A Árvore de Corvos escrita por Violet Evans, Mih Ward, Mih Ward


Capítulo 5
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaa
Outro capítulo para a nossa alegria!
Espero que gostem!!



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Um dos lugares favoritos de Crystal no Palácio era a biblioteca. Principalmente, em dias de chuva. O som das gotas batendo pelas grandes janelas pareciam um estimulante para se ficar horas e horas mergulhada em histórias e romances. O acervo de Ravengard era muito completo e rendia a condessa várias tardes entretidas.

Era uma dessas tarde e Crystal procurava um novo livro para ler e se distrair. Subiu em cima da escada móvel das estantes, tentando alcançar um exemplar da última prateleira. Porém a garota teve que se esticar ao máximo tentando pegar o livro, tanto que a dama escorregou e já ia caindo da escada se não fosse o par de mãos que a segurou pela cintura. 

— Pelos corvos! — Exclamou e olhou para trás, percebendo que seu salvador fora ninguém menos que o Duque Gallagher. Soltou um suspiro de alívio e sorriu para o homem —Muito obrigada, Sir Niklas.

— Disponha, Lady Crystal — Ele sorriu de canto, mas a encarava ligeiramente preocupado — A senhorita está bem?

— Estou sim, graças ao senhor, só foi um susto — Afirmou ajeitando suas vestes e virando-se para ficar em frente ao duque.

— Fico em feliz em ajudar — Curvou-se, como o típico cavalheiro que era fazendo a dama ter que conter um suspiro muito alto. Sir Niklas Gallagher era encantador.

— Veio a procura de algum livro? — Perguntou curiosa com o que o duque fazia ali.

— Eu estava sim interessado em deixar um livro novo em minha cabeceira para ler antes de dormir... — Concordou — Será que Milady teria algum para me indicar?

— Teria vários, Sir Niklas — Abriu um largo sorriso — Interesse em algum gênero específico no momento?

— Por que a senhorita não me surpreende? Dado o que já conversamos e o que já conhece sobre mim, será que consegue escolher um livro para mim, Lady Crystal? — Desafiou, erguendo a sua sobrancelha.

— Farei o meu melhor, Milorde — Aceitou o desafio — Embora eu não consiga escolher somente um livro nem para mim mesma — Riu enquanto se virava para as grandes estantes.

— Eu aceito uma lista, Lady Crystal, afinal, se eu passar a morar aqui, terei a biblioteca sempre a meu dispor — Ele acompanhou a garota na risada. Porém Crystal estava fazendo uma careta leve, de costas para ele, ao pensar nele sendo escolhido para ser o futuro rei. Entretanto, respirou fundo e se pôs a analisar os livros.

— Pelo o que já conversamos, acho que o senhor gostaria muito desse aqui — Pegou o exemplar de uma capa marrom, com letras em dourado — Ele conta das aventuras de um marinheiro em busca de novas terras.

— Parece realmente bom — O duque apanhou o livro e o analisou com interesse. Notou que a dama não comentara sobre a possibilidade de ele morar no Palácio, mas também não quis força-la a nada. Sabia do interesse dela, mas também não podia dar esperanças a garota. Por mais que ela o interessasse também.

— Esse aqui foi um dos últimos que eu li, ele é um pouco diferente, fala de algo chamado física e é muito interessante como ele explica certas coisas — Descreveu também entregando o livro para o homem e novamente subindo as escadas para alcançar mais obras.

— Que tipo de coisas? — Questionou enquanto observava o livro de capa simples, preta.

— Coisas que muitos dizem ser mágicas ou que não possuem uma explicação bem clara — Ela esclareceu achando, finalmente, uma coleção que sabia que iria o interessar e muito.

— Isso sim é algo diferente — Assentiu, sorrindo, vendo que a condessa realmente estava escolhendo gêneros que lhe agradavam.

Niklas então levantou o olhar e notou que a garota estava descendo com um sorriso animado e pelo menos uns cinco livros em seus braços. Estendeu a mão para lhe ajudar e evitar que a dama escorregasse novamente e se machucasse, que prontamente aceitou a ajuda e assim que estava no chão, mostrou os exemplares que achara.

— Esses aqui são manuscritos dos cinco primeiros Reis de Ravengard, que contam vários fatos sobre a fundação do reino e de toda a história de Ravengard — Crystal descreveu e pôde notar o brilho no olhar do Duque Gallagher conforme o fazia.

— Que... Preciosidade... — Pegou os diários com cuidado, deixando os outros livros sobre uma mesinha e se pôs a folhear os manuscritos com cuidado, lendo algumas partes.

A condessa sorriu mais com a sua reação e ficou o observando enquanto remexia nos diários. Não demorou muito e ele começou a fazer perguntas para ela e, então os dois iniciaram mais uma discussão sobre o reino de Ravengard e a sua história. Diversas teorias surgiram com os relatos escritos nos livros e opiniões do que eles teriam feito de diferente. Niklas novamente se impressionou com a dama pela sua posição, sem receios de mostrar o que pensava. Além da sua argumentação. Crystal não falava nada que não tivesse plena convicção do que transmitia.

— Eu posso levar os diários para os meus aposentos? — O duque perguntou curioso. Estava louco para adentrar mais a fundo na história de seu reino.

— Desde que devolva, não haverá problema — Respondeu sorrindo de lado, uma mecha de cabelo caindo por seu rosto.

Aquele movimento prendeu a atenção de Sir Gallagher, que tentou se conter, porém, novamente, sua força de vontade não fora o suficiente, pois levou sua mão até a mecha, colocando atrás da orelha da dama de companhia, seus dedos roçando na maçã de seu rosto, causando um leve rubor nas bochechas da Condessa Freya. Niklas observou aquilo ainda mais encantado, a primeira demonstração de constrangimento pelo interesse que a garota tinha nele. Acariciou ali, devagar, sentindo a maciez extraordinária da sua pele. Crystal ficou parada, congelada em seu lugar, o toque do homem trazendo mais e mais correntes elétricas por seu corpo. Como se fossem dois imãs, começaram a se aproximar, vagarosamente. Podiam sentir a respiração um do outro. Quente. Descompassada. Os rostos ficando a centímetros de distância, para então...

— Crystal, precisamos... — A voz da rainha morreu no segundo que ela entrou na biblioteca. Cherry teve que morder o lábio para conter um sorrisinho ao ver a cena do quase beijo. Além de se lamentar por ter interrompido — Desculpem-me pela intromissão... Conversamos depois, Crys... — Ela já ia saindo quando Niklas se levantou rapidamente, percebendo o que estava prestes a acontecer.

— Majestade... — Ele se curvou, mordendo o lábio. Primeiro ele pensou em dar uma desculpa para o que quase acontecera ali, porém achou que não seria justo. Principalmente com a condessa. Por isso ele respirou fundo e se endireitou — Não será necessário. Eu mesmo me retiro — Disse formalmente e curvando-se novamente — Minhas mais sinceras desculpas, Lady Crystal — Pediu curvando-se também para a garota e então se retirando da sala.

— Pelos Corvos! Perdoe-me, Crystal! — A rainha foi rápido até a prima, sentando-se onde o duque estivera há poucos segundos — Se eu soubesse o que estava acontecendo, não o teria feito.

— Está tudo bem, Cher... — A dama suspirou ainda meio em choque pelo o que quase acabara de acontecer — Embora eu ache que isso dificilmente irá se repetir... Dado a reação do Duque.

A rainha mordeu o lábio inferior, vendo a reação da prima e querendo fazer algo a respeito. Porém, ela sabia que sua influência, assim como poderia melhorar, também poderia piorar e muito toda a situação.

— Sabe... Se vocês estavam quase se beijando, significa que você o atrai também. Não desista ainda. — Encorajou a condessa, acariciando seu braço.

— Eu não pretendia desistir, mas acho que vai ficar um pouco mais difícil... — Foi a vez da morena morder o lábio inferior.

Dito e feito, a previsão da condessa se fez real. Com o flagra da Rainha Lestrange, Niklas se afastou de Crystal. Tinha em sua mente que estava se desviando de sua tarefa ali. Seu objetivo em entrar naquele torneio era conquistar a mão de Cherry. Ser o Rei de Ravengard e ajudar o seu reino a não cair. A condessa se tornou uma distração. Uma ótima distração, era o que se pegava pensando antes balançar a cabeça e focar novamente em seu torneio. Chegara longe o demais para simplesmente desistir.

A Dama da Rainha sentiu e muito o afastamento do Duque, embora não desse o braço a torcer, sempre o cumprimentando quando se cruzavam no corredor e tentando puxar algum assunto quando tinha oportunidade. Mas ela, entretanto, não o forçava quando Niklas simplesmente dava uma desculpa de que precisava sair dali, com alguma tarefa importante a ser feita. Assim, tudo o que restava a condessa eram as memórias do tempo que compartilhara com Sir Gallagher. Este por sua vez tinha a lembrança física das luvas da dama que comumente eram tiradas da gaveta para novamente a sensação da seda tomar conta das suas mãos.

Observando aquilo, Cherry sentia uma enorme vontade de ajudar a amiga. No entanto a soberana de Ravengard não sabia o que fazer e, por isso, resolveu procurar o auxílio de seu primo, Ethan.

— Cherry, — Começou depois de ouvir o detalhado discurso da garota — por melhores que sejam as suas intenções, isso é uma coisa que os dois e somente os dois podem resolver. Se o Duque Gallagher quer continuar na disputa pela sua mão, não há nada que você possa fazer. E também o expulsar do torneio por causa disso, e por algum acaso ele ficar com a Crystal depois disso, só vai fazer ela se sentir mal, pensando que ele só a quis porque foi eliminado do torneio. Isso tem que partir deles, irmãzinha, e não de você.

— Mas... Argh! — A rainha bufou, odiava se sentir tão impotente — É tão frustrante ver essa situação toda, sabendo que você pode fazer alguma coisa e ajudar a tudo se resolver bem! E ao mesmo tempo eu me sinto ainda pior, porque o homem que a minha melhor amiga quer, está numa estúpida competição pela minha mão! Eu me sinto responsável!

— Mas você não é! Pelos corvos, você e a Mikaela são iguaizinhas nesse sentido! Culpando-se por coisas que estão fora das suas mãos. Você não tinha como saber que isso ia acontecer, nem pode ficar achando que é de sua responsabilidade, resolver a vida amorosa de Crystal. Ela já é adulta e sabe muito bem se virar. Já tem tanta coisa em suas costas, irmã... Não coloque mais uma — Ethan pediu, um pouco suplicante, preocupado com a prima.

A ruiva suspirou pesadamente e assentiu, vencida. Encarou o Chefe do Conselho de Ravengard e decidiu mudar o assunto, para um, ao ver dela, mais leve.

—  Então... Você e Mikaela, hein? — Sorriu de lado e observou imediatamente as bochechas do homem ficarem coradas e o constrangimento tomar conta dele.

— O que tem eu e ela? — Questionou, fazendo-se de desentendido. Ainda não acreditava que havia sido tão descuidado com a outra prima.

— Não é óbvio? Eu peguei vocês dois aos beijos na biblioteca e você ainda vai fingir que não está acontecendo nada entre vocês? — Cherry perguntou incrédula. O fato é que ela já suspeitava que havia algo entre os primos há algum tempo. Mas nenhum dos dois assumia nada. Mesmo que a ruiva desse o maior apoio para os dois.

O Chefe deu um suspiro vencido. Preferia não ter mudado de assunto.

— Eu e Mikaela estamos juntos — Confirmou assentindo com a cabeça e sentando em uma poltrona confortável.

— Só isso? Eu quero detalhes! Desde quando? Por que vocês não contaram nada? — Disparou várias perguntas de uma vez, fazendo o primo rir levemente.

— Não faz muito tempo. Não havíamos contado por que ainda não tínhamos certeza do que era e você já tinha tanta coisa na cabeça... Nós apenas hum... Nos beijávamos de vez em quando... Mikaela é intensa, você sabe. Mas então... — Sua voz morreu, perdida em pensamentos, um sorriso bobo no rosto.

— Mas então...? — Questionou impaciente — Ethan! — Reclamou bufando, fazendo-o rir novamente.

— Então no baile fomos dar um passeio. Fomos até a Árvore de Corvos... — Sorriu mais, colocando a mão dentro de seu casaco e retirando uma pena negra, mostrando para a rainha, que abriu a boca incrédula.

— Os corvos deram uma pena para vocês! — Exclamou —Vocês são almas gêmeas! Pelos corvos! Eu sabia! Sabia que tinha algo entre os dois! Ah Ethan, eu fico tão feliz por vocês! — Ela então correu para o primo e o abraçou forte, que prontamente o retribuiu, um sorriso enorme em seu rosto.

— Obrigado, irmãzinha. Eu também fico muito feliz. Eu amo a Mikaela — Confessou encarando a ruiva — Vou pedi-la em casamento assim que os torneios acabarem.

Cherry olhou para o Chefe do Conselho incrédula.

— Isso é sério? — Perguntou com os olhos arregalados — Pelos corvos, Ethan! Isso é maravilhoso! — Exclamou mais uma vez o abraçando — Sempre torci muito por vocês...

— Sempre? Estava tão óbvio assim? — Ele franziu o cenho.

— Claro que estava... Você simplesmente baba por tudo que a Mikaela faz! — A rainha riu divertida.

— Mas... Ela é maravilhosa — Sorriu bobo — Eu ainda nem acredito que ela me corresponde!

A ruiva olhou para o primo com um sorriso sincero. Era ótimo ver as pessoas ao seu redor achando seus amores. Mas aquilo sempre voltava com a pergunta constante em sua cabeça. Havia alguém para mim?  Seus pensamentos se voltaram para Wu e a declaração que ele lhe fizera no último encontro.  Tudo o que ele dissera mexeu com ela, óbvio. Não esperava que o guarda nutrisse essa paixão por ela desde... Bem, desde sempre. E toda essa reviravolta estava fazendo Cherry pensar mais no guarda do que o costume.

Fang estava mexendo com ela e isso era uma coisa que ela não podia mais negar.

— — —

Naquela semana, Ethan, tendo conversado com a prima e obtivendo sua aprovação, fez uma prova surpresa com os candidatos. O intuito dessa era que os participantes soubessem lidar com uma situação política delicada e assim, evitar uma guerra para o reino de Ravengard. Durante a prova estavam presentes os membros do Conselho, a Rainha, Mikaela e Crystal. Ethan estava ao centro, em frete a uma mesa onde se encontravam sentados os quatro homens que ainda disputavam a mão da Rainha Lestrange.

O Chefe do Conselho andava de um lado para o outro, explicando as situações fictícias, detalhadamente para que fosse entendida com clareza pelos participantes, fazendo perguntas, testando aleatoriamente qualquer um deles. Ele tinha uma postura séria, olhando penetrante para cada um ali, intimidando-os, o que fez Mikaela dar um sorrisinho enquanto admirava o primo.

Wu, que convivia diariamente no castelo se saiu muito bem em suas respostas, se mostrando um ótimo diplomata. Niklas, como o grande estrategista que era bolou várias probabilidades onde todas elas Ravengard evitaria uma guerra. O Marquês, não surpreendeu, embora tenha conseguido enrolar e se sair bem. Entretanto, o camponês, começou a ficar nervoso e a suar, não conseguindo pensar em nada diante da situação que lhe foi apresentada.

— Tudo bem, Sr. Steven?  — Ethan perguntou, erguendo uma sobrancelha, querendo saber a resposta dele.

— E-eu não sei! Por favor não me tire... — Ele implorou se ajoelhando.

O Chefe do Conselho então deu uma olhada para a prima e rainha, que discretamente assentiu, concordando com o olhar que o homem lhe dirigia.

— Eu sinto muito, mas o senhor está fora... — Começou a dizer, porém foi interrompido por um grito do homem que sacou uma faca e já foi logo avançando para Ethan, pegando todos de surpresa, com exceção de duas pessoas. Por reflexo, Mikaela já havia rapidamente avançado e se posto frente do primo, tirando sua adaga do bolso, indo em defesa do seu, se é que podia chama-lo assim, namorado.

Wu, por sua vez, fora diretamente em direção a Cherry, colocando-se a sua frente para defende-la, mesmo que naquele momento, ele tivesse completamente desarmado.

— Esse torneio é uma farsa! Só fingiram colocar os não nobres para encenar! — o camponês gritava — O novo rei com certeza já está escolhido desde o início e... — Aproveitando os gritos do tal Steve, Mikaela avançou com habilidade, logo subjugando o homem e chamando os guardas que estavam a serviço para levá-lo as masmorras, indignada.

— Eu quero saber quem revistou as coisas desse homem que incompetentemente não percebeu que ele estava armado? — Bradou furiosa para os guardas que restaram, que não ousaram dizer uma única palavra.

— Ella... — Ethan colocou uma mão no ombro dela, que a fez encará-lo — Está tudo bem agora...

— Não está! — Balançou a cabeça, segurando as lágrimas que queriam vir aos olhos pelo o que acabara de acontecer — Pelos corvos... você podia... — Respirou fundo se controlando.

Ethan segurou seu rosto delicadamente, querendo abraçá-la, mas sabia que Mikaela não gostava de demonstrar fraqueza, ainda mais na frente do conselho. Ao invés disso, apenas depositou um breve beijo em seus lábios que fez com que vários dos presentes soltassem uma exclamação de surpresa, com exceção de Wu e Cherry que olhavam a cena com um sorrisinho, a rainha agarrada no guarda pelo susto de pouco tempo atrás.

Mika se afastou um pouco do primo e apenas lançou um olhar para todos os presentes. Bem claro. Caiam fora. E não foi preciso dizer mais nada. Cadeiras foram arrastadas e as pessoas começaram a sair da sala, deixando a Chefe da Guarda e o Chefe do Conselho sozinhos. Ao entrar no corredor, Crystal tentou atrair o olhar de Niklas, mas ele desviou, negando levemente com a cabeça e seguiu rumo ao próprio quarto, perdido em seus pensamentos.

O clima dentro do Palácio ficou mais tenso durante os dias que sucederam o ataque do camponês. O Conselho começou a pressionar mais a rainha para que ela escolhesse o futuro rei, a fim de que a situação de Ravengard se amenizasse.

No meio de tudo isso, Crystal se viu um pouco solitária. Afinal, Cherry possuía seus compromissos, além de todo o estresse adicional para terminar logo o torneio. Niklas ainda se mantinha afastado. Embora ela o notasse observando-a de longe, o Duque não se aproximava ou lhe dirigia a palavra.  A condessa então resolveu mandar uma carta para sua irmã, Dalila, que desde que se casara, havia partido para um Reino vizinho, de onde era seu marido. A dama transcreveu suas saudades e questionou como estava o sobrinho recém-nascido. Contou também tudo o que estava acontecendo no Reino de Ravengard, sobre Niklas e como estava apaixonada por ele, assim como doía a distância que o Duque impusera a eles.

Quando encarou a carta finalizada sentiu o peso em seu peito diminuir levemente, por ela ter colocado um pouco do seu sofrimento para fora. Suspirando, colocou o pergaminho em um envelope e saiu de seu quarto, a procura do mensageiro real. Encontrou-o perto dos estábulos depois de muito tempo. O homem curvou-se para ela e aceitou a tarefa de bom grado. Crystal já estava se virando para voltar ao Castelo quando notou a proximidade dos estábulos. Mordendo o lábio inferior, começou a ir em direção ao local, lembrando-se do dia em que o Duque Gallagher cavalgara com ela. Iria somente ficar admirando os cavalos de longe, como sempre fazia quando ia ali, porém uma súbita coragem despertou na condessa que a fez se aproximar ainda mais e pedir a um dos cavalariços que selassem um dos animais. O homem ficou surpreso com o pedido, mas fez o que lhe foi ordenado, selando o mesmo cavalo que Crystal montou com Niklas. Ela então pediu ajuda para subir no animal, o coração se acelerando um pouco com o medo.

O cavalariço começou a explicar algumas coisas para a mulher que assentia, brevemente, tentando apreender tudo o que ele dizia. Entretanto, quando a condessa ergueu o olhar para frente, seu coração parou. Cherry e Niklas caminhavam lado a lado, conversando animadamente. Crystal tentou controlar seus ciúmes a todo custo, no entanto, sua vontade de ir até lá e simplesmente se intrometer e atrapalhar o momento estava ganhando.

Antes que pudesse cometer qualquer ato estúpido e estragar tudo, Crystal chacoalhou as rédeas do cavalo para ele correr dali, o que o animal prontamente o fez, fazendo então a garota se lembrar do próprio medo e solta uma exclamação surpresa, se agarrando ao cavalo, gritando para que ele parasse, sem saber como fazê-lo.

Quando Sir Gallagher escutou o chamado da Dama, virou a cabeça na mesma hora naquela direção, observando com horror o cavalo correndo sem controle para a floresta.

— Pelos corvos! O que ela pensa que está fazendo? — Cherry também estava horrorizada, preocupada com a prima. Só que então ela percebeu que não estava mais acompanhada.

Niklas já corria rápido até os estábulos, pegando um cavalo sem nem mesmo selá-lo e partindo em direção onde a condessa desaparecera, gritando por ela. O duque sentia o coração batendo forte em seu peito, seus pensamentos somente em Lady Crystal e em salvá-la. Não conseguia sequer imaginar em algo acontecendo com a dama. Ele continuou cavalgando por entre as árvores e a chamando, um desespero cada vez maior tomando conta dele.

 Até que ouviu novamente o grito dela.

Sem perder tempo, atiçou o cavalo a ir mais rápido, sem se importar com os arranhões causados pelos galhos das árvores à medida que adentrava na floresta. Viu, finalmente, e o cavalo da condessa, agora um pouco mais devagar devido ao terreno e acelerou ainda mais, para o desgosto do próprio cavalo.

Enfim, conseguiu alcançar a mulher e agarrou as rédeas do cavalo, puxando para pará-lo. O animal o obedeceu prontamente e a dama se ergueu meio trêmula, vendo o duque. Seu rosto, banhado pelas lágrimas causadas pelo medo.

— Lady Crystal... — Niklas não perdeu tempo em saltar do seu cavalo, indo até o dela e a tirando dali. Freya então se agarrou nele, escondendo o rosto e deixou que mais lágrimas caíssem, fazendo o coração do homem se apertar em dor por vê-la daquela forma — Está tudo bem agora... Eu estou com você... — Acariciou suas costas tentando a acalmar.

A condessa soluçava baixinho contra o peito do homem. Nunca ficara tão assustada em sua vida. Sua pele ardia em alguns pontos devido aos galhos que a arranhara e seu coração simplesmente não conseguia se acalmar, aquela sensação de pavor ainda presente nela.

Mas Sir Gallagher foi paciente. Ficou ali com ela, abraçado, o tempo necessário para que Crystal se recuperasse. De vez em quando depositava um beijo em seus cabelos, deixando que ela chorasse tudo o que havia para chorar. Quando as lágrimas acabaram, a dama ficou aproveitando o abraço e o cheiro do duque, acalmando-se aos poucos, a medida que se inebriava com a sua presença.

Niklas, então, a afastou delicadamente para que pudesse encará-la. Percebeu então o rosto dela todo arranhado, olhando também para suas roupas, que possuía várias partes rasgadas. Seu coração se apertou mais.

— Ah, Milady... — Acariciou seu rosto, inclinando-se e dando-lhe mais um beijo em sua testa — Por que você foi sozinha? — Perguntou, deixando as formalidades de lado.

— Eu achei que fosse conseguir... — Mordeu o lábio, o rosto inchado. Tudo o que o homem queria naquele momento era proteger aquela mulher.

— Tudo bem... — Assentiu, ainda acariciando seu rosto — Se você ainda quiser, eu irei te ajudar, que tal? — Questionou. O pensamento a fez se encolher um pouco — Se você quiser — Gallagher frisou, para lhe garantir que não a forçaria.

Crystal assentiu, fraquinho, e numa necessidade absurda, abraçou novamente o duque, respirando fundo. Ele novamente retribuiu, acariciando seus cabelos.

— A senhorita tem que ir para a enfermaria... Cuidar desses arranhões — Niklas disse baixo, sem a soltar.

— Você vai comigo? — Olhou-o, frágil. Não queria se separar dele agora. Não quando ele havia voltado a falar com ela.

— Não vou te deixar hoje — O duque garantiu, assentindo, fitando-a intensamente.

Era uma promessa.

Diante disso, a condessa concordou em sair dali com Sir Gallagher, embora receosa de ir novamente em cima do cavalo. O homem lhe garantiu que iria com ela e que assim seria mais rápido voltarem para o castelo. Assim, seguiram os dois de volta ao palácio, Niklas deixando Crystal em seu colo, agarrada nele, escondida, enquanto o duque achava o caminho certo, o cavalo que ele usara, vindo logo atrás, atraído pelos chamados dele.

Chegaram não muito tempo depois, indo direto a enfermaria, a condessa nos braços do Duque Gallagher, que ignorava todos os olhares curiosos que lhes eram dirigidos. A enfermeira real, quando viu os dois, veio logo atender a garota, preocupada. Cuidou de todos os seus ferimentos e lhe deu algumas ervas para passar caso ardesse novamente. Niklas se manteve afastado, não querendo atrapalhar a senhora, mas se mantendo de prontidão para qualquer coisa que fosse preciso. Estava preocupado com a garota e queria que ela ficasse bem.

A Dama Real foi liberada, embora com várias indicações para que se mantivesse em repouso pelo resto do dia. A senhorinha também cuidou dos arranhões do duque, fazendo-lhe as mesmas orientações da condessa. Enfim, os dois se dirigiram para os aposentos da mulher, lado a lado, num silêncio confortável. Ao se ver em frente à sua porta, encarou-o:

— Você vai embora? — Perguntou baixinho, um pouco insegura. Niklas inclinou a cabeça. Sabia que aquilo não seria uma boa ideia, mas sua decisão já estava tomada.

— Não. Eu disse que não deixaria Milady hoje — Afirmou, sorrindo de canto e entrou com ela nos aposentos. A mulher sorriu de volta, aliviada e caminhou com ele pelo quarto.

— Obrigada, Sir Niklas — Disse — Fique à vontade, vou só trocar minhas vestes por algo mais limpo e inteiro — Riu fraco e se dirigiu ao seu closet.

O duque assentiu e observou o quarto da garota com curiosidade. Havia uma estante com alguns livros, fato que o fez sorrir de lado, achando típico da condessa. A cama, de dossel, parecia tão confortável quanto a que ele mesmo usava em seus aposentos. Aproximou-se e passou a mão pelos lençóis. Seda.

— Prontinho — A condessa saiu vestindo uma camisola, verde claro, que realçava muito bem os seus olhos.

Niklas estacou, ao vê-la vestida assim, não conseguindo conter seu olhar que percorreu suas vestes, até os tornozelos expostos. Pelos corvos, pensou, ela é linda demais. Contudo, logo balançou a cabeça, pigarreando, um pouco constrangido por ficar encarando a dama tanto tempo.

— Tudo bem, Milorde? — Perguntou, com um sorrisinho no rosto, ao perceber seu olhar.

— Tudo ótimo, Milady — Estreitou um pouco os olhos ao notar aquele sorrisinho.

Crystal mordeu o lábio inferior, enquanto se dirigia a cama e se deitava. O duque por sua vez, foi até uma cadeira ao lado da cabeceira e sentou-se ali, fitando a mulher.

— Como se sente, Lady Crystal? — Questionou preocupado.

— Melhor... Principalmente porque você não está mais me evitando, Sir Niklas — Respondeu direta, não quebrando o contato visual, surpreendendo o homem mais uma vez.

— Foi algo necessário — Suspirou, passando a mão por seus cabelos — Eu não posso lhe dar o que você quer, Milady. Eu estou disputando a mão da rainha...

— Eu sei — Ela retrucou, com uma careta leve pelos ciúmes — Mas isso não o impede de dirigir a palavra a mim. Ou ser meu amigo.

— Não — Assente, derrotado — Não impede. Eu só não quis que a senhorita confundisse as coisas. Perdoe-me.

— Eu senti sua falta... — Murmurou, uma vontade crescendo dentro dela de acariciar seus cabelos.

— A senhorita não deveria. Nós não deveríamos — Balançou a cabeça desviando o olhar.

— Eu não consigo controlar. Mas isso não irá me impedir de conviver com você — Determinou decidida, fazendo o homem soltar uma risada fraca.

— Eu admiro sua determinação, Lady Crystal — Dirigiu-lhe um olhar carinhoso.

— Então você sabe que eu não irei desistir... — Avisou.

Niklas a encarou por um momento, em silêncio. Perdido em seus pensamentos.

— É melhor a Milady descansar — Sugeriu suavemente, um sorriso triste no rosto. Crystal ia argumentar, mas ele lhe dirigiu um olhar suplicante — Por favor... Prometo que depois conversamos.

— Tudo bem... — Assentiu suspirando e se ajeitando melhor na cama.

Ficaram ali então. Os dois se olhando, verde no verde, naquela conexão só deles. Em silêncio. Aos poucos, a condessa começou a se sentir sonolenta, piscando demoradamente.

— Boa noite, Crystal... — Disse baixinho ao ver a dama pegando no sono.

O duque permaneceu um tempo no quarto, observando a mulher e pensando em tudo o que acontecera naquela tarde. Soltando um suspiro pesado, levantou-se e saiu dali, dando uma última olhada nela antes de fechar a porta.

— — —

Crystal só foi acordar na tarde do dia seguinte. Sozinha. Soltando um suspiro, a condessa se levantou e olhou para a cadeira vazia onde estivera o duque na noite anterior. Ele havia lhe feito uma promessa. Ela iria cobrar.

Decidida, colocou um vestido mais simples, azul e rumou para os aposentos de Sir Niklas. Chegando lá, notou a porta aberta e o local, vazio. Franzindo o cenho, entrou, estranhando não haver mais nenhum pertence de Niklas. Seu coração começando a pesar, um pequeno desespero a tomando.

— A senhorita não vai encontrar o Duque Gallagher — Uma voz atrás dela soou, fazendo-a se virar e encarar o guarda Logan.

— E por que não? — Perguntou, a voz subindo uma oitava

— Bem, depois de ter deixado a rainha sozinha em um encontro... — O guarda começou com cuidado — Não era de se esperar que ele fosse o escolhido. Sir Gallagher não está mais no torneio, Condessa. Ele foi embora.


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Notas finais do capítulo

E.... era isso por hoje.
O último capitulo não deve demorar a sair então fiquem ligados que logo logo teremos o desfecho da história ♥
Fico esperando vocês nos reviews ♥



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