos para a loira Mutante, sentindo ódio do Mutante que matou seu pai, mas algo a impediu. “Mutantes também são humanos, também sofrem! No lugar deles, também me disfarçaria e fugiria.”

  Kira seguiu em meio à rua. Foi tentando achar ajuda, mas poucos andantes davam atenção, e os que davam respondiam sempre a mesma coisa: “Não!”.

  De repente, veio a sua mente: se ele foi para a praça metros à frente, deveria ir até lá e procurar entre os comerciantes de lá.

  Ela não hesitou e correu em direção à praça. Foi abrindo espaço com os próprios braços entre as pessoas até chegar lá. Era um espaço amplo e cercado de casas. A direita, uma rua que levava até o mar.  O chão era feito com a mesma pedra desértica.

  Se aproximou de um grupo de pessoas paradas, onde, no centro, alguém tocava um instrumento musical. O som era estranho. Para quem quase não ouvia música era maravilhoso, mas para quem já havia escutado os músicos da rainha tocar aquele som não era mais que um zumbido de abelha. Ainda assim, se aproximou e viu-os tocar o instrumento. Era uma jovem com aparência de pobre que tocava o instrumento.

—Me perdoe! – ela interrompeu a apresentação. –Mas preciso de ajuda para encontrar o meu irmão. Ele...

—Saia daqui! – reclamou a musicista.- Você está me atrapalhando.

—O que procuro é mais importante.  – disse Kira. –Procuro o meu irmão. Ele tinha um tucho de cabelo branco em meio aos cabelos castanhos e...

—Ele era seu irmão? – perguntou a jovem musicista, agora assustada.

—O que ele fez? – perguntou Kira.

—Doía a cabeça só de chegar perto dele! – ela afirmou. –Era terrível! Passou correndo, assustado por nós.

  Kira pensou um pouco, perturbada, e concluiu: “ Como acontece com Harry, de acordo com os sentimentos, seus poderes se manifestam. Ele, provavelmente, se assustou e por isso o seu poder começou a extravasar e dar dores de cabeça nas pessoas que se aproximavam”.

—Vocês viram para qual direção ele...

—Socorro! – gritou uma mulher em meio a multidão a frente.

  De repente, um grande grupo de pessoas vieram correndo da direção do mar, com espadas e arcos nas mãos, pela rua que vinha do porto. Suas feições não eram boas e em seus olhos havia braveza e coragem. A multidão começou a correr. Pessoas gritavam em desespero. Se alguém caísse – como acontecera – seria pisoteado.

  O grande grupo era diferente. Era composto por homens somente, como um exército, e usavam roupas típicas de outro lugar, de outro continente. Usavam algo que diríamos que era uma saia de couro, enquanto o tronco era desnudo ocupado apenas por duas listras de couros, que seguravam a “saia”. Seus corpos e rostos eram pintados e eram, em maioria, musculosos e morenos. Sim, morenos. Eram raras as pessoas morenas no continente de Andryleen, principalmente por seu um lugar frio e, às vezes, passar até semanas sem sol. Sendo assim, as pessoas costumavam ser bem claras. Os cabelos e pelos deles eram totalmente negros, e eram, também em maioria, barbudos.

 Kira olhou em volta e viu que a musicista saiu correndo em meio a multidão, e as pessoas que ouviam também se dispersavam correndo. Uma gritaria começou a tomar conta de tudo. Pessoas choravam e gritavam, outras eram atingidas por flechas e espadas do grande grupo de pessoas morenas.

  “São piratas!”, concluiu Kira. Ela começou a correr em meio a multidão, assustada e desorientada. Em meio as pessoas. Muitos a empurravam e ouve uma que a jogou no chão, mas rapidamente ela se levantou, antes que pudesse ser pisoteada.

  Ela olhou em volta. Lembrou-se da praia e da rua que levava até ela, à direita. Ela sabia que o grupo estranho de piratas estava vindo de lá. Não era seguro, mas se ficasse ali seria carregada até... nem dava para saber até onde a multidão a levaria.

  Ela começou a empurrar as pessoas. Pelo menos na praia tinha a oportunidade de correr pela areia e dava para fugir se ela fosse discreta e rápida. Via a rua se aproximando, e continuou empurrando com força as pessoas. O calor e a agitação da multidão era terrível, mas ela seguiu ainda assim.

  Se aproximando da ruela, adentrou nela. Ali não havia multidão, mas dava para ver a multidão correndo metros à frente.  Ela começou a andar silenciosamente pela ruela. Ao chegar perto do fim dela, conseguiu escutar o som de alguém gritando: “Me solta! Me solta!”.

  Ela correu até a boca do beco e viu três dos piratas puxando uma jovem: a Mutante loira que ela viu na rua com os outros três.

  Kira puxou a espada para lutar contra os três, mas antes que pudesse correr até eles, um deles gritou de dor. Caiu no chão, enquanto escorria algo verde de sua ferida, ferida esta que apareceu logo quando a jovem dera uma unhada com suas garras nele. Kira se assustou. Os olhos dela estavam cheios de ódio, e sua pupila se tornara como o de uma cobra. Em seus dentes, presas enormes. Ela parecia ter se tornado outra criatura, e ali, na areia da praia, pulou sobre outro dos homens, mordendo o seu ombro e deixando-o gritar de dor. A ferida sangrou muito, e o homem gritou de desespero, mas antes que pudesse reagir, ela agarrou-lhe e o jogou em direção ao mar. Era como se tivesse ganhado forças sobrenaturais.

  Ela começou a lutar contra os outros dois, cortando-os com as unhas e espalhando um liquido verde que Kira reconheceu...“peçonha!”.

  Quando os três homens já estavam mortos, a jovem voltou ao normal, e seus olhos se assustaram ao ver a cena.

—Não! – ela gritou ao cair de joelhos perto do corpo de um deles. –De novo não!

  Caiu em lágrimas. Kira, mesmo assustada, sentiu que deveria ir até lá. Seus pés pisaram a areia, enquanto ela guardava a espada e seguia em frente, em direção à jovem que chorava.

  Quando se aproximou dela, se ajoelhou ao seu lado, e a loira olhou em direção aos olhos de Kira, assustando-se e chegando um pouco para trás.

—Calma! Não vou te machucar. Vi o que você fez e vi que não foi por querer. – respondeu Kira.- Lembra-se de mim? Sou a Kira. Nos vimos agora a pouco.

—Não sou burra! – respondeu Taya com voz meio chorosa, meio enraivecida. –Me lembro do que aconteceu.

—Me desculpe! – respondeu Kira. –Qual...qual é o seu nome?

  A Mutante ergueu os seus olhos esverdeados, que se encontraram com os de Kira. Hesitante, ela respondeu:

—Meu nome é Taya!


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Notas finais do capítulo

0!!!! Finalmente nossas histórias se encontraram.