Eu estava indo de encontro para o local combinado. 

Os poucos postes que haviam na rua iluminavam meu caminho. Eu nem ao menos sabia porque caralhos eu estava tão tarde assim, indo encontrar aquele idiota, mas no momento eu não estava respondendo por mim. 

Tinha a opção de não ir e deixar ele plantado lá, mas algo bem no fundo de mim disse que eu precisava vê-lo. 

Deixar as coisas limpo e em claro, mesmo depois do que ele fez comigo... Éramos amigos e ele me enganou, fazendo com que todos pensassem que eu sou um traidor. 

Tudo por culpa daquelas Japonesas. 

Se elas nunca tivessem feito aquelas FanArt de nós dois juntos, ninguém na cidade pensaria que somos gays. Eu não teria problemas com o meu pai, ninguém na escola me odiaria agora, Tweek não ficaria mais histérico que o normal... E eu não o veria mais que um amigo. 

Essa história toda fez com que minha mente ficasse confusa. 

Nós não temos nada em comum. Absolutamente nada, porque shippam tanto a gente? 

Tweek é um histérico que sofre de ansiedade e eu sou um idiota depressivo. Não combinamos em nada. 

Se bem que esse não é o único problema. Nós somos homens. 

Meu pai disse que é errado. Homens não se relacionam dessa forma, é completamente errado, não é? 

Então, por que meu coração acelera sempre que estamos juntos? E tenho tido esses sonhos malucos que envolvem Tweek, e por que estou acelerando meus passos só para ir vê-lo logo? 

Com tantas pessoas no mundo, por que tinha que ser logo ele? 

— Achei que n-n-não iria vir. – Disse enquanto gaguejava. Tweek tremia e eu não sabia dizer se era de histeria ou de frio. Sua camisa social verde era muito fina, por isso retirei o meu casaco azul e joguei por cima dos ombros dele. 

Alguma parte de mim ainda conseguia ser gentil com os outros... Ao menos com Tweek Tweak era assim. 

— Então, fala logo o que queria, bundão. – Ok, talvez não 100% gentil, só as vezes. 

Não poderia baixar a guarda diante do outro. 

Jamais fraquejar. 

— Ah! Ah! Eu... – Deu uma pausa em meio a sua fala. Essa era a parte mais irritante do Tweek. Ele sempre gaguejava ou falava gritando. – E-e-eu te chamei para v-v-ver as estrelas. – Apontou para o céu escuro. 

Não posso mentir que era magnifico. Lógico que a vista poderia ser bem mais bela, se tivéssemos em uma cidade de interior e que a poluição tapava a parte mais bonita do mundo, mas mesmo assim, ainda era algo agradável de se ver. 

Todavia, Tweek não me chamaria para ver as estrelas, ao menos, não depois de termos brigado. 

Ele tentou desviar do assunto, como sempre fazia, porém eu sabia que precisávamos entrar naquela conversa. Cedo ou tarde. Era por isso que eu estava ali. 

Era por isso, não é? 

— Era só pra isso? – Tentei demonstrar impaciência, para ver se ele começava a falar o que realmente queria. 

— Sim! – Gritou em meus ouvidos. Irritante. 

— Não precisa gritar, Tweek, eu estou do seu lado. – Tentei acalma-lo. 

Consegui ver suas bochechas ficarem avermelhadas por conta da vergonha. Fofo... 

Na verdade, idiota. 

100% idiota. Tenho que desviar esses pensamentos desse imbecil de mim. 

— Des-desculpa. – Sussurrou. 

— De boa, só fala mais baixo. 

— Não é so-sobre isso. – Disse, diminuindo cada vez mais o tom de voz. Acho que ele levou a sério demais o que eu disse. – P-por ter feito to-todo mundo ficar contra você. É que... 

Ele parou a frase ao meio. Me deixando curioso com o que ele diria em seguida. 

— É que...? – Tentei incentiva-lo. 

— É que você fez eu me sentir tão confiante comigo mesmo, como se eu fosse capaz de algo. Fez eu não me sentir um inútil completo, pela primeira vez eu senti que era capaz de algo. – Falou, dessa vez sem histeria, de forma serena, como se aquilo estivesse preso em sua garganta, mas que finalmente conseguiu libertar. – Eu acabei extravasando, exagerando e estraguei tudo. Achei que se eu fizesse o que você pediu direito, você iria se orgulhar... Eu iria me orgulhar de mim mesmo, mas tudo o que eu fiz foi fazer você ficar irritado. 

Eu não sabia nem o que responder para Tweek. 

De certa forma, isso fez eu me sentir mal... Tweek Tweak nunca teve autoconfiança, um garoto pobre, viciado em café e que mal sabia se vestir, ficava nervoso por qualquer coisa que fosse e eu acabei de descobrir que eu, Craig Tucker, era seu porto seguro esse tempo todo. 

Eu só estava o julgando, sem ao menos entender o outro lado. 

Acho que na verdade, eu sabia o que deveria fazer, mas não agi por medo. 

Não queria que a cidade inteira achasse que eu fosse gay, agi sem me importar com o que Tweek sentiria. 

Eu não perguntei o que ele achava sobre isso. 

— Tweek. – Chamei a atenção dele, depois de alguns minutos em silêncio. Eu necessitava de um tempo para assimilar o que eu havia escutado. – Espero que mesmo depois de toda essa história... De todos pensarem que somos namorados e que houve traição na nossa relação, possamos ainda ser amigos, mesmo que todo mundo ainda me odeie. 

— Não pre-precisa se preocupar, Craig, eu vou desmentir toda a história. Acho que se eu fizer um texto no Facebook, todos possam parar e ler. 

Não consegui evitar rir da ideia que ele havia tido, um tanto quanto inocente fazer aquela gente louca restar atenção no que dois adolescentes tem a dizer. 

— E voc-você não precisa se sentir obrigado a ser meu a-a-amigo. – Voltou a falar. 

Eu não me sentia obrigado em ser amigo do Tweek, na verdade, da mesma forma que ele se sentia confiante perto de mim, eu me sentia seguro perto dele. 

Craig Tucker necessitava de Tweek Tweak e eu não podia mais negar isso. 

— Eu sinto que se me afastar de você, eu vou me sentir verdadeiramente sozinho. – Falei. Tweek estava com os olhos brilhando, havia parado de tremer, seu olhar demonstrava tranquilidade. Ele estava confiante de novo. 

— Sabe que eu também? 

Eu tinha odiado todo aquele alvoroço que as Japonesas haviam causado, mas se não fosse por elas, talvez eu não tivesse descoberto quem eu realmente era. 

Quanto às pessoas de fora? Acho que eu não precisava mais temer o que eu sentia. Elas poderiam achar o que quisessem e meu pai poderia ir a merda por não concordar com o que eu sou. 

Eu levo o sobrenome dele, mas somos pessoas diferentes. Mesmo ele não concordando que dois homens possam ficar juntos, eu espero que no futuro ele compreenda que eu só estou tentando ser feliz e que finalmente encontrei o meu lugar. 

Isso realmente é um sentimento libertador. 

Tweek observava as estrelas, havia ficado um silêncio reconfortante. 

Nenhum de nós dois precisou dizer nada, acho que finalmente pudemos nos acertar. 

Não precisei contar o que eu sentia com todas as letras, ele havia entendido tudo. 

Passei a mão por aqueles cabelos loiros, fazendo com que ele virasse pra mim. 

Dei uma última olhada para o céu brilhante e ali, embaixo das estrelas, eu dei meu primeiro beijo de verdade com Tweek Tweak.