Piper McLean

12 de Setembro de 2024

— Como... – conseguia ver pelo canto dos olhos o olhar descrente de Jason sobre mim, porém não tinha coragem de o encarar.

— Eu conto tudo, mas sem me interromper por favor, isso é mais difícil pra mim do que pra você – digo e ele dá uma risada sarcástico.

— Com certeza – ele diz baixo fazendo um sinal para eu continuar.

— Eu descobri que estava grávida alguns dias antes da sua despedida – digo apontando para o porta retrato que ele ainda segurava – Até então, só Thalia e Annabeth sabiam, e eu as fiz jurar que não contariam para você – ele fez menção de que ia me interromper, porém levantei a mão como quem pedia para esperar e continuei – Você estava tão feliz que faltava tão pouco para você e Leo irem para Stanford, no dia que eu soube estivemos juntos e você estava tão... radiante. – Suspirei e passei as mãos pelos cabelos.

“Eu conhecia você e sabia que no momento que eu falasse que estava esperando um filho seu você iria desistir disso tudo para ficar aqui. E eu simplesmente não iria me perdoar se fizesse isso, simplesmente não tinha como, dei a ideia de terminarmos e exclui você de tudo. E então você foi embora e tudo pareceu tão mais... fácil. Até então só Thalia, Annabeth e meus pais sabiam. Porém, uma gravidez não é algo fácil de se esconder.

“Todos começaram a estranhar o fato de eu não usar mais blusas mais justas ou mais curtas, começara a me esconder com camisetas alguns números maiores. Até que Annabeth não aguentava mais guardar segredo e contou para todos os outros e fiz eles prometerem que não contariam nada para você, porque pelo que sua irmã me contava você estava adorando a faculdade. E o tempo foi passando, e eu fugia de você. Já estava tão cômodo viver naquela mentira que eu não sabia como iria contar para você.” 

Eu às vezes desviava o olhar da TV para ele, porém ele encarava os sapatos enquanto mexia os dedos freneticamente.

— Então, fui esquecendo que tudo isso era uma mentira. Até Leo aparecer, ele nunca vinha pra cá e então ele apareceu de repente. Nunca discutimos tanto igual aquela vez, ele quase comprou a passagem para ir contar para você naquele dia, mas eu implorei para ele e expliquei todo o meu lado da história e ele concordou, contragosto, mas concordou. Theo tinha apenas quatro meses na época e foi então que ele, Annabeth, Thalia e Percy se tornaram padrinhos dele.

“Eu não postava nada sobre ele, nada sobre isso para você não ver e também nunca fui muito a favor dessa exposição infantil na internet, todos concordaram comigo e assim Theo ficou “escondido” por todos esse anos. Leo ou Thalia sempre me avisaram quando você estava vindo para cá, então eu com minha família viajamos para algum lugar.

“Eu sei que o que fiz foi errado e não é justo. Mas fui egoísta e achava que toda essa história só iria me machucar quando viesse à tona. Porém a ficha caiu quando ele me perguntou de você e percebi que por mais que ele não demonstrasse ele sentia falta de um pai.”

Quando terminei percebi que segurava algumas lágrimas e respirei fundo até que tomei coragem e o encarei.

— Não quero que você me perdoe pelo que fiz ou nem que se torne meu amigo ou algo do gênero – digo suspirando – Mas quero que você seja algo que o privei a vida inteira de Theo.

— Piper,  – ele suspirou e balançou a cabeça e me encarou – eu não sei o que dizer. Só sei que tudo que você fez teve suas consequências e você sabe quais são, infelizmente elas não foram descontadas em você e sim no se... nosso filho – Jason balançou a cabeça como se aquelas últimas palavras fizessem sentido em sua cabeça e nesse momento deixei algumas lágrimas rolarem ao receber a verdade nua crua – Eu não tenho como perdoar uma atitude assim, ainda mais vindo de você, mesmo entendendo seu lado. Mas eu vou demorar um tempo para digerir tudo isso.

Ele disse se levantando e andando de um lado para o outro na sala e eu apenas o acompanhava com o olhar esperando mais algumas respostas, porém elas não vieram e o silêncio que pairava parecia pesar nos meus ombros. Olhava para meus pés enquanto o escutava andar, até que ele parou e eu o encarei.

— Ele é registrado? – ele pergunta e eu o olho confusa – Ele tem meu nome?

— Não – digo desviando o olhar depois de vê-lo bufar.

— Vamos providenciar isso assim que possível – ele diz voltando a andar de um lado para outro, vez ou outra me lançando olhares raivosos.

— Posso pedir para o advogado da família amanhã – digo baixo e ele apenas balança a cabeça concordando – Você poderá passar os finais de semana com ele, sempre que quiser. Só quero que ele continue morando aqui e me avise com antecedência, meus pais gostam de levá-lo para acampar ou viajar.

— Tudo bem – ele diz se sentando mais calmo – É justo. Ele sabe...?

— Sim, ele chegou a essa conclusão e ele quem pediu para eu contar – digo cabisbaixa e com vergonha de mim mesma.

— Meus pais?

— O que tem eles? – pergunto o olhando confusa.

— Eles sabem sobre Theo? – ele pergunta revirando os olhos como se fosse óbvio.

— Não, contei a mesma história para eles que contei para você no dia do parque – digo e ele concorda.

— Sobre ele ser prematuro...- o corto antes que o mesmo continue.

— É verdade, era para ele nascer em Janeiro, porém nasceu um mês antes. 7 de dezembro. Não foi nada de complicação, ele foi apenas ansioso – digo sorrindo de uma piada interna que tinha com Theo por ele sempre ser apressado ou muito ansioso – Quando eu descobri que estava grávida, estava de 3 meses – ele me olhou assustado e eu suspirei – Correria de final de ensino médio fez com que eu achasse que era estresse e não me preocupei em ir ao médico ver o porquê de estar tão atrasada.

— Tudo bem – ele suspira e se levanta e eu o imito – Te ligo amanhã para resolvermos o registro dele. Até mais, Piper.

— Jason, espere – digo antes que ele saia – E nós? Ficamos como?

— Nossa única relação à partir de hoje é única e exclusivamente o Theo – ele diz antes de abrir a porta e sair – Até mais, Piper.

Assim que ele fecha a porta sento no sofá e suspiro algumas vezes e olho para o porta retrato que agora estava no lugar certo.

— Você fez a coisa certa, McLean, depois de sete anos, fez a coisa certa.

Alguns meses depois...

25 de novembro de 2024

Fazia pouco mais de dois meses desde que Jason soube a verdade sobre Theo. Agora Theo não era apenas, Theodore McLean, e sim Theodore McLean Grace. E eu nunca havia visto o pequeno tão feliz ao ver que agora tinha o nome do pai no espaço vazio. Quase todos os finais de semana Jason passava para buscar Theo que saia alegre e saltitante para encontrar com o pai, não sem antes despejar milhares de beijos em meu rosto e nas duas noites que passava com o pai ligava para desejar boa noite.

A minha relação com Jason estava exatamente como ele disse, única e exclusivamente sobre Theo. Quando eu ia encontrar as meninas ou os amigos, e eventualmente Jason estivesse junto, quase boa parte das vezes ele não direcionava uma palavra a mim ou saia do local. Eu estava de saco cheio disso, mas entendia e agradecia por ele não agir assim na frente de Theo.

— Terra chamando mamãe – duas mãozinhas balançavam em frente ao meu rosto e eu sorri ao olhar para o garotinho que estava em minha frente com um sorriso de orelha a orelha – Mamãe, a vovó está tentando falar com você faz tempo.

— Desculpe, estava com a cabeça longe – digo e olho para minha mãe que me olhava com um sorriso caridoso – O que estava falando, mamãe?

— Sobre nosso acampamento, você vai né? – Afrodite diz enquanto mexia em seu prato no jantar, olho para Theo que me olhava em expectativa e seus olhinhos brilhando em um pedido silencioso.

— Tia Silena e o Tio Charles vão também – Theo diz remexendo em sua comida agora sem me olhar, olho para Silena que estava com a pior careta do mundo e Charles que ria da careta de minha irmã.

— Acho que sim, afinal faz tempo que não vou nos programas de família – digo e Theo dá um grito de felicidade fazendo todos na mesa rirem.

— Você é o máximo, mamãe – ele volta sua atenção para o prato e devorando a comida – Posso ir assistir desenho agora? Terminei tudo – dou risada do seu rosto sujo de molho e o limpo.

— Agora pode – digo e ele se levanta rapidamente dando um beijo estalado em minha bochecha disparando para a sala da casa dos meus pais.

— Ele havia comentado de levar Jason – meu pai se pronunciou pela primeira vez no jantar.

— O que?

— No nosso acampamento, ele falou que queria muito que ele fosse – meu pai diz me fazendo o olhar assustada – Sabe, acho que seria uma ótima ideia, afinal Theo gosta muito dele.

— Tristan! Você sabe como Jason e Piper estão e ainda cogita essa ideia? – minha mãe ralha com ele e eu me recupero do meu torpor.

— Tudo bem, mamãe – digo e ela e Silena me olham assustadas – Acho que Jason iria adorar também e se Theo ficar feliz eu posso conviver um final de semana com Jason.

— Piper, você tem certeza? – Silena diz receosa.

— Tenho, afinal vou ter você lá para me salvar – digo sorrindo para ela que retribui – Vou conversar com Jason sobre isso.

Depois de jantarmos e arrumarmos tudo, eu e Theo fomos para casa, onde no caminho contei para Theo que meu pai tinha me falado que ele gostaria que Jason fosse junto e eu concordei.

— Chegando em casa, você pode ligar para ele para chamá-lo – digo e ele sorri de sua cadeirinha radiante. Quando adentramos o apartamento Theo corre até o sofá e me espera ansioso, com as mãos esticadas, dou o celular em sua mão com a chamada de vídeo já chamando – Aqui, apressadinho – Me sento ao seu lado a fim de poder escutar a conversa dos dois.

— Alô, papai? – ele diz sorrindo e ansioso quando o rosto do Jason aparece na tela.

— Oi garotão, como você está? – ele sorri ao ver Theo.

— To bem – ele diz simplesmente se ajeitando no sofá – Papai, tenho um convite para fazer.

— Qual o seu convite? — Jason pergunta rindo e percebi que ele me olha através da chamada.

— Então, eu e meus avós, a mamãe e tia Silena, sempre acampamos perto de uma praia nessa época. Queria saber se você não queria vir com a gente esse ano? – ele diz muito rápido e vejo que Jason tentava não rir do outro lado da linha e eu também – Se você não quiser ir, tudo bem, vou entender porque está em cima da hora, mas...

— Eu vou, apressadinho — Jason diz fazendo um sorriso enorme aparecer no rosto de Theo – Mas com uma condição?

— Qual? – Theo pergunta ansioso e eu olho desconfiada para Jason sabendo que ele podia me ver.

— Eu levo os marshmallows — ele diz e percebo que estava segurando a respiração – Seus avós nunca levam o melhor marshmallow de todos os tempos...

— De chocolate – os dois dizem ao mesmo tempo e riem.

— Posso falar com sua mãe, rapidinho? – Jason diz e Theo me passa o celular – A gente se fala, garotão.

— Tchau papai – e então Theo sai da sala e vai em direção à seu quarto.

— Obrigada por aceitar ir – digo assim que vejo que Theo não iria mais nos escutar – Ele estava muito apreensivo com medo de você recusar.

— Não tem como recusar um pedido desses — ele diz sorrindo – Que dia vai ser?

— Esse próximo final de semana – digo e ele me olha assustado – Sei que está muito em cima da hora, mas não se preocupe que temos tudo, só leve suas roupas e os marshmallows de chocolate.

— Ahn, tudo bem, obrigada Piper. Vão ser iguais nos velhos tempos? – ele diz divertido e eu concordo rindo e então ouço um barulho vindo do fundo da ligação – Preciso ir agora, até mais Piper.

— Tchau – e a tela ficou preta, respirei fundo e olhei para a TV desligada – É só um fim de semana, Piper, só um fim de semana.