Depois daquele Inverno escrita por May Cristina


Capítulo 5
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Perdão por essa demora que pareceu infinita, mas a vida de universitário não é fácil.
Uma boa leitura ♥



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“Já havia procurado felicidade no dicionário, porém, apenas pude compreender tal palavra quando presenciei todos os seus significados.”

 

Antes de chegar no hall da pousada, sentia meus pés trêmulos, minha voz um pouco fanha. Dava para ouvir as ondas baterem fortes na areia. Olhei para o céu e ainda haviam algumas nuvens róseas e aos poucos no horizonte surgia um céu azul cobalto. O horário de verão tinha suas vantagens.

O encontrei sentado em uma cadeira de praia, estava mais lindo do que nunca, a blusa branca destacava sua pele bronzeada.

— Você está muito playboyzinho de shopping - apontei para a camisa social, o tênis de skatista e para a bermuda de marca cara.

— Não queria que você fosse a única diferentona, haha.

 Nos abraçamos e apoiei meu rosto no peito dele.

— Já providenciei umas coisas, então só peço que me acompanhe - disse ele.

Saímos do hall e subimos alguns lances de escadas. Deparei com uma porta com numeração 402. Olhei ao redor e não havia outros lances. Era o último andar da pousada.

Rafael tirou a chave de número 402 do bolso, então adentramos no quarto. Não foi difícil perceber que havia uma sacada. Sem pensar muito, fui diretamente para lá. Apesar de não tão vasta, a vista era incrivelmente linda, então, apoiada na sacada, eu soltei um suspiro apaixonado.

Escutei tilintares atrás de mim. Rafael estava com uma garrafa de vidro que continha um líquido marsala dentro.

— O mais adequado seria comprar um vinho, mas como ainda você é menor de idade, e eu quero estar completamente sóbrio essa noite - Rafael riu - Comprei o melhor suco de uva importado - ele acentuou essa parte.

— Ow! Não me trate como uma criança só porque é pouco mais de dois anos mais velho que eu.

— Calma, faltam algumas horas para você ficar mais velhinha, não abuse disso.

Ouvimos batidos na porta. Entraram duas pessoas contratadas da pousada e colocaram uma mesa e duas cadeiras de plástico na sacada. Eles pediram desculpas, pois não tinham outras mais resistentes. Agradecemos, e em seguida, Rafael serviu à mesa.

— Amor, eu sei que isso não é um luxo e…

— Você está brincando, Rafael? - o interrompi. - Eu estou mais próxima do céu - rimos - Além disso, isso tudo está sendo muito importante para mim. Cada detalhe está sendo gravado na minha memória permanente. Obrigada - peguei em sua mão e a acariciei.

Ouvimos algumas músicas enquanto conversamos sobre tudo, principalmente o que passamos naquele dia.

Algumas velas foram acesas, e dessa forma tivemos nosso primeiro jantar à luz de velas. Brindamos várias vezes pelo meu aniversário que se aproximava a cada minuto.

Eu estava ansiosa, e esperava pelo melhor momento. Era difícil escolher, afinal, todos eram os melhores.

Finalmente tomei coragem e me levantei. Olhei fixamente para a praia.

— Rafael, você poderia vir aqui? - sorri.

Ele ficou ao meu lado, debruçou seus braços sobre o parapeito de aço.

— O que você escuta? -perguntei.

— Bom, escuto o mar meio agitado, uma música ao longe, pessoas conversando talvez.

— Se eu estivesse aqui sem você, seriam sons vagos. Eu contemplaria o mar mas não teria um complemento nos meus pensamentos. Sabe, desde que você começou a se aventurar na minha vida, a palavra “nós” sempre esteve lá. Você é um companheiro fantástico, é tão difícil descrever você para minhas amigas - trocamos sorrisos. - Mas eu digo à elas que é como se fosse uma cobertura de chocolate em um sorvete flocos, você é a cobertura.

— Amor…

— Rafa, eu sou totalmente apaixonada por você que estou até falando besteiras - comecei a rir de nervoso. - O que sentimos nunca tenderá a zero, mas tende ao infinito.

Com os olhos marejados, tirei do bolso do vestido uma caixinha em formato de gota e dentro dela havia dois anéis de coco.

— Não descobri maneira melhor de simbolizar o dia de hoje - falei.

O menino cacheado me olhava com surpresa e não sabia onde esconder seu enorme sorriso.

— Rafael, já se passaram quase 11 meses que aconteceu nosso primeiro beijo. Mas, hoje se você me permitir, quero que seja nosso primeiro beijo como namorados.

Meu coração palpitava tanto que o som ecoava minha mente.

— Você quer namorar comigo? - eu disse enquanto abria a caixinha.

Ele me abraçou antes de dar sua resposta. Acariciou minha nuca, e por fim olhou para mim, seus olhos brilhavam como a lua naquele dia, tinham lágrimas que sorriam.

— Claramente eu quero ser seu namorado.

Coloquei o anel de coco no seu dedo anelar direito, e ele fez o mesmo com meu dedo.

Cruzamos nossas mãos e nos beijamos apaixonadamente, como nunca fizemos antes. Senti suas mãos macias percorrer meu rosto. Eu o olhava e não continha meus sorrisos.

Um alarme tocava dentro do quarto. Rafael olhou para seu celular, percebeu que marcava meia noite. Deu-me um abraço, desceu um dos seus braços até minhas coxas e me carregou.

— Feliz aniversário, amor da minha vida.

Nos beijamos com lentidão, ainda escutava o oceano atrás de nós. Ele me pôs delicadamente na cama. Olhei para seus olhos castanhos enquanto sentia meu corpo enfervecer.

— Está tudo bem? Você tem certeza?— sussurrei.

Rafael beijou minhas mãos.

— Tenho.

Naquela noite tão especial, nos entregamos de corpo e amor.

Quando o final de semana chegou ao fim, meu mundo estava completamente brilhante, era como se eu fosse a protagonista de um filme romântico. Definitivamente, aquela viagem foi, e sempre será a mais importante da minha vida.



Sentada na calçada por volta das 18:34, soltei um bocejo, olhei em volta. Matutei várias vezes na minha mente se o horário estava certo ou se algo tinha dado errado. Na pior das hipóteses pensei que Gabriel não viria.

Mesmo perdida nos meus pensamentos, não deixei de notar o brilho ofuscante que vinha do meu celular. Era uma ligação.

— Alô? - falei com muito esforço. - Tudo bem, mãe… assim que eu voltar limpo a bagunça que ela fez. Até mais.

Me levantei e dei umas batidinhas na minha roupa para tirar a sujeira. Segui caminho para minha casa. 

— Fracote! - disse sozinha enquanto chutava uma pedra.

A cada passo que eu dava, me perguntava a razão de ter convidado um menino do Lar para sair, ou melhor, para fugir por uns instantes. Que tipo de ajuda eu estaria oferecendo a ele?

Se Rafael estivesse tomando conta disso, aposto que teria surtado. Primeiro pelo fato que Gabriel é um garoto insolente, não sabe o real sentido da palavra “regras” e tanto faz para ele a presença de um ser humano. Em segundo lugar, eles têm gênios tão diferentes.

Entrei na padaria e logo coloquei alguns pães na cestinha. Olhei para fora e percebi que a noite tinha caído totalmente. Dei de ombros novamente.

— Era para isso que me chamou? - disse uma voz masculina.

Me afastei assustada, porém me dei conta que era Gabriel dos Anjos, o meliante mais temido naquele prédio.

— Sabe por quanto tempo eu te esperei? - levantei minha voz.

— Você mentiu dizendo que não teriam guardas! Eu me safei de uns três! - Gabriel disse.

Calei-me por alguns instantes. Já que ele estava ali, eu não poderia voltar atrás com minha promessa.

Desisti de comprar os pães e peguei um ônibus verde com aquele garoto.

No trajeto, era notório a feição dele de tédio, e a minha mais ainda. Eu tirava meu anel de coco do dedo, colocava novamente. cruzava as pernas, estralava os dedos, bocejava e nada. Absolutamente nada vinha dele.

— Você é daqui mesmo? - perguntei para Gabriel que desviou sua atenção da janela.

— Que eu saiba, sim.

Voltamos ao silêncio.

— Mas… Me diz, seu namorado não sente ciúmes em saber que você está com outro garoto a essa hora?

Engoli à seco.

— Estar com outra pessoa não significa necessariamente traição. Um casal deve estabelecer confiança.

— Estão juntos há quanto tempo?

Suei frio dessa vez.

— Por volta de três anos.

— Nossa! Já tem bastante tempo. Meus relacionamentos não duram nem três meses, quem dirá três anos.

— É… Talvez seja questão de compatibilidade.

— Como assim?

— Por exemplo, você gosta de tomates?

— Sim… que pergunta estranha.

— Então, temos isso em comum. Mas em um namoro, apenas isso não basta. Eu defendo a teoria que para ter um relacionamento bom e estável, as duas pessoas envolvidas tem que ter várias coisas em comum. Entende?

— Acho que você pensa demais.

— Ham? Por que acha isso?

— Para mim as pessoas só precisam de gostam, que se danem as coisas em comum. É isso.

Descemos do ônibus ainda pensativos. Caminhamos por algumas ruas e finalmente chegamos no lugar que eu pretendia. Era uma rua íngreme, mas dava para ver a parcela da cidade.

— Sei que isso é cenário de filme, porém eu queria que você se sentisse mais aberto e não trancado naquele quarto o tempo todo.

Gabriel olhava para a vista e abria um sorriso que sinceramente me surpreendeu.

Uma mariposa havia pousado em sua roupa. Dei leves abanadas com a mão para que ela saísse.

— Pode deixa ela aí - disse ele.

Não havia entendido muito bem, apenas olhei com uma cara de questionamento.

— Ela gosta daqui e não quer sair por agora. Sei como ela se sente.

Sorri imediatamente. Me sentei em uma pedra e apreciei as luzes da cidade com Gabriel.


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Notas finais do capítulo

até o próximo !



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