— Você tem a Força! – Disse Finn um pouco auto

— Por favor, não diga isso por ai! – Ela agarrou a mão dele – Vamos!

                Era uma escada enorme que levava para a superfície, podiam sentir a brisa que vinha lá de fora e agora tinha quem subir na maior velocidade possível, a jovem era resistente, mas as demasiadas circunstancias haviam deixado a sua saúde e a de todos ali bem debilitada. Demoraram algum tempo para que pudessem subir tudo até o topo do cativeiro.

                Ela olhou pela brecha da porta e aparentemente não havia ninguém, saíram de um em um, calmamente e sem barulhos. Não houve uma movimentação diferente se quer, péssimo pressentimento sobre isso, em sua intuição era uma cilada. Kay havia aprendido a nunca mais duvidar de seus sentimentos.

— Finn, corra é uma cilada!

                O homem nem pensou em muita coisa, segurou a mão da garota e correu em qualquer direção, muitas das outras pessoas também foram por ali, segurava a blaster com firmeza e ele a dele. A moça pode contar os dez minutos que os homens andaram, estavam próximos da saída e ela pode sentir.

— Finn, não tem caminho, temos que pular o muro!

                Havia tiros, pelo menos quinze homens estavam seguindo as pessoas ali, não havia onde se esconder era um local enorme com um muro que separava o cativeiro de volta à cidade. Kay e Finn corriam com o máximo que podiam, atirou algumas vezes, mas não acertou ninguém, uma pessoa ia ajudando os outros a subirem, Finn conseguiu subir rapidamente e agora estava puxando Kay para cima quando um tiro atingiu bem a mão da moça. Uma dor inexplicável veio dali, havia uma ferida enorme de queimadura.

— Kay rápido! – Ele gritou

                Novamente ela tentou segurar sua mão, mas agora os homens haviam atirado em Finn, que caiu do outro lado do muro. Ela gritou desesperadamente por ele, mas não escutou nada, chamou por ele em sua mente e nada igualmente, Kay havia ficado dentro do cativeiro com mais algumas pessoas que igualmente não conseguiram fugir, foi frustrante.

                Pegou a blaster e atirou em dois outros homens, mas a arma foi parar longe quando o Twi’lek a atingiu, escutou seu nome ser gritado do outro lado do muro.

“Finn, haja o que houver não venha aqui, há muitos deles. Você deve fugir agora mesmo, eu vou ficar bem”

                Aquela mente se recusou a ir durante um tempo considerável, depois foi embora com uma grande urgência, Kay esperava de todo coração que Finn estivesse bem.

— Todos com as mãos para cima, e de joelhos ao chão – Apontava o Twi’lek a arma principalmente a Kay – Todos irão morrer, agora

— Ela não!

                O homem gordo do jogo de sabaac estava ali agora apontando para a menina, imóvel ao chão, o twi’lek tinha ela bem em sua mira e o gatilho pré apertado. Se ela tivesse um sabre ou bastão, poderia acabar com todos ali, era terrível que os usuários da Força tivessem de se manter escondidos na galáxia, sabe se lá o que fariam com ela se soubessem que a tinha.

— A garota fez isso, tem determinação... E é bonita – Um sorriso nojento saiu dele – Será minha escrava, tragam as roupas! Não a toquem, ela será só minha

                A moça foi levada a o que parecia um banheiro muito imundo e foi obrigada a trocar de roupa por outra mulher que ali estava, ela tinha o rosto desfigurado do lado direito. Sentiu-se extremamente suja e humilhada, aquela roupa deixava a maior parte de seu corpo a mostra, tapando apenas o necessário. Havia um colar em prata que mais parecia uma coleira para segurar bichos selvagens, havia objetos dourados também em seus pulsos e calcanhares.

                Ela foi empurrada para o salão a dentro e o que escutou foi extremamente nojento, sentiu-se como a pior das mulheres, um círculo de várias pessoas ali, homens e mulheres que se divertiam fazendo piadas ruins, bebendo e jogando. Foi arrastada pelas correntes até o velho seboso que se encontrava em cima de uma cadeira enorme agora, o odiava.

— Fique aqui ao meu lado, querida, e lave meus pés – Tirou aqueles pés fedidos de dentro das botas

— Eu vou matar, cada um de vocês

                O homem deu um tapa em seu rosto que fez sangrar seu nariz, o corpo dela já não estava lá essas coisas, estava desnutrida de todas as formas e as feridas agora mais aparente por causa das roupas. Era humilhante, havia passado por tanta coisa e agora estava sendo mantida escrava sem saber o que poderia lhe acontecer, a jovem havia começado a sufocar o homem quando foi puxada novamente pelas correntes.

                A amarraram numa espécie de pedestal e a fizeram uma espécie de muro, onde jogavam das mais variadas coisas, frutas, bebida, folhas, até brincaram com a sua vida, com blasters e facas nas mãos de bêbados. Estava exausta, por um momento não conseguia ver quem era antes, apenas ódio, um lado sombrio que não conhecia.

No final daquele dia, já não se aguentava sob seus pés, estava ferida de várias coisas, cacos de vidro, facas e muito mais, estava pendurada pelas correntes e sua cabeça pendia para baixo apenas suportada por sua pele e seus ossos. Não tinha mais energia para procurar por Kylo Ren, mas imaginou que tentar algum tipo de movimentação na Força e naquele estado gastaria suas ultimas chances de sobreviver.

De repente uma explosão, ninguém ali parecia esperar por isso, lá do lado de fora os homens atiravam e depois corriam para dentro, um grande reboliço se fez e Kay pode senti-lo. Mesmo dentro do que parecia uma imensa cabana ou galpão as coisas já saiam de seus lugares, flutuavam e depois eram arremessadas ás paredes. Não se moveu, não tinha forças para isso, ficou lá pendurada por suas correntes. Os gritos das pessoas correndo aterrorizadas ficavam cada vez mais próximos e os homens entravam para proteger seu chefe.

— A Primeira Ordem está aqui! Estão matando todos! – Gritava

                A luz vermelha se aproximou e agora adentrava o ambiente, Kay nunca sentira Kylo Ren mais irado na vida do que naquele dia, nem mesmo contra Snoke ou Hux ou qualquer outra coisa que poderia acontecer dentro da Primeira Ordem, ele vinha eliminando quem estivesse em seu caminho. Por onde vinha os objetos e intens pareciam não mais se comportar como algo estático e se movimentavam por todo o local, a Força em Kylo Ren emanava como um galão de combustível prestes a explodir.

                Ninguém conseguia se aproximar dele, nem mesmo quem tentou ceifar sua vida de maneira manual, os homens apenas iam mais a frente e não conseguiam penetrar aquele imenso domo de Força que ele estava lançando para fora de si. E a Força tinha suas falanges, Kay podia sentir a movimentação se rebatendo e repuxando com tanta inconstância e velocidade que a mesma poderia dizer nunca ter visto algo igual.

Ele a viu pendurada e a ira foi maior do que ela poderia imaginar, pelo que pode ler vagamente dos sentimentos do homem, Kay viu uma figura animalesca e brutal e a única base de humanidade que havia era em relação a ela.

— Atirem nele! – Falou o gordo

                Todos os flashs de blaster ficaram parados ao ar, nenhum conseguia atingir Kylo Ren, ele vinha entrando e seu sabre rasgava cada um dos capangas ao meio, girava e cada com vez mais raiva e rapidez, não havia misericórdia, não havia perdão, não havia compaixão. Girava e acertava um, girava e acertava outro, pegou alguns com sua mão e os quebrou, os tiros de blaster voltavam aos corpos daqueles marginais.

Haviam 80 a 90 homens e aos poucos não foi sobrando mais nenhum, apenas o chefe contrabandista. A Força nele fazia suas próprias vitimas, Ren esfarelou pescoços em suas mãos, seu sabre encontrou com os peitos, pernas e braços daqueles homens e os partiu sem piedade. Suas botas encontraram-se nas faces e tórax de alguns no chão e os esmagou como os vermes que eram, sua mão livre se encontrou com as cabeças de alguns e os fez colidir nas paredes de modo a não mais pensar, havia sangue em sua máscara. Um único ser ficou vivo para ver tudo isso, o chefe.

                Ren cortou as amarras da garota e ela caiu ao chão, Kay podia sentir a respiração pesada dele quando se abaixou e a levantou, segurando por baixo dos braços da moça. Mal conseguia se manter de pé, pela primeira vez em algum tempo ela havia olhado para a máscara de novo e sentia-se extremamente grata por ele estar ali, quanto mais Ren olhava para ela, mais preocupação e raiva tinha. Kay segurava em seu braço para não perder o equilíbrio.

— A arma de um guerreiro é sua vida e seu destino

                Kylo Ren disse a ela de forma muito desconcertada e certa, porém diante da situação com raiva, havia uma tensão relativamente maior do que qualquer coisa que ela havia passado com ele antes, Kylo Ren estava oferecendo sua própria arma a ela, e essa ação tinha muito mais significado que somente isso. Ele sabia que isso demandava alguma coisa, mas não havia hesitação, não havia duvidas.

A jovem olhou para baixo, e na mão grande do homem ele mostrava seu sabre de luz. Era uma escolha, Kay não estava sendo influenciada por ele ou qualquer coisa do tipo, a mão aberta próximo a ela e o sabre de luz dele mesmo. O senhor de escravos iria morrer de toda maneira, Ren apenas deu a escolha de ser pelas mãos dele ou de si mesma.

                Ela segurou na mão dele em cima do sabre e por alguns segundos ele pode ver a ferida horrível que estava ali agora, a moça segurou o sabre que era muito pesado por sinal e andou desconsertadamente até o homem. Kayralor havia crescido muito naquele dia, ela sabia exatamente qual peso suportar, pois havia passado por toda essa experiência, tinha esperança no futuro sim, mas em certos futuros não. Ela sabia o porque de matar, e sabia como matar.

                A moça ligou o sabre e o piso foi cortado no rastro, pois ela não conseguia levanta-lo, Ren estava distante o suficiente para que pudesse dar suporte a mesma se precisasse. O sabre em forma de cruz na mão dela iluminava de vermelho todo o ambiente, pela primeira vez Kylo Ren estava desarmado de boa vontade.

O velho tentou atirar contra ela com um blaster, mas Ren desviou o tiro e esmagou a arma ainda ao ar, o objeto voou batendo no rosto dele, Kayralor subiu o batente para olhar diretamente nos olhos do homem.

— Não é vingança... É justiça

                Ela cravou o sabre vermelho no meio do peito dele e a vida daquele ser se foi rapidamente, não pode sentir nada além de uma grande tontura, foi um momento de muitos sentimentos e emoções, a força do lado sombrio era intensa, mas assim também era a luz, equilíbrio. Ela conseguiu tirar o sabre de Kylo Ren dali de dentro, mas com muita dificuldade, tanto que caiu para trás, ele foi busca-la no chão.

                Kylo Ren a segurou nos braços, sua roupa manchada de sangue enquanto ela devolvia o sabre a ele. Saiu carregando ela, a Força em Kylo Ren nesse momento era sombria e indomável, enquanto ele andava as paredes do local eram expulsas de seus lugares, os objetos se esmagavam até não poderem mais ser reconhecidos, o que houvesse de teto agora era expelido para longe com o poder que ele estava com vontade tentando controlar.

Enquanto as tropas invadiam o lugar, muitas pessoas saíram correndo de dentro, os escravos daquele homem e contrabandista horrível. Os troopers correram no perímetro para se certificarem que a área estava limpa da gangue. Kylo Ren teve que parar antes de chegar a nave ou então essa se quebraria em pedaços com seu poder, aguardou um momento para colocar a Força novamente toda dentro de seu corpo. Precisava chegar até a nave por Kay, moça necessitava de tratamento, urgente.

Voltou a ir em frente, a cada passo para a luz, Ren via os machucados na pele da garota e isso ia culminando uma ferocidade enorme no homem, via-os por todo seu corpo.

— Queimem esse lugar, até não houver mais nada para ser lembrado – Pausou – QUEIMEM! QUEIMEM ESTA CIDADE, EU QUERO QUE MATEM TODOS!

— Não, Ben... – Kay disse em seus braços e isso mal saia de sua boca – Há inocentes, por favor...

                O capacete do homem mirou o rosto dela e o sague que se acumulava no mesmo pingou no rosto da garota, que igualmente estava ensopado pela agressão que ela havia recebido durante todos esses dias. Ele podia ver nos olhos de Kay quem merecia viver e quem merecia morrer, o homem sabia o que precisava ser feito e mesmo que o monstro dentro de si gritasse para até mesmo explodir aquele planeta, a mão dela em seu peito sabendo que agora estaria segura já havia o acalmado bastante.

— Eu quero que queimem este lugar e caçem todos os envolvidos com esses vermes, eu quero que a existência desses não seja mais um problema para a galáxia... – Ele pausou tentando se controlar – A cidade está livre, mas qualquer um que tentar esconde-los deve morrer

Ele disse ao capitão da guarda, enquanto entrava na nave. Essas foram as últimas palavras que Kay escutou naquele dia.